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27 de dez. de 2010

Revestidos de Cristo - Paul Washer (1/5)


Discipulado (Parte I) - Paulo Junior || Escola Obreiro Aprovado (Aula 10)


Espiritualidade Atraente ou Repelente?


Que expectativas o Mundo tem acerca da igreja cristã? Será que temos correspondido a elas? Ou temos estadoaquém ou mesmo alémdelas?


Sabe qual o Que expectativas o Mundo tem acerca da igreja cristã? Será que temos correspondido a elas? Ou temos estadoaquém ou mesmo alémdelas?

Sabe qual o comentário que se fazia quando os discípulos chegavam a uma cidade? “Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui” (At.17:6).

Temos vivido uma espiritualidade atraente ou repelente?
Como igreja de Cristo deveríamos exercer um poder de atração semelhante ao Sol, capaz de manter os planetas em sua órbita.

As principais características da igreja primitiva eram:

a) Tinham tudo em comum (amor) – Atos 2:44
b) Perseveravam na doutrina apostólica (verdade) – v. 42
c) Oração (espiritualidade e fé) – v. 42
d) Ambiente alegre impregnado de louvor (alegria) – vv. 46-47
e) Caíam na graça de todo o povo (simpatia) – v.47

Aquela era uma igreja atraente. Todas à sua volta se deixavam contagiar pela graça que se sobressaía entre eles.

Os únicos que nutriam antipatia contra a igreja eram os religiosos invejosos, que se viam ameaçados pelo seu crescimento.

Um episódio extraído do Antigo Testamento para exemplificar o que estamos falando, é o que narra o encontro entre Salomão e a Rainha de Sabá.

O texto bíblico diz que “quando a rainha de Sabá ouviu a fama de Salomão, no que se refere ao nome do Senhor, veio prová-lo por enigmas” (1 Reis 10:1).

A fama do rei a intrigou. Ela queria tirar a prova dos nove. O que a atraía em Salomão não era sua aparência física, ou mesmo a riqueza que ostentava, e sim o que referia ao nome do Senhor. Jamais podemos nos esquecer que carregamos esse nome. Ser “cristão” é carregar a reputação de Cristo.

É vergonhoso para nós ouvir alguém como Gandhi, confessar admirar Jesus, mas não se sentir atraído pelo modo de vida daqueles que dizem segui-lo.

A rainha de Sabá chegou a Jerusalém cercada por uma enorme comitiva. Ela jamais empreenderia uma viagem tão longa sozinha. Da mesma forma, quando atraímos alguém, não podemos perder de vista aqueles que o acompanham.

O carcereiro que se rendeu a Cristo na prisão através do testemunho de Paulo e Silas, levou consigo toda a sua família.

O problema é que enfatizamos demais a salvação individual, e nos esquecemos de que o propósito de Deus abarca toda a nossa rede social, o inclui nossa família e nossos amigos.
O texto prossegue:

“Chegou a Jerusalém com uma grande comitiva, com camelos carregados de especiarias, e muitíssimo ouro e pedras preciosas. Apresentou-se a Salomão, e lhe disse tudo o que lhe ia no coração” (v.2).

Não se abre o coração pra qualquer um! Para que alguém chegue ao ponto de desnudar sua alma, é necessário que haja confiança. Acredito que a rainha de Sabá trazia não apenas curiosidades, mas também questões existenciais que a atormentavam. Se Salomão não desfrutasse de alguma credibilidade, ela jamais se atreveria a abrir-lhe o coração.

Uma igreja atraente deve gozar da confiança da sociedade. Portanto, urge resgatarmos a credibilidade da igreja cristã.

“Salomão respondeu a todas as suas perguntas; nada houve difícil demais que o rei não pudesse explicar” (v.3).

Perdemos a sintonia com o mundo. Este foi o preço do nosso isolamento. Já não nos preocupamos com suas questões. Dizemos em alto e bom som: Cristo é a resposta! Mas sequer procuramos saber quais são as perguntas. Queremos que o mundo nos ouça, porém não paramos para ouvi-lo.

Vale aqui a recomendação de Pedro: “Estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe.3:13b).

“Vendo a rainha de Sabá toda a sabedoria de Salomão, a casa que edificara, a comida da sua mesa, o assentar dos seus oficiais, o serviço de seus criados e os trajes deles, seus copeiros, e os holocaustos que ele oferecia na casa do Senhor, ficou fora de si” (1 Reis 10:4-5).

Gostaria de propor aqui um paralelo entre este texto e aquela que é considerada arainha das epístolas de Paulo, a carta aos Efésios.

Ao todo, são sete itens observados pela Rainha de Sabá que comprovavam a sabedoria de Salomão:

1 – A casa que edificara
2 – A comida da sua mesa
3 – O assentar dos seus oficiais
4 – O serviço de seus criados
5 – Os trajes deles
6 – Seus copeiros
7 – Os holocaustos que oferecia na casa do Senhor

Cada um desses itens pode ser encontrado em Efésios. Eles são sombras de uma realidade que só nos foi plenamente revelada no Novo Testamento.

Exploremos cada um deles:

1 – A casa que edificara – Em Efésios 2:19-22 lemos: “Assim já não sois estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a principal pedra angular. Nele todo edifício bem ajustado cresce para templo santo no Senhor. E nele também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito”. Apesar de toda a suntuosidade, o Templo erguido por Salomão era apenas uma figura do verdadeiro templo que seria construído por outro descendente de Davi, a saber, Jesus. Este novo e definitivo templo é a igreja de Deus, a nova humanidade. Bastava olhar a obra empreendida por Salomão para ter uma idéia de quão extraordinária era a sua sabedoria. Semelhantemente, o mundo tem que olhar para nós, para o nosso modo de vida, e perceber que através dele a sabedoria de Deus se expressa. E mais: a casa construída por Cristo deve ser acolhedora. Ninguém deve sentir-se estrangeiro ou forasteiro. Afinal de contas, é casa de oração para todos os povos! Além de acolhedora, deve ser ordeira, organizada. Os veteranos devem ser referenciais para os novatos. Era esta a preocupação de Paulo, ao advertir Timóteo: “Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te em breve; para que, se eu tardar, saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e esteio da verdade” (1 Tm.3:14-15).

2 – A comida da sua mesa – Talvez o que tenha causado mais admiração na Rainha de Sabá não tenha sido propriamente os pratos, ou os talheres, mas a maneira como as pessoas repartiam o pão sentados à mesa. Lembre-se que em Atos, lemos que uma das características marcantes da igreja primitiva era o “partir do pão”e o compartilhar todas as coisas. Este é o sentido original de “comunidade”. Somos uma comunidade edificada ao redor do Trono da Graça. Por isso, temos tudo em comum. A mesa está posta, e o que nela for colocado deve ser repartido. Isso é comunhão. Em Efésios, Paulo adverte: “Aquele que furtava, não furte mais, antes trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o necessitado” (4:28). Nossa preocupação deve ser sempre com a necessidade do outro, e não com a nossa. Não vale entre nós o ditado que diz “a farinha é pouca, meu pirão primeiro”. E esse “partir do pão” não deve ser apenas no aspecto material, mas também no espiritual. Paulo diz em outra epístola: “O que eu recebi do Senhor, isso também vos dei” (1 Co.11:23). Tudo o que vemos e ouvimos, deve ser compartilhado com outros, caso contrário, não haverá verdadeira comunhão. “O que vimos e ouvimos”, disse João, “isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco” (1 Jo.1:3a). Assim como não devemos furtar, isto é, nos apropriar do que é de outros, também não deve sair de nossa boca qualquer palavra torpe, “mas só a que for boa para promover a edificação, conforme a necessidade, para que beneficie aos que a ouvem” (Ef.4:29). A mesa está posta, todos são convidados!

3 – O assentar dos seus oficiais – A rainha de Sabá ficou impressionada com a disciplina que havia entre os oficiais do Rei. O fato de serem autoridades, não lhes conferia a liberdade de fazer o que quisessem. Eles só poderiam exercer autoridade, se estivessem sob autoridade. E era por reconhecer em Salomão a autoridade outorgada por Deus, que esses oficiais primavam pelo respeito e pela reverência. Em outras palavras, a rainha admirou a maneira como os oficiais exerciam seu ofício, sempre respondendo àquele que estava sobre eles. O trono de Salomão estava acima de seus assentos. Era de lá que vinha a autoridade que lhes fora delegada. Em Efésios 1:18-23, lemos: “Oro também para que sejam iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos, e qual a suprema grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e fazendo-o sentar-se à sua direita nos céus, acima de todo principado, e autoridade, e poder, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro. E sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que enche tudo em todos.”Toda autoridade provém daquele que está acima de tudo e de todos. Os vinte e quatro anciãos de Apocalipse reconhecem isso ao dispor de suas coroas, e depositá-las aos pés d’Aquele que está no Trono. O fato de Cristo estar assentado em Seu trono de glória é que nos dá a possibilidade de com Ele reinarmos. Se não nos submetemos a Ele, e às autoridades por Ele estabelecidas, tampouco podemos exercer qualquer autoridade. A autoridade de Cristo provém do Pai. Foi Ele quem O exaltou e Lhe deu um nome sobre todo o nome. A nossa autoridade provém de Cristo, que nos elevou juntamente com Ele, e “nos fez assentar nas regiões celestiais, em Cristo Jesus”(2:6).

4 – O serviço de seus criados – Os criados de Salomão buscavam o padrão da excelência. Nada era feito de qualquer maneira. Mesmo na ausência do Rei, eles trabalhavam com afinco para que tudo correspondesse às suas expectativas. Serviam aos convivas, como se servissem ao próprio Rei. Paulo também fala sobre isso em sua epístola aos Efésios. Confira: “Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo. Não obedeçais a vossos senhores apenas quando estão olhando, só para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus” (6:5-6). Uma igreja atraente é aquela que se dispõe a servir a todos à sua volta. Infelizmente, o que temos visto é uma igreja voltada para si mesma. A única razão de estarmos aqui é o mundo. E nosso serviço é constantemente avaliado, não apenas pelo Rei, mas por aqueles a quem servimos. E jamais haverá um tempo em que seremos promovidos de “servos” a “senhores”. Mesmo aqueles que usufruem certa autoridade, nada mais são do que servos do seu povo.

5 – Os trajes deles – Que elegância! Deve ter sido o comentário da rainha. Não é por serem criados, que eles devem andar maltrapilhos. A excelência deve se manifestar tanto no seu serviço, quanto na sua apresentação. Como temos nos apresentado ao mundo? Quais têm sido nossas vestes? Encaremos essas roupas como uma alegoria do nosso modo de vida. Paulo diz aos efésios que eles deveriam se despir do “velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano”, e se renovarem no“espírito do entendimento”, revestindo-se do “novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef.4:22-24). Esta nova roupagem, que nada mais é do que a nova vida em Cristo, deve atrair a atenção do mundo. Não se trata de uma santidade legalista, repelente, nauseante, mas de uma santidade atraente e contagiante. Porém, deve-se ter muito cuidado, porque há peças que não combinam com nossa nova vida. Uma delas é a mentira. Daí a admoestação paulina: “Pelo que deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo” (v.25). A mentira destoa com o resto da nossa roupa espiritual. Além de “toda amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfemais e toda a malícia”, que devem ser igualmente “tiradas” de entre nós (Ef.4:31). Despidos desses trapos imundos, devemos nos vestir da justiça de Cristo, e “sobre tudo isso”, nos revestir de amor, “que é o vínculo da perfeição”(Cl.3:14).

6 – Seus copeiros – A atenção da rainha de Sabá se volta para os copeiros. Ela os destaca dentre todos os demais criados de Salomão. Por quê? Aquele era um cargo de alta confiança. Ele era o responsável por tudo o que o rei bebia. Naquela época, havia sempre conspirações para derrubar o rei. E uma das armas usadas pelos conspiradores era o veneno que geralmente era colocado na bebida do rei. Antes de servi-lo, o copeiro tinha que provar o vinho em sua frente. Se ele continuasse vivo, era porque o vinho estava puro, sem veneno. Portanto, era um cargo ocupado por pessoas de muita confiança. Não podia haver qualquer mistura na bebida servida ao rei e aos seus convidados. Além disso, as taças tinham que estar permanentemente cheias. Paulo escreve aos Efésios: “E não vos embriagueis com vinho, em que há devassidão, mas enchei-vos do Espírito” (5:18). Mas como se dá esse enchimento? Como manter nossas taças cheias? Eis a resposta: “...falando entre vós com salmos e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo” (vv.19-21). Ninguém mantém sua taça cheia isolando-se dos demais. O enchimento do Espírito se dá de maneira coletiva. É “falando entre vós”. Fora do contexto congregacional, estaremos fadados a uma espiritualidade vazia. Mas é quando nos voltamos para os demais, buscando encher suas taças, que nossa taça é repleta. Lembre-se que “estavam todos reunidos no mesmo lugar”, quando “todos foram cheios do Espírito Santo” (At.2:1,4). Eis a razão porque o escritor de Hebreus é tão enfático: “Consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixando de congregar-nos, como é costume de alguns” (Hb.10:24-25a).

7 – Os holocaustos que oferecia na casa do Senhor – Acredito que nada chamou mais a atenção da rainha de Sabá do que este item, a qualidade da oferta e do culto que se ofereciam ao Senhor. Aquela era a prova final de que a sabedoria de Salomão excedia à de todos de sua época. Vivemos sob a égide da Nova Aliança, em que os sacrifícios levíticos cessaram. O sacrifício do Filho de Deus foi definitivo, e maneira que não há mais a necessidade de qualquer sacrifício meritório. Entretanto, um novo tipo de sacrifício foi instituído, que Pedro chama de “sacrifícios espirituais” (1 Pe.2:5). O mesmo escritor sagrado que diz que “não resta mais sacrifício pelos pecados”(Hb.10:26b), também diz: “Portanto, ofereçamos sempre por meio dele a Deus sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hb.13:15). Os sacrifícios atuais não são motivados pela culpa, mas por gratidão e louvor. Não é por serem espirituais, que tais sacrifícios não devam ter algum aspecto físico e material. Paulo diz aos Romanos que devemos apresentar os nossos corpos “como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”, que é o nosso culto racional (Rm.12:1). Portanto, nosso culto a Deus envolve aspectos físicos, e não apenas espirituais. Nossos corpos são oferecidos como instrumentos do Seu amor e da Sua justiça. Já não estamos entregues às nossas paixões e apetites desenfreados. Negamos a nós mesmos, tomamos a nossa cruz, e O seguimos. Esses mesmos sacrifícios espirituais também incluem aspectos materiais. Paulo diz aos Filipenses que a oferta que lhe fora enviada chegou a Deus “como cheiro suave, como sacrifício agradável e aprazível a Deus” (Fp.4:18). Se não fosse assim, não faria sentido a admoestação:“Não vos esqueçais de fazer o bem e de repartir com outros, pois com tais sacrifícios Deus se agrada” (Hb.11:16). Não concordamos que as pessoas devam ser motivadas a sacrifícios como barganha para serem abençoadas. Isso tem provocado escândalo entre os de fora da igreja. Trata-se, antes, de sacrifício de amor, não apenas pela causa do Reino, através de ofertas, mas também pelo bem do próximo, sem importar a fé que professe. É, de fato, uma questão de amor. Paulo diz aos Efésios: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados, e andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Ef.5:1-2). O exemplo foi dado, agora nos cabe segui-lo.

Voltando para o relato do encontro entre Salomão e a rainha de Sabá, deparamo-nos com esta confissão: “Foi verdade a palavra que ouvi na minha terra, acerca dos teus feitos e da tua sabedoria. Porém eu não acreditava naquelas palavras, até que vim, e vi com os meus olhos. Deveras, não me disseram metade; sobrepujaste em sabedoria e bens a fama que ouvi” (1 Reis 10:6-7).

Repare nisso: ela não foi ao encontro de Salomão porque cria. Pelo contrário. Ela foi porque não cria. Se quisermos atrair os que não crêem, devemos, no mínimo, buscar ser coerentes com aquilo que pregamos. E quando as pessoas vierem, que fiquem igualmente surpreendidas! Pois afinal de contas, o Deus a quem servimos é “poderoso para fazer tudo muitos mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera” (Ef.3:20).

Que fiquemos além, e jamais aquém das expectativas que o mundo tem a nosso respeito.

- Hermes C. Fernandes

O Novo Nascimento - John Gill (1697–1771)


A regeneração pode ser considerada de forma mais ampla, incluindo a chamada eficaz, a conversão e a santificação; ou de forma mais restrita, designando o primeiro princípio de graça infundido na alma. [Isto] faz da alma um objeto preparado para a chamada eficaz, um vaso apropriado à conversão, sendo também a fonte daquela santidade que é gradualmente desenvolvida na santificação e aperfeiçoada no céu. No que diz respeito à regeneração, os seguintes fatos devem ser examinados com atenção: o que é a regeneração ou... a sua natureza, que é tão misteriosa, desconhecida e inexplicável para um homem natural, como o foi para Nicodemos, embora ele fosse um mestre em Israel. Nós a compreenderemos melhor observando as expressões e termos pelos quais a regeneração é apresentada:

1. Nascer de novo — isto é o que a regeneração significa (veja Jo 3.3, 7; 1 Pe 1.3, 23). Esta expressão supõe um nascimento anterior, um primeiro nascimento, em relação ao qual a regeneração é o segundo. Se observarmos a diferença entre os dois nascimentos, os conceitos ficarão mais claros. Esses nascimentos são opostos entre si: o primeiro vem de pais pecadores e acontece à imagem deles; o segundo vem de Deus e acontece à imagem dEle. O primeiro é de semente corruptível, o segundo, de incorruptível. O primeiro acontece em pecado, o segundo, em santidade e justiça. Por meio do primeiro nascimento, os homens são corrompidos e depravados; pelo segundo, eles se tornam consagrados e começam a ser santos. O primeiro nascimento é carnal; o segundo é espiritual, transformando os que passam por ele em homens espirituais. Por meio do primeiro nascimento, os homens são loucos e insensatos; nascem como crias de asnos monteses. Por meio do segundo nascimento, eles se tornam instruídos e sábios para a salvação. Por meio do primeiro nascimento, eles são escravos do pecado e das paixões carnais: sua condição de escravo é inata. Por meio do segundo nascimento, eles se tornam os libertos de Cristo. Por meio do primeiro nascimento, eles são transgressores e seguem um caminho de pecado, até que são interrompidos pela graça. No segundo nascimento, eles param de cometer pecados, isto é, param de seguir o caminho de pecado, passando a viver em santidade. Sim, aquele que é nascido de Deus não vive em pecado. Por meio do primeiro nascimento, os homens são filhos da ira e estão sob o desprazer divino; no segundo nascimento, eles se tornam objetos do amor de Deus, sendo a regeneração o fruto e o efeito desse amor...


2. Nascer do alto — assim poderia ser traduzida a expressão de João 3.3, 7. O apóstolo Tiago disse, de um modo geral, que toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto; e a regeneração, sendo esse tipo de dádiva, deve vir do alto... “Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade” (Tg 1.17-18). O autor desse nascimento é do alto; e os que nasceram de novo nasceram de Deus Pai, que está no céu. A graça concedida na regeneração vem de cima (Jo 3.27). A verdade no íntimo, a sabedoria no espírito ou a graça de Deus no coração, produzida na regeneração, é a sabedoria que vem do alto (Tg 3.17). Assim são os nascidos de novo, pois eles são nascidos do alto, têm excelente nascimento, são participantes da vocação soberana e celestial de Deus, em Cristo Jesus, e certamente a possuirão (1 Pe 1.3-4; Hb 3.1; Fp 3.14).

3. É comum a regeneração ser expressa por novo nascimento; e com grande propriedade, visto que o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo estão juntos, como que significando a mesma coisa. A regeneração produz o que as Escrituras chamam de nova criatura e novo homem, e os nascidos de novo são chamados de crianças novamente nascidas (Tt 3.5; 2 Co 5.17; Ef 4.24; 1 Pe 2.2). É um novo homem em oposição ao velho ou ao princípio da natureza corrupta, que é tão antigo quanto o homem. Mas o princípio da graça infundido na regeneração é novo. É algo novo, inserido no coração; é algo que antes nunca esteve na natureza humana, nem mesmo em Adão, quando vivia em seu estado de inocência. Não é uma influência sobre os velhos princípios da natureza, nem a elevação deles a um grau superior. Não é uma melhoria dos velhos princípios, nem uma correção da imagem de Deus corrompida e arruinada no homem. É uma obra totalmente nova. É chamada de nova criatura; é uma obra realizada pelo poder onipotente, uma nova criatura, um novo homem constituído de várias partes, todas elas novas. Nessa nova criatura, existem um coração novo, um espírito novo, uma mente nova, para conhecer e entender coisas que antes não podiam ser conhecidas nem entendidas — um novo coração para conhecer a Deus, não como o Deus da natureza e da providência, e sim como o Deus da graça, Deus em Cristo, Deus em um Mediador, o amor de Deus nEle, a aliança da graça e as bênçãos dessa aliança estabelecida nEle. [É um novo coração para conhecer] a Cristo e a plenitude da graça nEle, o perdão do pecado por meio de seu sangue, a justificação por meio de sua justiça, a redenção por meio do seu sacrifício, aceitação diante de Deus por meio dEle e completa salvação por intermédio dEle — coisas sobre as quais Adão nada sabia no Paraíso.

Neste novo coração, há novos desejos por esses objetos, para conhecer mais sobre eles; há novas afeições colocadas sobre eles, novos deleites neles e novas alegrias que surgem deles (Ez 36.26; 1 Jo 5.20; 1 Co 2.9). Este novo homem enxerga com novos olhos. Deus não concede a algumas pessoas olhos para ver coisas divinas e espirituais, mas Ele os concede para os nascidos de novo. Eles têm olhos que vêem, feitos pelo Senhor (Dt 29.4; Pv 20.12), com os quais eles vêem seu estado de perdição, sua condição natural, a excessiva corrupção do pecado, sua incapacidade de se redimir por meio do que possam fazer. [Vêem] a insuficiência de sua justiça, sua incapacidade de fazer boas obras e a falta de poder para ajudarem a si mesmos a livrarem-se do estado e da condição em que estão. [Vêem sua necessidade] do sangue, da justiça e do sacrifício de Cristo, e da salvação por intermédio de Cristo. Eles têm os olhos da fé com os quais contemplam as glórias da pessoa de Cristo, a plenitude de sua graça, a excelência de sua justiça, a virtude de seu sangue e sacrifício, o benefício e a perfeição de sua salvação. Neste aspecto, a regeneração não é outra coisa senão luz espiritual no entendimento.

Além disso, o novo homem tem novos ouvidos. Nem todos têm ouvidos para ouvir. Alguns têm e os receberam do Senhor; e benditos são eles (Ap 2.11; Dt 29.4; Pv 20.12; Mt 13.16-17). Ouvem a Palavra de um modo como nunca ouviram antes. Eles a entendem e passam a amá-la; por meio dela, distinguem a voz de Cristo da voz de um estranho, de modo que sentem-na agir neles com eficácia e tornar-se o poder de Deus para a salvação deles. Conhecem o jubiloso som e regozijam-se em ouvi-lo!O novo homem também tem novas mãos com as quais pode agir: a mão de fé para receber a Cristo como Salvador e Redentor, para apropriar-se dEle para a vida e a salvação, para recebê-Lo, para apegar-se a Ele e não deixá-Lo ir embora. [Eles têm mãos] para tocá-Lo, a Palavra da vida, e receber dEle graça sobre graça. Têm mãos com as quais podem servir motivados por princípios melhores, a fim de atingir objetivos melhores do que os anteriores.Eles têm novos pés, com os quais correm para Cristo, a Cidade de refúgio; andam pela fé, prosseguem nEle, assim como O receberam; atravessam com alegria os caminhos de suas ordenanças, seguem-No com empenho e continuam a conhecê-Lo. Têm novos pés com os quais podem correr e não se fatigar, andar e não desfalecer.

4. A regeneração é expressa por ser vivificado. Assim como há, na criação natural, um momento em que a vida passa a existir, na regeneração acontece o mesmo. “Ele vos deu vida” (Ef 2.1). Antes da regeneração, os homens estão mortos, embora vivam; ainda que estejam fisicamente vivos, estão moralmente mortos; estão mortos em um sentido moral para as coisas espirituais, em todas as forças e capacidades de sua alma. Não as conhecem, não têm afeição por elas, amor por elas ou poder de realizá-las, à semelhança de um homem morto em relação às coisas naturais. Entretanto, na regeneração um princípio de vida espiritual é infundido no homem; é um tempo em que o Senhor lhes transmite vida e a produz neles. Cristo é a ressurreição e a vida neles. [Ele] os ressuscita da morte do pecado para uma vida de graça. O espírito da vida de Cristo entra neles.

A regeneração é uma passagem da morte para a vida. É um princípio de vida espiritual implantado no coração, em conseqüência do qual um homem inspira um senso espiritual. Onde há fôlego, há vida. Deus soprou em Adão o fôlego de vida, e este se tornou uma alma vivente, uma pessoa viva que, em resposta, respirou. Assim, o Espírito de Deus sopra em ossos secos, e eles vivem e passam a respirar. A oração é a respiração espiritual de um homem regenerado. “Ele está orando” (At 9.11) é algo observado sobre Saulo após sua regeneração. Um pouco antes ele respirava ameaças e morte contra os discípulos de Cristo. Um homem regenerado respira oração a Deus e suspira por Ele, por conhecê-Lo mais em Cristo, por ter comunhão com Ele, por manifestações de seu amor e, em especial, pela benevolente graça e misericórdia. Às vezes, estas respirações e desejos são expressos apenas por suspiros e gemidos, mas ainda são sinais de vida. Se um homem suspira, é claro que está vivo.O homem regenerado deseja intensamente o alimento espiritual; e isso demonstra que ele foi vivificado. Logo que uma criança nasce, ela procura o seio materno em busca de leite. Assim, os recém-nascidos espirituais desejam o genuíno leite da Palavra, por meio do qual eles podem crescer. Seus sentidos espirituais são exercitados em assuntos espirituais. Têm o que corresponde aos sensos da vida natural: o ver, o ouvir e, como já observamos, o sentir. Eles sentem o fardo do pecado na consciência e as obras do Espírito de Deus em seu coração; e confiam em Cristo, a Palavra da vida — isso deixa evidente o fato de que estão vivos: um morto nada sente. Têm uma inclinação espiritual, um deleite nas coisas espirituais; a Palavra de Cristo lhes é mais doce ao paladar do que o mel ou o favo de mel... Eles provam que o Senhor é gracioso e convidam outros a provar e ver também quão bom Ele é. Eles se deleitam com as coisas de Deus e não dos homens. Cristo e sua graça lhes são agradáveis... Estes sensos espirituais e o exercício deles... mostram que estão vivos, que nasceram de novo. Essas pessoas levam uma vida de fé; vivem por fé — não a fé em si mesma, mas em Cristo, o objeto da fé. Crescem em Cristo, a Cabeça deles, de quem recebem sustento e assim crescem no crescimento que vem de Deus; e isto é uma evidência de vida. Resumindo, eles vivem uma vida nova, diferente da que tinham antes; não vivem mais para si mesmos ou para as paixões dos homens, e sim para Deus e para Cristo, que morreu e ressuscitou por eles. Andam em novidade de vida.

5. A regeneração é demonstrada pela formação de Cristo na pessoa convertida (Gl 4.19). A imagem dEle é gravada na regeneração; não a imagem do primeiro Adão, e sim a do segundo Adão. Pois o novo homem é feito segundo a imagem dAquele que o criou de novo, é a imagem de Cristo. Os eleitos de Deus são predestinados a serem conformados a esta imagem; e isso acontece na regeneração (Rm 8.29; Cl 3.10). As graças de Cristo — fé, esperança e amor — são produzidas no coração da pessoa regenerada e logo se tornam visíveis. Sim, o próprio Cristo vive neles. O apóstolo Paulo disse: “Não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé” (Gl 2.20). Cristo e o crente vivem mutuamente um no outro.

6. A regeneração é explicada como o ser co-participante da natureza divina (2 Pe 1.4). Isto não significa que o nascido de novo se torna participante da natureza essencial de Deus: uma criatura não pode participar da essência divina, e esta não pode ser comunicada à criatura. Isto seria deificar os homens. Muitas das perfeições divinas são totalmente incomunicáveis, como a eternidade, a imensidade, etc. Os nascidos de novo também não participam da natureza divina da mesma maneira como Cristo participa, pela união pessoal e hipostática das duas naturezas nEle, a união em que a plenitude da divindade habita corporalmente nEle. Mas a regeneração produz na alma uma semelhança com a natureza divina em espiritualidade, santidade, bondade, benevolência, etc.; por isso, a regeneração também recebe essa designação.

John Gill (1697-1771) Pastor e teólogo. Autor de The Cause of God and Truth, Expositions of the Old and New Testaments e outros. Nasceu em Kettering, Northamptonshire, Inglaterra.

Neutralizadores de Pecado



O pecado exige uma resposta. E ele a terá. A questão não é “eu reagirei ao pecado?”. Você reagirá. Eu reagirei. A verdadeira pergunta é “como eu reagirei ao pecado?”. O pecado, como a gravidade, é uma daquelas leis inalteráveis: acontece e, portanto, eu devo interagir com isso. Não é que estamos desamparados ou somos vítimas do pecado, pelo menos não os cristãos. Semelhante à gravidade, podemos responder de maneiras sábias e benéficas à nossa queda. Deus nos deu a resposta para o nosso problema com o pecado, assim como o poder para superar as realidades do pecado. Por causa de Cristo, não temos de ser derrotados pelas vicissitudes do pecado. Podemos nos tornar ofensivamente centrados, motivados e fortalecidos pelo Evangelho e, certamente, cabe a nós a maneira como responderemos às coisas que fazemos de errado.

Refletindo sobre as maneiras erradas que respondi aos meus erros, cheguei a pelo menos quatro respostas erradas ao pecado. Aqui estão elas:
Desculpas – Essa é provavelmente minha tática mais usada para neutralizar o pecado. Meu velho amigo Adão usou isso no Jardim do Éden e tenho descoberto que essa é uma resposta tentadora quando faço algo tolo. O problema, para aqueles que têm de conviver comigo, é que isso é frustrante, pois, no fim das contas, não é uma solução. Isso não afasta o meu pecado. Simplesmente o ignora ou talvez, melhor dizendo, transforma meu pecado em algum tipo de discurso ambíguo nem preto nem branco, que deixa todos desconfortáveis, sentindo que eu não respondia suficiente e biblicamente pelo que fiz errado. O pecado permanece e meus amigos e família precisam conviver com o grande elefante rosa na sala. Quando me escondo em desculpas ao invés de tomar responsabilidade por minhas ações,
Justificativas – Existem momentos em que me compararei aos outros, o que é parte do processo que uso para dizer a mim mesmo que meu pecado não é tão ruim quanto o de algumas pessoas que conheço. Isso, é claro, não remove meu pecado, mas apenas o neutraliza temporariamente. Tipicamente, quando estou no modo autojustificador, é porque acho que mereço mais que eu tenho. Justificativa é uma forma de raiva, que vem de um coração irado e diz: “eu terei o que quero, a despeito do que custe ou de quem eu machuque no processo, porque mereço ser feliz”.
Usualmente, a pessoa autojustificadora não foi capaz de lidar com suas decepções pessoais com a vida. Ela fala de si mesmo como uma vítima disso ou daquilo, e porque isso aconteceu a ela, ela chegou à conclusão de que merece algo melhor. E quando essa pessoa peca, no processo de ter o que sente que merece, ela justifica seus atos pecaminosos porque se convenceu de que foi feriada desnecessariamente e deveria ser recompensada. É um ciclo que deixa muitas casualidades.
Aliviar – Normalmente, uma pessoa que procura aliviar seus pecados tem um tipo diferente de sensibilidade a seu pecado. Seu senso de moralidade é mais focado introspectivamente que o do Justificador ou do Escusador, que tendem a apontar externalidades para explicar porque eles fazem o que fazem. Enquanto o Escusador e o Justificador sabem a diferença entre certo e errado, eles não são tão introspectivos sobre seus pecados.
Na prática, isso funciona dessa maneira: o Escusador e o Justiicador respondem seu pecado culpando aos outros, enquanto o Aliviador escolhe punir ou culpar a si mesmo. Essa é sua versão da autoexpiação, ou como eles procuram pagar por seus pecados. Aqui está uma lista curta de respostas autoexpiatórias ou autopunitivas ao pecado: drogas, sexo, comer demais, televisão demais, gastar dinheiro, férias, roupas, medicamentos, raiva, cortar-se, autopiedade e outros comentários autodepreciatórios. Tudo isso ajuda a distraí-los de seu pecado.
Culpar – “Se você vivesse com a mulher que eu vivo, também faria as coisas que eu faço”.  “Se você conhecesse meu pai, não seria tão rigoroso com o que eu tenho feito”. Essas são apenas duas das muitas variações que usamos para neutralizar nosso pecado. Infelizmente, minha lista é bem grande. Culpar se torna apenas mais uma reação errada que não resolve de fato  as questões que precisam ser resolvidas.  O problema central dos ‘culpadores’ é a auto-justificação. Eles tem problemas para admitir que estão errando. Estão apaixonados demais por si mesmos para dizer que falharam. Apesar de estarem cientes de seu pecado, eles preferem colocar a culpa em algo ou alguém além de si mesmos.  Uma resposta ao pecado é necessária, e eles escolhem responder dizendo alguma versão de “não é realmente minha culpa”.

O problema com essas quatro tentativas de neutralizar o pecado é que elas endurecem a consciência. A consciência (co – ciência) é aquela voz interior que age como nosso termômetro moral. Ela nos diz quando estamos errando. Contudo, quando escolhemos algumas dessas respostas que eu citei como uma “solução” para o pecado, nossa consciência começa a se mascarar, o que, a longo prazo, nos tornará insensíveis para as convicções divinas em nossas vidas. E, uma vez que nossa consciência se torna endurecida (mascarada), nos tornamos moralmente disfuncionais, incapazes de discernir ou reagir ao certo e ao errado.

Há apenas uma forma correta de responder ao pecado. O Evangelho, a pessoa e a obra de Jesus Cristo. Deus nos deu a única resposta ao pecado em Seu Filho. Ao invés de nós escolhendo a escravidão por meio de respostas antropocêntricas ao pecado, Deus julga Seu Filho na cruz e apenas nos pede que aceitemos esse julgamento como a resposta definitiva para o problema do pecado.
- Rick Thomas
Traduzido por Josaías Jr e Filipe Schulz 

Inocentes Pequeninos?



por Sinclair B. Ferguson

“Desviam-se os ímpios desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham, proferindo mentiras” – Salmos 58.3.

Ao final do dia, quando nossos filhos ainda eram pequenos, eu costumava observá-los enquanto dormiam: estavam lá, respirando quase imperceptivelmente, relaxados no seu sossego, curtindo o “sono da inocência”. Esta é a impressão do homem natural (e especialmente de um pai), que só enxerga aquilo que está diante de seus olhos (1 Samuel 16.7). Mas, que dizer do coração dessas crianças?
Usando as lentes da Bíblia, passamos a ver uma realidade mais sinistra: nossos filhos podem ser ingênuos, mas jamais inocentes. Assim como todos os homens, eles são culpados e depravados. Como Robert Murray McCheyne escreveu certa vez, mesmo nessa idade, a semente de todo tipo de pecado já está plantada em seus corações.
A verdade não se resume à possibilidade de nossas crianças se desviarem espiritual e moralmente, caso alguma coisa saia errado; muito pior que isso é a tendência para seguir esse caminho tortuoso, que já veio plantada nelas. A única coisa que falta para o trágico desfecho é elas darem vazão aos seus desejos carnais. A teologia reformada faz uso do termo “depravação total” para se referir a essa realidade. Como Louis Berkhoff expressou, essa depravação é: “(1) … uma corrupção inerente que se estende a cada parte … da natureza [humana], a todas as faculdades e capacidades tanto da alma como do corpo; e (2) que não há nenhum bem espiritual … no pecador, mas somente perversão”. (Systematic Theology, p. 247)
A depravação total de nossos filhos é uma doutrina que exige fé nas Escrituras. Nossos instintos naturais nos levam a olhar para os recém-nascidos como “tábuas rasas” morais e espirituais; como folhas em branco, prontas para que se escreva nelas uma vida de sucesso. E, ao que normalmente presumimos, essas páginas podem até ser manchadas, mas na sua essência sempre serão brancas.
Não é assim, de acordo com as Escrituras: “Desviam-se os ímpios desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham, proferindo mentiras.” (Salmos 58.3), insiste o salmista. No entanto, até mesmo se essas palavras se referissem apenas a algumas pessoas, lutaríamos para minimizar o ensino de Davi, de que o fruto do pecado vem desde a raiz. A Bíblia diz que nós pecamos porque nossa natureza é corrompida.
Assim como esta verdade é aplicável ao ímpio, foi aplicada a Davi. Foi isso que Deus mostrou a Davi, ao usar o profeta Natã para repreendê-lo por causa de seu adultério com Bateseba e do assassinato de Urias (2 Samuel 11-12; conf. Salmos 51.5).
Este ensino não se trata de uma desculpa para as transgressões; é antes uma confissão de pecado. A transgressão de Davi não foi um erro de percurso numa vida regrada, mas a expressão de um coração que era inerentemente doentio.
Como isso pode acontecer? Paulo responde a esta pergunta em Romanos 5.12-21, ao tratar da unidade da raça humana em Adão. O pecado entrou no mundo por meio dele e, como conseqüência, a morte também veio. Todos pecaram em Adão, pois ele era o representante de toda a humanidade.
A prova desta realidade é observada no fato de que a morte alcança a todos e reina sobre todos. Paulo acrescenta: “entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da morte de Adão, o qual prefigurava aquele que havia de vir” (Rm 5.14); isto é, aqueles que não tinham recebido a revelação especial/verbal da vontade de Deus.
Paulo pode não estar pensando aqui exclusivamente dos infantes; entretanto, nenhuma classe de pessoas ilustra tão claramente esta terrível conseqüência da queda como fazem as crianças que morrem antes de serem capazes de compreender os desígnios de Deus.
Por que isto acontece? Definitivamente, porque a morte nos vem como herença que nosso representante (Adão) catastroficamente nos legou após a queda, e não simplesmente como resultado de causas naturais. Isto é o que os cristãos primitivos sabiamente ensinavam aos seus filhos: “Na queda de Adão, todos nós pecamos”. Por sua desobediência, todos nós também nos tornamos pecadores (Romanos 5.19). Como resultado de descendermos dele, compartilhamos de sua depravação desde os primeiros momentos de nossa existência. Nós somos imperfeitos desde a nossa concepção.
Num mundo que segue à deriva no mar da confusão moral e espiritual dos pais, a doutrina da depravação total de nossos filhos é verdadeiramente uma importante âncora. Os pais que compreendem seu significado reconhecem a sabedoria divina, mesmo quando Sua vontade é exposta da forma mais crua. Também reconhecem a importância de ensinar a lei de Deus no contexto da graça doada em Cristo por meio do Espírito Santo.
Deus não nos deu anjos, mas pecadores, para nos aperfeiçoar no caminho da santidade. Levando-se em conta que a situação é mais complicada pelo fato de que nós, os pais, somos também pecadores, é necessários que constantemente recorramos aos ensinamentos e diretrizes da Escritura. Eis algumas delas:
Reconheça que, espiritualmente falando, seus filhos são versões em miniatura de você mesmo. Aprenda a pensar mais em termos de Adão e Cristo, pecado e graça. Isso por si só o ajudará a perceber por que Deus lhe deu o mandamento de não irritá-los (Ef 4.4).
Ao educar seus filhos, não cometa o erro de endeusá-los (por seguir o princípio do “é proibido proibir”) ou de se auto endeusar (ao dizer consigo mesmo: “terei muito orgulho dele/dela”). Em vez disso, esforce-se para conduzi-los no caminho da santidade, auxiliado pela graça de Deus.
Leve a sério a promessa da Palavra de Deus, de que Ele será o seu Deus e o Deus dos seus filhos. Entretanto, se você aceita o batismo infantil, não cometa o erro de presumir que os filhos da aliança não precisam se arrepender e crer no Evangelho. Aliás, no batismo, reconhecemos a necessidade da lavagem da regeneração e colocamos nossos filhos sob as obrigações da Aliança: arrependimento dos pecados e fé em Jesus Cristo durante toda a vida.
Quando eles cometerem pecados repugnantes, nunca se esqueça de que a graça que há em Cristo é maior que a transgressão do seu coração somada à dos corações deles. Por causa de Cristo, há sempre um recomeço, até mesmo para aqueles cujo estilo de vida era a expressão máxima de um coração depravado. Isto foi o que Mônica descobriu após anos de intercessão por seu filho Agostinho.
Afinal de contas, “alguns de vocês eram assim” (1 Coríntios 6.11 – BLH), mas encontraram a graça por meio de Cristo.

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"A conversão tira o cristão do mundo; a santificação tira o mundo do cristão." JOHN WESLEY"

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