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7 de nov. de 2010

Os perigos da incredulidade

 

 Referência: NÚMEROS 13,14

Não saímos do cativeiro para viver no deserto. O nosso destino é a terra prometida.
A secura do deserto, os pedregais, as serpentes, as areias escaldantes do deserto não são o nosso destino. Nosso destino é uma terra que mana leite e mel. Nosso destino é uma vida abundante.
O povo de Israel tombou no deserto. Fracassou na jornada. Naufragou na fé e não entrou na terra. Vejamos as causas:

I. O SINTOMA DA INCREDULIDADE
1. Dt 1.19-22 – “…”
Deus já havia PROMETIDO a terra e já havia feito uma DESCRIÇÃO da terra (Dt 8.7-9).
Duvidaram da Palavra de Deus e das promessas de Deus.
Pensaram que conquistariam a terra pelos seus esforços e não pela intervenção soberana de Deus.

2. Nm 13.27 – O povo só descobre o que Deus já havia falado: “A terra de fato é boa.” 
3. Nm 13.28 – MAS, PORÉM – A incredulidade sempre descobre impossibilidades, olha para as circunstâncias, para os obstáculos e não para Deus.
4. Nm 13.30 – ENTÃO CALEBE – subamos, possuamos, certamente prevaleceremos.

5. A INCREDULIDADE PRODUZ:
5.1. Senso de fraqueza – v. 31 – “Não poderemos subir…” = Eles riscaram as promessas de Deus, eles anularam a Palavra de Deus, o poder de Deus e só enxergaram os obstáculos. Sentem-se fracos, impotentes, incapazes.
5.2. Complexo de inferioridade – v. 31 – “…porque é mais forte do que nós.” = As cidades eram grandes, mas Deus é maior. As muralhas eram altas, mas Deus é o altíssimo. Os gigantes eram fortes, mas Deus é o todo poderoso. A fé olha para Deus e vence as dificuldades. A incredulidade vê as dificuldades e duvida de Deus.
5.3. Desespero e desânimo nos outros – v. 32 – “E diante dos filhos de Israel infamaram a terra.”
5.4. Baixa auto-estima – v. 33 – “…e éramos aos nossos próprios olhos como gafanhotos.” – Eles eram príncipes, líderes, nobres, homens de escol, mas se encolheram. Sentiram-se como gafanhotos, sob as botas dos gigantes. De príncipes a gafanhotos. De filhos do rei a insetos. Estavam com a auto-imagem arrasada.
5.5. Visão distorcida da realidade – v. 33 – “…éramos gafanhotos aos seus olhos.” = Eles são gigantes e nós pigmeus. Eles são fortes e nós fracos. Eles são muitos e nós poucos. Eles vivem em cidades fortificadas e nós no deserto. Eles são guerreiros e nós peregrinos. Arrastaram-se no pó, sentiram-se indignos, fracotes, menos do que príncipes, menos do que homens, menos do que gente, gafanhotos, insetos.

II. OS EFEITOS DA INCREDULIDADE
1. Contagia e conduz o povo ao desespero – 14.1 = Toda a congregação chorou. Só viram suas impossibilidades e não as possibilidades de Deus. Ficaram esmagados de desespero. Não viram saída. Não viram solução. Em Êxodo 15.13-18 – olharam para Deus e cantaram. Agora olham para o inimigo e se vêem como gafanhotos e choram.
2. Contagia e conduz o povo à murmuração – 14.2 = O povo em vez de se voltar para Deus, se volta contra Deus. Em vez de ver Deus como libertador, o vê como opressor. Acusaram a Deus. Murmuraram contra Ele.
3. Conduz à ingratidão – 14.2 = “…antes tivéssemos morrido no Egito.”- O povo se esqueceu da bondade de Deus, do livramento de Deus, das vitórias que Deus lhes dera.
4. Conduz à insolência contra Deus – 14.3 = Acusaram a Deus. Infamaram a Deus. Insultaram a Deus. Disseram que Deus era o responsável pela crise.
5. Conduz à apostasia – 14.3 – “Não nos seria melhor voltar ao Egito?” = Não há nada que entristece mais o coração de Deus do que ver o seu povo arrependido de ter se arrependido. Do que ver o seu povo desejoso de voltar ao mundo e ao Egito. Eles se enfastiaram de Deus, da sua direção, da sua companhia e sustento. Eles se esqueceram dos benefícios de Deus e dos açoites dos carrascos. Quando você deixa a igreja e volta para o mundo, para o pecado, só vê gigantes diante de você e não o poder de deus. Isso leva à apostasia e fere o coração de Deus.
6. Conduz à amotinação – 14.4 = Queriam outros líderes que os guiassem de volta ao Egito. Rebelaram-se contra Deus. Não queriam mais seguir o comando de Moisés. Houve uma insurreição. Um motim. Uma conspiração. Um reboliço. Uma agitação. Uma fermentação no meio do povo.
7. Conduz à rebeldia contra Deus – 14.9 = Amar mais o Egito que o Deus da promessa é rebeldia. Não crer no Deus todo poderoso e se intimidar diante dos gigantes deste mundo é rebeldia. Não andar pela fé é rebeldia.
8. Conduz ao medo do inimigo – 14.9 = O medo vê fantasma, como aconteceu com os discípulos no mar da Galiléia. O medo altera as situações. Josué e Calebe viram os inimigos como pão que seriam triturados. O povo viu os inimigos como gigantes. O povo se viu como inseto. Josué e Calebe se viram como povo imbativo.
9. Conduz à perseguição contra os líderes – 14.10 = Em vez de obedecer a voz de Deus, o povo rebelde decidiu apedrejar os arautos de Deus. Não queriam mudar de vida, por isso, queriam mudar de liderança e se ver livre dela.

III. O QUE FAZER NA HORA DA EPIDEMIA DA INCREDULIDADE
1. Quebrantamento diante de Deus – 14.5,6 = Não adianta discutir, brigar, argumentar, fomentar, jogar uns contra os outros, espalhar boatos. É preciso quebrantamento. É preciso se humilhar debaixo da poderosa mão de Deus.
2. Firmar-se na verdade que Deus diz – 14.7 = Não devemos ser levados pelos comentários, pelas críticas, pela epidemia do desânimo. Devemos nos fixar no que Deus diz. Devemos nos estribar na experiência daqueles que confiam em Deus.
3. Mostrar ao povo como vencer os gigantes – 14.8 = a) “Se o Senhor se agradar de nós” – v. 8 = Quando Deus se agrada de nós, somos imbatíveis. Deus tem se agradado de você? Exemplo: ACÃ – l) Se não eliminardes o pecado eu não serei convosco. 2) Se não eliminardes não podereis resistir os inimigos. b) “O Senhor é conosco, não os temais”- v. 9 – = A nossa vitória não advém da nossa força, mas da presença de Deus conosco. Exemplo: A ARCA – onde estava a arca, havia vitória. c) “Tão somente não sejais rebeldes contra o Senhor” – v. 9 = A única condição de vitória é deixar de mão a rebeldia.
4. Orar intercessoramente – 14.13-20 = A oração de Moisés evita um desastre. Moisés não agride o povo, mas suplica a Deus em seu favor. A despeito do pecado, ele ora e está preocupado com a honra de Deus. Quando o povo de Deus está em crise, nós comprometemos a reputação de Deus. Orar é lutar para que o nome de Deus seja exaltado.

IV. COMO DEUS TRATA A QUESTÃO DA INCREDULIDADE NO MEIO DO SEU POVO
1. Deus traz livramento aos que crêem na sua Palavra na hora H – 14.10 = José, Daniel, Masaque, Sadraque e Abede-Nego, Paulo em Jerusalém, Pedro na prisão.
2. Deus mostra seu cansaço com a incredulidade do povo diante das evidências – 14.11
3. Deus perdoa o povo em resposta à oração e remove o castigo – 14.20 = Perdoados, eles seriam não seriam destruídos ali em Cades Barnéia. 
4. Deus não retira as conseqüências do pecado – 14.21-23,27-35 = O pecado está perdoado, mas as cicatrizes ficam como advertência. 
A) Eles viram a glória de Deus. 
B) Eles viram os prodígios de Deus, mas mesmo assim, 
1) Eles puseram Deus à prova dez vezes – v.22. 
2) Eles não obedeceram à voz de Deus – v. 22. 
3) Eles desprezaram a Deus – v. 23. 
ENTÃO DEUS… 
1) Mudou o rumo da viagem deles – v. 25. 
2) Um ano/um dia – o pecado comete-se num momento, mas custa anos de pagamento – v. 34. 
3) Eles não veriam a terra – v. 29-31. 
4) Eles não terão o que desprezaram – v. 31. 5) Eles terão o que desejaram – morrer no deserto – v. 31.
5. Deus galardoa os que crêem – 14.24,25 = Calebe – v. 24 – Servo, tem outro espírito, perseverou em seguir a Deus.
6. Deus julga com castigo os amotinadores que insuflaram o povo – 14.36-38
7. Deus não aceita ativismo quando não existe santidade e obediência – 14.39-45 = a) Não há vitória e prosperidade onde há desobediência – v. 41; b) Não há vitória onde o Deus da vitória está ausente – v. 42; c) Não há presença e nem vitória de Deus, onde as pessoas se desviam da vontade de Deus – v. 43; d) Não há compromisso de Deus de abençoar um povo que desobedece Sua Palavra – v. 44,45.

CONCLUSÃO
A terra prometida e Não o deserto é onde devemos viver. Terra farta, onde mana leite e mel. Às vezes a incredulidade nos impede de entrar nesta vida deleitosa. É hora de entrar na terra prometida da vida abundante. É hora de desafiar os gigantes. É hora de deixar de lado a incredulidade e confiar no Deus dos impossíveis. É hora de tapar os ouvidos às vozes agourentas do pessimismo e crer nas promessas infalíveis da Palavra de Deus. Avante, pois, irmãos! Amém.
Rev. Hernandes Dias Lopes.

O Quê significa andar em Amor – Sinclair Ferguson







Num certo sentido, saber a vontade de Deus nos envolve numa contínua série de decisões e escolhas. Devemos escolher o caminho do Senhor, e não o nosso próprio caminho, nem o dos ideais do mundo.

Em todas as eras do reino de Deus o Seu povo sempre teve consciência disso. O livro de Salmos começa com palavras que dão a chave do Saltério todo. Faz-nos lembrar que se estendem diante de todos os homens dois caminhos. Há o caminho dos justos e o dos ímpios. O Senhor "conhece o caminho dos justos", ou, na versão utilizada pelo autor, "vela pelo caminho dos justos" (Salmo 1:6). Noutras palavras, Ele os guia na rota das Suas bênçãos quando andam pela estrada da obediência.

Esta ênfase sobre "os dois caminhos" (como veio a ser conhecida) é uma característica marcante do ensino cristão. Um dos mais antigos documentos da Igreja Cristã, chamado Didaquê, ilustra isso. Ele começa: "Há dois caminhos, um o da vida, outro o da morte; e entre os dois caminhos há grande diferença". Seus capítulos iniciais expõem o tema com minúcias. Mas isto não é mais que uma continuação da ênfase do Novo Testamento. Muitas parábolas de Jesus inferem a mesma coisa, dado que nos levam a defrontar duas alternativas na vida. Mais explicitamente vemos esse tema perpassando pelas Epístolas de Paulo. Há o caminho da carne ou o do Espírito. Há o caminho da vista ou o da fé. Cabe-nos escolher um e rejeitar o outro. Cabe-nos seguir por um deles e fugir do outro. Fazendo isso, andamos no caminho do Senhor.

A carta aos efésios acentua compreensivamente este ensino. Ali (como em Colossenses 1:10; 1 Tessalonicenses 2:12) Paulo discorre sobre andar dignamente, adotando o estilo de vida que verdadeiramente segue a vontade de Deus. No restante deste capítulo examinaremos o ensino que ele ministra.

Efésios é, talvez, a carta mais magnífica de todas as de Paulo. Geralmente é considerada como uma carta circular (daí a total ausência de saudações pessoais e também a natureza geral do seu conteúdo). A cópia da carta que possuímos é a que foi enviada para Efeso. O tema de Paulo é a graça maravilhosa de Deus. Ele expõe as suas espantosas dimensões nos versículos iniciais da carta. A graça de Deus para conosco teve início na eternidade. Ele nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo (Efésios 1:4). Seu amor nos toca no tempo, mediante a obra realizada por Cristo e pelo Espírito Santo (Efésios 1:12-13). A graça de Deus nos levará à Sua eterna glória, quando gozaremos todas as bênçãos decorrentes do fato de sermos os Seus filhos e filhas adotados (Efésios 1:5,10,14). A graça divina nos transforma, de pecadores mortos e rebeldes, em filhos obedientes (Efésios 2:1-10).

A mensagem da graça não pára nisso. E fascinante observar o desenvolvimento do pensamento de Paulo nestes capítulos. Desde o princípio do capítulo 3 é óbvio que ele está se esforçando para aplicar a graça de Deus às questões da vida cristã prática. "Por esta causa", isto é, por causa desta graça, diz ele, "eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios..." - e, indubitavelmente, sua intenção é dizer: "Rogo-lhes que vivam e andem de maneira completamente coerente com o que a graça de Deus fez por vocês". Mas Paulo não pode escrever a palavra "gentios" sem ser apanhado por total espanto porque agora, durante a duração da sua vida, e em grande parte por intermédio do seu ministério, o evangelho se libertou dos seus limites judaicos. A graça de Deus vai alcançando todas as nações! Assim, em certo sentido, ele sai pela tangente do propósito que tinha em vista.

Exatamente a mesma coisa ocorre no início de Efésios, capítulo 4! Palavras semelhantes são empregadas: "Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados". No entanto, quando se põe a expandir o seu tema, vê que é necessário explicar a grande doutrina da unidade, diversidade e resultante harmonia da graça na Igreja. Mais adiante, no versículo 17, ele volta ao tema que tinha começado a desenvolver no capítulo 3.

Às vezes, nas traduções inglesas modernas, esta relação é obscurecida. Mas, nas traduções mais antigas (A.V., R.V.) a palavra "andar" é utilizada constantemente (2:2,10; 4:1,17; 5:2,8,15). Se você marcar estes versículos numa Bíblia em português (mesmo na versão de Almeida, Edição Revista e Corrigida, normalmente utilizada na presente tradução), notará com que clareza o tema do andar cristão é desenvolvido nesta carta. O cristão é um novo homem e, portanto, deve andar como um novo homem (Efésios 4:17-24). Precisamente como o homem dominado pelo álcool evidenciará isso no seu andar, o homem que está sob o domínio do Espírito o demonstrará pela maneira como ele anda segundo a vontade de Deus (Efésios 5:18). Ele fará a Palavra de Cristo habitar ricamente nele (Colossenses 3:16). Noutras palavras, ele descobrirá a vontade do Senhor para a sua vida pela obediência à vontade do Senhor para a vida de todos os crentes. Esta vontade nos é dada a conhecer nas Escrituras.

Como havemos de andar de modo digno de Deus? Paulo indica que é vivendo de maneira coerente com o Seu caráter revelado. Na primeira parte da carta, ele fala (1) da revelação do amor de Deus (1:4); (2) da iluminação do povo de Deus por Sua graça (1:17); (3) da revelação da sabedoria de Deus na salvação (3:10). No capítulo 5 ele retoma esses temas e demonstra como a vida cristã é coerente com eles. Viver segundo a vontade de Deus é andar em amor, andar na luz e andar em sabedoria.

Andar em Amor

"Sede pois imitadores de Deus, como filhos amados; e
andai em amor, como também Cristo vos amou, e se
entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a
Deus, em cheiro suave.
Mas a prostituição, e toda a impureza ou avareza, nem
ainda se nomeie entre vós, como convém a santos; nem
torpezas, nem parvoíces, nem chocarrices, que não
convém; mas antes ações de graças.
Porque bem sabeis isto: que nenhum fornicário, ou
impuro, ou avarento, o qual é idolatra, tem herança no
reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com
palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Véus sobre os
filhos da desobediência." -Efésios 5:1-6

Que significa "andar em amor"? Paulo o expressa positiva e negativamente. Positivamente significa seguir o exemplo do amor de Cristo, demonstrado na cruz. O verdadeiro andar em amor significa dar-se aos outros e pelos outros. Esse é um inalterável princípio do viver segundo a vontade de Deus. Martinho Lutero costumava dizer que o problema com o homem é que ele é incurvatus in se - curvado sobre si próprio. Ele torceu os propósitos de Deus para a sua vida vivendo para si mesmo. Mas a graça muda isso, e o faz mudar mais e mais, com vistas a produzir a semelhança de Cristo em nós. Andar segundo a vontade de Deus significa viver como uma oferta a Deus e como um sacrifício vivo pelos outros (Romanos 12:1-2).

Paulo também expressa negativamente o andar em amor. Isso é impressionante, em nossa moderna atmosfera de opinião, em que se presume tão superficialmente que quem ama nunca deve dizer "Não". Este é um conceito radicalmente errado. Você notará que, nestes versículos iniciais de Efésios, capítulo 5, Paulo dá uma substancial (e, contudo, não exaustiva) lista de práticas às quais o amor dirá "Não". Andar nos caminhos de Deus significa recusar outros caminhos!

Por que há de ser assim? Porque o amor é o cumprimento da lei Portanto, o amor recua ante a quebra da lei. O amor sabe que há muitas atividades sobre as quais ele escreverá "Não-Não" (Romanos 13:8-10).

Você já observou com que clareza essa ênfase negativa aparece na descrição que Paulo faz do amor em 1 Coríntios, capítulo 13?

O amor não é invejoso
O amor não trata com leviandade
O amor não se ensoberbece
O amor não se porta com indecência
O amor não busca os seus interesses
O amor não se irrita
O amor não suspeita mal
O amor não folga com a injustiça

É por esta razão que Paulo descreve a avareza como idolatria, em Efésios 5:5. Geralmente não associamos tão estreitamente essas duas coisas. Mas no modo de pensar do Novo Testamento, o oposto do amor é o amor egocêntrico. E o amor egocêntrico é uma forma de idolatria, exatamente como é a raiz da avareza.

Ter direção, saber e praticar a vontade de Deus, como agora estamos começando a ver, é uma questão moral, e não apenas intelectual. Assim também o amor é uma questão moral. Não é mera questão de sentimentos. Envolve decisões do coração. Estar andando segundo a vontade de Deus implica que alguma medida desta qualidade do amor cristão está sendo exibida em nossas vidas. No mínimo, se dizemos que desejamos a vontade de Deus, temos que fazer do amor o nosso objetivo (1 Coríntios 14:1).

O discipulado e a cruz – Dietrich Bonhoeffer (1906-1945)



O chamado ao discipulado está, aqui, no contexto do anúncio da Paixão de Jesus (Mc 8.31-38 – *Texto no fim do Artigo).  Jesus está para sofrer e ser rejeitado. É esse o imperativo da promessa de Deus, para que se cumpram as Escrituras. Paixão e rejeição não são a mesma coisa. Jesus podia ser o Cristo festejado ainda na Paixão. Em sua Paixão poderiam concentrar-se toda a piedade e admiração do mundo. A Paixão como acontecimento trágico poderia ainda ter valor próprio, honra e dignidade própria. Jesus, porém, é o Cristo rejeitado na Paixão. A rejeição tira da Paixão toda a dignidade e honra. Ela deve ser sofrimento sem honra. Paixão e rejeição, eis em resumo a definição da cruz de Jesus. Ser crucificado é sinônimo de sofrer e morrer rejeitado e repudiado por força da necessidade divina. Qualquer tentativa de impedir o que é necessário é satânica, mesmo que esta tentativa provenha do círculo dos discípulos (o que é uma agravante), pois assim não se quer permitir que Cristo seja Cristo. O fato de ser justamente Pedro, a Rocha da Igreja, a tornar-se culpado, logo após sua confissão de Jesus como o Cristo e de sua instalação, revela que, logo de início, a Igreja se escandalizou com o Cristo sofredor. Ela não quer semelhante Senhor e, como Igreja de Cristo, não quer permitir que ele lhe imponha a lei do sofrimento. O protesto de Pedro exprime sua relutância em se dispor a sofrer. Deste modo é que Satanás entrou na Igreja, pretendendo arrancá-la à cruz de seu Senhor.

Jesus, portanto, viu-se na contingência de esclarecer de modo insofismável que o imperativo do sofrimento era extensivo aos discípulos. Assim como o Cristo somente é Cristo quando sofredor e rejeitado, também o discípulo somente é discípulo quando sofredor e rejeitado, crucificado com Cristo. O discipulado como união com a pessoa de Jesus Cristo coloca o discípulo sob a lei de Cristo, ou seja, sob a cruz.

Porém, ao comunicar esta verdade inalienável a seus discípulos, Jesus começa por lhes dar plena liberdade, o que é digno de nota. "Se alguém quiser vir após mim...", diz Jesus. Não é algo óbvio, nem mesmo entre os discípulos. Ninguém pode ser forçado a isso, nem mesmo se pode esperar que alguém o faça; antes: "se alguém quiser" segui-lo, a despeito de quaisquer outras ofertas que lhe sejam feitas. Uma vez mais, tudo depende da decisão individual; em pleno discipulado, toda a carreira é, uma vez mais, interrompida, tudo fica em aberto, nada se espera, nada se impõe. Tão incisivo é o que agora se vai dizer que, uma vez mais, antes de se anunciar a lei do discipulado, os próprios discípulos têm que sentir-se em liberdade.

"Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue." Assim como Pedro disse com relação a Cristo: "Não conheço esse homem", deverá o discípulo dizer em relação a si mesmo. A autonegação jamais pode consistir de uma série, por longa que seja, de atos avulsos de automartirização ou de exercícios ascéticos; autonegação não é suicídio, porque ainda aí a vontade do ser humano pode impor-se. A autonegação consiste em conhecer apenas a Cristo, e não mais a si próprio; em ver somente aquele que segue em frente sem olharmos o caminho que julgamos tão difícil. A autonegação diz apenas isso: ele vai na frente; apega-te a ele.

"... tome a sua cruz". Jesus, em sua graça, preparou os discípulos para o impacto destas palavras através do ensino da autonegação. Só após termos esquecido real e totalmente a nós próprios, somente após não nos conhecermos mais a nós mesmos, é que poderemos estar prontos para levar a cruz por amor a ele. Se conhecermos tão-somente a ele, não conheceremos mais as dores de nossa cruz, pois só a Jesus é que veremos. Se ele não nos tivesse bondosamente preparado para ouvirmos estas palavras, não as poderíamos suportar. Todavia, assim ele nos deu condições de aceitar também esta dura palavra como graça. Tal palavra nos encontra na alegria do discipulado e nele nos confirma.

A cruz não é desventura nem pesado destino; é o sofrimento que resulta da união exclusiva com Cristo. A cruz não é sofrimento casual, mas sofrimento necessário. A cruz não é sofrimento relacionado com a existência natural, mas com o fato de pertencermos a Cristo. A cruz não é, essencialmente, apenas sofrimento, mas sim sofrimento e rejeição - rejeição no sentido rigoroso, rejeição por amor de Jesus Cristo, e não em conseqüência de qualquer outra atitude ou confissão. Um cristianismo que não vinha mais tomando o discipulado a sério, que transformara o Evangelho no consolo da graça barata e para o qual a existência natural e a existência cristã estavam inseparavelmente misturadas, tal cristianismo tinha que considerar a cruz uma desventura diária, uma tribulação e angústia de nossa vida natural. Esqueceu-se que cruz significa sempre também rejeição, que o opróbrio do sofrimento é inerente à cruz. Ser rejeitado no sofrimento, desprezado e abandonado pelos seres humanos, como se lamenta tanto o Salmista, eis a característica essencial do sofrimento da cruz que já não é compreensível a uma cristandade incapaz de distinguir entre existência civil e existência cristã. A cruz é a compaixão com Cristo, sofrer com Cristo. Somente a união com Cristo, tal como esta se verifica no discipulado, está, de fato, sob a cruz.

"... tome a sua cruz." Ela já está preparada desde o início; falta apenas levá-la. Porém, para que ninguém pense que tem que sair à procura de uma cruz qualquer, seja onde for, ou que deve procurar voluntariamente o sofrimento, Jesus diz que existe uma cruz já preparada para cada um de nós, uma cruz a nós destinada e atribuída por Deus. Cada qual tem que suportar a medida de sofrimento e rejeição que lhe é reservada. Essa medida varia de pessoa para pessoa, pois a um Deus honra com maior sofrimento, dando-lhe, inclusive, a graça do martírio; a outro, porém, não permite que seja tentado além de suas forças. No entanto, a cruz é uma só.

A cruz é imposta a cada crente. O primeiro sofrimento com Cristo, ao qual ninguém escapa, é o chamado que nos chama para fora das vinculações com o mundo. E a morte do velho ser humano no encontro com Jesus Cristo. Quem entra no discipulado entrega-se à morte de Jesus, expõe sua vida à morte. Isso é assim desde o princípio; a cruz não é o fim horrível de uma vida piedosa e feliz, mas se encontra no começo da comunhão com Jesus Cristo. Todo chamado de Jesus conduz à morte. Quer devamos abandonar casa e profissão, como o fizeram os primeiros discípulos, para o seguir, quer, com Lutero, abandonemos o convento para ingressar na profissão secular, em ambos os casos aguarda-nos a mesma morte, a morte em Jesus Cristo, a extinção do velho ser humano por causa do chamado de Jesus. Porque o chamado de Jesus ao jovem rico lhe traz a morte, porque este somente pode ser discípulo como alguém cuja vontade própria morreu, porque cada ordem de Jesus nos chama a morrer com todos os nossos desejos e ambições, e porque não podemos desejar nossa própria morte, por isso Cristo tem que ser, em sua Palavra, nossa morte e nossa vida. O chamado ao discipulado de Jesus, o Batismo em nome de Jesus Cristo é morte e vida. O chamado de Cristo, o Batismo coloca o cristão em luta diária contra o pecado e o diabo. Assim, cada dia, com suas tentações da carne e do mundo, traz consigo novos sofrimentos de Jesus Cristo para o discípulo. Os ferimentos aí infligidos, as cicatrizes que o cristão leva desta luta, são sinais vivos da comunhão na cruz de Jesus.

Há, porém, outro sofrimento e outro vexame que a nenhum crente é poupado. É certo que somente o sofrimento de Cristo é sofrimento expiatório; todavia, por Cristo ter sofrido pelo pecado do mundo, por ter caído sobre ele todo o fardo da culpa, e por Jesus Cristo ter dado aos que o seguem parte no fruto de seu sofrimento, recaem também sobre o discípulo a tentação e o pecado que o encobrem de grande vergonha e o expulsam, qual bode expiatório, para fora das portas da cidade. Assim o cristão toma sobre si os pecados e a culpa de outros seres humanos. Certamente o cristão estaria aniquilado sob tal peso, não estivesse sendo ele próprio sustentado por aquele que tomou sobre si todos os pecados. Deste modo, porém, o cristão pode, na força da Paixão de Cristo, suportar os pecados que sobre ele caem no momento em que os perdoa. O cristão toma fardos sobre si - "Levem as cargas uns dos outros, e assim cumprirão a lei de Cristo." (Gl 6. 2). Assim como Cristo toma sobre si nosso fardo, devemos também nós levar as cargas dos irmãos; a lei de Cristo, que tem que ser cumprida, é carregar a cruz. O fardo do irmão que devo levar não é apenas sua situação, a maneira de ser, o temperamento, mas, acima de tudo, seus pecados. Não posso levá-los sobre mim de outra forma senão perdoando-os a ele no poder da cruz de Cristo, cruz da qual me tornei participante. Assim o chamado de Jesus para levarmos nossa cruz coloca cada discípulo na comunhão do perdão dos pecados. O perdão dos pecados é o sofrimento de Cristo ordenado ao discípulo, imposto a todos os cristãos.

Como, porém, saberá o discípulo qual é sua cruz? Ele a receberá ao entrar no discipulado do Senhor sofredor; na comunhão de Jesus, reconhecerá sua cruz.

O sofrimento é, pois, a característica dos seguidores de Cristo. O discípulo não está acima de seu mestre. O discipulado é passio passiva, é sofrimento obrigatório. Por isso, Lutero incluiu o sofrimento no rol dos sinais da verdadeira Igreja. Um anteprojeto da Confessio Augustana definiu a Igreja como comunidade dos que são "perseguidos e martirizados por causa do Evangelho". Quem não quiser tomar sobre si a cruz, quem não quiser expor sua vida ao sofrimento e à rejeição por parte dos seres humanos, perde a comunhão com Cristo e não é seu discípulo. Quem, porém, perder sua vida no discipulado, no carregar da cruz, tornará a encontrá-la no próprio discipulado, na comunhão da cruz com Cristo. O oposto do discipulado é envergonhar-se de Cristo, envergonhar-se da cruz, escandalizar-se por causa da cruz.

O discipulado é união com o Cristo sofredor. Por isso, nada há de estranho no sofrimento do cristão; antes, é graça, é alegria. Os relatos sobre os primeiros mártires da Igreja testemunham que Cristo transfigura para os seus o momento extremo do suplício com a certeza indescritível de sua proximidade e comunhão. Assim, nos tormentos mais atrozes sofridos por amor a Cristo, os mártires experimentaram a máxima alegria e bem-aventurança da comunhão com seu Senhor. Suportar a cruz se lhes revelou como a única maneira de triunfar sobre o sofrimento. Isto, porém, aplica-se a todos quantos seguem a Cristo, porque foi igualmente válido para ele.

Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim esse cálice! Todavia, não como eu quero, e, sim, como tu queres... Tornando a retirar-se, orou de novo, dizendo: Meu Pai, se não é possível passar de mim esse cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade. (Mt 26.39 e 42).

Jesus pede ao Pai que faça passar aquele cálice; e o Pai ouviu a prece do Filho. O cálice do sofrimento passaria - porém, unicamente ao ser bebido. Jesus sabe isso perfeitamente ao se ajoelhar pela segunda vez no Getsêmani; sabe que o sofrimento passará ao ser suportado. Somente suportando-o é que ele o vencerá e derrotará. A cruz é sua vitória.

Sofrimento é afastamento de Deus. Por isso é que quem se encontra na comunhão de Deus não pode sofrer. Jesus confirmou esta lição do Antigo Testamento. Justamente por essa razão é que ele toma sobre si o sofrimento de todo o mundo, vencendo-o assim. Ele sofre toda a separação de Deus. O cálice passa se for esvaziado. Jesus quer vencer o sofrimento do mundo; por isso, tem que prová-lo até ao extremo. O sofrimento continua a ser afastamento de Deus; porém, na comunhão do sofrimento de Jesus Cristo, o sofrimento é vencido pelo sofrimento, e justamente no sofrimento se experimenta a comunhão com Deus.

O sofrimento precisa ser suportado para que passe. Ou o mundo tem que suportá-lo e sucumbir sob seu peso, ou ele recai sobre Cristo e é vencido por ele. Dessa maneira é que Cristo sofre em lugar do mundo. Exclusivamente o sofrimento de Cristo é sofrimento expiatório. Mas também a Igreja sabe agora que o sofrimento do mundo está à procura de alguém que o tome sobre si. No discipulado de Cristo, tal sofrimento recai sobre a Igreja, e esta o suporta sabendo-se, por sua vez, suportada por Cristo. Ao seguir a Cristo, sob a cruz, a Igreja de Jesus Cristo representa o mundo perante Deus.

Deus é um Deus carregador. O Filho de Deus tomou sobre si nossa carne e, por isso, suportou a cruz, suportou todos os nossos pecados e, por seu carregar, trouxe a reconciliação. Da mesma forma, o discípulo está chamado a levar fardos. Ser cristão consiste em levar fardos. Como Cristo manteve a comunhão do Pai levando fardos, assim também carregar fardos é, para o discípulo, comunhão com Cristo. O ser humano pode livrar-se do fardo que lhe é imposto. Mas, assim procedendo, ele não se liberta propriamente do fardo; antes, passa a levar um fardo ainda mais pesado, mais insuportável. Leva, por livre escolha, o jugo de si mesmo. Jesus convidou a todos os oprimidos por toda sorte de sofrimentos e fardos para os lançarem fora e tomarem sobre si seu jugo, que é suave, e seu fardo, que é leve. Seu jugo e fardo são a cruz. Colocar-se sob essa cruz não significa miséria e desespero, mas é refrigério e descanso para as almas, é a suprema alegria. Aí, então, não andamos mais sob o peso de leis e fardos de feitura própria, mas sob o jugo daquele que nos conhece e caminha a nosso lado sob o mesmo jugo, onde temos a certeza e a proximidade de sua comunhão. É a Cristo que o seguidor encontra ao tomar sobre si sua cruz.

Isso deve ir não de acordo com teu entendimento, mas acima dele; mergulha na insensatez e dar-te-ei meu entendimento; não saber para onde vais é saber exatamente para onde vais. Meu entendimento torna-te insensato. Assim saiu Abraão de sua pátria sem saber para onde ir. Confiou em minha sabedoria e desistiu de sua própria, e encontrou o caminho certo e o destino certo. Eis o caminho da cruz: tu não o podes achar; eu tenho que guiar-te como a um cego; por isso nem tu, nenhum ser humano, nenhuma criatura, mas eu, eu em pessoa te ensinarei, através de meu Espírito e Palavra, o caminho que deves trilhar. Não a obra que tu escolhes, não o sofrimento que tu imaginas, mas sim o caminho que te é preparado contra tua escolha, contra teu pensamento e desejo - a esse segue, a esse te chamo, nele sê discípulo; é tempo oportuno, teu Mestre chegou. (Lutero).
“Então começou ele a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas, fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, fosse morto e que depois de três dias ressuscitasse. E isto ele expunha claramente. Mas Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo. Jesus, porém, voltou-se e, fitando os seus discípulos, repreendeu a Pedro e disse: Arreda! Satanás, porque não cogitas das coisas de Deus, e, sim das dos seres humanos. Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser, pois, salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho, salvá-la-á. Que aproveita ao ser humano ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Porque qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e de minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos”. (Mc 8.31-38).

Humilhe-se à vista de Deus - Lloyd-Jones


A palavra hebraica «aviva» tem o sentido primário de «preservar», ou «manter vivo». O que Habacuque temia grandemente era que a Igreja estivesse sendo totalmente destruída. Daí orava: «Preserva-a, ó Deus, mantém-na viva, não permitas que ela seja derrotada». Entretanto, avivar não significa somente manter vivo ou preservar, mas também purificar e corrigir, despojar-se do mal. Este é sempre um acompa¬nhamento essencial, toda vez que Deus promove avivamento. Na história de cada reavivamento lemos sobre a ação de Deus, purificando e eliminando o pecado, a impureza e as coisas que estavam embaraçando a Sua causa. . . enquanto a Igreja está sendo preservada, purificada e corrigida, ao mesmo tempo está sendo preparada para a libertação. O profeta olha para a calamidade que se aproxima, e diz: «Ó Senhor, ainda que devamos ser punidos, prepara-nos para a libertação que há de vir. Faze a todo o Teu povo digno das Tuas bênçãos». . .

O apelo final de Habacuque é deveras tocante (capítulo 3, versículo 2) — «na tua ira», diz ele, «lembra-te da misericórdia» . . . Não pede a Deus que se lembre do Seu povo por causa de quaisquer méritos deles. . . A única coisa que ele faz é pedir a Deus que se lembre de Sua natureza e daquele outro lado do Seu santo Ser — a Sua misericórdia. E como se dissesse: «Tempera a ira com a misericórdia. Nada temos para dizer, exceto pedir-Te que ajas de acordo contigo mesmo, que em meio à ira tenhas piedade de nós».

Temos aqui a oração modelo para uma época deste Em todos os nossos «dias nacionais de oração», durante a última guerra, parecia haver a presunção de que nós estávamos certos e de que tudo que tínhamos a fazer era pedir a Deus que derrotasse os nossos inimigos que, só eles, estavam errados. Tinha-se a impressão que não havia lugar para nenhuma humilhação veraz ou confissão de pecado. . . A mensagem deste livro (Habacuque) é que, enquanto não nos humilharmos verdadeiramente. . . enquanto não nos encararmos a nós mesmos como somos aos olhos de Deus. . . não temos direito de procurar paz e felicidade. Enquanto o mundo não aprender estas poderosas lições da Palavra de Deus, não haverá esperança para ele.
               From Fear to Faith ,p.64-6.

O Homem de um Único Tema - (Sermão) - C. H. Spurgeon Postado por Charles Spurgeon / On : 12:38/ SOLA SCRIPTURA - Se você crê somente naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no Evangelho que você crê,mas, sim, em si mesmo - AGOSTINHO.


Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado.” (1Co 2:2 )


Paulo era um homem de muita determinação: tudo o que empreendia levava-o a cabo com todo o seu coração. Se o ouvias dizer "eu me tenho proposto…", podias estar seguro de um vigoroso curso de ação. "Mas uma coisa faço" era sempre o seu lema. A unidade da sua alma e uma poderosa determinação eram as principais características do seu caráter. Antes tinha sido um grande opositor de Cristo e da Sua cruz, e tinha mostrado a sua oposição mediante ferozes perseguições. Não era de surpreender que quando se tornou um discípulo deste mesmo Jesus a quem tinha perseguido, o fizesse de maneira ardente e pusesse todas as suas faculdades ao serviço da pregação de Cristo crucificado.

A sua conversão era tão notável, tão completa e tão radical, que é natural vê-lo tão cheio de energia pela Verdade de Deus como antes tinha sido seu violento inimigo. Um homem tão íntegro como era o apóstolo Paulo, tão completamente capaz de concentrar todas as  forças — tão inteiramente entregue à fé de Jesus — tinha de incorporar-se à Sua causa com todo o seu coração, com toda a sua alma e com toda a sua força, e disposto a não saber de nada mais, exceto do seu Senhor crucificado. Todavia, não pensem que o apóstolo era um homem que só absorvia facilmente um pensamento. Paulo era, acima da maioria dos homens, alguém que raciocinava, calmo, judicioso, franco e prudente. 
Via as implicações e as relações das coisas e não dava importância aos assuntos triviais. Talvez, até além do que fosse perfeitamente justificável, chegou a ser tudo para todos, para de todos os modos salvar a alguns e, portanto, qualquer resolução que tomasse, tomava-a só depois de consultar com a sabedoria. Paulo não era um fanático do tipo que pode ser comparado a um touro que fecha os seus olhos e investe de frente, sem ver nada do que está à sua direita ou à sua esquerda — ele via com calma, com quietude, tudo o que estava ao seu redor, e ainda que no final se lançasse em linha reta para o seu único objetivo, fazia-o com os seus olhos bem abertos, sabendo perfeitamente que o que fazia, era o melhor e o mais sábio em favor da causa que ele desejava promover.
Se, por exemplo, em Corinto se tivesse requerido que o seu ministério começasse com a proclamação da unidade da Deidade ou com a reflexão filosófica acerca das possibilidades de que Deus se encarnasse — se estes tivessem sido os planos mais sábios para dar a conhecer o reino do Redentor — Paulo os teria adotado. Mas ele os considerou atentamente, e uma vez que os examinou com supremo cuidado, concluiu que nada se podia conseguir com uma pregação indireta, apresentando a Verdade pela metade. Portanto, decidiu prosseguir de frente promovendo o Evangelho mediante a proclamação do Evangelho! Que os homens escutassem ou que se abstiveram de escutar, ele resolveu ir ao grão de uma vez e pregar a Cruz na sua nua simplicidade.
Em vez de saber muitas coisas que o podiam conduzir ao tema principal, não quis saber de nada em Corinto, senão a Jesus Cristo, e a Ele crucificado. Paulo poderia ter dito: "Vou preparar o terreno e educar as pessoas até um certo ponto, antes de apresentar o meu tema principal. Descobrir a minha verdadeira intenção desde o começo pode resultar como o desdobramento da rede à vista dos pássaros, o que não faz senão afugentá-los. Serei cauteloso e reticente e levá-los-ei com astúcia, atraindo-os à busca da Verdade de Deus." Mas Paulo não fez assim! Avaliando completamente a situação como um homem prudente deve fazê-lo, chega a esta decisão: que ele não saberá nada entre eles, exceto a Jesus Cristo, e a Ele crucificado.
Seria muito bom que a "cultura" que escutamos nestes dias, e o tão celebrado "pensamento moderno" chegassem à mesma conclusão! Este teólogo tão renomeado e erudito, depois de ler, tomar notas, aprender e assimilar no coração tudo como poucos homens poderiam fazê-lo, chegou a isto como a essência de tudo — "Estou determinado não saber nada entre vós, senão a Jesus Cristo, e a Ele crucificado." Permita Deus que a habilidade crítica dos nossos contemporâneos e as suas laboriosas considerações os levem a essa mesma conclusão, pela bênção do Espírito Santo.


I. A nossa primeira consideração esta manhã será: QUAL ERA ESSE TEMA A QUE PAULO SE DETERMINOU CONFINAR QUANDO ELE PREGAVA À IGREJA DE CORINTO? Esse tema era um, ainda que muito bem pudesse ser dividido em dois — era a Pessoa e a obra de nosso Senhor Jesus Cristo — pondo especial ênfase naquela parte da Sua obra, a qual sempre enfrenta as maiores objeções, isto é, o Seu Sacrifício substitutivo, a Sua morte redentora. Paulo pregava Cristo em todos os Seus ofícios, mas dava particular importância a Cristo crucificado.

O Apóstolo primeiramente pregava sobre a pessoa do seu grandioso Mestre, Jesus Cristo. Quando Paulo falava de Jesus de Nazaré, não havia nenhuma margem de dúvida. Apresentava-O como um homem real — e não como um fantasma — que foi crucificado, morto e sepultado, e que ressuscitou dos mortos com uma existência corporal real. Tampouco havia nenhuma dúvida a respeito de Sua Divindade. Paulo pregava Jesus como o Filho do Altíssimo, como a sabedoria e o poder de Deus, "no qual habita corporalmente toda a plenitude da Deidade". Ao escutar Paulo, não existia nenhuma dúvida de que acreditava tanto na Divindade como na Humanidade de nosso Senhor Jesus Cristo — e rendia-Lhe culto e adorava-O como ao Deus verdadeiro de Deus verdadeiro. Pregava a Sua Pessoa com toda a claridade de linguagem e com o calor do amor. O Cristo de Deus era Tudo em Tudo para o Paulo.

O apóstolo falava igualmente com toda claridade do trabalho do Redentor, pondo especial ênfase sobre a Sua morte. "Horrível", dizia o Judeu, "como podes vangloriar-te acerca de um Homem que morreu como um criminoso e era maldito já que foi pendurado dum madeiro!" "Ah", dizia o Grego, "não queremos saber mais do teu Deus que morreu! Deixa já de palrar a respeito da ressurreição. Nunca vamos acreditar em semelhante loucura." Mas, Paulo não pôs de lado estas coisas dizendo "Senhores, começarei por contar-lhes a vida de Cristo e a excelência do Seu exemplo — e mediante isto espero convencê-los de que havia algo de Divino n’Ele, para posteriormente concluir que Ele fez uma expiação pelo pecado." 
Justamente o contrário, ele começava com a Sua bendita Pessoa e claramente O descrevia conforme tinha sido ensinado pelo Espírito Santo! E quanto à Sua crucificação, punha-a em primeiro plano, dando-lhe o lugar de proeminência. Não dizia: "Bem, por agora não tocaremos o tema da Sua morte" ou "Consideraremo-lo da perspectiva de um martírio mediante o qual Ele ratificou o Seu testemunho", Não! Paulo glorificava no Redentor crucificado, o Cristo morto e sepultado, o Cristo que carregou com os pecados, o Cristo feito maldição por nós, como está escrito: "Maldito tudo o que é pendurado num madeiro." Este foi o tema em que se concentrou em Corinto — e não tocou nenhum outro. Mais ainda, não somente decidiu limitar a sua pregação a esse ponto, mas resolveu não saber de nenhum outro tema! Ele queria excluir da sua mente qualquer outro pensamento, exceto o do Jesus Cristo e Ele crucificado!

Isto deveu parecer muito pouco político. Consultem-no numa assembléia de sábios segundo o mundo, e certamente condenarão este enfoque imprudente; em primeiro lugar, este tipo de pregação afastaria a todos os Judeus. Estando os Judeus apegados às Escrituras do Antigo Testamento e conhecendo os ensinos sobre o Messias e acreditando firmemente na unidade da Deidade, eles tinham avançado um bom trecho para a luz — e se Paulo tivesse evitado os pontos de discórdia por um pouco de tempo mais — não os teria aproximado um pouco mais e assim, gradualmente, os conduziria à cruz? Os sábios teriam assinalado a esperança que havia para os israelitas, se os tratava com discrição, e o seu conselho teria sido: "Não te pedimos que renuncies aos teus sentimentos, Paulo, simplesmente disfarça-os um pouco de tempo mais! Não digas o que não é verdade, mas ao mesmo tempo sê um pouco reticente acerca do que é verdade, para não espantar a estes judeus cheios de esperança."
O apóstolo não cedia ante tais políticas! Ele não ia ganhar nem a Judeus nem a Gentios dizendo verdades pela metade, posto que sabia que tais convertidos não são verdadeiros. Se o homem que está perto do reino vai ser afugentado do Evangelho ao ouvir a crua Verdade, isso não é da responsabilidade de Paulo; Ele sabe que o Evangelho deve ser para uns "aroma de morte para morte", enquanto que para outros "aroma de vida para vida" e, portanto, independentemente do resultado, ele devia entregar a sua própria alma: os resultados não correspondiam a Paulo, mas ao Senhor! A nós corresponde-nos dizer a Verdade com denodo, e em cada caso seremos um aroma grato a Deus. Mas querer contemporizar, esperando obter conversões, é fazer um mal para obter um bem — e isto deve estar fora da nossa consideração em todo momento!
Outro diria: "Mas Paulo, se tu fizeres isto, vais gerar oposição. Não sabes que o Cristo crucificado é um objeto de escárnio e uma recriminação para todos os seres pensantes? Em Corinto há um bom número de filósofos e, crê-me, farás um monumental ridículo se apenas abres a tua boca para falar do Crucificado e da Sua ressurreição. Não te lembras como se escarneceram de ti na Colina de Marte, quando pregaste sobre esse tema? Não lhes provoques o seu desprezo! Debate com o seu Gnosticismo e mostra-lhes que tu também és um filósofo. Sê todas as coisas para  com todos os homens. Sê um intelectual entre os intelectuais e mostra a tua retórica entre os oradores. Mediante estas técnicas farás muitas amizades e assim gradualmente a tua conduta conciliatória os conduzirá a aceitar o Evangelho."

O apóstolo sacode a sua cabeça, o seu pé golpeia o chão e com voz firme declara: "Já o decidi", diz, "cheguei a uma conclusão, estão desperdiçando os vossos comentários e o vosso conselho no que a mim concerne. Decidi não saber nada no meio dos Coríntios — sem importar quão cultos sejam os que são gentios ali, ou quanto amem a retórica — só quero saber de Jesus Cristo, e Ele crucificado." Essa é a posição do Paulo. É muito importante observar adicionalmente que o Apóstolo estava convencido que o seu tema ia atrair de tal maneira os seus ouvintes, que ele não precisava recorrer à excelência de palavras para apresentá-lo nem adorná-lo com sabedoria humana.
Talvez vocês tenham escutado do famoso pintor que pintou o rei Jaime I. Ele representou-o sentado sob uma caramanchão com todas as flores da estação ao seu redor — e ninguém emprestou a menor atenção ao rosto do rei, posto que todas as olhadelas eram cativadas pela beleza das flores! Paulo resolveu não ter flores ao seu redor! O quadro que ele ia desenhar devia ser de Cristo crucificado, sem adornos, e a doutrina da Cruz, com a exclusão de qualquer flor que proviesse de poetas ou de filósofos! Alguns de nós devemos ser discretos a respeito da nossa resolução de evitar uma linguagem florida, já que podemos ser muito pouco dotados a esse respeito. Mas o Apóstolo era um homem de poderes naturais subtis e de vastos predicados pessoais — um homem ao qual não poderiam desprezar os críticos de Corinto — se bem que Paulo se tenha despojado de todo o ornamento para dar passo à beleza sem adornos da Cruz!
Da mesma maneira que ele não adicionaria flores, tampouco ia enegrecer a Cruz com fumo, pois há uma forma de pregar o Evangelho que o asfixia no mistério e na dúvida, de tal maneira que os homens não podem recebê-lo. Um grupo numeroso de pessoas está sempre aquecendo e removendo um gigantesco caldeirão filosófico, fumegante com um denso vapor, que oculta a Cruz de Cristo da maneira mais horrível. Ai daquela sabedoria que oculta a Sabedoria de Deus! É a mais culpada forma de loucura. Algumas pessoas pregam a Cristo, da mesma maneira como é representado, às vezes, um casco de um navio de guerra, em alguma pintura. O pintor pintou unicamente o fumo, de tal forma que te perguntas: "E onde está o navio?" Pois bem, se olhares com atenção, podes, eventualmente, discernir um fragmento da parte superior de um dos mastros e, talvez, uma porção de sua estrutura; o navio estava ali, indubitavelmente, mas o fumo ocultava-o! Da mesma maneira Cristo pode estar na pregação de alguns homens, mas esta pregação encontra-se rodeada de tanta nuvem de pensamento, de tão densa cortina de profundidade, de tão horrível roupagem de filosofia, que os impedem de ver o Senhor!
Paulo pintava sob um limpo céu. Não queria utilizar nenhuma escuridão ilustrada; decidiu abandonar qualquer técnica da oratória quando falava; para não pensar com a profundidade que presumem os filósofos, mas só saber de Jesus Cristo, e Ele crucificado — e apresentá-Lo na Sua própria beleza natural, sem adornos. Ele prescindiu de todo o elemento acessório que tendesse a distrair o olho da mente do ponto mais importante — Cristo crucificado. "Um experimento imprudente", diria alguém. Ah, Irmãos, é o experimento da fé, e a fé é justificada por todos os seus filhos! Se confiarmos no simples poder de persuasão, confiamos no que é nascido da carne! Se dependermos do poder da argumentação lógica, então novamente confiamos no que é nascido da razão do homem! Se confiarmos nas expressões poéticas e nos atrativos rodeios da linguagem, estamos procurando médios carnais.
Mas se descansarmos na Onipotência nua de um Salvador crucificado, no poder inato da maravilhosa obra de amor que foi consumada sobre o Calvário — e se crermos que o Espírito de Deus fará desta obra o instrumento para a conversão dos homens, o experimento não pode terminar no fracasso! Mas oh, meus queridos Irmãos e Irmãs, que tarefa deve ter sido esta para Paulo! Ele não era como muitos de nós, que nem estamos familiarizados com a filosofia nem somos capazes na oratória. Ele dominava ambos os campos de tal maneira que certamente precisava de controlar-se continuamente. Às vezes parece-me vê-lo, — acossado na sua mente por um pensamento profundamente intelectual e assediado ao mesmo tempo por uma bela forma de expressá-lo — e vejo-o controlar-se pondo-se rédeas a ele mesmo e dizendo à sua mente: "Deixarei estes profundos pensamentos para a epístola aos Romanos. Compartilharei tudo isto com eles no oitavo capítulo da carta que lhes escreverei. Mas quanto a estes coríntios, não terão nada senão a Cristo crucificado, posto que eles são muito carnais, grosseiramente escravos de entendimento, e que ir-se-ão com a idéia de que a maneira excelente em que apresentei a Verdade de Deus constituiu a sua força. Terão somente a Cristo — e somente a Cristo. Eles são uns meninos e deverei falar-lhes como a tais. Eles são uns meros meninos em Cristo, e têm necessidade de leite — e leite, só leite lhes darei. Eles consideram-se inteligentes e cultos, mas são arrogantes, altivos, repletos de divisões e controvérsias. Não lhes direi nada exceto a história, "a velha, velha história de Jesus e do Seu amor", e dir-lhes-ei essa historia com toda a simplicidade como a um menino pequeno.”

Um amor sem limites pelas suas almas fez com que o seu testemunho se concentrasse no tema central de Jesus crucificado. E assim lhes mostrei qual era o seu tema.
II. Agora, em segundo lugar, AINDA QUE PAULO CONCENTRASSE AS SUAS ENERGIAS NUM PONTO DO SEU TESTEMUNHO, ISTO ERA MAIS QUE SUFICIENTE PARA O SEU PROPÓSITO. Se a meta do Apóstolo tivesse sido adular um auditório inteligente, o tema de Cristo e Ele crucificado não a teria conseguido. Se de igual maneira Paulo tivesse querido mostrar-se como um sábio professor, naturalmente teria procurado um tema novo, algo um pouco mais deslumbrante que a pessoa e a obra do Redentor. E se Paulo tivesse desejado (como me receio de que alguns dos meus Irmãos o desejam) reunir um grupo de mentes altamente independentes, que é uma maneira elegante de descrever aos livre pensadores — reunir, digo, num grupo uma seleta Igreja de “homens de cultura e de intelecto”, o que geralmente quer dizer um clube de homens que desprezam o Evangelho — certamente não se teria limitado a pregar a Jesus Cristo e Ele crucificado.
Esta classe de homens negar-lhe-ia toda a esperança de êxito com um tema como esse. Eles assegurar-lhe-iam de que uma pregação desse tipo só lhe permitiria atrair à classe os mais pobres e os menos educados — às criadas e às anciãs. Mas Paulo não se teria desanimado com tais observações, porquanto ele amava as almas dos mais pobres e dos mais débeis, e, além disso, ele sabia que o que tinha exercido poder sobre a sua mente educada podia também, com toda a certeza, exercer poder sobre outras pessoas inteligentes, e assim se apegou à doutrina da Cruz, crendo que ele tinha, nesse ponto, um instrumento que poderia obter efetivamente o seu único desígnio com toda classe de homens.

Irmãos, o que era que Paulo desejava fazer? Acima de tudo, Paulo desejava despertar nos pecadores a consciência do pecado — e o que é que isto obtém sempre de uma maneira perfeita, senão a doutrina de que o pecado foi levado por Cristo e foi a causa da Sua morte? O pecador, iluminado pelo Espírito Santo, vê imediatamente que o pecado não é algo insignificante, que não pode ser perdoado sem uma Expiação, mas que suporta um castigo que deve ser aplicado ao pecador. Quando o culpado tem visto o Filho de Deus sangrar até à Sua morte no meio de dores inexprimíveis em conseq6uência do seu pecado, tem aprendido, então, que o pecado é uma carga enorme e esmagadora. Se o mesmo Filho de Deus clama sob seu peso! Se a Sua agonia de morte rasga os céus e sacode a terra, quão terrível mau deve ser o pecado! Que efeito terá sobre a minha alma, se na minha própria pessoa estou condenado a levar as suas consequências? Assim argumenta de maneira correta o pecador e assim é levado à consciência da sua culpa.
Mas, Paulo também queria despertar nas mentes dos culpados essa humilde esperança que constitui o grandioso instrumento que leva aos homens a Jesus. Desejava levá-los à esperança de que se pode outorgar o perdão consistentemente com a justiça. Oh, Irmãos, Cristo crucificado é o único raio de luz que pode penetrar a densa escuridão do desespero, levando o coração arrependido a esperar o perdão do justo Juiz! Acaso pode duvidar o pecador que tem visto a Jesus crucificado? Quando ele entende que há um perdão para cada transgressão, albergado nas feridas sangrentas de Jesus, não se acende imediatamente no seu peito a melhor classe de esperança e é conduzido a exclamar: "Levantar-me-ei, e irei para meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei"?
Paulo anelava muito levar os homens a uma fé real em Jesus Cristo. Mas a fé em Jesus Cristo só pode vir por meio da pregação de Jesus Cristo. A fé vem pelo ouvir, mas esse ouvir tem de ser em relação com o tema sobre o qual descansa a fé. Queres ter crentes em Cristo? Prega a Cristo. As coisas de Cristo, aplicadas pelo Espírito, conduzem os homens a pôr a sua confiança em Cristo. E isso não era tudo. Paulo queria que os homens abandonassem os seus pecados, e o que é que os podia levar a odiar o mal de tal maneira, a não ser ver os sofrimentos de Jesus por causa dos pecados? Tu e eu conhecemos o poder do sangrento Salvador que nos faz querer nos vingar do pecado. Quanta indignação, quanto exame de consciência, quanta firme determinação, quanto remorso amargo, quanto arrependimento profundo não havemos sentido quando compreendemos que os nossos pecados se tornaram nos pregos, no martelo, na lança, sim, nos executores do nosso Bem Amado?
E Paulo desejava formar em Corinto uma Igreja de homens consagrados, cheios de amor, conhecedores da abnegação, uma nação santa, zelosos na realização de boas obras. E permitam-me perguntar-lhes, que mais é necessário pregar a alguém, para promover a sua santificação e a sua consagração, que Jesus Cristo, o qual nos redimiu, e assim, nos tem feito Seus servos, para sempre? Que argumento é mais forte que o fato de que não pertencemos a nós mesmos, porque fomos comprados por um preço? Afirmo que Paulo tinha em Cristo crucificado, o tema igual ao seu objetivo! Ele tinha um tema que responderia ao caso particular de qualquer homem, sem importar o seu nível de degradação ou o seu grau de cultura, e um tema que será muito útil para os homens nas primeiras horas depois de seu novo nascimento, e igualmente útil para quando eles estiverem preparados para participar da herança dos santos na luz. Paulo tinha o tema para hoje e para amanhã, e um tema para o seguinte ano, pois Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre! Ele tinha em Jesus crucificado o tema adequado tanto para o palácio do príncipe como para a choça do camponês, o tema para a praça pública, e para a academia, para o templo pagão e para a sinagoga! Aonde quer que Paulo fosse, Cristo seria a sabedoria de Deus e o poder de Deus tanto para o Judeu como para o Gentio, e isto, não só como uma benéfica influência, mas para a salvação definitiva de todo aquele que crê.
III. Mas devo prosseguir para o terceiro comentário, que O APÓSTOLO NÃO PODERIA CAUSAR DANO A NINGUÉM AO LIMITAR-SE A EXPOR ESTE TEMA. Sabeis, Irmãos, que quando alguém se limita a um só tema torna-se muito forte nele, mas torna-se muito fraco em outras áreas, de tal forma que o homem de um só pensamento é descrito geralmente segundo o dito: 'cada louco com o seu tema'. Pois bem, este era o tema favorito de Paulo, mas era o tipo de tema no qual um homem se pode concentrar sem lesar-se a si mesmo ou ao seu vizinho: continuará um homem íntegro e completo, embora se submeta de maneira total e única a este tema.
Mas deixem-me dizer-lhes que Cristo crucificado é o único tema com esta característica. Permitam-me mostrar-lhes que isto é assim. Conheceis uma classe de ministros que pregam doutrina — e unicamente doutrina. O seu modo de pregar parece-se com a contagem dos dedos de uma mão: "um, dois, três, quatro, cinco", e para variar: "cinco, quatro, três, dois, um", — sempre um conjunto de determinadas Verdades de Deus e nada mais. Qual é o impacto deste ministério? Pois é, geralmente, formar uma geração de homens que pensam que sabem tudo, mas que em realidade sabem muito pouco — muito decididos e isto é positivo — mas muito estreitos, muito limitados, muito intolerantes, o que é negativo! Não podes pregar unicamente doutrina sem que a tua mente se contraia e que contraias a mente dos teus ouvintes.
Há outros que pregam experiência unicamente. São muito boas pessoas. Não os estou condenando, como tampouco aos seus amigos, os pregadores doutrinais, embora eles também possam causar dano. Alguns deles tocam unicamente as notas sombrias da experiência, dizendo-nos que ninguém pode ser um filho de Deus, a menos que esteja consciente do horrível caráter do seu pecado inato, e gema a cada dia sob o peso que o oprime. Há alguns anos escutávamos bastante acerca destas notas sombrias, ainda que agora haja menos abundância delas. Equivoco-me ao afirmar que este ensino forma uma raça de homens que mostram a sua humildade, julgando a todos aqueles que não podem gemer de uma maneira tão grave como eles? Uma nova classe se levantou recentemente que prega acerca da experiência, mas a sua entonação se dá nas notas altas da escala. 
Eles flutuam muito acima, penso, ao estilo dos balões. Só reconhecem o lado brilhante da experiência, sem querer enfrentar o lado escuro e a morte. Para eles não existe a noite; elevam os seus cantos em dias de perpétuo Verão. Conquistaram o pecado e ignoraram-se a si mesmos. Bom, isso afirmam eles, mas nós não teríamos dado conta disso, se eles não nos houvessem dito! Pelo contrário, ter-nos-íamos imaginado que tinham uma muito enriquecida idéia a respeito deles mesmos e de seus lucros. Espero estar errado, mas pareceu que a alguns de nós, em data recente, o ego cresceu de maneira descomunal em alguns dos nossos amados Irmãos! Certamente que as suas práticas e a sua pregação consistem em grande medida em declarações verdadeiramente maravilhosas a respeito da sua própria condição admirável.
Eu gostaria de saber a respeito de seu progresso na Graça, se este acaso for real. Mas eu queria verificar isto pessoalmente ou comprová-lo por meio de terceiros, posto que há um Inspirado Provérbio que diz: "Deixa que outros te louvem, mas não os teus próprios lábios." E, no que a mim respeita, se alguém considerasse adequado elogiar-me, preferiria que guardasse a sua língua, porque o engrandecimento dos homens não é um bom negócio. Unicamente o Senhor deve ser engrandecido! Parece-me que é claro que se originam graves falhas no fato de se pregar uma vida interior, em lugar de pregar a Cristo, que é a própria Vida!
Outra classe de ministros pregaram quase só sobre preceitos. Necessitamos destes homens como também necessitamos dos outros — todos são úteis e funcionam como antídoto duns contra os outros — mas os seus ministérios são incompletos. Se escutarem pregações acerca de deveres e mandamentos, está muito bem, mas se esse é o único tema, o ensino torna-se legalista com o tempo; e em pouco tempo o verdadeiro Evangelho que tem o poder de nos fazer cumprir o preceito, é deslocado para segundo plano — e nem o preceito pode ser cumprido, depois de tudo! Têm que fazer isto, têm que fazer aquilo, têm que fazer o que está mais à frente e terminam por não fazer nada! Se um irmão pretendesse pregar sobre ordenanças unicamente, como aqueles que estão sempre elogiando o que se conhece como os santos sacramentos — bem, vocês sabem para onde vai esse ensino — encaminha-se para o sudeste, e sua linha favorita atravessa a cidade de Roma.
Mais ainda, querido irmão, até se pregas a Jesus Cristo unicamente, deves-te concentrar no ponto em que se concentrou Paulo, isto é, "Ele crucificado", já que não O deves ver sob nenhum outro aspecto, exclusivamente. Por exemplo, a pregação da Segunda Vinda, que no seu lugar e proporção, é admirável, tem sido tomada fora de seu lugar por alguns, e tem-se convertido no fim último e no tudo do seu ministério. Isso, vós vedes, não é o que Paulo tinha escolhido, e não é uma seleção segura. Em muitos casos, o mais flagrante fanatismo tem sido o resultado de concentrar-se exclusivamente na profecia, e provavelmente mais homens enlouqueceram por causa desse tema, que por causa de qualquer outra questão religiosa! Eu não saberei se alguém pode tornar-se fanático acerca de Cristo crucificado, mas nunca escutei nada a esse respeito. Se um homem pode tornar-se louco pelo seu amor para com o Redentor crucificado, não sei, nunca me encontrei com um caso assim. 
Mas se eu me tornasse louco, eu gostaria que fosse por essa causa, e eu gostaria de transmitir essa loucura a muitos, posto que é o tema ideal para perder a razão — ser desarrazoadamente absorvido em Cristo crucificado — perder o sentido pela fé em Jesus! A realidade é que não pode afetar a mente, é uma doutrina que pode ser escutada eternamente, e sempre terá frescura, será nova e adequada para a nossa total humanidade. Digo que a adesão a esta doutrina não pode causar nenhum dano, e a razão é esta — contém tudo o que é vital em si mesmo. Se te mantiveres no limite de Cristo e Ele crucificado, terás apresentado aos homens todo o essencial para esta vida e para a vindoura; ter-lhes-ás dado a raiz da qual pode brotar tanto o ramo como a flor, e o fruto do pensamento santo e a palavra e a obra.
Basta que um homem conheça Cristo crucificado e conhecerá Quem é a fonte de vida eterna. Este é um tema que não desperta uma parte do homem, enquanto a outra parte permanece adormecida. Não estimula a sua imaginação e deixa sem nenhum ensino o seu juízo; não alimenta o intelecto e mata a fome do coração. Não há nenhuma faculdade do nosso ser que não seja afetada permanentemente por Cristo crucificado. A humanidade perfeita de Cristo crucificada afeta a mente, o coração, a memória, a imaginação, o pensamento, tudo! Assim como no leite se encontram todos os ingredientes necessários para a vida, assim em Cristo crucificado se encontra tudo o que necessitamos para o sustento da nossa alma. Assim como a mão do músico principal de David tocava cada uma das dez cordas da sua harpa, assim Jesus extrai uma doce música de toda a nossa humanidade.
Em relação a pregar a Cristo exclusivamente, também devemos adicionar que esta pregação nunca produzirá animosidade. Nunca impregnará as mentes dos homens com perguntas e lutas, como o desses temas subtis que preferem tratar alguns homens. Quando alguns temas são decididos pela minha opinião e pela tua opinião, e pela opinião de um terceiro e inclusive pela de um quarto indivíduo, certamente se vai gerar uma luta. Mas o que se mantém ao pé da Cruz de Cristo, e se acolhe a ela, está precisamente onde pode abraçar a toda a irmandade de verdadeiros Cristãos, posto que todos estamos perfeitamente unidos numa só mente e numa só opinião ali! Não há jactância da opinião do homem na Cruz. "Eu sou de Paulo, eu de Apolo, eu de Cristo", vêm por não se apegar a Jesus crucificado! Mas se nos apegamos à Cruz como pecadores culpados que precisamos de ser limpos por meio do sangue precioso, e que encontramos toda a nossa salvação nesse lugar, então não teremos tempo para nos erigirmos como líderes religiosos e para causar divisões na igreja de Cristo.
Existiu alguma seita na Cristandade gerada pela pregação de Cristo crucificado? Não, meus Irmãos e minhas Irmãs, as seitas são criadas pela pregação de algo muito por cima disto, mas isto é a alma e a essência do cristianismo, e por conseguinte, o vínculo perfeito de amor que mantém os cristãos unidos!
IV. Não direi nada mais, mas passarei para a minha última reflexão, que é esta — devido, a que Paulo fez deste o seu único tema quando estava em Corinto, e não fez nenhum dano a ninguém com este único tema, coisa que não podemos afirmar de nenhum outro tema,RECOMENDO-LHES QUE TODOS NÓS FAÇAMOS DESTE TEMA O CENTRO DOS NOSSOS PENSAMENTOS, DE NOSSA PREGAÇÃO E DOS NOSSOS ESFORÇOS. Homens e mulheres não convertidos, a vós me dirijo em primeiro lugar. Não tenho nada mais para vos pregar que a Jesus Cristo e a Ele crucificado.
Paulo sabia que havia grandes pecadores em Corinto,  porque era costume no mundo de então chamar-se a um homem licencioso, 'um coríntio'. Eles eram um povo que levava a depravação e a lascívia aos seus máximos excessos possíveis, e, não obstante, no meio deles, Paulo não sabia de nada, exceto de Cristo e Ele crucificado, já que tudo o que o maior pecador pode necessitar ali se encontra! Não tens nada em ti, Pecador, e não tens necessidade de nada que o leves a Jesus. Diz-me que não sabes nada acerca das profundas doutrinas do Evangelho — não as precisas de conhecer no momento de vir a Cristo. A única coisa que deves conhecer é esta — que Jesus Cristo, o Filho de Deus, veio ao mundo para salvar aos pecadores e qualquer que creia n’Ele não perecerá, mas viverá eternamente!
Dar-me-á muito gosto que recebas instrução na fé posteriormente, e que conheças as alturas e as profundidades desse amor que ultrapassa todo o conhecimento, mas neste momento a única coisa que precisas conhecer é a Jesus Cristo crucificado! E se nunca passas dali, se sua mente for de uma natureza tão fraca que nunca possas entender nada de maior profundidade que isto, eu, pelo menos, não sentirei nenhuma preocupação, já que terás encontrado o que te libertará do poder e do castigo do pecado, e o que te levará ao Céu, para estares onde, esse mesmo Jesus que foi crucificado, se senta no trono, à mão direita de Deus! Oh, querido coração afligido pela pena, se queres encontrar alívio, poderás fazê-lo nas Suas feridas! Se queres encontrar descanso, tens de encontrá-lo nas feridas das Suas mãos! Se queres escutar a tua absolvição, tem de provir dos mesmos lábios que pronunciaram docemente: "Consumado é." Deus não permitia que nada saibamos no meio dos pecadores, exceto Cristo e Ele crucificado! Olhai para Ele, e unicamente para Ele e encontrarão o descanso para as vossas almas!
Quanto a vós, meus Irmãos e Irmãs, que conheceis a Cristo, tenho isto para vos dizer — mantenham isto à frente, e nenhuma outra coisa, a não ser isto só, porque é contra isto que o inimigo se enfurece. A parte da linha de batalha que é atacada mais ferozmente pelo inimigo, é certamente a mais estratégica. Os homens odeiam àqueles a quem temem. O antagonismo dos inimigos do Evangelho é principalmente contra a Cruz. Desde o começo foi assim. Eles gritavam: "Ele que desça agora da Cruz e nós creremos n’Ele." Escreverão para nosso benefício belas vidas de Cristo e dir-nos-ão que foi um homem excelente e darão ao nosso Senhor a homenagem que os seus lábios de Judas Lhe podem outorgar; referir-se-ão, também, ao Seu sermão do monte e dirão que profundidade de percepção teve do coração humano e nos dirão que ensinava um esplêndido código moral, e assim, sucessivamente. Dirão: "Seremos cristãos, mas rechaçamos totalmente o dogma da Expiação."
A nossa resposta é que nada nos importa do que tenham para dizer acerca do nosso Senhor se negam o Seu sacrifício substitutivo. Se Lhe dão vinho ou vinagre, não é um tema relevante, enquanto que rechacem o que nos diz o Crucificado. Os louvores dos incrédulos dão-nos asco! Quem quer escutar os louvores a Deus provenientes de lábios contaminados? Essas palavras açucaradas são muito semelhantes àquelas que saíram da boca do diabo quando disse: "Eu sei quem és: o Santo de Deus!" Jesus repreendeu-lhe, dizendo: "Cale-te e sai dele!" Da mesma maneira queremos dizer aos incrédulos que exaltam a vida de Cristo — “Cala-te! Conhecemos a tua inimizade, ainda que a disfarces como queiras! Ou Jesus é o Salvador dos homens ou não é nada. Se não aceitas a Cristo crucificado, não O podes aceitar de nenhuma outra maneira.”


Meus Irmãos e irmãs em Jesus, convido-vos a nos glorificarmo-nos no sangue de Jesus! Fazei com que seja patente, como se ele tivesse sido salpicado no umbral  e nos dois postes laterais das nossas portas e deixemos que o mundo saiba que a redenção por meio do sangue está escrito nas mais íntimas partes das tábuas dos nossos corações! Irmãos, este é o ponto de prova de cada professor. Quando um peixe se decompõe, começa a apodrecer pela cabeça, conforme dizem, e certamente quando um pregador se torna um herege, é sempre em relação com Cristo. Se não entender com claridade Jesus crucificado e se escutas um dos seus sermões — essa é a tua pouca sorte. Mas se retornasses para escutá-lo de novo e ouvires um sermão igual ao primeiro, então essa seria a tua culpa. Se fosses pela terceira vez ouvi-lo, terias cometido um crime! Se algum homem tiver dúvidas a respeito de Cristo crucificado, que recorde os versos de Hart, porque dizem a verdade:

"Não podes ter razão em todo o resto,
a menos que penses a verdade acerca d’Ele."

Não quero examinar aos homens em relação com todas as doutrinas da Confissão de Fé de Westminster. Eu começo aqui: "O que pensas tu de Cristo?" Se não podes responder a essa pergunta, vai e publica os teus pontos de vista onde queiras, mas tu e eu estamos tão separados como o estão os pólos! E não desejo ter nenhuma comunhão contigo. Devemos falar muito claramente aqui. É "Cristo crucificado" o que Deus abençoou para conversão. Deus abençoou William Huntingdon para converter almas por seu meio —  estou seguro disso, ainda que não sou um partidário de Huntingdon. Deus abençoou John Wesley para converter almas por seu meio. Também fica muito claro isso, ainda que não sou um partidário de Wesley. Deus abençoou-os a ambos, e ambos deram testemunho de Cristo — e encontrareis isso na proporção em que a expiação de Cristo esteja presente num sermão, é o sangue vital desse sermão — e isso é o que Deus santifica para a conversão dos filhos dos homens. Portanto, conserva o tema sempre num lugar muito proeminente!
E agora pergunto-vos, meus Irmãos, uma coisa mais: Não é Cristo e Ele crucificado a coisa pela qual devemos viver e pela qual devemos morrer? Os homens do mundo podem viver para as suas vaidades; podem sentir muito gozo sob as suas respectivas aboboreiras, como a de Jonas, enquanto lhes durem. Mas quando um homem tem depressão de espírito e é torturado no seu corpo, para onde pode olhar? Se for um Cristão, onde pode refugiar-se? Onde mais, a não ser em Cristo crucificado! Quão freq6uentemente tenho sentido muito gozo ao me arrastar para entrar num templo e pôr-me nos sapatos do pobre publicano e dizer: "Deus, sê propício a mim, que sou pecador", olhando unicamente a esse propiciatório salpicado com o precioso sangue de Jesus? Isto é o que servirá na hora da morte. Não creio que na hora da nossa morte busquemos o consolo das nossas peculiares Igrejas. Nem vamos morrer aferrados aos puros regulamentos ou às doutrinas, no meio dos estertores da morte. A nossa alma deve viver e morrer sobre Jesus crucificado!
Reparem a todos os santos no momento das suas mortes, e verão que regressam ao grande sacrifício do Calvário. Eles criam numa grande variedade de coisas; alguns deles apoiavam-se em muitas muletas, caprichos e raridades, mas o ponto principal prevalece na hora da morte. "Jesus morreu por mim, Jesus morreu por mim" — todos chegam a isso! Bem, não te pareceria bem, ir desde o princípio, ao ponto a que eles chegaram no final? E se esse ponto é a base de tudo, e certamente o é, não seria adequado que nos apegássemos a ele? Enquanto que alguns se glorificam nisto e outros se glorificam naquilo, e alguns têm uma forma de culto, e outros, outra forma, nós digamos: "Mas longe esteja de mim o me glorificar, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo está para mim crucificado e eu para o mundo."
Irmãos, recomendo-lhes que façam cada vez mais proeminente a Cruz de Cristo, porque é o que nos dará mais coesão e o que nos manterá numa bendita unidade. Nem todos podemos entender essas verdades subtis que dependem tanto de bonitas variações e essas subtilezas de significado no grego que só os críticos podem descobrir. Se buscas estas belezas, Irmão, então deves esquecer-te de muitos de nós, pobres tolos, porque não podemos correr atrás delas — e só nos confundirás. Sei que tens esse delicado conceito belamente fixado na tua mente e o tens em muito alta estima, e não me surpreende, já que te tem custado muita reflexão e isso mostra o teu poder de discernimento. Ao mesmo tempo, não crês que deves baixar ao nível de alguns de nós, que nunca poderemos alcançar esses temas intrincados enquanto vivamos?
Alguns de nossos cérebros são ordinários. Temos de ganhar o nosso pão e de nos relacionar com gente ordinária. Sabemos que dois vezes dois são quatro, mas não estamos familiarizados com os princípios tão escondidos e ocultos da alta filosofia a que vocês subiram. Eu não sei muito disso, eu não remonto a essas alturas e nunca subirei ali com vocês. Portanto, não seria melhor pela unidade da fé que deixassem estes temas de lado, que praticassem mais a amizade em casa, que mostrassem mais amor pelos vossos colegas cristãos e que se aplicassem um pouco mais com os deveres de natureza mais comum? Só vos faria um grande bem, e tornaria um pouco mais visível a vossa humildade, se ficassem lá em baixo com Jesus Cristo e Ele crucificado.
Pessoalmente posso saber muitas coisas; especialmente eu poderia fazê-lo, já que todo mundo trata de me ensinar algo! Recebo montões de conselhos: alguém me puxa desta orelha e o outro me puxa pela outra. Bem, eu poderia saber muito, mas dou-me conta de que teria que deixar a alguns de vocês atrás, se queria ir atrás dessas coisas, e amo-vos muito para fazer isso. Tenho a determinação de não saber nada entre vocês, exceto a Jesus Cristo e Ele crucificado. A qualquer homem que se sujeite a isso direi: "Dá-me a tua mão, meu irmão, Jesus lavou-a com o Seu sangue da mesma maneira que lavou a minha. Vem, Irmão, e olhemos juntos à mesma Cruz. O que pensas dela?”
Há uma lágrima no teu olho, e há uma lágrima no meu, mas os nossos rostos ruborizam-se de gozo por causa do profundo amor que ali cravou a Jesus. “O que faremos nós em frente desta Cruz?" O meu irmão diz: "Eu irei ganhar almas." Respondo-lhe: "Eu também." Meu irmão diz: "Eu tenho uma forma de falar", e eu respondo-lhe: "Eu tenho outra maneira, pois os nossos dons são diferentes, mas nunca chocaremos, já que servimos a um só Senhor e a um só Deus, e não seremos divididos, nem neste mundo presente nem no vindouro." Deixem que Apolo diga o que queira, ou Paulo ou Pedro, e aprenderemos de todos eles; dar-nos-á muito gosto fazê-lo. Mas, de todos os modos, não nos moveremos da Cruz, mas estaremos muito firmes ali, já que Jesus é o primeiro e o último, o Alfa e a Ómega. Amém.

Sermão n.º 1264 - O HOMEM DE UM ÚNICO TEMA, C. H. Spurgeon

Sermão n.º 1264 (The man of one subject) pregado no domingo, 31 de Outubro de 1875 por Charles Haddon Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington.


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Tradução livre de Carlos António da Rocha

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O homem, cujo tesouro é o Senhor, tem todas as coisas concentradas nEle. Outros tesouros comuns talvez lhe sejam negados, mas mesmo que lhe seja permitido desfrutar deles, o usufruto de tais coisas será tão diluído que nunca é necessário à sua felicidade. E se lhe acontecer de vê-los desaparecer, um por um, provavelmente não experimentará sensação de perda, pois conta com a fonte, com a origem de todas as coisas, em Deus, em quem encontra toda satisfação, todo prazer e todo deleite. Não se importa com a perda, já que, em realidade nada perdeu, e possui tudo em uma pessoa Deus de maneira pura, legítima e eterna. A.W.Tozer

"A conversão tira o cristão do mundo; a santificação tira o mundo do cristão." JOHN WESLEY"

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Alimentar-se da Palavra "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração." (Hebreus 4 : 12).Erram por não conhecer as Escrituras, e nem o poder de Deus (Mateus 22.29)Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo. Apocalipse 1:3

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