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28 de mar. de 2011

Três Filosofias de Vida - Hernandes D.Lopes



O que Acontece com os Infantes que Morrem? - John Piper



Este é um assunto difícil e sensível. Qualquer resposta deve levar em consideração que todos nós nascemos pecaminosos e, portanto, merecedores de julgamento. A ênfase consistente do Novo Testamento sobre a necessidade de um segundo nascimento indica que nosso estado natural é aquele de pecado, não de inocência (João 3:1-12; Efésios 2:1-5; cf. Salmo 51:5). Nós somos “por natureza filhos da ira” (Efésios 2:1). 



Em adição, ao possuirmos uma natureza pecaminosa, nós também entramos neste mundo com o pecado de Adão imputado em nós. Por causa de nossa união com Adão, nós nascemos com a culpa de seu primeiro pecado (Romanos 5:12-21). Nós analisaremos esta doutrina com mais detalhe em outra parte, mas por ora é suficiente apontar que, de acordo com Paulo, o fato de que todos morrem fisicamente (mesmo aqueles que, como infantes, não tiveram a oportunidade de conscientemente transgredir a lei de Deus – Romanos 5:13-14) é uma demonstração que nós estamos unidos com a culpa do pecado de Adão.

Se todos nós nascemos sob pecado, e a salvação é pela fé em Cristo (a qual os infantes parecem não ter a capacidade mental de exercer), então poderia parecer, à primeira vista, que nenhum infante pode ser salvo. Nós não estamos, contudo, cientes de alguém que assuma realmente esta posição. Estamos convencidos que isto seria uma conclusão prematura, anti-bíblica.

Uma razão é que há aparentes exemplos nas Escrituras de infantes que foram salvos. Nós somos informados que João o Batista foi cheio do Espírito enquanto ainda estava no ventre de sua mãe (Lucas 1:15). Na teologia de Lucas, ser cheio do Espírito é consistentemente visto como um aspecto da obra do Espírito entre aqueles que são regenerados (Lucas 1:41,67; Atos 2:4-8,31; 6:3,5; 9:17; 11:24).

Centenas de anos antes de João o Batista, Davi escreveu: “Mas tu és o que me tiraste do ventre: o que me preservaste estando ainda aos seios de minha mãe. Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe” (Salmos 22:9-10). Por causa da aparente menção de Davi de ter fé em Deus, embora ainda um infante, alguns têm concluído que Deus salva os infantes dando-lhes uma forma “primitiva” de fé. Esta conclusão, contudo, não é necessária para o nosso propósito; a coisa principal neta passagem é que Davi evidentemente estava em uma relação salvífica com Deus, desde o ventre de sua mãe.

Estes versos tornam muito improvável que todos infantes que morrem estão perdidos. Se Deus salvou João o Batista e Davi na infância, certamente estamos autorizados a concluir que Ele tem salvado outros na infância que não tiveram a oportunidade de crescer. Todavia, não estamos também autorizados para concluir destes textos que todos que morrem na infância estão salvos. A regeneração dos infantes não parece ser uma forma comum da obra de Deus; devemos guardar em mente que “os ímpios alienam-se desde a madre; andam errados desde que nasceram, proferindo mentiras” (Salmos 58:3).

À luz destas coisas, alguns têm sustentado que Deus salva alguns infantes que morrem e outros não. Eles declaram que esta é uma visão mais consistente com as doutrinas da eleição e do pecado original.

John Piper e muitos outros, contudo, crêem que há mais margens bíblicas de evidência que devem ser consideradas. Esta evidência leva-nos a concluir que Deus salva todos os infantes que morrem.

Em um sermão fúnebre, anos atrás, de um infante, o Dr. Piper sumarizou a base para sua conclusão:

Jesus disse em João 9:41, para aqueles que foram ofendidos por Seu ensino e perguntaram se Ele pensava que eles fossem cegos – Ele disse, “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado: mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece”. 


Em outras palavras, se uma pessoa carece da capacidade natural de ver a revelação da vontade de Deus ou da glória de Deus, então, o pecado desta pessoa não permanece – Deus não trará esta pessoa para o julgamento final porque não creu no que ela não tinha capacidade natural para ver.

O outro texto é Romanos 1:20, onde Paulo está tratando com pessoas que não tinham ouvido o evangelho e que não tinham tido acesso a ele, mas que tinham acesso à revelação da glória de Deus na natureza. 


Romanos 1:20 – “Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas,para que eles fiquem inescusáveis”. 


Em outras palavras: se uma pessoa não tem acesso à revelação da glória de Deus – não tem a capacidade natural para ver e entendê-la, então Paulo implica que eles terão uma escusa no julgamento. 


O principal para nós é que, embora nós seres humanos estejamos sob a penalidade do julgamento e morte eterna por causa da queda de nossa raça em pecado e da natureza pecaminosa que todos nós temos, todavia, Deus apenas executa este julgamento sobre aqueles que possuem a capacidade natural para ver Sua glória e entender Sua vontade, e recusar abraçá-la como seu tesouro.

Os infantes, creio, ainda não possuem tal capacidade; e, portanto, no modo inescrutável de Deus, Ele lhes traz sob o sangue perdoador de Seu Filho. 
Em outro sermão, ele adiciona:

Deus, em Sua justiça, encontrará um modo para absolver os infantes que morrem na sua depravação. Isto será certamente através de Cristo. Mas além disto, estaremos supondo. Parece-me que a suposição mais natural seria que os bebês crescerão no reino (seja imediatamente ou não) e serão pela graça de Deus trazidos à fé, de forma que sua justificação seja pela fé somente como a nossa. 



É importante enfatizar que, em nossa visão, Deus não salva os infantes porque eles são inocentes. Eles não são inocentes, mas culpados. Ele os salva porque, embora eles sejam pecaminosos, em Sua misericórdia Ele deseja que esta compaixão seja exercida sobre aqueles que são pecaminosos e, todavia, carecem da capacidade para captar a verdade revelada sobre Ele na natureza e ao coração humano.

Deve ser também enfatizado que a salvação de todos que morrem na infância não é inconsistente com a eleição incondicional (a visão de que Deus escolhe a quem salvar de Sua própria vontade, aparte de qualquer coisa no individuo). Como Spurgeon assinalou, não é que Deus escolha alguém para a salvação porque eles estão morrendo na infância. Antes, Ele ordenou que somente àqueles que tenham sido escolhidos para a salvação seja permitido morrer na infância. A justiça de Deus na condenação será mais claramente vista permitindo aqueles que não serão salvos demonstrar sua inerente pecaminosidade através de uma transgressão deliberada, conhecida. 


Finalmente, para aqueles que têm lutado com este assunto através de uma perda pessoal, queremos dizer que, conhecendo o que acontece aos infantes que morrem é um bom lugar para o descanso de suas almas. Mas isto é somente o segundo melhor lugar para o descanso de suas almas. Como John Piper disse em outro sermão fúnebre para um jovem infante:

O primeiro melhor lugar é simplesmente este: Salmos 119:68 – “Tu és bom e fazes o bem”.

Este foi o texto fúnebre de George Mueller quando sua esposa Mary morreu de febre reumática em 1860. Seus três pontos foram:

O Senhor é bom, e fez o bem, em me dar você.

O Senhor é bom, e fez o bem, em por tanto tempo deixar você comigo.

O Senhor é bom, e fez o bem, em tomar você de mim.

Ele não começou com Mary e se moveu para a bondade de Deus. Ele começou com a inabalável confiança na bondade de Deus originada em Jesus Cristo, e ele interpretou a sua vida e a sua perda à vista desta bondade.

Este é o ponto principal: a bondade de Deus – esta é a esperança para todos nós, a única esperança.

Nossa melodia final é uma súplica ao Espírito de Deus para nos privar de tudo na terra que possa nos tentar à não crer nisto.

Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 29 de Setembro de 2003.

Conselhos para Crentes Fracos - Richard Baxter


PREFÁCIO

Este tratado segue, quanto à ordem, os demais sobre a conversão (Um Tratado sobre a Conversão; Chamado ao Não convertido; Agora ou Nunca; e Direções e Persuasões para uma Conversão Segura), não obstante o considerável intervalo que o separa deles. Ele foi primeiramente pregado em forma de palestra em Kidderminster em 1658, mas só foi publicado por Baxter em 1668. A obra foi carinhosamente dedicada aos seus “muito amados, à Igreja de Kidderminster”. Nesta carta, ele expressa grande respeito por eles, e firme confiança e afeição. “As coisas que amo especialmente em vocês”, diz ele, “louvarei com liberdade, quais sejam: uma medida especial de humildade; simplicidade na religião; ausência de erros comuns; prontidão para receber a verdade; temperamento tolerante, sem tendência para nenhuma seita; ausência de tendência para cisma e separação, e unidade e unanimidade na fé; uma aversão por usurpações, perturbações, e rebeliões contra o governo civil; e um testemunho aberto e franco em todos estes casos; junto com seriedade na religião, e uma vida sóbria, reta, misericordiosa e piedosa”.
“Mas ainda assim, não obstante tudo isso que é verdadeiramente louvável, eu sei que vocês têm suas fraquezas e imperfeições. Cristãos mais fracos, quer em conhecimento quer em santidade, para nada dizer sobre os doentis, são a maioria nas melhores congregações que já conheci. Eu nada posso dizer sobre o estado de vocês durante estes oito anos, desde a nossa separação; embora, pela misericórdia de Deus, não tenha sido informado de que hajam declinado. Foi o nosso pecado que fez com que nos separássemos; lancemos a culpa sobre nós mesmos. Agora, já não tenho mais expectativa de voltar a ter o conforto de vos pastorear. Pois neste período de seis anos, nos quais pensei que minha maior experiência tinha-me habilitado mais para servir melhor ao meu Senhor do que antes, Sua sabedoria e justiça têm-me obrigado a permanecer em doloroso silêncio. E agora, a decadência e incapacidade do meu corpo aumentaram tanto, que ainda que me fosse permitido, não tenho mais forças, nem posso razoavelmente esperar que tal coisa ainda venha a acontecer. Por isso fico feliz em poder falar-vos uma vez mais; e ficarei agradecido se as autoridades permitirem que estes conselhos cheguem até os olhos de vocês, a fim de que os fracos possam ter mais alguns conselhos e orientações. E se alguém se desviar e vier a desgraçar a religião, ficará registrado mais um testemunho da doutrina que vos foi ensinada. O Senhor seja o mestre e força de vocês; e vos salve de vocês mesmos, e do presente mundo mal, e vos preserve para seu reino celestial por meio de Jesus Cristo”.

INTRODUÇÃO

Se o leitor atentar para estes conselhos, lendo-os atenciosamente, como faz com as prescrições dos seus médicos, que não são escritas apenas para serem lidas, mas para serem diariamente observadas, custe o que custar, por amor a sua própria vida; então eu não tenho a menor dúvida, de que não obstante a fraqueza da sua composição, estes conselhos promoverão a cura de sua fraqueza e indisposição espirituais, e dos conseqüentes distúrbios e danos causados a outros e a si mesmo.
Também espero não me deparar com hipócritas maliciosos, os quais sejam tão ímpios e impertinentes, que venham a precipitar-se e oporem-se ao que aconselha, dizendo que estou manifestando a nudez de muitos servos de Cristo para o opróbrio e desonra da religião. Eu tenho demonstrado a vocês, pela Palavra de Deus, que Deus lança - e nós também devemos fazê-lo - a justa desonra sobre o pecador, para que esta não recaia sobre a religião e sobre o próprio Deus. Tenho demonstrado também, que a defesa ou desculpa de pecados odiosos, por pena daqueles que os cometeram, é o modo pior e mais seguro de trazer desonra, cedo ou tarde, tanto para a religião como sobre eles. Um Noé, um Ló, um Davi, um Salomão e um Pedro, serão desonrados por Deus, nos registros divinos de todas as épocas, para que Deus não seja desonrado por eles! O verdadeiro arrependido deseja que assim ocorra; e reputa sua honra um sacrifício muito pequeno a oferecer pela honra da religião a qual ele caluniou. Enquanto você não chegar a este ponto, você está aquém do verdadeiro arrependimento. Aquele que defende seu pecado que se tornou público, a menos que possa negar o fato, faz o mesmo que dizer que Deus gosta disso, que Cristo a isso o constrange, e que as Escrituras são a favor do pecado, e não contra; que a religião ao invés de desaprovar, aprova o pecado; e que esta é a prática dos piedosos. O que pode ser dito de mais blasfemo contra Deus, e de mais injurioso contra a religião, as Escrituras e os santos? Por outro lado, o que confessa seu pecado, faz o mesmo que dizer: Lancem toda a vergonha sobre mim, pois eu mereço; mas não sobre Deus, sobre Cristo, sobre as Escrituras, sobre a religião, ou sobre os servos de Deus; pois não aprendi o pecado de nenhum deles, nem fui encorajado a isso por eles; nem há inimigos maiores do pecado do que eles. Se eu os ouvisse, não teria agido assim. Uma das principais razões pelas quais o arrependimento é tão necessário, é porque faz justiça a Deus e à santidade.
Infelizmente, é tarde demais para ocultar as fraquezas e crimes dos Cristãos, os quais são já bastante visíveis ao mundo; que têm acarretado resultados que se tornaram públicos sobre a igreja, sobre reinos e estados; os quais mantiveram quase que toda a igreja em um estado horrivelmente dilacerado e ensangüentado, por muitos séculos, até os nossos dias; os quais separaram as igrejas do oriente e do ocidente, e desonram ambas; e têm derramado tanto sangue em países Cristãos, e nos tornado como que pessoas enlouquecidas, olhando com prevenção para os nossos vizinhos mais próximos, e fugindo, por impertinente separação, de nossos irmãos, com os quais teremos que conviver nos céus; e tendo erroneamente por inimigos, aqueles com os quais - se somos Cristãos como professamos - estamos unidos sob a mesma Cabeça, e pelo mesmo Espírito, o qual é um espírito de amor.
Em poucas palavras, quando nossas faltas são tão evidentes, que endurecem os infiéis, pagãos e ímpios, e impedem a conversão do mundo; e quando soam tão audivelmente na boca de nossos inimigos comuns; e quando eles, contraíram tanta malignidade, que recusam uma cura por tais guerras, divisões, desolações, pragas e chamas que assolam a igreja, como têm sido visto; então, é tarde demais para dizer aos que pregam o arrependimento: “Calem-se, para que a nudez dos Cristãos e a desgraça da religião e da igreja não seja descoberta.” Nós não podemos calar; senão, desgraçaremos a religião e a igreja, para salvarmos a honra de pecadores.
Qualquer um que leia as Sagradas Escrituras, e tenha entendido a fé Cristã, deve saber que nada, em todo o mundo, é tão contrário a cada um de nossos erros e más obras. É apenas por falta de mais seriedade na religião, que os professos extraviam-se. Nada, senão a doutrina Cristã e a piedade, à princípio, destrói o pecado; e nada mais pode submeter o resto e consumar a cura. A nossa dificuldade maior é que, ao pecar, você não fere apenas a você mesmo com suas iniquidades; famílias são feridas; vizinhos são feridos; igrejas são conturbadas; reinos são afligidos; e milhares de pecadores cegos são endurecidos e perecem eternamente. O marido descrente diz: jamais darei ouvidos a sermões e às Escrituras, nem serei religioso, enquanto vir minha esposa, que fala tanto de religião, ser tão impertinente, descontente, maledicente, indelicada, contenciosa e desobediente quanto aquelas que não têm religião. O patrão profano, diz: eu não gosto de religião, visto que meu servo, que a professa, em minha casa é preguiçoso, negligente, grosseiro, e tão pronto para desonrar-me e responder-me, e tão orgulhoso do seu pouco conhecimento, quanto aqueles que não são religiosos de modo algum. O mesmo eu poderia dizer de todos os outros relacionamentos. Toda a desonra que o pecado traz sobre a graça, provém do fato de vocês terem pouco dela; e é porque a graça é tão pequena sobre vocês, que a vitória dela sobre a carne e paixões de vocês é lamentavelmente imperfeita.
Uma pessoa, ouvindo um elevado elogio de um servo ao seu ex-patrão, de que se tratava de um homem de extraordinária sabedoria, piedade, generosidade, paciência e amabilidade; e que, quão feliz seria, se pudesse apenas morar na casa de tal pessoa; perguntou-lhe: Por que, então, você saiu de lá? Porque embora o meu patrão fosse assim tão bom, a patroa era tão insensata, estrepitosa e cruel, que chegava a bater nos servos; sendo-me impossível continuar no emprego. Assim, a fé, eu espero, é o senhor do coração de vocês; e um senhor tão bom quanto se possa imaginar. Mas a carne é senhora (patroa), quando deveria ser apenas serva. E isto causa tanto transtorno a alguns de vocês, que alguns descrentes de boa índole são companhia que causam menos aborrecimento do que vocês. Eu estranharia se tivessem convicção da própria sinceridade de vocês, enquanto tais vícios carnais e paixões voluntariosas, mantiverem o poder de uma patroa sobre vocês.
Eu sei que muitos se iludem pensando erroneamente que porque lutam contra seus pecados, isto é sinal seguro de que têm o Espírito e são santificados - embora a carne seja a vitoriosa. Eu também sei que muitos são realmente sinceros, e ainda assim são derrotados por paixões impetuosas e inclinações carnais. Mas estou certo de que até que vocês saibam quem predomina, e verdadeiramente governa, vocês jamais saberão se são sinceros. Assim como um servo, enquanto seu patrão e patroa brigavam, respondia a alguém, à porta, que desejava falar com o chefe da casa: “aguarde um momento, até que eu possa ver quem se sai melhor, e então poderei lhe dizer quem é o chefe da casa”; assim, eu realmente temo que para muitos Cristãos, o conflito entre o espírito e a carne é tão duro, e os mantém em dúvida por um período tão prolongado, e os sentimentos, paixões, incredulidade, orgulho, mundanismo e egoísmo prevalecem tanto, que eles têm que esperar um tempo considerável, antes que se convençam com firmeza quanto a quem é o patrão.
Para prosseguir com a minha comparação, no homem em estado de inocência, a razão espiritual era senhor absoluto, e a carne era uma serva submissa, embora ainda tivesse apetites que precisavam ser governados e restringidos. Nos homens ímpios [1], os sentidos e apetites carnais são o senhor, e a razão é uma escrava, embora a razão e ações do Espírito[2] possam apresentar alguma resistência. Em crentes fortes [3], a razão espiritual é senhor, e os sentidos e apetites carnais são escrava, mas uma escrava impertinente e rebelde, domada conforme o grau de graça e vitória espiritual; como um cavalo domado e bem adestrado para ser cavalgado, mas com ajuda de esporas e rédeas. É por isso que Paulo clama: “desventurado homem que sou...” Em um crente fraco, o Espírito é senhor, mas a carne é senhora, e não é mantida na servidão como deveria. Por isso sua vida é maculada com escândalos e sua alma com muitas corrupções desonrosas. Ele é um problema para si mesmo e para outros; o bem que deveria fazer, ele o faz com muita relutância e fraqueza; e o mal, que deveria ser evitado, o é com muita dificuldade. Tanto poder ainda foi deixado em sua carne, que ele está freqüentemente inseguro quanto a sua própria sinceridade; e, ainda assim, é demasiadamente paciente tanto para com seus pecados, quanto para com sua incerteza. Muitas vezes, ele é um problema maior para a igreja do que, qualquer descrente moderado. O hipócrita ou quase Cristão, tem a carne por seu senhor, como outros homens ímpios, mas a razão e a graça comum do Espírito podem ser senhora, e podem ter tal poder e respeito, ao ponto de enganá-lo e levá-lo a uma presunçosa confiança de que a graça é vitoriosa, e de que ele é verdadeiramente espiritual; enquanto que a supremacia ainda é exercida pela carne.
“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça: Ao vencedor dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida” (Ap 2:7). “De nenhum modo sofrerá dano da segunda morte” (Ap 2:11). “Dar-lhe-ei do maná escondido” (Ap 2:17). “Lhe darei autoridade sobre as nações” (Ap 2:26). “Lhe darei a estrela da manhã” (Ap 2:28). “Ao vencedor, eu o confessarei diante de meu Pai e diante dos seus anjos” (Ap 3:5). “Fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus” (Ap 3:12). “Dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono” (Ap 3:21).

O TEXTO E SUA DOUTRINA

“Ora, como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graça” (Cl 2:6-7).
Assim como os ministros, na Palavra de Deus, são chamados pais daqueles que são convertidos através do ministério deles, também são comparados às mães, que a eles dão à luz, até que Cristo seja formado neles. Como Cristo disse, “A mulher quando está para dar a luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo um homem”[1]. Assim também, enquanto estamos buscando e ansiando pela conversão de vocês, e estamos em trabalho de parto até que nasçam de novo; não apenas nossos labores, mas muito mais nossos temores e cuidados, e sentimentos com relação ao perigo e miséria de vocês, faz com que o tempo nos pareça demasiadamente longo. Oh, quão felizes seríamos se a maioria dos membros de nossas igrejas fossem convertidos! Quando apenas podemos ver aqui e ali, um vir para casa, não mais nos lembramos das nossas angústias, temores e tristezas, nem pensamos em todos os nossos labores, diante da alegria de um cristão ser um recém-nascido em Cristo. Mas, não obstante toda a alegria da mãe, seu trabalho, cuidado e sofrimento, não chegaram ao fim quando ela deu à luz. Quanta dedicação, quantas horas de dificuldades, e quantas noites acordada serão ainda exigidas dela, por causa da criança com a qual agora se alegra tanto. E depois, quantos anos de cuidado e dedicação para criá-la e prover suas necessidades no mundo; e quando a mãe envelhece, e espera receber o amor, a honra, a gratidão e conforto que lhe são devidos como mãe, por todos os seus labores, cuidados e sofrimentos, um filho pode revelar-se grato, e outro já não tão agradecido assim, enquanto que um terceiro talvez venha a partir-lhe o coração; mas ainda assim, ela continuará sendo a mãe de todos eles.
O mesmo se aplica a nós. Tendo nos alegrado grandemente pela aparente ou real conversão de uns e outros dentre os nossos ouvintes, nosso trabalho para com eles não terminou, nem podemos desvencilhar-nos de nossos cuidados e labores por eles. Normalmente temos que cuidar deles e alimentá-los por alguns anos; e muitos dias e noites de dificuldade, de fraqueza, de impurezas, de impertinência, de criancice, de querelas e de disposições para rixas dos nossos convertidos nos afligirão. E depois de tudo isso, quando começarem a andar com suas próprias pernas e a pensar que são suficientes por si mesmos sem a nossa ajuda, quantas quedas e ferimentos poderão experimentar, e quantas brigas terão uns com os outros para aflição deles e nossa. E quando se tornarem adultos, alguns que pareciam sinceros podem tornar-se pródigos ou apóstatas; alguns caem em contenda por causa da herança e provocam terríveis divisões na família de Cristo; e alguns talvez nos desprezem; a nós, que gastamos nossos dias e esforços em estudos, orações, temores, cuidados e labores pela salvação deles. Sim, talvez alguns até nos tratem com desrespeito e reprovem nossas pessoas e nossos próprios ofícios e chamados, como a experiência dos tempos em que vivemos, assim como a experiência de todas as épocas evidente e claramente testificam.
Por outro lado, alguns serão fiéis e perseverantes, e agradecidos a Cristo e a nós. E para que assim o seja, por amor a Cristo e para o bem deles mesmo, ainda é exigido o nosso cuidado, empenho e esforços. Nestes diversos casos encontramos o apóstolo Paulo tratando seus filhos em suas epístolas; às vezes regozijando-se na firmeza deles; às vezes defendendo a si mesmo a ao seu ministério contra a ingratidão e contendas infantis deles - como com relação aos Coríntios; às vezes, embora raramente, corrigindo severamente o obstinado, entregando-o a Satanás como advertência aos demais. Às vezes ele está ansioso quanto ao estado de alguns, como é o caso quando se encontram doentes, infectados com erros perigosos ou outras doenças; quando ele chega até mesmo a questionar quanto à salvação deles, para que não aconteça de ter trabalhado em vão, e eles venham a apartar-se da graça, e Cristo de nada lhes aproveite.
Com relação à maioria, entretanto, encontramos o apóstolo como alguém que está entre a esperança e a apreensão quanto ao estado espiritual deles; aconselhando-os e exortando-os à firmeza, crescimento e perseverança espirituais até o fim. E é exatamente isso o que ele está fazendo com relação aos Colossenses, neste texto; o qual contém: 1) A suposição de uma grande obra (a maior obra) já realizada; qual seja, que eles receberam ao Senhor Jesus Cristo. 2) Uma implicação de um dever subseqüente e uma exortação nele fundamentada, que é a confirmação e progresso deles. As etapas desse dever são expressas através de três metáforas. A primeira é tomada de uma árvore ou planta: “nele radicados”. Após recebermos a Cristo, há um enraizamento nele a ser buscado. A segunda, é tomada de uma construção: nele “edificados”, como uma casa sobre o alicerce. A terceira etapa é tomada daquelas colunas de sustentação que estão firmemente estabelecidas sobre o alicerce: “estabelecidos ou confirmados na fé”.
Tendo mencionado a fé - para que eles não se deixassem levar pelas inovações e fantasias humanas com relação a uma falsa fé - ele acrescenta, “tal como fostes instruídos”, para mostrar-lhes qual a natureza da fé ou religião é esta na qual devem estabelecer-se; ou seja: aquela em que foram ensinados pelos apóstolos. E finalmente, ele expressa a medida que deveriam almejar, e um modo especial no qual a fé deveria ser exercitada: “abundando (crescendo) em ações de graças”. Tudo isto está compreendido na expressão andar com Cristo (“assim andai nele”). Desse modo, a vida cristã como um todo é dividida em duas partes: receber a Cristo e andar nele.
As principais questões a serem respondidas, no texto, são as seguintes: 1) O que significa receber a Cristo Jesus? 2) O que significa andar nele? 3) O que significa estar radicado nele? 4) O que significa estar edificado nele? 5) O que significa ser confirmado ou estabelecido na fé? 6) O que o apóstolo quer dizer com a explicação “tal como fostes instruídos”? 7) E o que significa “crescendo (ou abundando) em ações de graças”?
Quanto à primeira questão, deve-se observar o ato e o objeto. O ato é “receber”; o objeto é “Cristo Jesus, o Senhor”. Receber a Cristo, não é somente, como alguns comentadores afirmam equivocadamente, receber sua doutrina; embora seja certo que sua doutrina deva ser recebida, e que o resto está implícito nisso. Mas quando o entendimento aquiesce em receber o evangelho, a vontade, de comum acordo, igualmente o recebe; e receber a Cristo inclui ambos. Esta é a verdadeira fé justificadora dos eleitos de Deus. Não se trata, portanto, de uma recepção passiva, como a madeira recebe o fogo, e as nossas almas recebem as graças do Espírito; mas, sim, de uma recepção moral ativa. Receber a Cristo como Cristo, como o Messias ungido, e como nosso Salvador e Senhor, é crer que ele é tudo isso, e consentir que ele seja tudo isso para nós, e confiar nele, e confiar-nos a ele como tal. Se vocês acreditam sinceramente que o evangelho é verdadeiro, esta fé tem que ser suficientemente forte para vos levar à determinação de confiarem a felicidade de vocês à esta fé, e a abdicarem a tudo pela esperança que é colocada diante de vocês. Se Cristo, na sua relação como pleno e perfeito Salvador, for recebido de coração por vocês; se vocês anuírem à oferta do evangelho, e estiverem verdadeiramente desejosos de ser dele, fé não é apenas mencionada como “receber a Cristo”, mas é também freqüentemente expressa em termos de “querer Cristo”. Portanto, a promessa é para todos quantos quiserem; e aos ímpios é negado terem parte em Cristo, porque não querem que ele reine sobre si; e isto, porque não são crentes verdadeiros ou discípulos de Cristo. Se vocês, portanto, anuírem em ter a Cristo como Salvador, mestre e Senhor, devem, necessariamente, depender dele e confiar inteiramente nele, como tal; devem confiar nele para libertação da culpa, do poder e da condenação do pecado, e para vivificação, fortalecimento, e perseverança na graça, e para a vida eterna; devem confiar-se a ele, como discípulos, para aprender dele, seguros de que ele ensinará a vocês infalivelmente o caminho da felicidade; e devem entregar-se a ele seguros de que ele vos governará em verdade e retidão para a salvação, e vos defenderá dos inimigos destruidores. É nisto que consiste a fé, ou receber a Cristo Jesus, o Senhor.
Quanto à segunda questão (O que significa andar nele?), nada mais é do que viver como cristãos, quando, tendo uma vez nos tornado cristãos, nos apegamos a Cristo para alcançarmos os fins para os quais o recebemos, quando um dia o fizemos. Duas coisas são necessárias para aqueles que estão perdidos: a primeira é encontrar o caminho correto; e isto significa encontrar Cristo, o qual é o caminho. A outra é, tendo-o encontrado, caminhar por ele; pois apenas encontrar o caminho não nos leva ao fim da nossa jornada.
As próximas palavras a serem explicadas são “radicados nele”. Isto não significa simplesmente que ninguém está realmente plantado em Cristo sem que esteja de algum modo enraizado nele. “Radicados”, significa “profundamente enraizados”; pois as raízes aprofundam-se na terra assim como a árvore cresce sobre ela. As raízes têm duas funções, e ambas são aqui sugeridas: A primeira diz respeito à firmeza da árvore, para que a força dos ventos não a derrubem. A segunda, diz respeito à sua nutrição; pois por meio delas a árvore recebe os nutrientes da terra, a fim de que possa ser preservada, crescer e frutificar. Nisso consiste o enraizamento do cristão em Cristo, a fim de que ele possa estar bem firmado nele contra todas as investidas, e possa retirar dele os nutrientes necessários para crescer e frutificar.
O próximo termo é “edificados nele”. Casa alguma consiste apenas de alicerces. Cinco coisas são expressamente indicadas com este termo. A primeira é que estamos unidos ou associados a ele, como uma edificação está com o alicerce. A segunda, é que estamos firmados totalmente nele, o qual é o nosso suporte, assim como a construção o está no alicerce ou fundação. A terceira é que estamos unidos também uns aos outros, tendo nos tornado um edifício espiritual no Senhor. A quarta, é que a construção aumenta em tamanho, assim como uma casa que está sendo construída, de modo que resulta no nosso crescimento na graça e no crescimento da igreja por nosso intermédio. A quinta, é a adequação do prédio ao fim e uso para o qual foi planejado; até que seja construída, a casa não está devidamente apropriada para ser habitada. E até que os crentes estejam edificados, Deus não pode usá-los plenamente para o propósito que planejou para eles.
O termo seguinte é “estabelecidos ou confirmados na fé”. Isto significa aquele nosso fortalecimento e firmeza que impedem nossa queda ou abalo; e compreende duas coisas. Primeiro, que estamos fundamentados em Cristo, o qual é o nosso alicerce. Segundo, que estamos cimentados e firmemente unidos uns aos outros. Esta confirmação compreende nossa estabilidade na doutrina ou fé; por isso o apóstolo acrescenta “conforme fostes instruídos”, para fortificar os colossenses contra heresias, que não passam de inovações; para que, assim, eles pudessem testar as doutrinas que posteriormente viessem a ser-lhes oferecidas; e se apegassem firmemente àquelas que haviam sido ensinadas pelos apóstolos. A seguir, Paulo exorta-os a “abundarem”, para que soubessem que não se trata de algo sem maior importância; a fim de que não se acomodassem com um grau pequeno de graça ou dever. E lhes é exortado que abundem especialmente em ações de graça, que é um dever evangélico e celestial, que tão admiravelmente convém a um povo que tem parte em tão admirável salvação; e é tão apropriado diante das misericórdias de Deus e de nosso estado, e das expectativas de Deus. Assim como o evangelho determina que o amor e a graça de Deus, através da obra bendita do nosso Redentor, sejam eternamente louvados e magnificados na igreja; assim também as manifestações de amor, louvor e alegria devem ser as mais abundantes de todos os nossos sentimentos e ações.
Tendo fornecido essas explicações, vocês podem compreender o sentido e doutrina do texto que podem ser claramente assim expressos:
Aqueles que salvificamente receberam ao Senhor Jesus Cristo, ao invés de descansarem neste estado como se tudo já houvesse sido alcançado, devem passar o resto de seus dias andando nele, enraizados e edificados nele, confirmados na fé como os apóstolos ensinaram, e abundando especialmente em alegres louvores ao nosso Redentor.
Visto que meu propósito é apenas orientar crentes recém-convertidos sobre como eles podem tornar-se edificados e confirmados em Cristo, deixarei de lado tudo o mais que um tratamento completo deste texto exigiria; e irei apenas: I. Dar uma breve idéia do que é esta confirmação e edificação, a qual será mais plenamente revelada nas orientações. II. Mostrar a necessidade de buscar esta confirmação. III. Orientar sobre como vocês podem alcançá-la.

O QUE É SER CONFIRMADO E EDIFICADO NA FÉ

Esta confirmação é o poder habitual da graça, distinto das eventuais confirmações pela influência da graça de Deus. Deus pode em um determinado instante confirmar uma pessoa fraca para que possa resistir a alguma tentação em particular, pela sua livre assistência; entretanto não é disso que o texto fala aqui, mas de uma habitual confirmação em um estado de graça.
Um crente confirmado, ao contrário de um crente fraco, não deve ser avaliado, 1) Pela ausência de todas as dúvidas e temores. 2) Nem pela sua eminência na estima ou observação do homens. 3) Nem por seu poder de memória. 4) Ou por liberdade de expressão na oração, pregação ou discurso. 5) Ou por sua postura e cortesia para com os outros. 6) Nem por seu temperamento quieto, calmo e agradável, e livre de alguma precipitação e paixão a que outros temperamento são mais tendentes. 7) Nem pela capacidade fingida, mas que agrada aos homens, de refrear a língua, impedindo-a de revelar a corrupção da mente, e de suprimir todas as palavras que poderiam fazer com que os outros soubessem quão perverso é o coração. Há muitos dons louváveis e desejáveis, os quais não evidenciam tanto a sinceridade com relação a graça; e muito menos o estado de confirmação e estabilidade.
Confirmação consiste no elevado grau daquelas graças que caracterizam um crente, e este elevado grau se manifesta nas suas práticas: 1) Quando a santidade é como que uma nova natureza em nós, nos dá prontidão para atos santos, nos torna livres e prontos para tais atos, e os torna fáceis e familiares para nós; enquanto que o crente fraco sente dificuldade, e mal consegue compelir e forçar sua mente à estas ações. 2) Quando há constância e freqüência de ações santas; que demonstram vigor e estabilidade de inclinações santas. 3) Quando estas graças mostram-se poderosas para suportar oposições e tentações, podem superar os maiores impedimentos no caminho, tirar proveito de toda resistência e desprezar as mais esplêndidas iscas do pecado. 4) Quando tais graças estão ficando cada vez mais firmes, e inclinam a alma mais e mais próximo de Deus; quando o coração torna-se mais celestial e divino, e estranho para o mundo e para as coisas terrenas. 5) E quando as coisas celestiais são mais doces e agradáveis à alma, e são procuradas e usadas com mais amor e prazer. Todas estas coisas mostram que as operações da graça são vigorosas e fortes, e conseqüentemente mais constantes.
Esta confirmação deve manifestar-se: 1) No entendimento. 2) Na vontade. 3) Nos sentimentos. 4 ) Na vida.
1. Quando a mente de uma pessoa adquire uma maior compreensão das verdades de Deus, e da ordem, lugar e utilidade de cada verdade, com uma convicção mais profunda da veracidade delas e da excelência dos assuntos nelas revelados; quando os olhos se abrem mais para o conhecimento e a fé, e temos uma plena, verdadeira, firme e segura apreensão das coisas reveladas e invisíveis; quando a natureza, razões, propósitos e benefícios da religião estão muito clara, ordenada, adequada e fortemente impressos na mente; então a mente está em um estado confirmado (ou estabelecido).
2. Quando a vontade é dirigida por tal compreensão confirmada; e não está tolamente determinada, sem saber por que; quando o entendimento iluminado firma de tal modo a vontade, que todas as dúvidas, hesitações, vacilações e relutâncias indesejáveis consideráveis, tornam-se coisas do passado, e o homem que está buscando a Deus e sua salvação e evitando pecados conhecidos - como o homem natural está interessado em preservar sua vida e acumular bens e evitar o que lhe é danoso, fome e tormentos; quando as inclinações da vontade para com Deus, os céus e a santidade assemelham-se a sua inclinação natural para o bem como bem, e para sua própria felicidade, e suas ações são tão livres ao ponto de não ter a menor indeterminação, e a serem semelhantes a atos naturais necessários, como são os atos dos abençoados espíritos nos céus; quando as menores sugestões de Deus prevalecem, e a vontade responde a elas com prontidão e prazer, e quando ela se deleita em esmagar toda oposição e tudo o que possa ser oferecido para corromper o coração e atraí-la para o pecado, e afastá-la de Deus; este é um estado de vontade confirmada.
3. Quando os sentimentos procedem de tal vontade, e estão prontos para assisti-la, motivá-la e servi-la, e impulsionar-nos aos deveres necessários; quando os sentimentos menos elevados de temor e tristeza purificam, restringem e preparam o caminho; e os sentimentos mais elevados de amor e alegria estão apegados a Deus, desejam e anseiam Sua presença, dispõem a alma para propósitos justos, e estão libertando mais o coração para a possessão de desejos santos e para o amor; e quando estes sentimentos - os quais são preferivelmente mais profundos do que imediatamente sensíveis para com o próprio Deus - são sensíveis para com a Sua palavra, Seus servos, Suas graças e Seus caminhos, e contra todo pecado; então os sentimentos, assim como a pessoa, está em um estado confirmado.
4. Quando consideramos nós mesmos, nosso tempo, e tudo o que temos, de Deus e não nosso, e somos inteiramente e sem reservas entregues a Ele e usados por Ele; quando nos aplicamos aos nossos deveres e confiamos nEle para nossa recompensa; quando vivemos como quem tem muito mais a ver com os céus do que com a terra, e com Deus do que com o homem ou qualquer outra criatura; quando nossas consciências são absolutamente submissas à autoridade e leis de Deus, e não se dobram diante dos competidores; quando estamos habitualmente dispostos, como Seus servos, a sermos constantemente empregados em Seus serviços, e a fazer disso nossa vocação e negócio neste mundo, considerando que nada temos a fazer no mundo senão o que podemos fazer com Deus e para Deus; quando não acalentamos nenhum desejo ou esperança secreta de felicidade mundana, nem buscamos o prazer da carne, sob a capa da fé ou piedade, mas subjugamos a carne como nosso inimigo mais perigoso, e podemos facilmente negar satisfazer seus apetites e concupiscências; quando vigiamos todos os nossos sentimentos e mantemos nossas paixões, pensamentos e línguas em obediência à santa lei de Deus; quando não consideramos indevidamente nossa estima ou desejos acima ou contra nosso próximo e o bem estar deles; e amamos os piedosos com amor tolerante, e os ímpios com amor benevolente, embora sejam nossos inimigos; quando somos fiéis com relação aos nossos relacionamentos, e discernimos nossos deveres, a fim de não enveredarmos para o extremismo; e demonstramos habilidades, prontidão e prazer para realizarmos nosso deveres, e paciência quando em sofrimento; esta é a vida de um cristão confirmado, em vários graus, conforme a graça que Deus concedeu a cada um.

INCENTIVOS PARA BUSCAR A CONFIRMAÇÃO NA FÉ

Prosseguirei agora, para persuadi-los com relação à importância de buscar esta confirmação, para que os conselhos que darei a seguir, não venham a ser desperdiçados, devido às mentes entorpecidas e despreparadas dos leitores. Posteriormente, então, darei os conselhos propriamente ditos, os quais constituem a intenção principal deste livro. Vamos, primeiro, aos incentivos.
1° Incentivo
Considerem que o ingresso de vocês no cristianismo é um compromisso de prosseguir. Ter recebido a Cristo os obriga a andar e crescer nele. O cristianismo lhes impõe uma obrigação quádrupla para que possam fortalecer-se e perseverar:
1. A primeira provém da própria natureza do cristianismo; e até mesmo do ofício de Cristo, e do uso e fim para o qual O recebemos. Vocês receberam a Cristo como a um médico para as doenças das almas de vocês; e isto, porventura, não os compromete a prosseguir a fazer uso dos medicamentos por Ele prescritos até ficarem curados? Para que as pessoas recorrem a um médico, senão para serem curadas? Somente um paciente muito tolo diria: “Embora a minha doença seja mortal e eu tenha conseguido o melhor médico, não preciso fazer mais nada, e ainda assim não duvido que serei curado”. Vocês receberam a Cristo como Salvador; e isso os obriga a fazer uso dos meios de salvação e a submeterem-se às Suas obras salvadoras. Vocês O receberam como professor e mestre; e comprometeram-se a ser discípulos dEle. E que sentido teria tudo isso, se não prosseguissem em aprender dEle? Seria uma tola presunção alguém pensar que é um bom aluno simplesmente por haver escolhido um bom professor ou tutor, sem que dele aprenda. Quando Cristo enviou seus apóstolos, foi com estas duas tarefas: primeiro, para fazer discípulos de todas as nações e batizá-los; e, então, prosseguir, ensinando-os a observar tudo o que Ele havia ordenado. Cristo é o caminho para o Pai; mas com que propósito vocês vieram para este caminho, se não tencionam caminhar nele?
2. Além disso, quando vocês se tornaram cristãos, entraram em solene aliança com Cristo; e comprometeram-se com promessas de serem fiéis a Ele até a morte; e este voto está sobre vocês. “É melhor não fazer votos, do que fazê-lo e não cumprir”. Tendo aceito a Cristo como capitão da salvação de vocês, e alistado-se sob seu comando, e jurado fidelidade a Ele, vocês se comprometeram a combater como fiéis soldados, sob Sua direção e comando, até o fim da vida. E assim como é tolo o soldado que pensa que nada mais tem a fazer, senão alistar-se e ganhar uma farda, sem ter que combater; assim também é tolo e ímpio aquele que professa a fé cristã pensando que nada tem a fazer senão prometer; quando a promessa teve o propósito de comprometê-lo a prosseguir.
3. Além disso, quando vocês se tornaram cristãos, colocaram-se sob as leis de Cristo; e estas leis requerem que prossigam até que sejam confirmados; de modo que devem ir avante ou renunciar obediência a Cristo.
4. Finalmente, quando vocês receberam a Cristo, receberam tão abundantes misericórdias, que estão obrigados a ter sentimentos mais elevados e mais obediência para com Deus. Alguém que foi recém-arrebatado da garganta do inferno, e que recebeu o livre perdão dos seus pecados, e que foi colocado em tal estado abençoado como vocês o foram, devem, necessariamente, compreender a abundância do dever que têm para com Deus, de prosseguir e alcançar vontade e sentimentos mais fortes; e não satisfazer-se com o grau insuficiente do princípio.
Se vocês considerarem essas quatro coisas, poderão perceber que o próprio propósito de terem recebido a Cristo, foi a fim de que pudessem andar nEle e serem confirmados e edificados.
2° Incentivo.
Considerem, também, que a conversão não é sadia, se vocês não estão sinceramente desejosos de crescer. A graça não é verdadeira, se não houver desejo de maior porção dela; sim, se não houver desejo de alcançar a própria perfeição. Uma criança não nasce para permanecer criança, pois isso seria monstruoso; mas para crescer e alcançar a maturidade. Assim como o reino de Cristo neste mundo é comparado por Ele a um pouco de fermento e a um grão de mostarda, no início, que depois cresce de modo espantoso; assim o Seu reino na alma é também da mesma natureza. Se vocês estão contentes com a porção de graça que têm, vocês não têm graça alguma, mas apenas uma sombra ou imitação dela. Será que alguém acha que deve racionar a santidade e argumentar que se deve ser moderado quanto a isso; como se fosse intemperança amar a Deus, temê-lO, buscá-lO e obedecê-lO mais do que o fazem - como se estivéssemos em perigo de excesso ao fazer isso? Se uma pessoa sincera e por experiência souber o que é a santidade, jamais poderá conceber tal idéia.
3° Incentivo
Considerem quanto labor desperdiçarão e quantas esperanças terão sido frustradas, se não prosseguirem até virem a ser enraizados em um estado de confirmação. Eu não digo que tais pessoas fossem verdadeiramente santificadas; o que eu digo é que estavam em um caminho esperançoso e na direção correta; e que, se houvessem prosseguido, poderiam ter alcançado a salvação. O coração de muitos ministros alegrara-se bastante por ver seus ouvintes humilhados, deplorando seus pecados, mudando suas mentes e vidas, e professando externamente a piedade; para, alguns anos depois, ver sua alegria transformada em tristeza; e alguém que alimentávamos a esperança de ser convertido, esfriar e perder sua disposição inicial; e outro cair na mais completa sensualidade, e tornar-se um beberrão, fornicador ou jogador; e outro voltar-se para o mundo e transformar seu aparente zelo em amor pela riqueza e cuidados desta vida; e outros serem enganados por algum charlatão e infectados com erros mortais, abandonarem seus deveres, e entregarem-se como instrumentos de Satanás para dividir a igreja, oporem-se ao evangelho, e desacreditarem e injuriarem ministros e crentes; para enfraquecerem as mãos dos construtores e fortalecerem os ímpios, e servirem aos inimigos secretos da verdade. Aqueles que um dia confortaram o nosso coração com a esperança de serem convertidos, quebram o nosso coração com suas apostasias e subversões, e tornam-se grandes obstáculos na obra de Cristo, e pragas maiores para a igreja de Deus, do que aqueles que nunca professaram ser religiosos. Aqueles que costumavam unirem-se a nós no culto santo e conosco iam à casa de Deus como irmãos nossos, depois desprezam ambos, os adoradores e o culto. Se tais pessoas estivessem enraizadas e confirmadas, vocês jamais as veriam cair neste miserável estado. Oh, quantas orações, confissões, e deveres estas pessoas desperdiçaram! Por quantos anos alguns deles pareciam religiosos, para depois manifestarem-se apóstatas e serem engolidos completamente pelo mundo, pela carne, pelo orgulho e pelo erro.
Considerem, portanto, o quanto vocês necessitam estar enraizados, confirmados e edificados em Cristo.
4° Incentivo
Considerem também, quanto da obra da salvação de vocês ainda está por acontecer. Felizmente vocês começaram; mas ainda não terminaram. Vocês encontraram o caminho certo, mas ainda têm uma jornada para caminhar. Escolheram o melhor comandante e estão em companhia dos melhores soldados; mas ainda têm muitas batalhas para combater. Se vocês são realmente cristãos, sabem que ainda têm muita corrupção para resistir e conquistar, muitas tentações para vencer, e muita obra necessária por fazer; e esta obra é tão necessária quanto a obra inicial (de conversão). Este é o propósito da conversão de vocês: que “renegadas e as paixões mundanas, vivam no presente século, sensata, justa e piedosamente - pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”[1]. Como é que crianças poderiam efetuar todas essas obras? Quem de vocês desejaria ter uma criança ou um inválido para ser seu servo? Embora Deus seja mais misericordioso do que o homem a esse respeito, ainda assim, Ele espera que vocês não permaneçam sempre crianças. Que obra pode se esperar que você faça para Ele nesta condição deficiente e fraca? Que cegueira lastimável, que um homem que saiba que tem uma alma para ser salva, pense que o vigor de uma criança seja suficiente para estas obras e dificuldades que estão entre nós e a vida eterna! Nas coisas desta vida, você percebe a necessidade de vigor e força. Você não acha que uma criança esteja habilitada para arar ou plantar, colher, ceifar, viajar ou agir como um soldado; e ainda assim, você ficará satisfeito com o vigor de uma criança para realizar estas grandes e incomparáveis obras relacionadas com a sua salvação?
5° Incentivo
Além disso, as almas fracas e não confirmadas estão normalmente cheias de perturbações, e vivem sem aquela convicção do amor de Deus e aquela paz espiritual e conforto que outros desfrutam. Seria de se esperar que nenhum outro argumento se fizesse necessário para convencer as pessoas a se preocuparem com sua fraqueza e enfermidade espiritual, do que as inquietações e perturbações que sempre as acompanham.
É muito mais penoso para um homem enfermo caminhar uma milha, do que para um saudável caminhar dez. Para alguém aleijado ou enfermo, cada passo é acompanhado de sofrimento, e tudo o que faz lhe é doloroso; enquanto que para alguém saudável, fazer muito mais seria apenas um passeio. Oh, não se deleitem, portanto, na insuficiência de vocês; não escolham viver em inquietações e tristezas; mas esforcem-se para ser confirmados e crescer na graça, que suplanta as fraquezas e supera lamentos e gemidos, a fim de que venham a conhecer a vida confortada de um crente confirmado. Oh, quão eficaz e alegremente vocês viveriam a vida cristã; quão mais fácil, doce e proveitosa ela lhes pareceria, se fossem cristãos fortes e confirmados!
Ora, as almas daqueles que não são confirmados estão expostas à toda sorte de tentação do seu malicioso inimigo. Quantas questões de menor importância as inquietarão e perturbarão! Cada passagem das Escrituras que não entendem, e que parecem ir contra eles, os perturba. Por mais clara e cuidadosa que seja a pregação de um ministro, o que, de algum modo não entendem, é para eles motivo de inquietação. As obras da providência de Deus os perturbam, porque não as compreendem. As aflições serão mais amargas tanto para a mente como para o corpo, e os deixarão exageradamente perplexos, porque não as entendem, ou porque não têm vigor espiritual para suportá-las e tirar proveito delas. As misericórdias mais doces da prosperidade perderão muito das suas doçuras, por falta de sabedoria santa e vigor espiritual para digeri-las.
Que pessoa escolheria um estado de fraqueza e deficiência espiritual ao invés de um estado confirmado e saudável? Vocês correrão de um lugar para outro à procura de um médico quando estão doentes; não é a saúde, estabilidade, paz e vigor espirituais da almas de vocês muito mais importante?
6° Incentivo
Além disso, são os crentes fortes e confirmados que fazem verdadeiro uso e se beneficiam de todas as ordenanças de Deus. Carne só é digerida por um estômago sadio. Estes, não a desperdiçam. Para eles, a carne é agradável e nutritiva. E assim acontece com os crentes confirmados, com relação às ordenanças de Deus.
Mas quanto às almas fracas e não confirmadas, quanto dos meios de graça são desperdiçados! Quão pouco gosto encontram neles! Eu não nego que obtenham algum proveito e façam algum uso deles; pois embora uma pessoa enferma tire pouco proveito da carne que come, sem ela, não poderia continuar vivendo; e embora o alimento não o torne forte e saudável, ainda assim serve para sustentar sua débil vida; mas isso é tudo, ou quase tudo.
Que coisa triste, para vocês e para nós, quando os ministros - que são como que enfermeiros da igreja, ou dispenseiros da casa de Deus, e dão a vocês toda a alimentação devida - vêem que tudo o que derem não poderá fazer nada mais do que mantê-los vivos! Sim, quão freqüentemente vocês reclamam da comida, e não gostam dela! Ou não podem engoli-la, pois algo nela os incomoda, seja quanto ao conteúdo, seja quanto à forma! Se o ministro desagrada vocês, o frágil estômago de vocês rejeita a comida, argumentando que não gostam da receita, ou que as mãos dele não estão tão limpas como queriam. “A alma farta pisa o favo de mel, mas à alma faminta todo amargo é doce”[2]. Ou, se conseguem engolir, dificilmente retêm o alimento, mas acabam lançando-o fora diante de nós. Desse modo, boa parte dos nossos labores são desperdiçados, doutrinas santas são perdidas, e sacramentos e outras ordenanças não são aproveitados como poderiam, porque vocês não têm saúde espiritual para digeri-los.
Esforcem-se, portanto, para ser edificados e confirmados na fé.
7° Incentivo
Eu rogo que atentem para a condição do mundo em geral, e vejam, se não necessita da mais forte ajuda. Mas os fracos e doentes, ao invés de poderem ajudar os atormentados, são um peso para os outros.
Há uma multidão ao redor de nós e espalhada pelo mundo afora, ignorante, ímpia e em profunda miséria espiritual. E, havendo tão poucos que podem ajudá-los, o que poderão fazer, se forem bebês espirituais? Multidões vivem obstinadas em seus pecados, cegos e empedernidos, cativos do diabo, os quais se entregaram para a prática do mal. E não contarão estas miseráveis almas senão com crianças ou enfermos para ajudá-las? Eu digo a vocês, que a enfermidade deles desafia os mais habilidosos médicos; os homens mais sábios da Inglaterra não conseguem persuadir um obstinado inimigo da piedade a amar de coração a vida santa; ou convencer uma pessoa supersticiosa do seu erro; ou uma pessoa gananciosa do seu amor pelo mundo; ou um beberrão ou glutão da sua sensualidade. Como então cristãos tolos e ignorantes poderão persuadi-los?
Eu sei que não é a habilidade do instrumento, mas a vontade de Deus, que é a causa principal; mas Deus costuma agir por meio de instrumentos, de acordo com a qualificação deles para a obra. Que será de um hospital aonde todos estão doentes e não há uma só pessoa sadia entre eles para ajudar! Pobres cristãos fracos, vocês não estão em condições de ajudar sequer uns aos outros; quanto mais de ajudar o mundo morto e ímpio. Ai do mundo, se não contasse com ninguém em melhor estado para ajudá-lo. E ai de vocês mesmos, se não contassem com a ajuda de alguém mais forte do que vocês, visto que é determinação de Deus agir por meio de instrumentos.
Ora, uma criança ou uma pessoa doente não está habilitada para labutar e prover as necessidades da família e a trabalhar para outros. Na verdade, eles é que precisam de cuidado na família; e outros devem trabalhar por eles. Que coisa terrível; serem pesos para a igreja, quando deveriam ser suas colunas! Serem cegos e aleijados, quando deveriam ser os olhos do cego e os pés do coxo!
Eu não digo essas coisas, para depreciar as misericórdias de Deus para com vocês, nem para desvalorizar a grande felicidade dos santos - mesmo do mais pobre e fraco deles. Eu sei que Cristo é compassivo para com os cristãos sinceros mais fracos, e que não os esquecerá. Mas, embora estejam em uma condição muito mais elevada do que a do mundo que está morto - mesmo de cama, gemendo e débeis; oh! quão aquém estão de um crente confirmado e saudável. Vocês estão felizes por estarem vivos, mas infelizes por estarem doentes ou fracos.
8° Incentivo
Isto não é tudo; vocês não apenas estão inabilitados para servir a igreja; como também a maioria dos problemas e divisões na igreja são provocados por pessoas inconstantes e fracas como vocês.
Em todas as épocas, isto tem prejudicado mais a igreja do que o fogo e a espada da perseguição pagã. Estes neófitos, como Paulo os chama - isto é, os principiantes na religião -, são os que mais facilmente se ensoberbecem e incorrem na condenação do diabo.[3] São estes os que são mais facilmente enganados pelos sedutores, visto que não estão habilitados a fazer uso da verdade, e a refutar os argumentos aparentemente plausíveis dos adversários. Ademais, eles não têm aquele amor enraizado pela verdade e caminhos de Deus, que os manteria firmes; e, assim, rapidamente se rendem como soldados covardes, que quase não oferecem resistência. Como Paulo diz, crentes neste estado são “como meninos, agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos que induzem ao erro.”[4] Se continuarem crianças, o que poderemos esperar de vocês, senão que sejam agitados de um lado para o outro?
Desse modo, vocês gratificam a Satanás e aos sedutores, e sequer se dão conta disso. E, assim, contribuem para o endurecimento do coração dos incrédulos para continuarem em seus caminhos; e entristecem o coração dos piedosos, e, especialmente, daqueles que conduzem os rebanhos. Que terrível que tantos da própria igreja, sejam a causa do seu flagelo e infortúnios!
Ainda que não tenham sido levados a fazer nada para o opróbrio da igreja; ainda assim, que tristeza nos causa, ver tantos entre vocês malograrem! Oh, pensa um pobre ministro, quanta esperança eu nutria com relação a estes professos; mas eles terminaram fracassando! Oh, isto é uma marca da advertência do apóstolo: “Não vos deixeis envolver por doutrinas várias e estranhas...” Seu ensino para prevenir tal coisa, “...é estar o coração confirmado com graça”.[5]
9° Incentivo
Considere também, que é desonra para Cristo, que tantos da sua família sejam assim tão débeis, tão inconstantes, tão inseguros e inabilitados como vocês são!
Eu não quero dizer que sejam real desonra para Ele; pois se todo o mundo O esquecesse, estariam desonrando a si mesmos e não a Ele, aos olhos de qualquer juiz qualificado - como seriam desonrados os observadores e não o sol, se estes afirmassem que o sol é trevas. Mas vocês são culpados de O desonrarem aos olhos de um mundo perdido. Oh, que mau testemunho é para a piedade, que tantos professos sejam tão ignorantes e imprudentes; que tantos sejam tão volúveis e inconstantes; que tantos manifestem tão pouco da glória da sua santa vocação. Todos os inimigos de Cristo fora da Igreja, não são capazes de desonrá-lO tanto quanto vocês, que são chamados pelo Seu nome, e que se consideram dEle. Enquanto a graça em vocês for fraca, a corrupção será forte; e todas estas corrupções serão a desonra da sua profissão de fé. Não parte o seu coração ouvir um ímpio apontar para você quando passa e dizer: “Lá vai um crente ganancioso”; ou “Lá vai um crente orgulhoso”, “que gosta de bebida” e “contencioso”? Se vocês tem algum amor por Deus e de algum modo sentem por Sua desonra, me parece que estas coisas deveriam tocar o seu coração!
Enquanto forem fracos e não confirmados, vocês irão, como as crianças, tropeçar em cada pedra, cair constantemente e ceder às tentações, as quais um crente mais forte resistiria com facilidade; e , tornando-se em escândalo, todas as suas faltas serão atribuídas à religião pelos homens tolos. Se você falar mal de alguém, ou reclamar, ou enganar ou extrapolar na barganha, ou cair em alguma opinião ou prática escandalosa, a sua religião é que será responsabilizada diante do mundo. Até onde posso lembrar, uma das principais barreiras para a conversão dos homens e uma das principais causas de empedernimento dos ímpios em seus maus caminhos é quando os piedosos são tidos por impertinentes, não pacíficos, gananciosos, orgulhosos e interesseiros. Vocês deveriam temer os “ais” de Cristo, “Ai do homem pelo qual vem o escândalo”[6]. Se forem crianças, estarão sujeitos a severas disciplinas; se forem hipócritas, estarão sujeitos aos sofrimentos eternos. O mundo não pode julgar mais do que vê; e quando vêem professos da santidade ser tão parecidos com os homens comuns, e em algumas coisas piores do que muitos deles, o que vocês podem esperar senão que desprezem a religião, e a julguem por seus professos, e digam: “se essa é a religião deles que fiquem com ela, estamos tão bem sem ela quanto eles”. Desse modo, os santos caminhos de Deus são difamados. Se vocês não excederem outros na excelência do testemunho, a fim de que o mundo possa ver neste espelho a excelência da religião de vocês, então podem esperar que eles a considerarão como algo comum, que, no discernimento deles, produz apenas frutos comuns.
Vocês deveriam ser tais, que Deus e a Igreja pudessem orgulhar-se de vocês diante do acusador. Então, vocês seriam uma honra para a Igreja quando Deus pudesse dizer de vocês o que disse de Jó: “Observaste a meu servo Jó? porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal”[7]. Se pudéssemos dizer o mesmo de vocês aos perversos inimigos: “Observem os piedosos; não há ninguém como eles entre vocês; homens santos, sábios, retos, sóbrios, mansos, pacientes e pacíficos, vivendo totalmente para Deus como estrangeiros na terra, e cidadãos dos céus”, então vocês seriam os ornamentos da sua santa profissão. Se vocês fossem cristãos dessa natureza, nós poderíamos nos orgulhar de vocês, para opróbrio dos adversários.
10° Incentivo
Além disso, enquanto não for confirmado, você pode facilmente tornar-se instrumento de Satanás, e promover seus desígnios.
A fraqueza do entendimento, o poder das paixões, e especialmente, a influência que o eu carnal ainda tem sobre vocês, pode deixá-los suscetíveis a tentações, e fazer com que sejam empregados em muitas obras de Satanás, e com que fiquem do lado dele e se oponham à verdade. Que coisa triste, para alguém que já sentiu o amor de Cristo! Foram vocês aquecidos por Seu maravilhoso amor, lavados por Seu sangue, e salvos por Sua incomparável misericórdia; contudo, não lhes parte o coração pensar que, não obstante tudo isso, sejam enredados por Satanás a magoar seu Senhor, vituperar Sua honra, resistir a Sua causa, apoiar Seus inimigos e agradar o diabo? Eu afirmo, com vergonha e dor no coração, que o excesso de fraqueza e a instabilidade de crentes professos - os quais temos esperança que já têm um coração, pelo menos em parte, correto - têm sido instrumentos mais poderosos de Satanás para a consecução dos seus desígnios, para obstáculo do evangelho, para a vituperação do ministério, para divisão da igreja, e impedimento de reformas espirituais, do que a maioria dos notórios profanos!
Quantas esperanças tivemos um dia, de ver uma florescente piedade e feliz união entre as igrejas e servos de Cristo na Inglaterra! E quem foi que não apenas frustrou essa esperança, mas quase a partiu em pedaços? Alguém contribuiu mais para isso do que crentes professos fracos e instáveis? Que triste confusão há na Inglaterra como um todo em nossos dias, devido terem as igrejas sido divididas em seitas, devido a disputas e contendas de cristãos contra cristãos, e devido a um odioso abuso das santas verdades e ordenanças de Deus! Quem é culpado disso, mais do que tais instáveis professos da piedade? Que opróbrio maior poderia advir sobre nós, do que o adversário contemplar-nos arrancando os olhos uns dos outros; odiando, perseguindo, maldizendo-nos uns aos outros; e ver-nos destruindo a casa de Deus com nossas próprias mãos, e fazendo em pedaços as pobres igrejas, enquanto homens brigam para ver quem prevalece para reformá-la? Que diversão é para o diabo, quando ele pode tomar seus declarados inimigos pelos ouvidos, e fazê-los lançarem-se uns contra os outros! Quando, ele se propõe causar grandes estragos na igreja e obra de Cristo, ele pode simplesmente convocar crentes instáveis para fazê-lo! Quando ele quer tornar a piedade em escândalo, quem ele chama para realizar tal obra, senão a professos da piedade? Alguns provocam escândalo; enquanto outros o agravam e divulgam.
Quando ele quer ver uma igreja dividida, quão rapidamente encontra uma razão de discórdia! E quem fará isso, senão os membros instáveis da própria igreja? Quando ele quer ver a verdade ser objetada, e o erro e as trevas promovidos; quem fará isso, senão professos da verdade? Basta persuadir alguns deles de que a verdade é erro e o erro é verdade, e o estrago está feito: eles marcharão furiosamente contra o Mestre deles, e pensarão que estarão Lhe prestando um serviço, enquanto, na verdade, estão se levantando contra Ele, escarnecendo e envergonhando, quando não matando Seus servos. Quando ele quer ver divisões publicamente mantidas nas igrejas do mundo inteiro, basta apossar-se de pastores instáveis e de outras pessoas, com um zelo perverso por meras palavras e idéias - como se a vida da igreja consistisse nisso; e eles serão instrumentos do diabo, atendendo imediatamente ao seu chamado. E assim, consumarão seu desígnio - talvez por meio do voto da maioria; e todos os que não concordarem com eles, serão chamados de heréticos; e a igreja terá novos artigos acrescentados à sua fé, sob a pretensão de corroborar e expor os antigos. Desse modo, quando Satanás tem algum trabalho para realizar - se os pagãos e infiéis não puderem fazê-lo - basta convocar os cristãos; se os inimigos beberrões e malignos não puderem realizar, basta chamar alguns instáveis professos da piedade que eles o farão; juntamente com aquela classe mais indigna de pastores que tenham algum propósito carnal ou zelo cego e voraz.
Oh, cristãos, em nome de Deus, assim como evitariam estas atitudes diabólicas, empenhem-se por alcançar graça confirmadora e fortalecedora; e não se dêem por satisfeitos com o estado infantil, fraco e instável de vocês. Se foram libertados de Satanás, e o repudiaram verdadeiramente, e provaram a grande salvação de Cristo, vocês deveriam até mesmo tremer em considerar quão terrível seria se, depois de tudo isto, devido a fraqueza de vocês, viessem a ser encontrados servindo ao diabo e injuriando ao amado Senhor de vocês! Como podem injuriá-lO, aqueles a quem Ele redimiu da condenação? Como podem ser empregadas para destruir Seu reino, as mãos que foram lavadas por Ele, e que deveriam edificá-lo (o reino)? Vocês seriam como Judas, o qual, tinha as mãos no mesmo prato em que seu Mestre, enquanto seus lábios o traíam.
11° Incentivo
Além disso, enquanto forem fracos e não confirmados, vocês encorajarão sobremaneira o ímpio nas suas falsas esperanças, por serem tão parecidos com eles como são.
Quando eles vêem que vocês quase não os excedem, e em muitas coisas são tão maus ou até piores do que eles, isto os persuade fortemente de que o estado deles é tão bom quanto o de vocês, e que podem ser salvos assim como outros, visto que a diferença parece tão pequena. Eles sabem que o céu e o inferno são muito diferentes; e que não têm nada a ver um com o outro. Portanto, dificilmente acreditarão que poderão ser lançados no inferno, enquanto que pessoas que parecem ser tão pouco diferentes deles vão para o céu. Vocês não acreditariam o quanto isso os deixa obstinados em seus pecados. Enquanto os ministros se empenham em manifestar a hediondez do pecado dos ímpios, e a quebrantar o coração deles com os terrores do Senhor; como os acalma e tranqüiliza, ver pecados semelhantes e pessoas tão más quanto eles, entre os que professam a fé cristã. “Se estes”, dizem eles, “serão salvos com todos esses pecados; por que devo atemorizar-me?”
Oh, desprezíveis, inúteis e escandalosos professos da religião; enquanto nos empenhamos por tantos anos, estudando e pregando, visando a conversão dos homens, vocês vão e desfazem tudo o que fizemos por meio do escândalo, leviandade ou imprudência, em uma hora! Quando estamos perto de persuadir as pessoas a se converterem dos seus maus caminhos, vocês os persuadem a retroceder, e fazem mais mal pela fraqueza e escândalo da vida de vocês, do que o bem que muitos de nós podemos com nossa vida e doutrina. Quando estamos conseguindo trazer pecadores às portas da vida, vocês os arrancam das nossas mãos e os conduzem de volta ao cativeiro.
Não lhes parte o coração, pensar que uma alma que seja - quanto mais muitas - venha a ficar de fora da glória e pereça em miséria eterna, em parte por culpa de vocês? Meditem sobre isso, e eu creio que desejarão graça confirmadora.
12° Incentivo
Eu insto que considerem que a excelência, glória e brilho das graças de vocês, é um dos meios designados por Deus para a honra do Seu Filho, do Seu evangelho e da Sua igreja, e para a convicção de pecados e conversão do mundo descrente. Portanto, se vocês não usarem esses meios, estarão roubando a Deus e a igreja daquilo que lhe é devido, e privando os pecadores de um dos meios de salvação.
Vocês são exortados: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”[8]. Cristãos, despertem para considerar o que podem fazer com as graças que têm. Vocês podem honrar e agradar ao Deus vivo por meio delas! Assim como a excelência de uma obra honra o trabalhador que a fez, assim também suas graças e vidas devem honrar a Deus. Vocês têm as almas dos fracos para confirmar e a dos ímpios para ganhar, através de suas vidas. Vocês deveriam ser todos pregadores - pregando à medida em que passam por este mundo, como uma candeia ilumina onde quer que passe. Assim como nós (pastores) somos enviados para salvar pecadores, como embaixadores de Cristo, através da proclamação pública da sua vontade; assim também vocês são enviados para salvá-los, como servos de Cristo, e nossos auxiliares; e devem pregar por meio das suas vidas e exortações pessoais, assim como o fazemos por meio de instrução autorizada. Uma boa vida é um bom sermão. Sim, alguns poderão ser ganhos por meio dos sermões de vocês, os quais não virão por meio dos nossos.
Mesmo as mulheres, que devem ficar caladas na igreja, são exortadas por Pedro a este tipo de pregação: “...para que, se alguns deles ainda não obedecem à palavra, sejam ganhos, sem palavra alguma, por meio do procedimento de suas esposas”[9]. Milhares podem entender o significado de uma boa vida, os quais não podem entender o significado de um bom sermão. Por esse meio, vocês podem pregar a pessoas de todas as línguas, embora tenham aprendido apenas uma; pois uma vida santa, piedosa e humilde fala em todas as línguas do mundo, a todas as pessoas que tiverem olhos para ler. Este é o alfabeto e língua universal pelo qual todos podem ouvir falar das maravilhosas obras do Espírito Santo.
Portanto, eu os desafio, cristãos: não priveis Deus da honra que Lhe é devida, nem a igreja, nem as almas dos ímpios, desta excelente e poderosa ajuda que lhes devemos; permanecendo com suas mentes fracas e instáveis, e com suas vidas maculadas. Mas cresçam e alcancem a medida necessária para tal obra. Assim como não ousariam silenciar os pregadores do evangelho, assim também, não ousem vocês mesmos deixar de pregar por meio de uma vida santa e exemplar.
Vocês acreditam que crentes professos débeis, levianos e escandalosos podem fazer algum bem maior por meio de tais vidas? Vocês acham que o coração das pessoas serão levados a um amor pela santidade, ao conversar com crentes que malmente podem dizer uma palavra que faça sentido em favor da sua religião; ou ao verem professos tão cobiçosos de conseguirem um lucro maior, quanto os mundanos que não têm esperanças maiores; ou ao ouvi-los reclamar, mentir ou difamar; ou ao vê-los ir atrás de todo ensino que lhes seja apresentado com algum plausível fervor? Vocês pensam que as pessoas serão ganhas por meio de vidas como essas?
13° Incentivo
Vocês já consideraram que grandes coisas podem ainda vir a sofrer por Cristo?
Vocês podem vir a ser obrigados a abandonar tudo o que têm. Vocês não poderão poupar suas vidas, se ele ordenar que a percam. Vocês terão que sofrer com Ele, se quiserem ser com Ele glorificados[10]. Vocês podem vir a ser chamados a confessar a Cristo diante de reis e juízes da terra; então, se o negarem, Ele os negará, e se envergonharem dEle, Ele se envergonhará de vocês. Vocês podem vir a ser chamados a enfrentar uma grande provação, “e a sofrer o espólio dos vossos bens”[11] e, em uma palavra, perder tudo. Vocês não acham que necessitarão, então, de mui vigorosa graça? Vocês não acham que precisam ser crentes confirmados e radicados, a fim de que possam enfrentar tais tempestades? Vocês não têm visto muitos que pareciam fortes, serem derrotados em tempos de provação? E ainda assim, pretendem estacionar em um estado fraco?
Talvez vocês respondam que não podemos permanecer inabaláveis por nossas próprias forças, e que, portanto, Cristo pode sustentar o mais fraco, enquanto que o forte cai. A isto, respondo: é verdade; mas é comum Deus agir através de meios. O Seu modo de operar com relação à graça é semelhante ao seu modo de agir com relação à natureza. Portanto, Ele normalmente enraíza e fortalece aqueles a quem quer que permaneçam inabaláveis. Sim, ele os equipa e fortalece, e, então, ensina-os a usar suas armas.
“Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo, porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mal, e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis”[12].
Atentem para quando vocês são “...iluminados para sustentarem grande luta e sofrimentos; ora expostos como espetáculo, tanto de opróbrio, quanto de tribulação; ora tornando-vos co-participantes com aqueles que desse modo foram tratados... com efeito, tendes necessidade de perseverança, para que havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa”.[13] Para que permaneçam firmes em tempos de perseguição, é necessário que a Palavra seja profundamente enraizada em seus corações. Vocês precisam estar edificados em uma rocha, se quiserem permanecer inabaláveis em tempos de tempestades.
14° Incentivo
Considerem também, que as mesmas razões que os moveram no início a se converterem, deveriam movê-los, agora, a serem crentes fortes e prósperos espiritualmente.
Vocês não trocariam a parte que têm em Cristo pelo mundo inteiro, se, realmente, têm o menor grau de graça que seja. Se o início é bom e necessário, o desenvolvimento não pode ser mal ou desnecessário. Se um pouco de graça é desejável, certamente mais graça também é desejável. Se naquela época foi razoável deixar tudo por Cristo e segui-lO, certamente também é igualmente razoável que vocês O sigam até o fim, até alcançarem aquela santidade, a qual é o propósito pelo qual a princípio O seguiram. Ou será que vocês acharam que Deus é um mestre ruim ou um deserto estéril; ou que Sua obra é algo inútil? Respondam que sim, e eu ousarei dizer que são bastardos - para usar as palavras do apóstolo - e não cristãos.
Vocês O têm experimentado. Que mal encontraram nEle; ou que mal fez a vocês; para que agora comecem a fazer uma pausa, como se estivessem em dúvida, se seria melhor prosseguir? Se Cristo um dia foi necessário, Ele não continua ainda sendo necessário? Se os céus e a santidade um dia lhes pareceram bons, estejam certos que continuam sendo. Portanto, prossigam, alcançando mais; e nunca se esqueçam das razões que a princípio os persuadiram a buscar estas coisas.
15° Incentivo
E mais ainda: vocês agora têm o acréscimo de muitas experiências, as quais certamente serão uma excelente ajuda para estimular os seus sentimentos. Quando, a princípio, vocês se arrependeram e vieram a Cristo, não tinham nenhuma experiência desta graça salvadora especial; mas vieram, baseados apenas, em ouvir e crer nela. Agora, entretanto, vocês já provaram que o Senhor é gracioso; receberam das Suas mãos, o perdão dos pecados, o espírito de adoção e a esperança da glória, os quais não tinham antes; já tiveram muitas orações respondidas, e alcançaram muitos livramentos. E, agora, pretendem parar, quando todas estas experiências os convocam a ir avante? Novas experiências não deveriam ser acrescentadas às antigas, tornando-se assim em meios para aumentar o zelo e a santidade de vocês? É certo que um salário maior e mais encorajamento deveriam resultar em mais trabalho e diligência. Portanto, procurem progredir.
16° Incentivo
Muitos de vocês também precisam considerar que já estão há bastante tempo na família e escola de Cristo. Se fossem principiantes, eu poderia exortá-los a crescer, mas não poderia reprová-los por não haverem crescido. Entretanto, que multidão de anões tem Cristo, os quais são como crianças aos vinte, quarenta ou sessenta anos de idade. É triste estar por tantos anos na Sua escola, e ainda permanecer nas classes mais atrasadas! “Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes novamente necessidade de alguém que vos ensine de novo quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de alimento sólido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite, é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o bem, mas também o mal.”[14]
Oh, pobre crente fraco e enfermo! Tens tu estado por tanto tempo contemplando a face de Deus pela fé; e ainda assim não O amas mais do que O amaste no princípio? Por tanto tempo tens provado da Sua bondade, e não a vês ou aprecias mais do que no princípio? Estais sob Seus cuidados por tanto tempo, e não estais mais curado agora do que no primeiro ano ou dia? Tens ouvido e falado sobre os céus por tanto tempo, e apesar disso não estais mais preparados para os céus? Tens ouvido e falado tanto contra o mundo e a carne, e não obstante, o mundo ainda é tão atrativo para ti quanto no princípio; e a carne tão forte quanto no início da tua profissão? Oh, que pecado e vergonha! Que injúria para Deus e para ti!
Considerem também, não somente o tempo, mas os meios de graça que têm usufruído. Quem tem recebido mais poder, plenitude e pureza de ordenanças do que vocês? Pouquíssimos. Certamente, não há muitos lugares no mundo como a Inglaterra no que diz respeito às manifestações celestiais e das riquezas das preciosas ordenanças de Deus. Vocês têm mais sermões do que poderiam desejar; e estes dificilmente poderiam ser mais claros e urgentes - tão urgentes, como se os ministros de Cristo parecem que perecerão se vocês perecerem. Vocês, com igual freqüência, também têm tido livros claros e poderosos. Vocês têm tido as admoestações e exemplos dos piedosos com os quais convivem. O que mais poderiam desejar? Deveriam pessoas assim alimentadas manterem-se em estado de contínua subnutrição? São a ignorância, o desânimo, o mundanismo, e egoísmo desculpáveis depois de todos esses meios de graça? Certamente é justo que Deus espere que vocês sejam todos gigantes - crentes piedosos, maduros e confirmados. Qualquer que seja o caso de outros, certamente esta deveria ser a estatura de vocês.
17° Incentivo
Também me parece que vocês deveriam ser incentivados ao considerar o quanto outros têm progredido, em menos tempo e com muito menos meios de graça do que vocês têm tido; e como alguns dos seus vizinhos, recebendo os mesmos meios, progrediram muito mais que vocês.
Jó, que foi tão exaltado pelo próprio Deus, não dispunha dos meios de graça que vocês dispõem. Abraão, Isaque, Jacó e José, nenhum deles teve os meios de graça que vocês têm! “Muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram; e ouvir o que ouvis, e não ouviram.”[15] Embora João Batista tenha sido maior do que quaisquer dos profetas, ainda assim, o menor no reino do evangelho é maior do que ele no que diz respeito aos meios de graça.[16] Assim como os tempos do evangelho têm luz muito mais clara, e nos dá maiores medidas de graça; assim também os verdadeiros e genuínos filhos do evangelho deveriam ser mais confirmados, fortes e piedosos do que aqueles que viveram sob períodos mais escuros e escassos da administração da promessa.
Vocês não vêem o quanto foram superados por muitos dos pobres vizinhos de vocês, os quais são reputados inferiores do que vocês pelo mundo e na estima dos homens? Quantos neste lugar, eu ouso dizer, brilham diante de vocês em conhecimento, humildade, paciência e em vida imaculada e reta; em fervorosas orações e conduta piedosa! Pessoas que têm a mesma necessidade que vocês de preocuparem-se com os cuidados materiais; que não dispuseram de mais tempo para adquirirem estas qualificações; e não tiveram mais meios de graça do que vocês. Agora, eles brilham como estrelas na igreja na terra; enquanto que vocês são apenas como que faíscas, quando não nuvens.
Eu sei que Deus é o livre despenseiro das suas graças; entretanto, Ele nunca fica aquém, mesmo com relação ao grau, do que a própria pessoa almeja. Por isso, eu posso bem perguntar-lhes: por que não alcançariam vocês maior estatura, assim como outros que cercam vocês, se houvessem sido tão cuidadosos e diligentes quanto eles?
18° Incentivo
Considerem também que a santidade pessoal de vocês é da mesma natureza da que terão na glória, embora não no mesmo grau. Portanto, se vocês não estão desejosos de progredir, isso dá a entender que vocês não têm amor por suas almas nem pelo próprio céu.
Se vocês cessam de progredir em santidade, cessam de progredir em direção à salvação. Se vocês realmente desejassem ser perfeitos e abençoados, deveriam desejar aperfeiçoar-se nesta santidade que os habilitará a tornarem-se perfeitos na glória. Não há céu sem uma perfeição em santidade. Se, por conseguinte, vocês não desejam estas coisas, isso parece indicar que vocês não desejam a salvação.
Prossigam, portanto e cresçam como pessoas que estão crescendo em direção à glória. E se crêem que estão à caminho dos céus, estando mais próxima a salvação de vocês, do que quando à princípio creram, atentem, então, para que progridam com disposição mental celestial[17], e para que estejam mais maduros para a salvação do que quando no princípio creram. Quão mal age a pessoa que para à caminho do céu; especialmente quando já está há tanto tempo no caminho, que seria de se esperar que já houvesse avançado ao ponto de perdê-lo de vista!
19° Incentivo
Considere também, que quanto menor for a graça, menor será a glória; e que quanto maior for a santidade, maior será a felicidade de vocês.
Eu sei que a glória do menor dos santos no céu será extraordinariamente grande; mas, sem dúvida, quanto maior for sua medida mais indizivelmente desejável o será. Assim como não se coaduna com a verdade da graça, que uma pessoa fique satisfeita com um baixo nível de graça - embora reconheça ser isso misericórdia de Deus e que não merece nem mesmo o menor grau de graça; assim também, embora implore pela felicidade do menor santo na glória, e reconheça ser indigno do lugar mais insignificante nos céus, ainda assim deve almejar maior glória nos céus. Aquele que demonstra estar tão satisfeito com porções mínimas da glória, sem sinceramente aspirar por mais, revela estar também satisfeito em ter um conhecimento e amor de Deus pequenos; ser pouco amado por Ele; gozá-lO o mínimo possível; ter a menor participação em seus louvores, e em agradá-lO e glorificá-lO para sempre - pois, em todas estas coisas consiste a nossa felicidade.
Considerar a Parábola dos Talentos (Mt. 25).
20° Incentivo [18]
Considerem também que Aquele com o qual vocês tem que lidar é um Deus de infinita grandeza e bondade; e portanto, não é pequena coisa estar habilitado para o seu serviço. Oh, se vocês tivessem apenas um vislumbre da Sua glória! Vocês então reconheceriam que não é coisa ordinária relacionar-se com tal espantosa magestade. Se vocês provassem mais da Sua bondade, os seus corações reconheceriam que o amor e serviço insignificante que lhe prestam é indigno dEle. Vocês Não ofereceriam coisas insignificantes a um rei, muito menos ao Supremo Rei dos reis. “Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador; acaso terá ele agrado em ti, e te será favorável? diz o Senhor dos Exércitos... Mas vós o profanais, quando dizeis: A mesa do Senhor é imunda, e o que nela se oferece, isto é, a sua comida, é desprezível. E dizeis ainda: Que canseira! e me lançai muxoxos, diz o Senhor dos Exércitos; vós ofereceis o dilacerado, e o coxo e o enfermo; assim fazeis a oferta. Aceitaria eu isso da vossa mão? diz o Senhor. Pois maldito seja o enganador que, tendo macho no seu rebanho, promete e oferece ao Senhor um defeituoso; porque eu sou grande rei, diz o Senhor dos Exércitos, o meu nome é terrível entre as nações.”[19]
Se vocês conhecessem melhor a majestade de Deus, saberiam que para Ele o melhor é muito pouco, e que leviandade não é tolerável no Seu serviço. Quando Nadab e Abiú aventuraram-se a apresentar fogo falso em seu altar e Ele os fulminou, Ele silenciou a Arão com a seguinte razão para o seu julgamento: “Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo”.[20] Isto é, não aceitarei que nada comum seja oferecido a mim, mas serei servido do meu modo santo e peculiar.
21° Incentivo
Considerem também que um preço extraordinariamente alto foi pago pela redenção de vocês. Pois, “não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue de Jesus Cristo.”[21] Foi um amor extraordinariamente grande este que foi manifestado pelo Pai e por Cristo na obra da redenção; tão alto que deixa perplexos anjos e homens na tentativa de compreendê-lo. Deveria isto tudo ser respondido com leviandade da parte de vocês? Deveria tal incomparável milagre de amor ser correspondido com amor inferior; especialmente tendo em vista que Cristo “a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade, e purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras?[22] Assim pois, tendo sido comprados por tão grande preço, lembrem-se de que “não sois de si mesmos, mas devem glorificar Aquele que vos comprou no corpo e no espírito”...
22° Incentivo
Considerem também que a glória prometida no evangelho não é algo pequeno, mas extraordinário, e que vocês vivem na esperança de tomarem posse dela para sempre.
Portanto, o amor e o interesse que vocês devem ter por ela deveriam ser extraordinários. Realmente é algo descabido e impensável ter um pensamento pequeno, uma palavra descuidada ou uma oração fria ou qualquer outra prática indevida com relação a assuntos como a glória eterna. Se vocês almejam realmente os céus, ajam de acordo. Um espírito gracioso, reverente e piedoso produzindo um serviço aceitável a Deus é apropriado àqueles que buscam “receber um reino inabalável”[23]. Oh, que a nobre grandeza da esperança de vocês se manifeste na determinação, integridade e diligência de suas vidas!
23° Incentivo
Considerem também que não foram poucas e pequenas as misericórdias que vocês receberam de Deus; foram, sim, misericórdias inumeráveis, inestimáveis e extraordinariamente grandes.
Portanto, vocês não deveriam retribuir com sentimentos frios e com desinteresse. A misericórdia trouxe vocês ao mundo; a misericórdias nutriu vocês, e a misericórdia tem defendido e mantido vocês e os provido abundantemente. Seus corpos dependem dela; suas almas foram restauradas por elas; ela deu a vocês a sua existência; ela resgatou vocês da miséria; salva vocês do pecado, de Satanás e de vocês mesmos. Tudo o que vocês têm no presente, devem atribuir a ela. Tudo o que podem esperar do futuro depende dela. Ela é extremamente doce na sua qualidade; o que pode ser mais doce do que a misericórdia para as almas? Ela é extremamente grande na sua quantidade; “A misericórdia do Senhor chega até aos céus, até às nuvens a sua fidelidade. A sua justiça é como uma grande montanha; os seus juízos, como um abismo profundo... Quão grandes são as suas benignidades para aqueles que o temem; as quais ele tem para com aqueles que confiam nele diante dos filhos dos homens... As suas misericórdias alcançam até os céus, e sua verdade até as nuvens.”
Oh, que coração insensível é aquele que não compreende a voz de todas as suas maravilhosas misericórdias! Sem dúvida, elas falam a linguagem mais clara no mundo, requerendo de nós grande retribuição em amor, louvor e obediência ao liberal outorgante delas. Devemos dizer, com Davi, “Bendito seja o Senhor, que engrandeceu a sua misericórdia para comigo, numa cidade sitiada... Amai o Senhor, vós todos os seus santos. Pois o Senhor preserva os fiéis.”[24] “Ensina-me Senhor, o teu caminho, e andarei na tua verdade; dispõe-me o coração para só temer o teu nome. Dar-te-ei graças, Senhor, Deus meu, de todo o coração, e glorificarei para sempre o teu nome. Pois grande é a tua misericórdia para comigo; e me livraste a alma do mais profundo poder da morte.”[25]
Indizíveis misericórdias devem, necessariamente, produzir profundas impressões e ser tão agradáveis à alma agraciada, que seria de esperar que elas operassem em nós as mais profundas resoluções. Ingratidão é um crime que até os pagãos detestam; e é uma profunda ingratidão se não manifestarmos extraordinário amor e obediência, diante das muitas e extraordinárias misericórdias que possuímos.
24° Incentivo
Considerem também, que os auxílios e meios de graça que vocês possuem para pro­gredir na santidade e obediência a Deus são extraordinariamente grandes. Assim tam­bém, grandes, deveriam ser a santidade e obediência de vocês. Vocês têm todo o livro da nature­za para instruí-los. Cada criatura pode ensinar Deus a vocês, e fala a vocês em alta voz, persuadindo seus corações para mais próximo dEle. Toda obra da providência ins­trui e persuade vocês. Cada página e linha das Escrituras incita vocês. Vocês têm minis­tros para ajudá-los; têm a comunhão dos santos; o exemplo dos piedosos e as advertên­cias do jul­gamento de Deus sobre os ímpios. Têm os sermões, os sacramentos, as ora­ções, a medita­ção e conferências, misericórdias para encorajá-los, e aflições para persuadi-los. O que mais desejam?
25° Incentivo
Há uma exigência extraordinariamente grande sobre vocês. Portanto, as suas resolu­ções deveriam ser extraordinariamente elevadas e suas diligências extraordinariamente grandes. A salvação de todos vocês que são convertidos pesa com relação a estabilidade e perseve­rança. Cristo “vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresen­tar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicer­çados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvis­tes”. Deus não recebe qualquer pessoa. Vocês devem conformar-se aos termos dEle para que sejam participantes da sua salvação. Ele não tem duas palavras. Ele disse o que es­pera de vocês, e assim agirá. O julgamento virá. Não há como escapar das mãos de Deus. Diante de tais exigências, que cristãos devemos ser? Quão firmes e abundantes na fé e retidão!
26° Incentivo
Considere também a grande prestação de contas que você terá que fazer. Quando for levado à presença do Deus vivo, e toda a sua vida, pensamentos e caminhos forem re­lembrados, e você vir as coisas que sucederão, e que aguardam o Juízo Final, então não haverá lembrança vaga; todas estarão bem vivas. Então até os ímpios desejarão fortemen­te ter andado por outro caminho. Desejarão a qualquer custo escapar daquele terrível jul­ga­mento. Quanto aos crentes, não deveriam agora estar despertados a se prepararem cui­da­dosamente para um dia como aquele?
27° Incentivo
Considerem também o grande empenho empregado com relação às futilidades da vida. Quanto esforço para alcançar honras e riquezas neste mundo; para satisfazer a carne; para acumular tesouros sobre a terra; e quanto labor pela comida que perece. Oh, quanto empe­nho portanto deveria se demonstrar pelos tesouros celestiais e eternos!
28° Incentivo
Considerem também quão diligentes deveriam ser, visto que, é certo que jamais irão tão alto nem serão tão diligentes, embora tenham feito o melhor que puderem. Sim, aqueles que mais progredirem, ficarão tão aquém que sentarão e lamentarão não terem alcançado mais. Os maiores santos da terra confessarão lamentando quão pouco é o amor deles por Deus em comparação com o que deveria ser; quão aquém estão diante dos seus deveres; quão aquém da gloriosa majestade de Deus; quão aquém do precioso amor de Cristo, da preciosidade das almas, da glória eterna, das misericórdias que deveriam aque­cer nossos corações, das nossas grandes necessidades, e conseqüentemente, quão aquém dos seus próprios desejos. Anseiem, portanto, pelas melhores coisas enquanto podem al­cançá-las.
29° Incentivo
Finalmente, considerem quão grande é o compromisso de vocês, crentes sinceros, para com Deus.
a) Vocês estão mais estreitamente relacionados com Cristo do que quaisquer outros. Portanto, deveriam ser mais preocupados em não ofendê-lO e serem destacados em seu serviço.
b) Vocês estão compromissados com Ele por votos e alianças mais freqüentes do que quaisquer outros homens. Assim como Josué disse a Israel, “eis que esta pedra será tes­te­munho contra vós outros para que não mintais a vosso Deus”[26]. Assim também posso di­zer, que os lugares onde vocês se ajoelharam, oraram e fizeram promessas, serão tes­temu­nhas contra vocês se não ficarem firmes com Deus. As igrejas onde se congregaram, os lu­gares onde andaram em meditação solitária, as pessoas que ouviram suas promessas e pro­fissões de fé, tudo testemunhará contra vocês se não ficarem firmes.
c) Foram vocês que desfrutaram do cerne das misericórdias de Deus. Outros tiveram apenas as migalhas que caíram das vossas mesas. Outros tiveram apenas as graças co­muns; mas vocês tiveram as grandes e especiais misericórdias que acompanham a salva­ção.
d) Vocês têm o Espírito e uma vida divina dentro de vocês, os quais o resto do mundo não conhece. Certamente Aquele que vos fez novas criaturas e vos fez participantes da natureza divina, espera algo de divino nos sentimentos e devoções de vocês.
e) Além disso, é para vocês mais do que outros que a Palavra e mensageiros de Deus são enviados. Havia muitas viúvas nos dias de Elias e muitos leprosos nos dias de Eliseu, mas foi apenas para um deles que o profeta foi enviado. Nós, ministros, fazemos com que as multidões se enfureçam contra nós, e nos odeiem por magnificarmos a graça de Deus e por declararmos Seu amor especial para com vocês. Vocês foram escolhidos do mundo para a salvação; e não responderão a esta graça eletiva, admirável, tornando-se admira­vel­mente diferentes daqueles que perecerão, quanto à excelência, mansidão, humildade, auto-negação e piedade?
f) Além disso, vocês conhecem mais e têm mais experiências para assisti-los do que ou­tros. Outros apenas ouviram da hediondez do pecado, mas vocês a sentiram; outros ouvi­ram falar do desagrado de Deus, mas vocês o experimentaram quando seus corações foram quebrantados. Vocês não provaram da doçura do amor de Cristo? E não se maravi­lharam com as insondáveis riquezas da sua graça? Vocês provaram a doçura das esperan­ças da glória e dos poderes do mundo vindouro. Vocês perceberam a necessidade e exce­lência da santidade por experiências internas.
g) Além disso, o mundo espera muito mais de vocês do que de quaisquer outras pes­so­as. Deus espera mais de vocês; porque Ele lhes deu mais e pretende fazer mais com vocês. Devem vocês desfrutar das eternas alegrias do céu, enquanto que os vizinhos não santifica­dos perecem em tormentos, sem que vocês sejam mais empenhados em excedê-los? É ra­zoável esperar ser colocado eternamente em uma situação tão diversa da do mundo ímpio, tão diferente quanto o céu é do inferno, e ainda assim se contentar em di­ferir aqui tão pou­co deles em santidade?
h) Mais ainda, o próprio Deus se orgulha de vocês e conclama o mundo a observar a excelência de vocês. Ele colocou vocês como luz do mundo para serem contemplados pe­los outros. Ele vos chama, neste mundo, de “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos cha­mou das trevas para sua maravilhosa luz.”
i) Considerem esta como a maior motivação: Deus não apenas exalta e se orgulha de vocês, mas Ele também fez de vocês imagens vivas de Si mesmo, do Seu Filho Jesus Cristo, do Seu Espírito e da Sua Santa Palavra. E assim, Ele se expôs, ao Seu Filho, ao Seu Espírito e a Sua Palavra a ser apreendido pelo mundo conforme a vida de vocês. A imagem expressa do Pai é o Filho. O Filho é declarado ao mundo pelo Espírito Santo. O Espírito ditou as Escrituras Sagradas, as quais, portanto, testemunham do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Esta santa Palavra, tanto a lei como promessas, é escrita no coração de vocês, e aplicada no íntimo de vocês pelo mesmo Espírito. Assim como Deus imprimiu sua natureza santa nas Escrituras, assim Ele fez desta palavra o selo para imprimir nova­mente sua imagem no coração de vocês. E vocês sabem que os olhos podem discernir melhor a imagem impressa do que o próprio selo... Assim, se vocês têm sobre si as ima­gens vivas de Deus, de Cristo, do Espírito e da Palavra, e ainda assim forem cegos, mun­danos, cheios de paixões, orgulhosos, obstinados, preguiçosos e negligentes e tão pouco diferentes daqueles que carregam a imagem do diabo, o que vocês proclamam é que a imagem de Deus, de Satanás e do mundo diferem muito pouco.
j) Considerem finalmente, que os servos fiéis de Cristo são poucos. Logo, se vocês não honrarem o evangelho, ninguém o fará. Se vocês não viverem vida exemplar no mundo, quem o fará?

Conclusão dos Incentivos

Agora, meus irmãos, eu os exorto a considerarem sobriamente estas motivações. Elas não são razões suficientes para movê-los a buscar coisas mais elevadas, ao invés de per­ma­necerem na infância da santidade? É uma bendita misericórdia, eu confesso, que Deus te­nha dado a vocês uma verdadeira conversão, e as menores medidas da vida celestial; eu não estou estimulando-os a desvalorizarem-na. Não, eu estou acusando vocês de a esta­rem desvalorizando. Pois, se vocês valorizassem a conversão, desejariam sinceramente mais dela.


CONSELHOS PARA ALCANÇAR A CONFIRMAÇÃO

1° Conselho

Certifique-se de que o fundamento (alicerce) foi bem estabelecido, tanto na cabeça quanto no coração; ou de outro modo você jamais poderá alcançar a confirmação nem ser salvificamente edificado.
Para isto, você deve saber que fundamento é este, e como ele pode ser saudavelmente estabelecido. O fundamento tem duas partes, de acordo com as faculdades da alma aon­de deve ser lançado. A primeira é a verdade da doutrina ou ensino e a segunda é a sua excelência. Como verdade, o fundamento é estabelecido no nosso entendimento; como excelente, na nossa vontade. Com relação a ambas as partes, precisamos primeiramente considerar o conteúdo da fundação, e, então, a maneira como a fundação deve ser rece­bida ou estabelecida.
A fundação é aquele conteúdo ou objeto da nossa fé, esperança e amor, o qual é es­sencial para um crente. Este conteúdo está sempre contido em nosso batismo, porque o batismo é o ato pelo qual nos tornamos crentes visíveis, ou a entrada solene no Cristia­nismo. Portanto, assim como somos batizados no (para dentro do) nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, renunciando a carne, o mundo e o diabo; assim também este ato, sendo sincero, sem engano, e conforme o sentido das palavras das Escrituras, constitui-se na essência do Cristianismo. Assim, o princípio da fundação ou o conteúdo funda­mental é o Deus Pai, Filho e Espírito Santo. A fundação secundária, ou doutrinas fun­damentais, são aquelas proposições das Escrituras que expressão a nossa fé no Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Quando mencionamos as três pessoas como objeto da fé cristã, expressamos os no­mes das relações, que incluem tanto as pessoas, natureza e ofícios ou obras; sem as quais, Deus não seria Deus, Cristo não seria Cristo e o Espírito Santo não seria, no sen­tido de nossos artigos de fé, o Espírito Santo.
Assim como devemos crer que há apenas um único Deus, assim também devemos crer que Deus, o Pai, é o primeiro na santa trindade de pessoas; que toda a divindade é perfeita e infinita em seu ser, poder, sabedoria e bondade, no que todos os seus atributos estão compreendidos - entretanto, uma compreensão distinta de todos os Seus atributos não é absolutamente necessária para a salvação. Devemos crer, também, que este Deus é o criador, mantenedor e “determinado” de todas as coisas, e o dono e soberano da humanidade, justo e misericordioso. E, ainda, que assim como Ele é o princípio de tudo, Ele é o fim último, e o maior bem do homem; e que, portanto, deve ser amado e busca­do acima de tudo. Isto deve ser crido com relação a Divindade, e a pessoa do Pai.
Com relação ao Filho, devemos, além disso, crer que ele é igualmente Deus com o pai, o segundo na trindade, encarnou, e assim se tornou homem, através de uma união pessoal entre a divindade e a humanidade. Devemos crer que ele não teve pecado, nem original nem “fatual” (cometido), tendo uma natureza sem pecado e uma vida sem pe­cado. Que ele cumpriu toda a justiça, e foi morto como um sacrifício por nossos peca­dos, e deu-se a si mesmo em resgate por nós. E que, tendo sido sepultado, ressuscitou da morte, e depois foi assunto ao céu, aonde é Senhor de todos, e intercede pelos crentes. Que ele virá novamente e ressuscitará os mortos, e julgará o mundo, os justos para a vida eterna, e os ímpios para a punição eterna. Que ele é o único redentor, o caminho, a verdade e a vida; e que não há acesso ao Pai senão por ele, nem salvação em nenhum outro.
Com relação ao Espírito Santo, temos que crer que ele é o mesmo único Deus, a ter­ceira pessoa na Trindade, enviado pelo Pai e pelo Filho, para inspirar os profetas e apóstolos; que as doutrinas inspiradas e miraculosamente atestadas por ele são verdadei­ras; que Ele é o santificador daqueles que serão salvos, restaurando neles a imagem de Deus, em santidade e justiça, dando-lhes verdadeiro arrependimento, fé, esperança, amor e sincera obediência; habilitando-os a conquistar a vencerem a carne, o mundo e o diabo; reunindo, assim, uma santa igreja na terra para Cristo, a qual tem, pelo seu san­gue, o perdão de todos s seus pecados, e gozará da bem-aventurança eterna com Deus.
Esta é a essência da fé cristã, com relação ao seu conteúdo. Quanto a maneira de recebê-la pelo entendimento, 1) Deve ser recebida como verdade inquestionável da reve­lação de Deus, sob o crédito da Sua palavra, através de uma fé viva e efetiva; penetran­do tão profundamente quanto necessário para que prevaleça sobre a vontade. 2) Deve ser inteiramente recebida, e não apenas uma parte dela. Embora nem todos tenham uma distinta apreensão de cada elemento desta fé, como outros têm, ainda assim, todo crente verdadeiro tem uma verdadeira apreensão desse fundamento da fé cristã. Quanto a al­gumas dessas verdades, embora não expressá-las perfeitamente, sentimos que as com­preendemos verdadeiramente.
Quanto a maneira de recebê-la pela vontade, estas verdades devem ser recebidas de modo que renunciemos a carne, ao mundo, ao diabo e ao eu carnal, que é o coração do velho homem.
Quanto a maneira de receber estas verdades, deve ser sincera, decididamente, sem reservas ou absolutamente, e habitualmente, por uma devoção interna do coração. Esta é a essência do cristianismo; esta é a verdadeira fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo; este é o fundamento, e esta é a maneira correta de estabelecê-lo.
Agora, quero persuadi-los no sentido de que esta fundação seja seguramente estabe­lecida em suas cabeças e corações.
Para que seja seguramente estabelecida na cabeça, vocês devem empenhar-se, 1) A entender estes artigos de fé. 2) A perceberem a evidência da veracidade delas, de modo que possam crer plenamente nelas. 3) A considerarem o valor e necessidade dos assun­tos neles revelados, a fim de que possam apreciá-los sobremaneira. Este é o estabeleci­mento seguro do fundamento na cabeça. Com este propósito, vocês deveriam primeiro aprender alguns catecismos, e ficarem bem familiarizados com os princípios da religi­ão. Leiam também ou ouçam bastante as Escrituras Sagradas, e tirem as dúvidas com os seus mestres e com outros que possam ajudá-los. Atendam a esse conselho, e não dêem nenhum passo mais alto, até que isso seja alcançado. Então, todas as outras verdades, deveres e promessas, devem também ser assim aprendidos, para que sejam edificados sobre esta fundação, e a ela unidos, como que recebendo dela sua vida e vigor; e nunca encarados como que separados desta fundação; nem como mais excelente e necessários.
Por não aprenderem bem e crerem seguramente nestes princípios, essência, ou fun­damento do Cristianismo, alguns dentre nós não podem ir avante, mas permanecem a vida toda em ignorância. Alguns vivem uma profissão de fé cega, enganando-se a si mesmos, edificando sobre a areia, sustentando doutrinas verdadeiras com uma crença falsa e insegura nelas; então, vindo a tempestade, e os ventos batem com força sobre o que edificaram, a casa cai, sendo grande a sua ruína[1]. Com relação alguns, caem com o primeiro assalto de qualquer sedutor que se interesse por eles; e prontamente engolem todo tipo de erro, porque nunca entenderam bem, ou creram firmemente, verdades fun­damentais. Com relação a outros, a edificação não cai senão por ocasião da morte, visto que não passaram por violentas tentações.
Uma vez estabelecido esta fundação no seu entendimento, certifique-se, acima de tudo, que ela seja firmemente estabelecida no seu coração ou vontade. Cuidado, para que não aconteça de ser falsa a sua presunção quanto a sua participação não santa aliança. Pode ser que a palavra não tenha alcança a fornalha da alma, e não tenha penetrado na terra e enraizado. Cuidado, pois pode ser que você tenha vindo a Cristo apenas como alguém procura outro em momento de dificuldades. Atente, para que você faça uma en­trega absoluta de si mesmo a Ele.
Oh, é isto o que faz com que alguns, dentre nós, caiam tão rapidamente no dia da provação; com que alguns acovardem-se na adversidade; e com que alguns sejam sedu­zidos pela prosperidade. Um é enganado por posição e honras; outro pela riqueza; outro pelo veneno dos prazeres carnais, e a sua consciência, religião, salvação e tudo o mais é sacrificado pelo seu estômago que devora tudo. Assim, todo o amor e bondade de Deus, o sangue de Cristo, a operação do Espírito, os preceitos e promessas, as advertências da palavra, e a alegria e tormentos nos quais um dia creu; tudo é esquecido, ou perdeu sua força - e tudo porque o alicerce não foi bem estabelecido no início.
2° Conselho
Não pense que, uma vez convertido, tudo está feito; mas lembre-se de que a obra do cristianismo apenas iniciou, e deve durar enquanto você viver.
Quanto a isso, direi pouco agora, visto é o assunto de todas as considerações precedentes. Eu creio o fracasso de muitos provém de imaginarem que, uma vez convertidos, estão tão seguros nas mãos de Cristo, que não precisam mais ter nenhum cuidado, nem nenhum peri­go que devam temer, e que não têm mais nada a fazer para a fim de que salvação deles se concretize. E isto prova que, na verdade, tais pessoas nunca foram realmente convertidas. Eu admito que, quando um homem é verdadeiramente convertido, o perigo principal já não mais existe; ele está seguro no amor e cuido de Cristo, e ninguém poderá tirá-lo das suas mãos. Mas isto é apenas parte da verdade; a outra parte também deve ser reconhecida, junto com esta, ou estaremos nos enganando a nós mesmo. Há ainda uma grande obra a ser reali­zada; e a santidade é o caminho da felicidade. Muito cuidado e diligência é requerido de nós. Que nós seremos salvos por Cristo não é mais certo, do que seremos guardados na fé, amor, e santa obediência a Ele. É tão verdadeiro que ninguém pode nos separar do amor de Deus, do cuidado em agradá-lo e de uma santa diligência no desenvolvimento da nossa salvação, quanto o é, que ninguém pode retirar-nos da sua mão ou levar-nos a um estado de condena­ção. Aquele que está determinado a conduzir-nos para a glória, está igualmente determinado a conduzir-nos para lá pela perseverança em santidade e diligente obediência; pois ele nunca decreta um sem o outro; e ele jamais nos salvará por nenhum outro meio.
Na verdade, quando somos convertidos, escapamos de muitos e sérios perigos; mas ainda há muitos outros diante de nós, dos quais, escapamos só com cuidado e diligência. Fomos transportados da morte para a vida, mas não da terra para os céus. Temos a vida que provém da graça, mas ainda estamos aquém da vida que viveremos na glória. E por que temos a vida que provém da graça, senão para usá-la e vivê-la? Por que viemos à vinha, senão para traba­lhar; e por que ingressamos no exército de Cristo senão para lutar? Por que entramos na corrida senão para ganhar o prêmio; ou, por que nos voltamos para o caminho certo, senão para caminhar nele?
Nós nunca fizemos nenhum serviço fiel a Deus até o dia da nossa conversão. Só então, começamos; e sermos tão entorpecidos ao ponto de pensarmos que tudo já foi feito, quando apenas começamos? Só então vocês começaram a viver; vocês, que antes estavam mortos. Só então acordaram, pois antes estavam dormindo. É apenas agora, que vocês lançaram-se ao mar, e começaram a viagem em direção a terra bendita; devem esperar, portanto, muitas tempestades e ondas. Vocês terão que enfrentar ainda muitas lutas contra a tentação. Muitas orações sinceras ainda terão que fazer. Muitos e muitos deveres a realizar, para Deus e para os homens. Não pensem que concluíram seus cuidados e obra, enquanto não concluírem su­as vidas. Quer tenham sido chamados na primeira hora, ou na última, deverão trabalhar até a noite para receberem o salário. E não pensem que este é um ensino pesado. É um privilégio, alegria e felicidade terrena, que vocês possam ser assim usados. Até então, vocês viveram uma vida animal; mas agora, caminham com Deus, têm intimidade com os céus, conversam com santos e são guardados por anjos. Esta é uma vida que pode ser considerada pesada?
Agora vocês vieram a si, para compreenderem o que podem fazer no mundo, para viverem como homens de modo a que possam viver como anjos! Conseqüentemente, deveriam agora começar a colocarem-se em ação. Eu não esperaria que vocês mantivessem os mes­mos temores quanto ao desagrado de Deus, nem as mesmas apreensões quanto a miséria de vocês, nem as dúvidas e perplexidades que sentiram quando da primeira conversão de vocês; pois estas coisas foram ocasionadas pela transformação e fraqueza de graça inicial. A insen­satez anterior de vocês fez necessária estas coisas por um tempo. Mas eu esperaria que man­tivessem o temor de pecar, e muito mais amor a Deus e a Seu serviço, do que no princípio. Tentações rondarão vocês até a última hora das suas vidas. Portanto, para que não venham a cair, terão que vigiar e orar até o fim. Não desistam de vigiar enquanto satanás não desistir de tentar e procurar alcançar vantagem sobre vocês.
A promessa é sob a condição de perseverarem e firmarem-se em Cristo, e continuarem alicerçados e firmes na fé, e saírem vitoriosos, e serem fiéis a té a morte, como em João 15. “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor”. Se vocês começaram resolutamente, prossigam resolutamente. A ruína da alma do homem é pensar que todo o perigo acabou, e deixar de preocupar-se, enquanto ainda estão à caminho. Quando seu cuidado e santo temor declinam, sua vigilância diminui. Então, a sua alma fica aberta e suscetível a todo tipo de paixão. Portanto, saibam disso: a obra da conversão não termina enquanto não chega ao fim a vida de vocês.
3° Conselho
Certifique-se de que compreendeu em que consiste sua confirmação e crescimento, a fim de que não se engane, buscando outra coisa no lugar da verdadeira confirmação; nem aconteça pensar que já é um crente confirmado, quando não é; nem, por outro lado, seja desnecessariamente inquietado quanto a isso, quando na verdade já é um crente confirmado.
Para ajudá-lo neste propósito, vou mostrar-lhe em que consiste sua confirmação e cres­cimento, nas suas diversas partes, tanto no entendimento, quanto na vontade e sentimentos, quanto na sua conduta.
I. Confirmação no Entendimento

Visto que a santidade tem a ver com o entendimento, ela é geralmente chamada nas Escrituras de luz e conhecimento. A confirmação e crescimento nesta área, consiste nas sete partes a seguir:

1. É comum que os novos convertidos vejam as grandes verdades essenciais da profissão de fé cristã de modo imperfeito, quanto as evidências pelas quais as descobrem. Ou eles vêem apenas algumas das sólidas evidências, deixando de ver muitas outras; ou, mais freqüentemente, recebem a verdade sob evidências inadequadas e insuficientes, à princípio, e, então, prosseguem para um tipo de mistura; recebendo a verdade firmados em algumas evidências válidas e suficientes, junto com outras evidências inadequadas. Entretanto,você deve crescer para além desse entendimento infantil, e ver evidências maiores e mais seguras do que as que via anteriormente. Quando você compreender mais dessas sólidas evidências que ante­riormente não conseguia ver, e colocar menos ênfase sobre as evidências menos significati­vas, e abandonar aquelas evidências que não são válidas (que na verdade não são evidênci­as); então seu entendimento será mais confirmado na verdade - e nisto consiste a parte prin­cipal do seu crescimento.
Assim aconteceu com os samaritanos de Sicar: “Muitos samaritanos daquela cidade cre­ram nele, em virtude do testemunho da mulher, que anunciara Ele me disse tudo quanto te­nho feito”[1]. Esta foi uma fé inicial, baseada em uma evidência fraca. Entretanto, “muitos outros creram nele, por causa da sua palavra, e diziam à mulher: Já agora não é pelo que dis­seste que nós cremos; mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadei­ramente o Salvador do mundo”[2]. Este é um exemplo claro de confirmação e crescimento, que os levou a crer e conhecer uma mesma verdade que antes creram; mas antes esta verda­de era crida com base em uma evidência mais fraca; e agora, sob uma evidência mais forte.
O mesmo ocorreu com Natanael. Pela persuasão de Filipe, ele foi conduzido a Cristo, mas quando percebeu sua omnisciência, visto que conhecia o coração e acontecimentos que estavam distantes e fora do alcance do conhecimento ordinário, Natanael é confirmado, e diz, “Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és Rei de Israel”[3]. Contudo, Cristo lhe diz que ainda havia evidências muito mais fortes a serem reveladas, as quais produziriam uma fé mais confirmada e forte: “Porque te disse que te vi debaixo da figueira, crês? Pois maiores cousas do que estas verás. E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem”[4].
Não há um só crente, dentre muitos milhares, o qual tenha, de imediato, percebido ple­namente as sólidas evidências da doutrina cristã. Entretanto, é preciso crescer mais e mais em discernir aquelas razões para a verdade que crê; as quais, à princípio, não discernia ade­quadamente. Não é a fé mais confiante que se revela sempre como a fé mais forte e confir­mada. Deve haver fundamentos e evidências seguras em suporte a esta confiança; do con­trário, tal confiança pode logo ser abalada, e não é sadia, mesmo que parece não se abalar. Quanto a isso, os novos convertidos devem ser advertidos, dessa perigosa cilada do engana­dor, porque à princípio, a própria verdade é freqüentemente recebida sob evidências ou bases fracas e deficientes. É costume do diabo e dos seus instrumentos enganadores, mostrar aos novos convertidos as fraquezas dessas evidências iniciais, e, então, levá-los a concluir que suas evidências de fé se reduzem a nada; pois é muito fácil persuadir tais pessoas que as ver­dades em que crêem não têm evidências mais sólidas do que as que conseguiram ver, já que não discerniram outras melhores. Os novos convertidos são facilmente levados a superesti­marem seus conhecimentos, como se não houvessem razões melhores para a verdade, do que as que eles alcançaram; e a acharem que outras pessoas não vêem mais do que eles. As­sim, algumas dessas pobres almas, abandonam a verdade, na qual deveriam ser edificados e confirmados, e consideram como argumento contra a verdade, aquilo que é apenas uma prova da própria fraqueza deles.
Eu conheci pouquíssimas pessoas que se voltaram para alguma heresia ou seita, cuja causa não tenha sido esta. Eles, à princípio, professavam a verdade, mas não firmados em razões seguram e firmes. Eles professavam a verdade firmados em razões insuficientes. En­tão, vem algum enganador e desacredita os argumento em que se firmavam, e então, não tendo razões melhores, abandonam a verdade, concluindo que tudo não passava de engano. É como se na infância, eu reconhecesse meu pai apenas pelas roupas que usa; e então, cres­cendo um pouco mais, alguém me dissesse que eu fui enganado, e que esse não era o meu pai, e para me convencer, vestisse outro homem com as roupas dele; e assim, por causa dis­so, eu fosse tolo o suficiente para admitir que estivesse enganado e que meu pai não era re­almente meu pai. Como se a paternidade de meu pai fosse falsa, porque as razões pelas quais eu a reconhecia eram insuficientes. É isto o que acontece com estas pobres almas, as quais pensam que a descoberta das suas próprias imperfeições e a refutação de seus próprios ar­gumentos tolos é uma refutação das verdades de Deus que sustentam. Um crente forte e bem alicerçado, por sua vez, defenderia a verdade de Deus contra inimigos mais fortes e sa­gazes; ou pelo menos apegar-se-ia firmemente a ela.
Esta é a primeira parte do seu crescimento em conhecimento: quando você pode ver mais e melhores evidências para a grande verdade do cristianismo do que podia ver antes.
2. Além disso, você deve progredir de modo a obter uma apreensão mais clara das mesmas razões e evidências da verdade que via antes. Pois mesmo que o crente fraco tenham os melhores argumentos e bases no mundo, ainda assim, ele tem uma visão tão obscu­recida deles, que eles quase não afetam seus sentimentos. As melhores razões do mundo po­dem operar muito pouco naqueles que as compreenderem apenas superficialmente. Há variedade de graus de conhecimento, não apenas de uma mesma verdade, por causa da diversi­dade de evidências; mas de uma mesma evidência e razão de uma verdade. Eu me lembro muito bem de ter por muitos anos um argumento para uma importante verdade, e de ter feito uso dele, e que, embora se tratasse de um bom argumento, eu tinha apenas uma apreensão superficial da sua força. Apenas muitos anos mais tarde, meus estudos me deram luz, e obtive uma apreensão tão clara da força do mesmo argumento, o qual já conhecia há tanto tem­po, que ele me confirmou e me satisfez tanto, como nunca antes.
Eu rogo a vocês, cristãos, que considerem a importância da verdade. Não é o mero co­nhecimento superficial da verdade que lhe servirá; mas um conhecimento verdadeiro e sólido dela. Nem tampouco é o mero ouvir e entender as melhores bases e razões ou provas do mundo que lhe será útil; a menos que tenha uma sólida apreensão dessas provas e argumen­tos. Um homem de posse dos melhores argumentos, pode esquecer a verdade, porque não tem uma boa compreensão desses argumentos. Como um homem que tem as melhores ar­mas do mundo pode ser morto, por não ter o vigor ou habilidade para usá-las. Eu lhes digo que, ainda que você soubesse todas as verdades da Bíblia, você poderia crescer muito no co­nhecimento dessas mesmas verdades que já sabe.
3. Além disso, um crente novo e não confirmado, embora possa ver todas as verdades fundamentais, e conhecer boas evidências e razões delas; pode,contudo, ser ignorante quanto a ordem correta e lugar de cada verdade. É raro encontrar novos professos que entendam as verdades necessárias metodicamente - e isto é uma grande falta. Isto porque muito da utilidade e excelência de verdades particulares consiste na relação que têm umas com as outras. Isto, portanto, consistirá em parte importante da sua confirmação e cresci­mento no entendimento: ver o corpo de doutrinas cristãs em sua unidade, visto que embora diversas, estão todas unidas em um sistema perfeito. É preciso, portanto discernir em que sentido uma doutrina se relaciona com as demais, e qual é o seu devido lugar dentro do corpo doutrinário bíblico como um todo.
Há muita diferença entre a visão das diversas peças espalhadas de um relógio desmonta­do, e a visão dessas mesmas peças montadas e em perfeito uso e movimento. Ver um pino aqui e uma outra peça acolá, sem nunca tê-los visto montados em seus devidos lugares, não nos dão muita satisfação. É o sistema e a ordem das doutrinas sagradas que precisão ser dis­cernidas; qual o uso particular que têm dentro do sistema como um todo, e qual a relação que mantêm com as demais doutrinas. Este é o único meio pelo qual a verdadeira natureza da teologia juntamente com a harmonia da perfeição da verdade pode ser compreendida. Cada verdade em particular será muito melhor compreendida quando vista em seu lugar e ordem. Pois uma verdade ilustra de modo extraordinário outra verdade elucidando-a para que possamos compreendê-la.
Na verdade, o próprio coração e vida de vocês não ficarão em boa ordem se a ordem das verdades recebidas for mal compreendida. Pois as verdades de Deus são os próprios instru­mentos da santificação de vocês; a qual, não passa do efeito sobre o entendimento e vontade de vocês dessas verdades pelo Espírito Santo. As verdades são o selo e a alma de vocês são a cera; a santidade, é a impressão feita. Se vocês receberem apenas algumas verdades, terão apenas uma impressão parcial. De fato, as verdades do cristianismo são tão coerentes, e fa­zem sentido pelo necessário sistema que formam, que você não pode receber sinceramente uma delas sem receber cada uma das verdades essenciais do fé cristã. Se vocês as receberem de modo desordenado, a imagem que produzirão nas almas de vocês serão igualmente de­sordenadas; como se os membros dos corpos de vocês fossem unidos de modo monstruoso.
Estudem, portanto, para poderem crescer com um conhecimento mais metodológico das mesmas verdades que já receberam. Embora não estejam suficientemente preparados para discernirem todo o corpo teológico na ordem devida; ainda assim, aprendam o máximo que puderem alcançar, na ordem correta e lugar devido de cada parte. Como na anatomia, ainda que seja difícil para o melhor médico discernir o curso de cada veia e artéria, ainda assim eles podem facilmente discernir o lugar e ordem das veias e artérias principais; assim também com relação ao conhecimento das doutrinas bíblicas. Homem algum pode obter uma visão perfeita do todo, enquanto não alcançar o estado de perfeição; ainda assim, todo verdadeiro crente tem o conhecimento das doutrinas essenciais, e podem conhecer a ordem e lugar de todas elas.
4. Outra parte da sua confirmação e crescimento no entendimento, consiste em discernir as mesmas verdades de modo mais prático do que antes, e perceber a utilidade de cada verdade, para que elas façam sua obra em seu coração e na sua vida. Nunca foi a vontade de Deus que mera especulação se constituísse no propósito das Suas revelações ou da nossa fé. Teologia é uma ciência efetivamente prática. Portanto, as verdades devem ser conhecidas e cridas, a fim de que o bem seja recebido, e uma santa transformação operada por elas no coração e na vida. Até a própria doutrina da Trindade é prática, sendo a fonte de doutrinas cuja prática são mais facilmente discernidas. Não há um artigo da nossa fé que não tenha uma obra especial a realizar no nosso coração e na nossa vida; eles são especialmente ade­quados para esta obra.
Pois bem, o entendimento dos novos na fé, embora discirnam muitas verdades, vêem pouco da obra a ser realizada por elas, e da utilidade de cada uma dessas verdades na opera­ção dessas obras. Isto, portanto, deve ser objeto do seu labor diário, e nisto você deve cres­cer.
Um dono de casa pode conhecer tantas ervas, flores e frutos quanto um farmacêutico, e pode até chamá-las pelo nome, e reconhecer a aparência e beleza delas. Contudo, ele sabe pouco ou nada com relação a utilidade, para o que servem, exceto que servem para alimentar o gado. Já o farmacêutico sabe que esta erva serve para esta doença e aquela para outra do­ença, e sabe como fazer uso dessas mesmas ervas para salvar a vida das pessoas, enquanto que outros homens as pisam como se fossem inúteis. Assim também, muitos homens não convertidos, podem conhecer externamente doutrinas sagradas, mas não sabem que uso po­dem fazer delas. O crente fraco, por sua vez, conhece menos da utilidades dessas doutrinas, do que um crente maduro e confirmado.
Aprendam diariamente mais e mais, a fim de conhecerem para que serve cada verdade; e compreenderem que esta verdade é apropriada para o exercício e fortalecimento de tal graça (virtude), e esta outra é excelente remédio contra tal ou tal doença da alma. Cada folha da Bíblia tem nela poder curador. Elas são as folhas da árvore da vida. cada sentença é boa para alguma coisa. “Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”[5]. Nenhuma só palavra das Escrituras é inútil.
5. Além disso, você deve crescer não apenas no conhecimento da utilidade das doutrinas, mas em como usá-las, a fim de que possa se beneficiar do valor delas. Muitas pessoas sabem para o que servem as ferramentas dos trabalhadores, embora não saibam como usá-las. Muitos conhecem a utilidades e valor das ervas e drogas, contudo não sabem como fazer um remédio delas e aplicá-las devidamente. É preciso muita habilidade para conhecer a peri­odicidade, dosagem e o que é apropriado para um e para outro (paciente ou doença), a fim de que se possa fazer a necessária variação que a diversidade de condições requer. Assim como é necessário habilidade para que os pastores, “manejem corretamente a Palavra de Deus, e falem a palavra apropriada ao fraco, e dêem aos filhos seu alimento na hora certa”; assim também é requerido habilidade para fazer isso por si mesmo, e conhecer que porção da Escritura diz respeito a você, e quando e em que dosagem aplicá-la, e em que ordem, e com que objetivos usá-la, de modo que concorra para o seu próprio bem.
Você pode crescer nesta habilidade enquanto viver. Por mais que conheça verdades há muitos anos, pode ainda crescer quanto a habilidade para usá-las apropriadamente. Oh, que crentes excelentes seríamos nós, se apenas tivéssemos essa santa habilidade para aplicar corretamente as verdades bíblicas. Nós temos toda a armadura de Deus para vestir e usar. A questão é como usá-la. A mesma espada do espírito nas mãos de um forte e habilidoso crente pode fazer muito, enquanto que nas mãos de um crente fraco e inábil pouco ou quase nada poderá fazer. Um jovem médico pode conhecer os mesmos medicamentos que um médico hábil e experiente. Mas a grande diferença está na habilidade para usá-los. É isto que pode torná-lo rico em graça: quando você cresce na habilidade para usar as verdades de Deus.
6. Ademais, seu entendimento pode aumentar bastante, ao conhecer as mesmas verda­des mais experimentalmente do que antes - eu me refiro às verdades capazes de serem co­nhecidas experimentalmente. A experiência nos fornece um modo de conhecimento muito mais satisfatório do que o alcançado sem ela. Conhecer por ouvir dizer é como conhecer um país por um mapa; enquanto que conhecer por experiência é como conhecer o mesmo país pessoalmente. Um viajante experiente, ou soldado ou médico ou governador, tem um co­nhecimento diferente do que o da maioria dos homens eruditos, sem experiência podem ter - um conhecimento que dá segurança a pessoa. Assim também vocês podem crescer no co­nhecimento das mesma verdades que já conhecem há muito tempo. Quando tiverem “a ex­periência de que o Senhor é bondoso,”[6] vocês o conhecerão mais experimentalmente do que o conheciam antes. Quando provarem a doçura das promessas, do perdão dos pecados, da paz com Deus, e das esperanças da glória, vocês terão adquirido um conhecimento mais ex­perimental das riquezas da graça do que tinham antes. E quando tiverem vivido por um tem­po em comunhão com Deus, de modo íntegro e incontaminados no mundo, vocês conhece­rão a natureza e valor da santidade por meio de um conhecimento mais experimental e satis­fatório do antes. Nisto consiste a confirmação e crescimento em conhecimento.
7. Finalmente, vocês devem se esforçar para crescer na estima que têm das mesma verdades que conheciam antes. Isto será uma conseqüência das atitudes já mencionadas. Uma criança que encontra uma jóia, pode dar valor a ela pela beleza de seu brilho; no entanto, pode estar avaliando-a muito aquém do seu real valor. No início da sua nova vida, você pode ver tanta sabedoria e bondade em Deus que desprezará o mundo por causa dEle; pode reco­nhecer tanta necessidade de um salvador e tanto amor e misericórdia em Jesus Cristo, ao ponto de ter seu coração atraído para ele; pode ver com tanta certeza a gloriosa excelência da vida por vir, que poderá avaliá-la até mesmo mais do que sua própria vida. Contudo, há nisso tudo um tesouro tão inescrutável, que você jamais poderá avaliá-lo a altura do seu va­lor, pois há mil vezes mais excelência em tudo o que vocês têm visto de Deus, de Cristo e da glória a ser discernido. Há mil vezes mais beleza na santidade do que vocês já apreenderam. O pecado, por sua vez, é mil vezes pior do que já perceberam. Assim, ainda que vivessem mil anos, ainda assim poderiam crescer na estima dessas coisas que conheceram desde o primeiro dia da verdadeira conversão de vocês. Quanto mais profundamente cavarem esta mina, mais preciosos se revelarão seus tesouros. Há um oceano de excelência em um artigo da nossa fé, e vocês nunca encontrarão a outra margem ou seu fundo, até chegarem aos céus; quando descobrirão que ele não tem outra margem nem fundo.
Com isso eu mostrei a vocês o que é necessário para a confirmação e crescimento com relação ao entendimento, quanto as verdades que conheceram desde o princípio. Agora, acrescentarei que vocês também precisam empenhar-se para conhecer muitas outras verda­des que não conheciam à princípio, e a alcançar o máximo que puderem da vontade revelada de Deus, e a não se satisfazerem com as verdades essenciais; pois todas as revelações divinas são preciosas e de grande utilidade, e não podem ser negligenciadas. O conhecimento de muitas outras verdades são de utilidade, também, para o nosso claro entendimento das ver­dades essenciais; e, também, para que nos apeguemos firmemente e pratiquemos essa verda­des essenciais. “as coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e aos nossos filhos”[7]
Com relação a isso, devo dar-lhes mais alguns conselhos:
1. Que vocês procedam na ordem devida; dos pontos fundamentais àqueles que se se­guem; e não pulem os pontos que se seguem em necessidade e importância, para questões mais elevadas e menos necessárias, antes que estejam preparados para elas.
2. Atentem, também, para que recebam todas as verdades seguintes que forem ensinadas a vocês, como que fluindo e intimamente ligadas às verdades essenciais. Prosseguir desorde­nadamente tem provocado enormes malefícios a almas de milhares, quando se envolvem em controvérsias com relação a assuntos menores, antes de haverem compreendido a abundân­cia de assuntos mais necessários os quais deveriam ter compreendido antes. Seguir por esse caminho será um desperdício ou, pior, engana o entendimento ao invés de informá-lo. Isso também perverte a própria vontade, produzindo no homem uma atitude herética, orgulhosa ou um espírito perverso. E, então, fatalmente o desencaminhará na prática, e fará com que, como um homem iludido, seja zeloso na prática do mal, pensando que está fazendo o bem.
Até nas coisas comuns reconhece-se que é preciso aprender e fazer as coisas na ordem devida, caso contrário, você estará apenas se tornando um tolo. Você alcançará o topo de uma escada ou ladeira sem começar pela parte mais baixa? Semeará você a terra antes de adubá-la e ará-la? Ou pode você colher antes de semear? Ensinará você aos seus filhos he­braico, grego e latim antes que aprendam sua própria língua? Ou lerão eles os livros mais di­fíceis antes de aprenderem os mais fáceis? Assim também vocês não podem aprender a res­peito das difíceis controvérsias teológicas, ou sobre a exposição de profecias obscuras, ou dúvidas doutrinárias, sem que antes tenham aprendido as muitas, grandes e necessárias ver­dades que precisam ser compreendidas primeiro. Homens sábios sentem pena e ficam enver­gonhados ao ouvir pessoas récem-convertidas e presunçosas fazendo exposições confiantes sobre os Livros de Daniel, Apocalipse, Cantares e outros similares, ou se envolvendo em discussões a respeito do livre arbítrio, predestinação, ou muitas outras controvérsias de nossa época, quando são ignorantes com relação a centenas de verdades sobre as alianças, justifi­cação e assim por diante, as quais deveriam ser conhecidas antes que possam alcançar as demais.
Pelo que disse até aqui, vocês devem ter compreendido que, embora devamos alcançar o máximo que pudermos em conhecer todas as verdades necessárias reveladas; a parte princi­pal do crescimento no conhecimento, uma vez convertidos, consiste não em conhecer mais do que conheciam antes, quanto ao número de verdades, mas em conhecer melhor as mes­mas verdades fundamentais que conheciam à princípio. Esta é a coisa principal que eu ensi­naria a vocês aqui. Visto que as verdades essenciais do cristianismo foram o instrumento da conversão de vocês, e foram mais necessárias e úteis a vocês do que milhares de outras; o crescimento e confirmação das almas de vocês dependerá mais de conhecerem mais profun­damente essas mesmas verdades, do que de acrescentar milhares de outras que ainda não conhecem. Portanto, aceitem este conselho, se é que realmente almejam a paz e o crescimen­to de vocês: não negligenciem conhecer outras verdades; mas gastem muitas e muitas horas empenhando-se em conhecer melhor as grandes verdades que receberam, para cada hora gasta à procura de conhecer outras verdades que ainda não conhecem. Acreditem, este é o caminho mais certo e seguro.
Se vocês já conhecem a Cristo crucificado e não conhecem certas controvérsias com rela­ção a governo da igreja e outros assuntos não essenciais; será mais útil para o seu crescimen­to no conhecimento compreender um pouco mais à respeito de Cristo crucificado, o qual já conhece, do que conhecer esses outros assuntos que ainda não conhece. Se você já possuísse alguns milhões em ouro, e nenhum centavo em prata, lhe enriquecerá muito mais obter mais uma bolsa cheia de ouro do que uma cheia de prata. O homem que tem medida dobrada do conhecimento de Deus em Cristo, e a mais clara, profunda e eficaz apreensão das riquezas da graça e da glória por vir, e ainda assim, nunca ouviu falar de Scotus, ou Ockam ou da Suma Teológica de Tomás de Aquino, é muito mais rico em conhecimento, e muito mais sábio do que aqueles que têm estas controvérsias na ponta da língua, mas alcançaram apenas metade da clareza e solidez do conhecimento de Deus, de Cristo, da graça e da glória. Há suficiente em qualquer dos artigos da nossa fé, em qualquer dos atributos de Deus, em um dos benefícios de Cristo, em uma das graças do Espírito, para mantê-lo estudando e cres­cendo em conhecimento por toda a sua vida. O conhecimento deve ser avaliado de acordo com o seu uso e com a dignidade do seu objeto, e não pelo número e sutileza de suas no­ções. Portanto, eu rogo a vocês, que são jovens e fracos na fé, que se empenhem muito mais para crescer em obter uma intimidade maior com a mesma fé que receberam, do que em se tornarem íntimos de questões controvertidas secundárias que ainda não conhecem. Os ho­mens costumam chamar estes assuntos de questões elevadas, porque são mais difíceis; mas certamente os artigos de fé de vocês são muito mais elevados quanto a excelência, embora venham primeiro na ordem devida de aprendizado; assim como o alicerce é a parte funda­mental de um prédio, sendo construído primeiro; mas é ele que deve sustentar todo o resto.
Do que foi dito vocês podem observar quão reprovável e diferentemente de verdadeiros cristão falam as pessoas que dizem que não se interessam em ler tais e tais livros e ouvir tais e tais ministros, porque lhes dizem apenas o que já sabem. Quando um ministro insiste e enfatiza as verdades maiores e mais necessárias, é um sinal de que ele está no caminho certo para a edificação e enriquecimento do conhecimento de vocês. Nós não temos um Deus novo para pregar a vocês, nem um novo Cristo, nem um novo Espírito, nem uma nova igre­ja, nem uma nova fé, nem uma nova aliança batismal, nem um novo céu, ou uma nova espe­rança, ou uma nova felicidade, para apresentar. Alguns pensam que aprenderam rapidamen­te os artigos essenciais de fé, e há muito alcançaram as doutrinas mais elevadas; não demora muito para que as próprias Escrituras sejam coisa do passado para tais pessoas, e sejam colo­cadas de lado, como um erudito que estudou um livro e passa para o próximo. Uma oração marca a advertência do apóstolo: “Não vos deixeis envolver por doutrinas várias e estranhas, porquanto o que vale é estar o coração confirmado com graça.”[8] “para que não mais sejais como meninos, agitados de um lado para outro, e levados ao redor por todo vento de doutri­na, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.”[9]

II. Confirmação na Vontade

Tendo mostrado no que consiste o crescimento no entendimento, serei mais breve quanto ao restante; e, a seguir, passarei a explicar no que consiste o crescimento na vontade.
1. É evidência verdadeira de crescimento na vontade, quando, firmado em um bom en­tendimento e profunda consideração, você está mais determinada, habitual, absoluta e praticamente resolvido a submeter-se a Deus e a viver para a sua glória do antes. E isto, de modo que você cresce para além de toda dúvida ou hesitação mental, e para além de toda instabilidade e inconstância. Um homem confirmado na vontade, é aquele que reconhece e se satisfaz em que ninguém, exceto Deus seja seu Senhor, ou que ninguém exceto Ele pode fazê-lo feliz, e que ninguém, senão Cristo pode reconciliá-lo com Deus, e que seria loucura fazer qualquer outra escolha, estando, portanto, muito bem estabelecido e firmado como o monte Sião. Tal homem diz: “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra.”[10] Quando você está firmemente determinado para com Deus, então Ele pode fazer o que quiser, e venha da parte dele o que vier, e você jamais escolherá outro mes­tre, ou salvador, ou governador, ou felicidade, ou caminho, ou corpo em lugar deste em que se encontra; e jamais abandonará o caminho da santidade. Nisto consiste uma vontade firme e estável, e quanto mais disso, mais você crescerá.
2. Também quando você tem este mundo na mais baixa estima, e a maior e mais resolu­ta aversão a tudo o que tenderia a afastá-lo de Deus, e pode resistir às mais munda­nas e carnais tentações com uma santa obstinação; isto revela uma vontade bem estabelecida e confirmada.
3. Finalmente, quando você é rápido em tomar resoluções santas, e não é levado por causa de uma tentação, por maior que ela seja, a imaginar uma desculpa para ceder a ela, e reduzir a marcha da corrida cristã; mas prossegue firmemente na realização de seus deveres, como se o tentador nada lhe tivesse dito e o mundo estivesse morto para você. Quando você não para tanto para pensar se valeria a pena ceder a essas tentações e pecar e repugna até mesmo considerar tal hipótese. Isto revela uma vontade firmemente estabelecida; e quanto mais disso, maior será a sua santidade.

III. Confirmação nos Sentimentos

O vigor e crescimento de sentimentos santos consiste principalmente no seguinte:
1. Quando os sentimentos (afeições) são vívidos, e não entorpecidos, de modo que você tem sede de Deus e dos céus com vigor e entusiasmo.
2. Quando eles estão sempre à mão (são expontâneos), e não precisam ser estimulados (buscados), não sendo necessário esforço para estimulá-los ou excitá-los.
3. Quando eles são puros e não misturados, tendo pouco do próprio temperamento hu­mano e mais de Deus neles.
4. Mas, principalmente (e esta é a característica mais segura para avaliá-los) quando eles são acompanhados pela confirmação e determinação de vontade já mencionada; pois os sen­timentos religiosos devem ser avaliados mais pela vontade que os acompanha do que pelo fervor deles.
5. E, finalmente, quando eles seguem a melhor direção do entendimento, quando eles são mais fervoroso com relação aos assuntos mais importantes, e não para com assuntos meno­res ou duvidosos; quando eles são obedientes e submetem-se à fé e à razão santa, e não tão prontos a responderem aos sentidos e a serem movidos por coisas físicas e carnais. Nisto consiste o crescimento das suas afeições.

IV. Confirmação na Conduta

Finalmente, com relação à conduta, sua estabilidade e crescimento consiste:
1. Na sua prontidão em obedecer.
2. Na plenitude e exatidão da sua obediência.
3. Na determinação de conquistar todas as tentações que poderiam pervertê-lo.
4. No uso diligente de todos os meios que podem confirmá-lo e fortalecê-lo mais.
5. Na sua uniformidade (da sua conduta), de modo que seja constante e não misturada com escândalos, tropeços e desvios.
6. Na sua frutificação e utilidade para os outros, na medida dos seus talentos; na sua disposição para fazer o bem, e isto com todo o cuidado, sabedoria e diligência que puder.
7. Na sua espiritualidade, de modo que Deus seja o fim principal de tudo, e todos os seus atos sejam movidos pela fé de quem considera os Seus atributos, e tudo faz à luz da bem-aventurança eterna. De maneira que seu propósito seja firme para com Deus e você perceba que tudo faz, até mesmo as coisas comuns, para o Seu prazer, conforme a Sua vontade e para a Sua glória; e que o amor de Deus o constranja em todas as suas ações.
8. Finalmente, a estabilidade, crescimento e excelência da conduta de vocês, consiste no grau de honra que ela dá a Deus no mundo, como fruto de Suas graças internas; de modo que Suas graças, brilhando nas obras de vocês, seu Pai seja glorificado; e vocês mostrem-se prontos para irem ter com Deus, e encontrarem-se com o Redentor de vocês, e anseiem mais pela sua manifestação.

Conclusão

Por tudo o que eu disse, vocês podem compreender no que não consiste a estabilidade, vigor e crescimento na graça.
1. Não consiste em especulações ou conhecimento de verdades menos importan­tes.
2. Não consiste no mero fervor das emoções; pois estas podem ser mal orientadas, vindo a provocar o mal e revelarem-se paixões meramente naturais, descontroladas ou pecaminosas.
3. Não consiste meramente em temores e propósitos determinados pelo medo e contra a vontade de vocês.
4. Nem tampouco consiste nos dons naturais.
5. Nem ainda consiste em atos singulares não fundamentados e ativismo inusitado.
Em poucas palavras, consiste em santo amor, aceso por uma fé verdadeira (efetiva). Quando uma alma firmemente crente é cheia de amor por Deus, por Cristo e por santidade, este é seu melhor estado de confirmação.

4° Conselho

Progrida de modo descendente em humilhação; seja insignificante e pequeno aos seus próprios olhos; não pretenda ser importante e grande aos olhos dos outros; tenha sempre uma profunda apreensão da enormidade e perigo do pecado do orgulho; especialmente, do assim chamado orgulho espiritual.
A árvore que tem as raízes mais fracas e menos profundas são as que balançam mais e que caem primeiro. Quanto mais profundas forem as raízes, maior será o crescimento. O edifício que não tiver um alicerce profundo, logo será abalado e derrubado. Cristo é o nos­so alicerce; e é a humilhação que cava profundamente e o estabelece em nosso coração. O orgulho sempre foi tido como o primeiro ou principal pecado do diabo. Eu estou certo de que foi o orgulho foi a causa da sua condenação. O orgulho de nossos primeiros pais, pre­tendendo ser com deuses quanto ao conhecimento, foi a porta de entrada de todo o nosso pecado e miséria; e o tentador continua a insistir no mesmo caminho pelo qual foi tão bem sucedido. É o orgulho que, como uma tempestade, lançou o mundo no furor, contenda e confusão em que se encontra. Foi o orgulho que encheu a igreja com divisões; e é o orgu­lho que causa a apostasia da maioria dos que se apartam da fé. Quanto mais o homem tem dele, menos consegue discerni-lo e menos o odeia e lamenta. Embora pudéssemos pensar que recém-convertidos e crentes fracos, os quais têm pouco do que se orgulhar, estivessem fora do perigo dessa tentação, a experiência nos mostra que são eles que caem nela, mais do que crentes mais sábios e fortes, os quais teriam mais em que se gloriar. Pois quanto mais o homem cresce em sabedoria, mais reconhece sua indignidade, inutilidade, igno­rância e pecados os mais variados. Quanto mais eles conhecem da santidade e do zelo de Deus, mais conhecem da pecaminosidade do pecado e da abundância do conhecimento da graça ainda por conhecer; de modo que, quanto maior for a santa sabedoria e experiência, menor será o orgulho. Há algumas coisas que tornam o recém convertido em maior perigo de orgulho espiritual do que outros.
1. Porque eles vieram mais recentemente das trevas, e a tão grande transformação efe­tuada em seus almas, faze-os mais sensíveis dessa transformação; e, conseqüentemente, mais prontos a terem pensamentos mais elevados de si mesmos. Embora se pudesse pensar que a recordação da sua loucura anterior mantivesse-os humildes, muitos a esquecem rapi­damente; e evangelho que deveria ser recebido como conforto para eles, é transformado em motivo para orgulho.
2. A ignorância desses recém convertidos ou crentes fracos é tal, que eles pouco sabem da abundância de coisas que ainda ignoram. Eles pensam que há apenas um pouco mais a ser alcançado, e consideram-se mestres na escola de cristo por terem aprendido as primei­ras lições.
3. Devido a essa ignorância, eles não conseguem avaliar a compreensão mais elevada de outros, e consideram os mais sábios, apenas ou pouquinho mais sábios que eles, visto que desconhecem a sabedoria deles, e a desconsideram, como se fosse insignificante.
4. Além disso, eles não conhecem seus próprios corações, para vigiá-los, como os crentes maduros.
A alma humilde, entretanto, reconhece nada ser e anela conhecer mais. Ela tem fome e sede de justiça, e portanto será satisfeita. Ninguém valoriza tanto a Cristo, a graça e os meios de graça quanto ela. Até as migalhas, que os orgulhosos rejeitam, são bem recebidas por elas. “A alma farta pisa o favo de mel, mas à alma faminta todo amargo é doce.”[1] Por isso, Deus se agrada de tais mendigos. Ele não despreza as almas quebrantadas e con­tritas. A Igreja de Laodicéia, que disse: “Estou rica e abastada, e não preciso de cousa al­guma” não tinha nada, era miserável, pobre, cega e nua.[2] Assim com aqueles que se orgu­lham de sua abastança e posição social, acabam sem nada, vivendo acima do que podem; enquanto que outras pessoas mais simples acabam enriquecendo, porque economizam e dão valor ao que têm. Assim também os orgulhosos professos desperdiçam a graça que têm, enquanto o humilde cresce, aproveitando qualquer pequena ajuda, as quais são des­prezadas pelo orgulhoso. Certifiquem-se de terem pensamentos humildes a respeito de si mesmos, dos seus conhecimentos, graças e desempenho, e fiquem contentes em ser in­significantes na estima das outras pessoas, se não quiserem ser mais do que insignificantes na estima de Deus.

5° Conselho

Exercite-se diariamente em uma vida de fé em Jesus Cristo como seu Salvador, Mestre, Mediador e Rei; como seu exemplo, sua sabedoria, sua justiça e sua esperança.
Todos os outros estudos e conhecimentos devem ser meramente subservientes ao estudo e conhecimento de Cristo. Aquele tipo de filosofia vã, contra a qual o Apóstolo Paulo tanto advertiu os cristãos, ainda está longe de ser considerada vã por muitos cristãos, sendo-lhes preferível ao próprio cristianismo. E para mostrar que tal filosofia é vã, enquanto a supervalorizam não demonstram nenhuma virtude sólida e digna de valor alcançada por meio dela; mas apenas uma mente soberba e uma língua fútil, como um címbalo que retine. Nós somos “completos em Cristo, em quem habita corporalmente toda a plenitude da divin­dade.”[3] Nenhum estudo no mundo o conduzirá tanto a Deus, e o familiarizará tanto com ele, especialmente com o seu amor e bondade, quanto o estudo de Cristo, de sua pessoa, seus ofícios, suas doutrinas, seu exemplo, seu reino, e seus benefícios. Assim como a Di­vindade é o seu fim último, ao qual todo o mais constitui-se apenas em ajudas ou meios; assim também Cristo é o grande e principal meio, pelo qual todos os outros meios são animados. Lembre-se que você necessita constantemente dele, para direção, intercessão, perdão, santificação, apoio e conforto, e para ter paz com Deus.
Não deixe, portanto, que nenhum pensamento seja tão doce e freqüente em seu coração, nem nenhum outro assunto tão constante em sua boca (depois das excelências do Deus eterno) do que este que diz respeito a redenção do homem. Deixe Cristo ser para a sua alma o que o ar, a terra, o sol e o alimento são para o seu corpo, sem o que você não pode­ria continuar vivendo. Assim como você não veio ao Pai senão por ele, assim também, sem ele, você não pode continuar por um só momento no amor do Pai, nem ter um só de seus deveres aceitável, nem ser protegido de qualquer perigo, nem ter suprida nenhuma das suas necessidades. Pois aprouve ao Pai que nele residisse toda a plenitude, e “é por meio dele que, sendo justificados pela fé, temos paz com Deus e acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes, e nos regozijamos na esperança da glória de Deus”[4]. E é nele, o cabeça, que devemos crescer em todas coisas, de quem todo o corpo recebe seu crescimento.[5] Vo­cês não crescem mais em graça, do que crescem no verdadeiro conhecimento e uso diário de Jesus Cristo. Quanto a isto não me delongarei mais, por já haver escrito o bastante em Conselhos para uma Conversão Sadia.

6° Conselho

Deixe que o conhecimento e o amor de Deus, e sua obediência a Ele sejam as obras da sua religião; e o gozo eterno dEle nos céus seja seu constante propósito e a motivação que governa seu coração e vida, a fim de que sua própria conversação seja com Deus nos céus.
Um verdadeiro crente, ao fazer suas contas, certificando-se de que este mundo não faz ninguém feliz, foi guiado por Cristo a buscar sua felicidade com Deus nos céus. Se você não vive para esta felicidade eterna; se não é esta a sua ocupação, se não for este o seu te­souro e sua esperança, o objeto maior dos seus desejos, amor e alegria; e se todas as coisas não o impulsionam a servi-lo, e se você não rejeita as coisas que se colocam contra Ele, você não vive verdadeiramente a vida cristã. Deus e os Céu, ou Deus nos céus, é a vida e a alma, o princípio e o fim, a suma de tudo, a essência da verdadeira religião. É por isso que somos ensinados a começar nossas orações dizendo: “Pai nosso que estás nos céus”; e a encerrá-las reconhecendo que “dele é o reino, o poder e a glória para sempre.” Não é a criatura, mas Deus, o Criador, que é o Pai, guia, e felicidade das almas; e, por conseguinte, o fim e objeto último de todos os nossos atos e sentimentos religiosos.
Habite com Deus, e habite nos céus, se você quiser compreender a natureza e propósito do cristianismo. Que Deus seja tudo para você. Busque conhecê-lO, em todas as suas obras. Estude-O em sua palavra; estude-O em Cristo. E nunca O estude meramente para conhecê-lO, mas a fim de amá-lO. Tenham-se por mortos, quando não viverem no amor de Deus. Retenham constantemente em seus corações uma noção vívida da infinita diferença entre Ele e a criatura. Olhem para o mundo como uma sombra e Deus como a Substância. Os piores sofrimentos neste mundo, em comparação com o castigo eterno, não passam de um arranhão superficial diante da morte mais terrível. E todos os prazeres com os quais se pode sonhar neste mundo, são menores, em comparação com as alegrias do céu, do que um bocado de mel o é com relação a mil anos de gozo de todas as felicidades da terra. Todos os prazeres, honras ou riquezas deste mundo não são dignos de ser mencionados em com­paração com os céus. Assim, vivam como pessoas cujos olhos estão abertos para perceber a enorme desproporção que há entre um mundano e um santo.
Deixe que Deus seja seu rei, seu pai, seu mestre, seu amigo, seu bem, sua alegria, seu tudo. Não deixe que se passe um dia, no qual seu coração não comungue com Deus nos céus. Quando qualquer problema o assolar na terra, olhe para os céus, e lembre-se que é lá que o descanso e alegria estão preparados para os crentes. Quando você enfrentar qualquer necessidade, cruz ou tristeza, não extraia seu conforto de nenhuma esperança de libertação terrena, mas do lugar da sua libertação final e plena. A alma que não pode extrair conforto e encorajamento dos céus está em uma triste situação. Quando os pensamentos a respeito dos céus não adoção todas as suas cruzes, e não aliviam sua mente de todas as dificuldades terrenas, a sua alma não está em estado saudável. É tempo, portanto, de perscrutar a causa e de buscar a cura, antes que a situação piore.
Há três causas principais deste estado tenebroso e perigoso da alma, que torna os pen­samentos a respeito dos céus ineficazes e desconfortáveis para nós, e que precisam ser su­perados com todo o cuidado e diligência de sua vida:
O primeiro, é a incredulidade, que faz com que você olhe para o mundo por vir com dúvida e hesitação. Este é o impedimento mais comum, radical, poderoso e pernicioso para uma vida celestial. O segundo é o amor pelas coisas deste mundo, o qual, sendo a vaidade de uma mente pobre, baixa e carnal, pode ser superado pela vivificação da razão; mas é a alma crente na vida por vir que deve prevalecer. O terceiro, é o medo desordenado da morte, a qual leva tanta vantagem sobre a constituição ou natureza humana, que é comu­mente o último inimigo a ser vencido (assim como a própria morte foi o último inimigo que Cristo venceu por nós). Reúna todas a suas forças, e gaste seus dias lutando contra es­tes três grandes impedimentos para uma vida celestial (piedosa).

7° Conselho

Com relação a obra de mortificação, deixe que a auto negação seja o princípio e o fim de todos os seus estudos, cuidados e diligência.
Empenhe-se em compreender quanto do estado caído e depravado do homem é encontrado no pecado do egoísmo; em entender que é ele que faz com que o homem mergulhe em si mesmo, impedindo-o de amar a Deus, aos seus semelhantes, e de preocupar-se com o bem público e privado de outros. Este amor-próprio é o grande inimigo de todo o verdadeiro amor a Deus e aos homens, e a raiz e coração da cobiça, orgulho, volúpia, e de toda iniquidade. Empenhe-se, portanto, durante cada dia da sua vida, e mortificar e vigiar este pecado. Quando você sentir-se voltado para si mesmo, e disposto a dar a preferência, não aos outros, mas a si próprio, com relação a reputação, privilégios, ou vantagens; e perceber que está se ressentindo por qualquer palavra ou injúria dita ou feita contra você; considere que é desta perniciosa raiz de egoísmo que todos os enganos procedem. Você pode ler mais a este respeito no meu Tratado sobre Auto-negação.

8° Conselho

Considere seus desejos carnais corrompidos como o maior inimigo da sua alma, mortifique constantemente e a cada dia a sua natureza pecami­nosa, e esteja vigilante contra suas concupiscências e apetites, com relação a cada um dos seus sentido.
Lembrem-se de que os seus sentidos não foram feitos para governarem-se a si mesmos, mas para serem governados por uma reta razão; e que Deus os fez, a princípio, para serem a passagem ordinária do Seu amor e misericórdia para os nossos corações, por meio das criaturas que O representam ou mani­festam. Mas agora, no estado depravado do homem, os sentidos rejeitaram o governo da razão, e assumiram o poder, de modo que o homem tornou-se como os animais. Lembrem-se que ser sensual[6] é ser brutal[7]; e que, embora a graça não destrua os apetites e sentidos, ela submete-os a Deus e à razão. Assim, portanto, não permitam que os apetites de vocês sejam satisfeitos em nada que não seja permitido pela reta razão. Não pense que você pode co­mer, beber, ou divertir-se simplesmente porque sua carne deseje; mas consi­dere se isso lhe fará bem ou não, e em que isso promoverá o bem da sua alma. Ser servilmente governado pelos apetites e sentidos é encontrar-se em um estado baixo e pecaminoso. Pelo costume de agradar aos apetites e senti­dos, você aumenta de tal modo seus desejos, que chega ao ponto de não mais conseguir negar ou desagradar suas demandas. Desse modo, você ensina-os a serem como cães e porcos que não sabem ficar quietos enquanto sua fome não for satisfeita. Por outro lado, os apetites e sentidos bem governados são facilmente acalmados por uma negação racional.[8]

9° Conselho

Fique atento para que você não ame o mundo ou qualquer coisa que nele há, para que seus pensamentos com relação a qualquer lugar ou condição que você possua ou espere possuir ou desfrutar, torne-se demasia­damente doce ou agradável a você.[9]
Não há ninguém que pereça, senão por amar as criaturas mais do que Deus - e complacência é uma manifestação de amor. “Não ameis o mundo nem as cousas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele.”[10] Valorize todas as coisas terrenas, conforme elas o conduzam ao serviço do seu Mestre, ou à sua salvação; e não segundo elas tendam a agradar sua carne. A mais comum e mais perigosa loucura no mundo é ser ávido por ter casas, terras, provisões, e tudo o que nos cerca, ansiosos por vivermos em um estado o mais agradável e confortavelmente possível. Isto é, reconhecidamente, um caminho para o inferno, e veneno para a alma. Não está você em maior perigo de amar demasiadamente uma condição agradável e próspera do que um estado de dificuldade; e de amar em demasia as rique­zas, a honra e a abundante satisfação dos seus desejos sensuais, do que a pobreza e a mortificação? Você não sabe, entretanto, que se você vier a ser condenado eternamente, será por amar demais ao mundo e pouco a Deus? Será que é sem razão que Cristo descreve um santo como um Lázaro e po­breza e dores, e um condenado pecador como “um homem rico, que se ves­tia de púrpura e de linho finíssimo, e que todos os dias se regalava esplendi­damente”[11]? Será que Cristo não sabia o que estava fazendo, quando colocou à prova o jovem rico, aconselhando-o a desvencilhar-se das suas riquezas deste mundo e a seguir a seguí-lo em busca de um tesouro no céu? Todas as coisas devem ser consideradas como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo, e pela esperança do céu, se você houver de ser salvo.[12] Você deve de tal modo viver pela fé, que não atente para as coisas temporais que se vêem, mas para as coisas eternas que se não vêem.[13]
Nós devemos esquecer as coisas que para traz ficam, não voltando a pen­sar nelas ou olhá-las. Se você sentir que este veneno infectou seu coração, e sua situação neste mundo, ou mesmo suas esperanças, de modo que as coisas que há no mundo começaram a tornar-se doce e agradáveis a você, corra imediatamente para Cristo, o seu médico, e tome seu antídoto, e lance fora da sua alma este veneno. Você não deve ter nenhum prazer nas Suas miseri­córdias externas, senão naquilo que tende para o seu benefício, e promova o seu bem e o de outros; mas nunca como uma provisão para a carne.

10° Conselho

Não se lance intencionalmente às tentações, mas evite-as ao máximo; e se você, sem intenção, for lançado a elas, resista resolutamente, sabendo que elas vieram com o propósito de seduzi-lo na tentativa de arrancá-lo de Deus e da felicidade eterna e lançá-lo no pecado e no inferno. Procure dis­cernir, portanto, a que tentações específicas você fica sujeito, com cada pes­soa, chamado, relação, negócio, tempo, lugar e condição da vida; e vá sempre munido com os antídotos específicos para cada uma delas.[14]
A tentação é o caminho para o pecado, e o pecado o caminho para o in­ferno. Se você percebesse o perigo em que se encontra quando se expõe deliberadamente à tentações, tremeria e correria para salvar sua vida. Eu já tenho por perdida a pessoa que escolhe a tentação ou que, podendo, não a evita. Compreenda, especialmente, quais as doenças e maiores perigos a que sua alma está sujeita; e guarde-se atentamente delas. Você é dado à glutonaria e a gratificar o seu apetite? Evite a tentação, e não coloque diante de você o que pode ser sua armadilha; neste caso, que sua alimentação seja simples, e do tipo que menos o tenta. Não sente na mesa do glutão, que todo dia se provê de comidas deliciosas, se você quiser escapar do pecado e da miséria da glutonaria. É você inclinado à bebida? Evite bebidas fortes que possam tentá-lo, e evite os lugares e companhias que possam conduzi-lo a este peca­do. Você é inclinado à lascívia? Evite a presença de pessoas do outro sexo que possam tentá-lo. Não procure aproximar-se delas, nem converse com elas; mas, acima de tudo, evite intimidade e familiaridade e privacidade com elas, e tudo o que possa se constituir em oportunidade para o pecado. Quan­do o diabo colocar a isca diante de você, e lhe disser: “agora você pode pe­car que não será molestado ou descoberto”, você se encontrará em uma situação deveras perigosa. Aqueles que pensam que não pecarão, embora gostem de se expor à tentação, e de se aproximarem o mais que puderem do pecado e da oportunidade de pecar; cairão antes que percebam o perigo. Assim, se você for inclinado ao orgulho e à ambição, evite associar-se com aqueles que o tentam neste sentido: evite a companhia de pessoas vãs ou daqueles que estimulam sua ambição. Uma vida retirada, em companhia de pessoas simples e humildes, é apropriada para aqueles que sofrem dessa do­ença.
Entretanto, se as circunstâncias não permitirem evitar a tentação, certifi­que-se de evitar o pecado. Encare-a, como se você estivesse vendo e ouvindo o próprio diabo persuadindo-o a pecar, e a arruinar sua alma. Abomine a própria idéia do pecado, e não dê ao diabo ouvidos pacientes, quando você sabe qual o seu propósito. A resolução livra de muitos perigos que arruinam os que ficam dialogando e brincando com o tentador. Fique especialmente atento, quando o tentador empregar pessoas de grande posição, pessoas eruditas, piedosas ou amigos íntimos como seu instrumento. Se a sutileza deles o deixar desnorteado, recorra a crentes mais fortes e experientes em busca de conselho e ajuda. “Vigiai e orai para que não entreis em tenta­ção”.[15]
É terrível pensar nas pessoas que caíram em tentação. Que pessoas sábias, eruditas e excelentes já foram derrotadas pela sagacidade do diabo, e acaba­ram pecando como tolos, quando cessaram de vigiar. Ainda que formos tão determinados quanto Pedro, a tentação pode rapidamente mudar nossas reso­luções se Deus nos deixar entregue a nós mesmos, e ficarmos presunçosos. Quando isso acontece, nossa própria razão perderá sua capacidade; e o enga­no fará com que as coisas pareçam para nós o contrário do que realmente são. Razões que antes poderíamos facilmente perceber que são enganosas, podem então nos parecer razoáveis. A tentação, quando prevalece, enfra­quece e faz adormecer nossas graças, e encantam e enfeitiçam todas as facul­dades da alma.

11° Conselho

Se for possível, escolha para ajudar e guiar sua alma um pastor que seja criterioso, experiente, humilde, santo, piedoso, fiel, diligente, vigoroso e pacífico e não faccioso.[1]
Não pensem que vocês são suficientes por em si mesmos, sem a ajuda da­queles que Cristo designou como supervisores das almas de vocês. Assim como vocês não podem viver sem o ensino e as graças de Cristo; assim tam­bém Cristo outorga a vocês seus ensinos e graças pelo ministério dos oficiais que Ele designou para este propósito e fim. É maravilhoso observar como Cristo preferiu converter os homens pela pregação e milagres realizados pe­los seus apóstolos do que pelos seus próprios; e como ele não converteu ple­namente a Paulo sem o ministério de Ananias, embora houvesse lhe falado ele mesmo dos céus, e argumentado com ele com relação a sua perseguição. Como ele não converteu plenamente a Cornélio e a sua casa sem o ministério de Pedro, embora haja enviado um anjo para instruí-lo; nem haja convertido o eunuco etíope sem o ministério de Filipe, nem o carcereiro sem o ministé­rio de Paulo e Silas, embora tenha operado um milagre para prepará-lo para sua conversão. Paulo tem que plantar, Apolo tem que regar, antes que Deus dê o crescimento.
Embora todo crente verdadeiro seja ensinado diretamente por Deus, e não deva ter a nenhum homem na terra como mestre da sua fé, senão Cristo, ainda assim eles têm seus ensinadores, pais e instrutores sujeitos a Cristo, os quais são seus ajudadores, embora não tenham domínio sobre a sua fé. Eles são supervisores, embora não sejam senhores e proprietários do rebanho; e são ministros de Cristo, por meio dos quais ele ensina, e dispensa os misté­rios de Deus, e embaixadores por meio dos quais roga aos pecadores que se reconciliem com Deus, visto que conferiu a eles o ministério da reconcilia­ção.[2] Estes, são “cooperadores com Deus” na sua “lavoura e edifício”.[3] Cristo sabe da necessidade das crianças da sua família de terem tais precepto­res; ele sabe que muitos crentes são comparativamente; de outro modo, ele nunca teria designado pessoas para tal ofício. Mas, visto que designou, ele preservará a honra dos seus oficiais, e concederá a vocês suas bênçãos, ali­mento, e privilégios por meio das mãos deles. Se você instado por sedutores a desprezar ou negligenciar o ministério dos oficiais de Cristo, você está negligenciando a ajuda de Cristo, bem como suas misericórdias e suas gra­ças, está agindo como crianças que desprezam a ajuda dos seus preceptores. Agindo desse modo, você pode esperar ser cedo apanhado pelo diabo, como um perdido que não tem defesa ou ajuda.
Contudo, há grande diferença entre um ministro ou pastor e outro; tanta quanto entre médicos, advogados e pessoas que exerçam qualquer outra fun­ção. Assim, não pode haver a menor dúvida que se você é cuidadoso quanto a instrução, conduta e segurança da sua alma, deverá ter todo o cuidado quanto a quem escolherá para confiá-la. Não é suficiente, portanto, dizer trata-se de uma ministro regularmente ordenado, assim como não é suficiente argumentar que um médico ignorante é formado ou um que capitão covarde recebeu regularmente sua patente; quando está em jogo a sua própria vida se você confiá-la a eles. Tão pouco é sábio responder que Deus confere suas graças através dos piores e dos melhores, tanto pelos mais fracos como pelos mais fortes, não sendo portanto necessário preocupar-se com isso. Pois em­bora Deus não tenha confinado a obra do seu Espírito aos meios mais exce­lentes, contudo, ele ordinariamente opera de conformidade com os meios que emprega - e isto é provado tanto pelas Escrituras, como pela razão e pela experiência diária. Deus opera racionalmente através do homem der acordo com as suas qualificações, como um agente livre e racional, pela operação moral, e não como uma mera injeção física da sua graça. Quando vermos uma pessoa tida por sábia para a salvação por meio de mera infusão de sabe­doria, sem um mestre ou sem o estudo da Palavra de Deus; quando vermos pessoas que são tidas como convertidas por terem ouvido apenas algumas palavras, embora demonstrem não ter compreendido nada do Evangelho; se dermos atenção a este conceito; poderemos admitir que um herege possa ensinar a verdade tanto quanto um ortodoxo, ou que um cismático possa en­sinar a paz e a união tanto quanto um pastor católico[4] e pacífico, ou que um homem ignorante dos mistérios da regeneração e da santa comunhão com Deus possa ensinar melhor aquilo que ele mesmo não conhece, e um inimigo da piedade possa ensinar você, tanto quanto qualquer outro, a ser piedoso.
Atente, portanto, em que o guia a quem você confie sua alma seja:
1. Capaz (judicioso, tenha discernimento), pois um homem não criterioso pode perverter as Escrituras, e guiá-lo ao erro, a heresia e ao pecado, antes mesmo que você perceba. Embora seja um pregador zeloso e fervoroso, ainda assim, se não for capaz (criterioso), pode ignorantemente colocar vene­no no seu alimento, como a experiência de nossa época lamentavelmente prova.
2. Veja, se possível, que ele seja um homem experimentado, que conhe­ça, por experiência própria, não apenas o que é ser regenerado e santificado e feito nova criatura, mas também como lidar com todo o combate entre o Es­pírito e a carne, e quais são os métodos e estratégias do tentador, e quais são os principais auxílios e salvaguardas da alma, e como devem ser usadas. Pois não é mais difícil ser um médico, um advogado ou um soldado capaz sem experiência do que um pastor capaz. Por isso o Espírito Santo ordena que não seja um crente neófito ou inexperiente.[5]
3. Veja também que ele seja humilde, pois se se ensoberbecer por causa do orgulhoso, incorrerá na condenação do diabo.[6] Neste caso, ele escarnecerá dos labores do ministério considerando-os indigno (ou seja, pregar a tempo e fora de tempo, instar, repreender, e tratar com dignidade os mais pobres na congregação). Ou isso, ou então “falará coisas pervertidas para atrair discí­pulos para si”. Ou então, como Diótrefes, gostará de exercer a primazia, e governará a igreja visando o lucro.
4. Atente, também, para que ele sejasanto em sua vida. Os não santos são inexperientes; sim, e têm uma inimizade secreta em seus corações contra a santidade que deveriam pregar constantemente. Eles demonstrarão isso nas suas mensagens desencorajadoras contra a piedade séria que deveriam pro­mover. Eles exercerão seus ministérios com descaso, e desfarão com suas vidas tudo o que pregam com suas línguas, endurecendo e estimulando as pessoas nos seus pecados, e fazendo-os crer que eles mesmos não crêem no que pregam. Não escolham um inimigo da santidade para guiá-los no cami­nho da santidade (um caminho que ele mesmo nunca quis); nem um inimigo de Cristo para conduzi-lo no combate cristão; visto ser ele um servo do di­abo, do mundo, da carne, contra quem vocês lutam.
5. Atentem, também, para que ele tenha uma mente celestial; de outro modo, sua doutrina será árida, e ele pregará apenas especulações e contro­vérsias inúteis, em vez de verdades edificantes.
6. Que seja também fiel e diligente no ministério, como alguém que conhece o valor das almas, e não o trairá, entregando-o ao diabo por sórdida ganância, ou motivos carnais; nem fará de você um negócio, estando mais interessado no que você possui do que na sua alma.
7. Que ele seja também um pregador vigoroso. Aquele que fala insensi­velmente e sonolentamente a respeito de assuntos tais como o céu e o infer­no, contradiz o que diz pela maneira como fala.
8. Atente, finalmente, que ele seja alguém com espírito verdadeiramente católico, não sectário ou dado à divisão.

12° Conselho

Escolha para seus amigos pessoais e companheiros, crentes humildes, piedosos, sérios, que mortifiquem a carne, caridosos, pacíficos, judiciosos, experientes, e resolutos em seguirem os caminhos de Deus; e não pessoas ímpias, ou orgulhosas, auto-suficientes, críticas, sectárias, não judiciosas, inexperientes, carnais, mundanas, opiniosas, superficiais, mornas ou meros professos da religião.[7]
Seus amigos são um assunto de extrema importância para você, visto que podem se constituir em um dos maiores auxílios ou impedimentos para a sua vida, especialmente aqueles que moram com você, e aqueles que você esco­lhe para seus amigos íntimos. Assim, portanto, até aonde a providência de Deus o permitir, escolha alguém com as características descritas; ou pelo menos um desses para seu amigo íntimo. Com quem você conversa intima­mente é de importância indizível para a sua salvação. Uma boa companhia lhe ensinará o que você não sabe, o lembrará do que esquecer, o estimulará quando estiver desanimado, o revigorará quando estiver frio, o alertará quan­do estiver em perigo, e o salvará do veneno das más companhias. Que ajuda e alegria é ter um amigo santo, judicioso e fiel com quem podermos abrir o coração e caminhar juntos nos caminhos da vida! Por outro lado, quão difícil é escapar do pecado e do inferno e ir para o céu, na companhia e amizade dos servos do diabo, os quais estão a caminho do inferno! Não sejam os seus amigos piores do que você mesmo, para que eles não o tornem pior; que eles sejam os mais sábios e melhores que você puder encontrar.

13° Conselho

Subjugue sua paixões, e abomine todos os princípios e práticas intole­rantes, e viva em amor; mantendo a paz na sua família, com seus vizinhos, e, especialmente, na igreja de Deus.
Ame como você gostaria de ser amado; sim, ame se quiser ser amado, pois não há maneira melhor de assegurar amor. Ame porque você é gracio­samente amado por aquele Deus cuja ira você tão freqüentemente merece. Deixe o sentimento de gratidão pelo Seu amor em Cristo transformá-lo todo em amor por Deus e pelos homens. Abomine cada pensamento, palavra ou ação que seja contrária ao amor e possa ferir os outros; e odeie a maledicên­cia e palavras amargas de qualquer pessoas, que tendam a tornar alguém odi­oso e a destruir seu amor por qualquer pessoa que Deus lhe ordena amar. Quanto mais os pessoas ferirem você, lembre-se de ser vigilante para manter seu amor, sabendo que estas tentações são enviadas pelo maligno, com o propósito de destruí-lo e apagá-lo (o amor) e de encher seu coração com into­lerância e ira. Dê lugar à ira dos outros, e não resista com palavras nem ações. Seja especialmente compassivo com relação à união de verdadeiros crentes e à paz da igreja. Quando vocês ouvirem pessoas de diferentes parti­dos, descrevendo uns aos outros como odiosos, entenda que isso é linguagem do diabo para apartá-lo do amor em direção ao ódio e à divisão. E quando você tiver que falar odiosamente do pecado de outras pessoas, fale caridosa­mente das suas pessoas, e seja tão pronto para falar do bem que há neles, quanto do mal.
Você deve amar os crentes como crentes, embora tenham erros e faltas. Você pode unir-se em culto com crentes de outras denominações, embora a maneira deles cultuarem possa ter erros e faltas com relação à ordem e ma­neira de culto; desde que não se trate de um culto substancialmente corrom­pido, de modo que seja inaceitável por Deus; nem aprove os erros e faltas dos que assim cultuam; nem justifique suas menores faltas; nem prefiram os cultos defeituosos ou faltosos aos cultos mais puros e agradáveis à vontade de Deus. Mas, enquanto todos os adoradores forem defeituosos e imperfei­tos, todos os seus cultos também o serão. Se vocês, sendo pecaminosos, não significa que ao orarem ou pregarem aprovam suas próprias faltas; muito menos a presença de vocês provará que são complacentes com as faltas dos outros. Condescenda com o que Deus condescende, e não rejeite o que é de Deus, por causa das faltas dos outros.[8]

14° Conselho

Mantenha sob constante vigilância os seus pensamentos e a sua língua, especialmente contra aqueles pecados a que você é mais tentado e nos quais você vê que outros cristãos caem mais frequentemente.
Mantenha seus pensamentos ocupados com alguma coisa que seja boa e proveitosa; seja com algumas verdades úteis, seja com alguns deveres a Deus e aos homens, inerentes à sua vocação geral ou particular. Aprenda como vi­giar seus pensamentos e a interrompê-los logo que comecem a enveredar-se por caminhos ruins; e a estimulá-los e torná-los úteis a cada graça e dever. Você nunca poderá aperfeiçoar suas horas de solidão, se não aprender a go­vernar seus pensamentos.
Assim como os pensamentos devem ser governados, por serem o primeiro e mais íntimo ato do bem ou do mal; assim também a língua deve ser gover­nada como a primeira expositora da mente, e o primeiro instrumento para o bem ou dano aos outros. Tenha cuidado especialmente com aqueles pecados nos quais incidem a maioria dos cristão professos: 1) O uso costumeiro de galhofa (brincadeira) vã e conversas inúteis. 2) Palavras provocadoras, exal­tadas e impensadas. 3) Difamação, crítica e falar mal de outros, sem nenhu­ma causa justa, seja com base em notícias incertas, suspeitas descaridosas ou que tendam mais a causar dano do que bem. 4) Manifestação da nossa pró­pria vaidade e alegações confiantes em defesa das nossas opiniões incertas e não provadas sobre religião, e uma contenda altercadora em favor delas, como se o reino de Deus dependesse delas; e uma prontidão para falar ao in­vés e não para ser o ouvinte em qualquer reunião; e falar de uma modo pe­remptório, como se nos tivéssemos como os mais sábios e os outros precisas­sem aprender de nós.
Mas tenha cuidado, especialmente, de falar mal daqueles que ofenderam você ou que divergem de você com relação a alguma posição religiosa tole­rável. Abomine aquele vício intolerante que faz com que as pessoas estejam prontas para acreditar em qualquer coisa e dizer qualquer coisa contra aque­les que são contra eles, sua denominação ou partido, embora nada se possa provar das coisas que são acusados.
Da minha própria observação, que com tristeza de alma fiz desta geração, eu alerto a esta e às gerações seguintes, se tiverem qualquer consideração para com a verdade e a tolerância, a terem cuidado em acreditar no que qual­quer historiador ou teólogo faccioso ou parcial diz de ruim contra as pessoas ou partidos contrários a ele; pois embora haja pessoas boas e dignas na maioria dos e partidos, você descobrirá que a paixão (sentimentos) e a par­cialidade prevalece sobre a consciência, a verdade e a tolerância na maioria dos que estão acometidos desta enfermidade. A inveja amargurada, descrita no capítulo três de Tiago, faze-os pensar que estão prestando um serviço a Deus em acreditar nesses relatos e em lançar-se contra aqueles que seu zelo e facção chamam de inimigos da verdade. Não acredite, portanto, em qualquer mal dito em conseqüência de orgulho, facção ou malícia, enquanto não hou­ver suficiente evidência da verdade.

15° Conselho

Que cada situação ou relação em que você se encontra nesta vida seja santificada para Deus, e assim usada. Para este fim, compreenda as vanta­gens e deveres de cada condição ou relação, e os pecados, impedimentos e perigos aos quais você é mais sujeito.[9]
Os deveres inerentes às nossas situações e relações são parte importantís­sima da obra de um cristão nesta vida: como magistrados ou cidadãos, como pastores ou rebanho, como pais ou filhos, maridos ou mulheres, senhores ou servos; como superiores em dons ou funções, ou inferiores ou iguais; como vizinhos ou colegas; ao ensinar ou aprender, ao comandar ou obedecer, ao comprar ou vender. Se você quiser viver como cristão, de modo aceitável di­ante de Deus, seja digno em quaisquer dessas condições ou relações. Um magistrado impiedoso ou opressor; um cidadão murmurador e rebelde; um pastor ímpio, negligente ou faccioso; um rebanho não ensinável, teimoso ou não piedoso; um marido, pai ou professor sem religião amor ou justiça; uma esposa, filho ou servo sem amor, submissão ou fiel diligência; um superior orgulhoso e desdenhoso; um inferior malicioso e crítico; um vizinho descari­doso; um vendedor ou comprador enganador e um amigo egoísta, que seduz ao mal e inútil; estão todos muito longe de agradar a Deus com o restante das suas obras ou profissão religiosa, visto que estão longe de ser obedientes à Sua vontade. Ele abomina as orações e profissões de fé de tais pessoas, visto que prefere a obediência do que sacrifício.[10] Se você for falso para com os homens, não pode ser verdadeiro para com Deus. É “aquele que o teme e faz o que é justo que lhe é agradável.”[11] E os injustos não herdarão o reino de Deus.[12]

16° Conselho

Viva como alguém que recebeu todos os seus poderes, dons e oportuni­dades, para com eles fazer bem no mundo; como alguém que haverá de prestar contar de como empregou o que recebeu; e como alguém que acre­dita que quanto mais bem fizer, mais receberá, e maior é a honra, proveito e prazer que tem na sua vida.
Lembre-se de que fazer o bem é a mais elevada imitação à Deus, desde que isto proceda de santo amor, e seja feito para agradar e glorificar a Deus. Lembre-se de quem foi que disse que “Mais bem-aventurado é dar do que receber”[13] e quem prometeu que “quem recebe um profeta, no caráter de profeta, receberá galardão de profeta; quem recebe um justo no caráter de justo, receberá galardão de justo. E que der de beber ainda que seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão”[14]. “Dá a todo o que te pede”[15], conforme as tuas posses, “dai, e dar-se-vos-á.”[16] Considere perdido o dia ou a hora em que você não fizer o bem direta ou preparatoriamente; e considere perdida a parte da sua posição com a qual você não faça o bem direta ou indiretamente. Lembre-se de que você será julgado de acordo com o aproveitamento que fizer de cada um dos seus diversos talentos. Quando seus dias passarem, suas posições se forem, seu entendimento ou suas forças decaírem e seus recursos e sua grandeza for igualada aos mais pobres, será um conforto indizível se você puder dizer que os empregou sinceramente para o uso do nosso Mestre; e um indizível terror ter que reconhecer que os desperdiçou à serviço da carne. Portanto, se você for uma autoridade, e lhe for confiado poder, considere como empregá-lo para realizar todo o bem que puder. Se você for um ministro de Cristo, disponha seu tempo, forças e dons, para fazer o bem às almas de todos a seu redor; procure ser o mais útil possí­vel à igreja e a causa de Cristo. Se você for rico, empenhe-se em fazer todo o bem que pode ser feito com sua riqueza, não violando às relações nas quais Deus o colocou: na sua vizinhança e família e demais relações. Considere, agradecido, uma grande misericórdia para você mesmo, quando a oportuni­dade de fazer o bem lhe for oferecida. E não se satisfaça em fazer um pouco, quando você tem possibilidades de fazer muito mais.
“Não vos enganeis, de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem se­mear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito, do Espírito colhe­rá vida eterna. E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo cei­faremos, se não desfalecermos. Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé.”[17] “Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura, com abundância também ceifará. Cada um contribua segundo tiver proposto no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria.”[18] “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para bo­as obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”[19]
Que fazer o bem seja o propósito e emprego da nossa vida. Prefiramos o bem público ao bem individual de qualquer pessoa; e o bem da alma do que o bem do corpo. Mas ainda assim, não negligencie nem um nem outro, mas faça o menos importante a fim de poder fazer o mais importante.
Objeção: Mas eu sou um pessoa pobre e insignificante, sem habilidades quer de mente, de corpo, ou de posição. Que bem posso eu fazer?
Resposta: Não há uma só pessoa racional a qual não lhe tenha sido confi­ado algum talento, por menor que seja; e que não seja capaz de fazer bem ao mundo, desde que, de coração, o deseje. Ainda que você não tenha dinheiro para dar, nem língua para falar, para estimular os outros a fazer o bem, ainda assim, uma vida santa, humilde, paciente e sem mácula, é meio poderoso de fazer bem, pois revela as excelências da graça, convencendo os incrédulos do pecado, calando a boca dos inimigos da piedade, e honrando os caminhos de Deus no mundo. Tal vida santa e exemplar é um contínuo e poderoso sermão. Com relação a capacidade para dar, se você sinceramente deseja dar, se pudesse, para Deus você já deu. Aquilo que você daria se pudesse, é re­gistrado a seu favor, como se realmente dado. As duas pequenas moedas da viúva pobre[20] foram louvadas por Jesus como uma generosa oferta, e um copo de água fria não deixa de ser recompensador à alma que tem boa vonta­de[21]. Ninguém, portando, é desculpável, se viver sem ser útil ao mundo. Contudo, pessoas que dispõem de recursos e riquezas, têm mais contas a prestar; seus dez talentos devem ser aproveitados proporcional­mente; eles podem fazer muito maior bem. “àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão.”[22]

17° Conselho[23]

Empenhe-se em remir o tempo, e valorize bastante cada minuto; não economize tempo em laborar para a sua salvação; não imagine que uma vida fácil, ociosa e preguiçosa é suficiente para o elevado e glorioso fim, que é a salvação da sua alma.[24]
Se qualquer coisa no mundo exige todos as nossos qualidades e tempo, é esta para a qual todos as nossas qualidades e tempo nos foram dados; e a qual, estamos certos, nos recompensará por tudo. Ó, quão entorpecida é a condição estúpida do homem que não leva a sério o caminho da eternidade; aquela vida interminável de alegria ou tristeza que depende dos preparativos feitos em uma vida tão pequena. Quão pouco conhece do valor da sua alma, das alegrias do céu, da maligna diligência de Satanás, da dificuldade da sal­vação, aquele que pode ficar ocioso e brincar horas e horas; ora, como se não houvesse orado, e parece ser religioso, mas não vive a vida cristã com serie­dade! Tais pessoas, não se empenham para escapar do fogo do inferno e obter gozo eterno com Cristo, tanto quanto o fazem para escapar da morte física ou de algum infortúnio, ou para obter alguma honra ou riqueza neste mundo. Portanto, se você tem alguma preocupação com sua alma, não faça pouco caso do céu ou do inferno; não brinque nesta corrida e luta; não brin­que com Deus ou com sua consciência; não brinque, nem desperdice seu tempo. Aprenda a conhecer o valor de uma hora, para o bem da sua vida e de sua alma, tal como conhece um homem às portas da morte. Quanto a isso, já tratei no meu Agora ou Nunca, emContraste entre o Homem Carnal e o Homem Espiritual, e no Descanso Eterno dos Santos.

18° Conselho

Pare para calcular o que pode custar-lhe ser verdadeiramente cristão e ser salvo. Não calcule baseado em prosperidade ou em uma religião barata; mas resolva tomar a cruz e seguir a Cristo no sofrimento, e em ser crucifi­cado para o mundo, e, através de muitas tribulações, entrar no reino dos céus.[25]
Todos quantos viverem piedosamente em Cristo serão perseguidos[26]. Não todos os que são batizados e chamados cristãos, mas “todos os que vivem piedosamente em Cristo Jesus”. É da piedade, e não o mero nome do Cristi­anismo que a semente da serpente é inimiga. Não é devido a bondade dos grandes do mundo, mas pela covardia dos nossos corações que os ministros de Cristo não são freqüentemente mártires.
Embora Deus possa poupá-lo de maiores sofrimentos pela sua causa, não é sábio ou correto esperar que isto aconteça; pois isto impediria de preparar-se para o sofrimento. Pessoa alguma que não está disposta para ser um mártir pode ser salva. Quando provação vier sobre você, que ela não lhe seja al­guma coisa estranha ou inesperada. Quando a perseguição se levanta por causa do mundo, o crente não enraizado, sadio e seguro, se ofende e apostata. Então, ele encontra qualquer razão, contanto que sua segurança não se altere. “Todos quanto querem ostentar-se na carne, esses vos constrangem a vos circuncidardes, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo”[27]. Não temam o sofrimento; “Não temam aqueles que podem matar apenas o corpo”. Nunca o Espírito de Deus e glória está tão presente nos crentes quanto quando sofrem por causa da justiça, e nunca eles têm mais ra­zão para abundante gozo. Prosperidade não está tão de acordo com uma vida de fé, quanto sofrimentos e adversidade. “A nossa leve e momentânea tribu­lação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas cousas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.”[28]

19° Conselho

Se você cair em algum pecado, levante-se rapidamente por meio de completo e profundo arrependimento; e evite qualquer delonga ou cura paliativa.
Tenha cuidado em não confiar em um arrependimento apenas geral. Ao invés disso, arrependa-se e converta-se de qualquer pecado específico conhecido. Se a tentação o abateu, tenha cuidado de não ficar neste estado, mas levante-se imediatamente. O que o Apóstolo disse sobre a ira, o mesmo eu digo com relação a outras quedas: não se ponha o sol sobre elas; mas vá com Pedro, e chore com ele, se, como ele, pecou. Se seus joelhos se deslocaram, ou seus ossos quebraram, trate disso imediatamente, antes que se fixem fora de lugar. Que a cura seja completa, e não economize dor neste sentido. Que uma confissão pública, quando o caso requerer e uma completa restituição demostre a sinceridade do seu arrependimento; pois tratar o pecado com gentileza pode arruinar você; e o tratamento paliativo é a cura dos hipócritas. Oh, fique atento para que você não durma uma só noite em pecado não arrependido. Tenha cuidado para não encorajar o tentador a oferecer-lhe a isca novamente, e a dizer: por que não uma vez mais? Porque você não pode ser perdoado duas vezes tanto quanto uma; e por três, tanto quanto duas? e assim por diante. É perigoso brincar ou dormir à beira do inferno. Afaste-se definitivamente da tentação e das oportunidades de pecar; não fique procurando justificativas, mas seja resoluto, e não peque mais, para que coisa pior não lhe aconteça. Não fique preocupado com a vergonha, perdas ou sofrimento que uma confissão, restituição ou reforma possa acarretar; pense antes, que jamais poderá da condenação de qualquer maneira. Atente para o significado das palavras de Cristo, quando fala de cortar a mão direita ou arrancar o olho direito, se eles te fazem tropeçar;[29] isto é: te enredam ou tentam ao pecado. Não que você deveria fazer isso literalmente, pois há um meio mais fácil de evitar o pecado. O que o Apóstolo quer dizer, é que entre as duas coisas ruins, é muito menos grave perder uma mão ou um olho, do que perder a alma - portanto seria preferível, se não houvesse outro remédio. Se um ladrão não tivesse outra maneira de deixar de roubar senão cortando a mão, ou o fornicador não dispusesse de outra cura para sua lascívia, senão arrancar seu olho, isto seria um remédio barato (em comparação com a perda da alma no inferno).
Um arrependimento barato, fácil e superficial, pode mascarar o pecado e enganar um hipócrita; mas aquele que quer ter certeza do perdão e ficar livre de temor, não deve medir esforços para arrepender-se profundamente.

20° Conselho

Viva como que com a morte continuamente diante dos seus olhos, e gaste cada dia preparando-se seriamente para este momento, a fim de que, quando ela vier, você esteja pronto; e não tenha que clamar a Deus por outra oportunidade.
Não se prometa vida longa; não pense na morte como se estivesse muitos anos adiante, mas como se à mão. Pense no que será necessário para sua paz e conforto naquele momento, e disponha toda a sua vida de acordo com isso. Prepare-se agora, para o que será necessário naquela ocasião. Viva agora, enquanto você dispõe de tempo, como você resolverá e prometerá a Deus viver, quando estiver no seu leito de morte orando por um pouco mais de tempo e oportunidade. É uma grande obra morrer em alegre convicção e esperança de vida eterna, e com um desejo ardente de partir e estar com Cristo.
Que peso e terror será, naquele momento, ter um coração incrédulo ou mundano, ou uma consciência culpada. Use, portanto, agora, toda a diligência possível para fortalecer a fé, aumentar o amor, ver-se absolvido de culpa, encontrar-se livre do mundo, ter a mente livre do domínio da carne, andar com Deus e obter a mais profunda e deleitosa apreensão do seu amor em Cristo, e da bênção celestial que você aguarda.
Você sente qualquer dúvida quanto ao estado de imortalidade, ou vacila diante das promessas de Deus por causa da incredulidade? Faça no presente tudo o que puder para dissipar toda a dúvida e firmar-se resolutamente nas promessas de Deus, e não deixe tudo para ser feito na última hora.
Os pensamentos acerca de Deus e dos céus não lhe são agradáveis como deveriam? Averigue, no presente, qual a causa e labore para mudar este seu estado, como laboraria para salvar sua vida. Há algum pecado passado ou presente que atormenta a sua consciência? Vá imediatamente a Cristo em busca de cura pela fé e verdadeiro arrependimento; tire agora da sua consciência, o peso que teria que ser tirado no leito de morte; e não deixe obra tão grande e necessária para um tempo tão incerto, curto e inadequado.
Há alguma coisa neste mundo mais doce aos seus pensamentos do que Deus e os céus, coisas essas das quais você não se desvencilharia de boa vontade? Mortifique isso sem nenhuma demora, considerando o quanto são vãos, com relação aos céus. Não cesse até que considere tal coisa perda, pela excelência do conhecimento de Cristo e pela vida eterna.
Não deixe que a morte o tome de surpresa, como algo que você nunca aguardou seriamente. Não pode você se preparar melhor para ela do que o tem feito? Se não, por que você deseja, no leito de morte, mais tempo e oportunidade nesta vida; e por que é você conturbado por não haver vivido melhor? Oh, como a sensualidade estupidifica o mundo; e a falta de reflexão priva as pessoas do benefício da razão! Se você realmente sabe que a vida é curta, e que em breve morrerá, viva então como um homem à beira da morte deveria viver; escolha sua condição neste mundo e a administre como um homem que deverá morrer em breve. Faça uso do seu vigor, autoridade e qualificações, bem como de todas as oportunidades, especialmente a causa e servos de Cristo, como as pessoas deveriam fazer, se estivessem à beira da morte. Construa e plante, compre e venda, e use seu dinheiro como quem tem que morrer, tendo em mente que a função de todas essas coisas passarão. Sim, ore e leia, ouça e medite, como quem certamente morrerá.
Visto que a sua morte é tão certa que pode ocorrer nesta mesma hora, não adie sua preparação para ela. É algo terrível para uma alma imortal separar-se do corpo em um estado carnal, não regenerado e despreparado; e deixar um mundo com o qual estivera familiarizada, e partir para outro que não conhece nem ama, e no qual não colocou seu coração nem seu tesouro.
A medida da fé que pode ajudá-lo a suportar uma cruz não muito pesada não é suficiente para encorajar sua alma a enfrentar tão grande mudança. Por outro lado, aquele que pode morrer bem, pode fazer qualquer outra coisa ou sofrer qualquer coisa; mas aquele que está despreparado para morrer está despreparado para uma vida frutífera e em paz. O que pode racionalmente alegrar pessoas que certamente morrerão, mas que estão despreparadas para morrer e que não desfrutam do conforto necessário para enfrentar a morte? Não permita que nada lhe seja doce agora, que venha a lhe amargo na hora da morte. Que nada lhe seja muito desejável agora, que na hora da morte venha a ser-lhe inútil e não produza conforto algum. Por outro lado, que nada lhe pareça demasiadamente pesado ou triste agora, que na hora da sua partida será suave e fácil. Considere todas as coisas agora, como parecerão na hora da morte; a fim de que, quando chegar o dia em que findarem todas as alegrias dos ímpios, você possa dizer com alegria: Bem-vindo céus, este é o dia que tanto desejei, e para o qual me preparei e gastei todos os meus dias; dia em que se dissiparão meus temores, e começará minha felicidade; dia em que tomarei posse de tudo o que desejei, e pelo que orei e labutei; quando minha alma verá seu Senhor glorificado; pois ele disse: “Se alguém me serve, siga-me, e onde eu estou, ali estará também o meu servo. E, se alguém me servir, o Pai o honrará”[30]. Sim Senhor Jesus, lembra-te de mim agora que estás no teu reino, e deixa-me estar contigo no Paraíso. Ó tu que proferiste estas palavras, tão cheias de inexprimível conforto a uma mulher pecadora, com as primeiras palavras que pronunciastes após Tua bendita ressurreição: “Vai ter com os meus irmão, e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus”[31] Toma esta alma que te pertence, para que ela possa ver a glória que te foi dada com o Pai; e, ao invés desta vida de tentações, problemas, trevas, distancia, e imperfeição pecaminosa, eu possa com deleite contemplar, amar, e adorar o teu Pai e meu Pai, teu Deus e o meu Deus. Senhor, permite que o teu servo parta em paz. “Senhor Jesus, recebe o meu espírito”[32]

CONCLUSÃO

Agora que dei a vocês estes conselhos, para concluir só posso pedir que vocês disponham seus corações para praticá-los diariamente; pois não há outro caminho para um estado maduro de confirmação na graça. Se vocês realmente têm consideração pela glória de Deus, pela honra da religião de vocês, e pelo bem da Igreja e daqueles à volta de vocês, e pela vida e morte confortadora de vocês mesmos, não acomodem-se preguiçosamente em um estado infantil de graça!
Se vocês soubessem quão diferentes são uma fé fraca e uma fé forte; e quanto um crente fraco e um sadio diferem com relação a honra de Deus, ao bem dos outros, e especialmente para si mesmos, tanto na vida como na morte; isso despertaria vocês a uma alegre diligência visando um fim tão elevando e excelente. Se vocês, por outro lado, compreendessem o mal que Cristo e o evangelho têm suportado no mundo, por causa de crentes doentes e fracos, o coração de vocês sangraria, e vocês lamentariam privada e publicamente com vergonha e tristeza.
Despertem, portanto, a graça que foi dada a vocês, usem os meios que Cristo concede a vocês, e façam o melhor que puderem; e descobrirão que Cristo não é um médico insuficiente, nem um Salvador ineficaz, nem uma fonte vazia; mas que ele está cheio da plenitude de Deus, que ele tem espírito e vida para comunicar aos seus membros, e que não há nenhuma falta que ele não possa suprir, e nenhuma corrupção ou tentação que sua graça não seja suficiente para vencer.

*Traduzido e condensado por Paulo R. B. Anglada, de Richar Baxter, “Directions to Weak Christians for their Establishment, Grouth and Perseverance,” in The Practical Works of Richard Baxter; Select Treatises (Blackie and Son, 1863; reprint, Grand Rapids: Baker Book House, 1981), 645-95. Direitos da tradução reservados.
Fonte:Monergismo


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O homem, cujo tesouro é o Senhor, tem todas as coisas concentradas nEle. Outros tesouros comuns talvez lhe sejam negados, mas mesmo que lhe seja permitido desfrutar deles, o usufruto de tais coisas será tão diluído que nunca é necessário à sua felicidade. E se lhe acontecer de vê-los desaparecer, um por um, provavelmente não experimentará sensação de perda, pois conta com a fonte, com a origem de todas as coisas, em Deus, em quem encontra toda satisfação, todo prazer e todo deleite. Não se importa com a perda, já que, em realidade nada perdeu, e possui tudo em uma pessoa Deus de maneira pura, legítima e eterna. A.W.Tozer

"A conversão tira o cristão do mundo; a santificação tira o mundo do cristão." JOHN WESLEY"

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