E primeiro, o encorajamento oferecido em nosso texto se aplica aos fracos. O que no mundo é mais frágil que uma cana esmagada, ou um pavio fumegante? Uma cana que cresceu em um atoleiro ou brejo, mas deixe o pato selvagem pesar sobre ela e ela estrala; deixe que apenas o pé do homem toque contra ela e estará amassada e quebrada; qualquer vento que venha rodopiando pelo rio faz com que ela balance para lá e para cá, e quase a arranca pelas raízes. Você não pode conceber alguma coisa mais frágil ou quebradiça, ou cuja existência dependa mais de circunstâncias que uma vara esmagada. Então olhe para um pavio fumegante – o que ele é? Ele tem dentro de si uma fagulha, é verdade, mas está quase suprimido; o sopro de uma criança poderia apagá-lo; ou as lágrimas de uma mocinha apagá-lo em um momento; nada tem uma existência mais precária que a pequena faísca escondida no pavio fumegante. Como você vê coisas fracas, são descritas aqui.
Bem, Cristo fala delas, “O pavio fumegante não se apagará; a cana esmagada não quebrarei.” Deixe-me ir em busca dos mais fracos. Ah! Não terei que ir longe. Existem muitos nessa casa de oração nesta manhã que são sem dúvida fracos. Alguns dos filhos de Deus, bendito seja o seu nome, são feitos fortes para fazer grandes obras para ele; Deus tinha o seu Sansão aqui e ali que podia arrancar os portões de Gaza, e carregá-los até o alto do monte; ele tem aqui e ali os seus poderosos Gideões, que podem ir ao campo dos Midianitas, e derrotar as suas hostes; ele tem seus homens poderosos, que podem entrar na caverna no inverno e matar o leão; mas a maioria do seu povo é de uma raça tímida e fraca. Eles são como os passarinhos que se assustam com qualquer um que passe; um pequeno rebanho cheio de medo. Se a tentação vier, eles cairão diante dela, se a provação vem, eles são envolvidos por ela; seu frágil barquinho é balançado para cima e para baixo por cada onda; eles são arrastados para longe como um pássaro marinho nas pontas espumosas das vagas; coisas fracas, sem forças, sem poder. Ah! Caros amigos, eu sei que peguei a mão de alguns de vocês agora, e os seus corações também; porque vocês estão dizendo: “Fraco! Ah! Isso eu sou. Muito seguidamente eu sou compelido a dizer: eu devia cantar, mas não posso; eu devia orar, mas não posso; eu devia crer, mas não posso.”
Vocês estão dizendo que não podem fazer qualquer coisa; suas melhores determinações são fracas e vãs; e quando vocês gritam “Renova as minhas forças,” vocês se sentem mais fracos que antes. Você são fracos, são? Cana esmagada e pavio fumegante? Bendito seja seus, então esse texto é para vocês. Eu fico alegre de que vocês possam ser incluídos na denominação de fracos, porque aqui há uma promessa de que ele nunca os quebrará nem os apagará, mas os sustentará e os manterá de pé. Eu sei que existe algumas pessoas muito fortes aqui – eu quero dizer forte em suas próprias idéias. Eu sempre me encontro com pessoas que não confessariam quaisquer fraquezas como essas.
Eles têm mentes fortes. Eles dizem, “O senhor pensa que nós caímos no pecado? O senhor nos diz que o nosso coração é corrupto? Nós não acreditamos em qualquer dessas coisas; nós somos bons, puros e direitos; nós temos força e poder.” Eu não estou pregando para vocês nesta manhã; para vocês eu não estou falando nada; mas prestem atenção – a sua firmeza é vaidade, seu poder é ilusão e a sua força é uma mentira – porque apesar de que possam se gabar do que sejam capazes de fazer, eles passarão; quando vocês chegarem ao real confronto com a morte, descobrirão que não tem forças para lutar com ela: quando um desses dias de fortes tentações chegarem, tomarão vocês, homens de moral, e vocês irão para baixo; e a gloriosa liberdade da sua moralidade estará manchada, e ainda que vocês lavem as suas mãos com água da neve, e se façam mais limpos que nunca, estarão tão poluídos que as suas próprias roupas os abominarão. Eu acho que seja uma coisa abençoada ser fraco. O fraco é uma coisa sagrada; o Espírito Santo o fez assim. Vocês podem dizer, “Eu não tenho forças?” Então esse texto é para vocês.
Em segundo lugar, as coisas mencionadas em nosso texto não são apenas fracas, mas coisas sem valor. Eu ouvi falar de um homem que pegaria um alfinete quando estivesse andando pelas ruas, por princípio de economia; mas eu nunca ouvi falar ainda de um homem que parasse para pegar canas esmagadas. Elas não têm valor. Quem se importaria de ter uma cana esmagada – um pedaço de junco caído no chão? Todos nós as desprezamos como sem valor. E o pavio fumegante, que valor tem? Ele é uma coisa ofensiva e nociva; mas o valor dele é nulo.
Ninguém daria uma lambida de dedo tanto pela cana esmagada como pelo pavio fumegante. Bem, então amados, na nossa estimativa deve haver muitos de nós que são coisas sem valor. Existem alguns aqui que se pudessem se pesar pelas escalas do santuário, e por seus próprios corações na balança da consciência, apareceriam como imprestáveis – sem valor, nem uso. Houve tempo em que vocês se achavam as melhores pessoas do mundo – quando se qualquer pessoa tivesse dito que vocês tinham tido mais do que mereciam, vocês teriam dado um chute e diriam, “Eu acredito que sou tão bom como as outras pessoas.”
Vocês pensavam de si mesmos alguma coisa maravilhosa – extremamente merecedora do amor e do olhar de Deus; mas agora vocês sentem como sendo sem valor. Às vezes vocês imaginam que dificilmente Deus pode saber onde vocês se encontram, vocês são umas criaturas tão desprezíveis – tão sem valor – que não merecem a consideração dele. Vocês entendem como ele pode olhar para um ser microscópico em uma gota de água, ou para um grão de poeira em um raio de sol, ou para o inseto de noite de verão. Mas lhes é difícil dizer como ele pode pensar em vocês, que parecem tão sem valor – uma lacuna no mundo, uma coisa sem utilidade. “Eu sou bom em que? Eu não estou fazendo nada. Quanto a um ministro do evangelho, ele é de algum serviço; quanto a um diácono da igreja, ele é de alguma utilidade; quanto a um professor da Escola Dominical, ele está fazendo algo de bom; mas de que serventia sou eu?” Mas você poderia fazer a mesma pergunta aqui. Qual é o uso de uma cana esmagada? Pode um homem se encostar nela? Pode um homem fazer força contra ela?
Poderá ela ser uma coluna na minha casa? Você pode amarrá-la na flauta de Pan, e fazer música sair de uma cana esmagada? Ah! Não; não tem utilidade. E que uso tem o pavio fumegante? O viajor noturno não pode ser iluminado por ele; o estudante não pode ler com a sua chama. Não tem em que ser usado; os homens o jogam no fogo e o consomem.
Ah! É assim que vocês falam de si mesmos. Vocês para nada servem, assim são essas coisas. Mas Cristo não os lançará fora por serem sem valor. Vocês não sabem o uso que podem ter, e não podem dizer como Jesus Cristo os avalia depois de tudo. Lá está uma boa mulher, uma mãe talvez, ela diz, “Bem, eu não saio sempre – eu cuido da casa e dos meus filhos, e parece que não estou fazendo bem.” Mãe, não diga isso, sua posição é alta, elevada e responsável; e treinando filhos para o Senhor, você está fazendo pelo nome dele tanto quanto o distante e eloqüente Apolo, que tão valentemente pregou a palavra. E você homem pobre, tudo que pode fazer é se matar de trabalhar da manhã até a noite, e ganhar apenas o suficiente para viver o dia a dia, você nada tem para dar, e quando vai a Escola Dominical, pode apenas ler, não pode ensinar muito – bem, mas a quem pouco é dado, pouco lhe é exigido.
Você sabe que existe uma coisa tal como glorificar a Deus limpando os cruzamentos das ruas? Se a dois anjos fosse ordenado descerem à terra, um para reger um império, e o outro para limpar uma rua, eles não teriam escolha no assunto, desde que Deus lhes houvesse ordenado. Portanto Deus em sua providência, o tem chamado para trabalhar duro pelo seu pão de cada dia; faça isso para a glória dele. “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus.” (l Co 10.31 – N do Trd.) Mas, ah! Vocês sabem que existem alguns de vocês aqui que parecem inúteis para a Igreja. Vocês fazem tudo que podem. Mas quando fazem vira em nada; vocês não podem nos ajudar com dinheiro, nem talentos, nem tempo, e, portanto, acham que Deus deve lançá-los fora. Acham que se fossem como Paulo ou Pedro poderiam ser salvos. Ah! Amados, não falem assim; Jesus Cristo disse que ele não apagará o pavio inútil, nem quebrará a cana esmagada sem valor; ele tem alguma coisa para os inúteis e os sem valor. Mas vocês, marquem isso, eu não falo isso para desculpar a preguiça – para desculpar aqueles que podem fazer, mas não fazem; isso é uma coisa muito diferente. Existe um chicote para o asno, e um castigo para o preguiçoso, e às vezes eles precisam passar por isso. Agora eu estou falando daqueles que não podem fazer; não de Issacar, que é como um asno forte, se agachando debaixo de duas cargas, e preguiçoso demais para se levantar com elas. Eu nada vou dizer aos preguiçosos, que não vão arar por causa do frio, mas dos homens e mulheres que realmente sentem que eles podem ser de pouca serventia – que não podem fazer mais; e para esses as palavras do texto são aplicáveis.
Agora vamos fazer uma outra observação. As duas coisas aqui mencionadas são coisas ofensivas. Uma cana esmagada é ofensiva porque, eu acredito que existe aqui uma alusão às gaitas de Pan, que todos vocês sabem são canas presas umas às outras, ao longo das quais um homem move a boca, tirando assim algum tipo de música. Isso é o órgão, que eu acredito que Jubal tenha inventado, e que Davi menciona, porque é certo que o órgão que nós usamos não estava em uso naquela época. A cana esmagada iria. é claro. estragar a melodia de todas as gaitas; um tubo sem som então deixaria o ar sair, como para produzir um som destoante, ou até mesmo nem um som, de modos que o impulso de alguém seria tirar o tubo fora e pôr um novo. E, quanto ao pavio fumegante, a torcida de uma vela ou de qualquer coisa desse tipo, eu não preciso lhes dizer que a sua fumaça é desagradável. Para mim nem um odor em todo o mundo é tão desagradável como o da fumaça de pavio. Mas alguns dizem, “Como você pode falar em um nível tão baixo?” Eu não fui mais baixo do que eu mesmo pudesse ir, nem mais baixo do que vocês possam ir comigo; porque eu estou certo de que vocês são, se Deus o Espírito Santo realmente os tem humilhado, apenas tão ofensivos como às suas próprias almas, e apenas tão ofensivas a Deus como uma cana esmagada seria entre os tubos, ou como um pavio fumegante aos olhos e ao nariz. Freqüentemente eu penso no velho e querido John Bunyan, quando ele disse que queria que Deus o fizesse um sapo, ou uma rã, ou uma cobra, ou qualquer coisa que não fosse um homem, porque ele sentia ser tão ofensivo.
Oh! Eu posso imaginar um ninho de víboras, e eu acho que elas são repugnantes; eu posso imaginar um punhado de todos os tipos de criaturas repulsivas gerando corrupção, mas não existe qualquer coisa que mereça a metade da repugnância que merece o coração humano; Deus poupa de todos os olhos a não ser dos dele mesmo essa visão horrível – um coração humano; e pudéssemos vocês e eu vermos os nossos corações, seríamos levados a loucura, tão horrível seria a visão. Vocês se sentem assim? Vocês sentem que devem ser uma ofensa aos olhos de Deus – que vocês se rebelaram tanto contra ele, se desviaram tanto dos seus Mandamentos, que certamente devem ser repugnantes a ele? Se assim é, meu texto é de vocês.
Agora, eu posso imaginar algumas mulheres aqui nessa manhã que tem se desviado do caminho da virtude; e, enquanto ela está de pé lá em cima entre a multidão, ou sentada, ela se sente como se não tivesse direito de andar por esses santos átrios e ficar entre o povo de Deus. Ela pensa que Deus podia quase fazer a capela vir abaixo sobre ela para destruí-la, tão grande pecadora ela é. Não se preocupe, cana esmagada e pavio fumegante! Ainda que vocês sejam o desprezo do homem, e repulsivas a si mesmos, Jesus ainda lhe diz: “Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais (Jo 8. 11 – N. do Trd.), para que não te suceda cousa pior (Jo 5. 14 – N. do Trd.).”
Existe algum homem aqui que tem alguma coisa no seu coração de que eu nada sei – que pode ter cometido crimes em segredo, que nós não mencionaremos em público; seus pecados se cravam nele como sanguessugas, e roubam dele todo conforto! Não se desespere; porque Jesus disse que ele não apagará o pavio fumegante, ele não quebrará a cana esmagada.
E ainda, meus caros amigos, existe um pensamento antes que eu saia desse tópico. Ambos esses artigos, apesar do quanto sem valor eles possam ser, podem ser ainda de alguma serventia. Quando Deus põe a sua mão sobre um homem, se antes ele era sem valor e inútil, ele pode torná-lo muito valioso. Você sabe que o preço de um artigo não depende tanto do valor da matéria prima com que começar – canas esmagadas e pavios fumegantes; mas pela Divina habilidade essas duas coisas se tornam de maravilhoso valor. Vocês me dizem que a cana esmagada não presta para nada; eu digo que Cristo irá pegar aquela cana quebrada e emendar, e colocá-la nas flautas celestiais. Então quando a grande orquestra produzir a sua música, quando os órgãos dos céus dobrarem seus sons em baixo tom, nós perguntaremos: “Que era aquela doce nota ouvida lá, misturada com as demais?” E alguns dirão, “Ela era uma cana esmagada.” Ah! A voz de Maria Madalena no céu, eu imagino, soa mais doce e líquida que qualquer outra; e a voz daquele pobre ladrão que disse, “Senhor, lembra-te de mim,” e se for uma voz de baixo profundo, é mais melodiosa e mais doce do que a voz de qualquer outro, porque ele amou muito, porque ele o havia perdoado muito. Essa cana pode ainda ser de utilidade. Não digam que vocês não prestam para nada; vocês ainda vão cantar no céu. Não digam que vocês não têm valor; afinal vocês ficarão de pé diante do trono entre a sociedade lavada no sangue, e cantarão louvores a Deus. Ah! E o pavio fumegante também, que de bom isso pode ter? Eu já vou lhes dizer.
Existe uma chama em algum lugar naquele pavio; ela está quase apagada, mas uma chama ainda permanece. Contemplem a pradaria em chamas! Vocês vêm as chamas virem rolando? Vocês vêm rios após rios de quentes labaredas inundando a planície até todo o continente estar queimado e chamuscado – até que os céus estejam avermelhados de labaredas? A velha face negra da noite esteja amedrontada com o incêndio, e as estrelas pareçam assustadas pela conflagração. Como foi incendiada essa massa? Por um pedaço de um pavio fumegante derrubado por algum viajante, assoprado por um vento brando, até que toda a pradaria ficou em chamas. Portanto um homem pobre, um homem ignorante, um homem fraco e até um homem desviado, pode ser o meio de conversão de toda a nação. Quem sabe se você que agora é nada, pode ser de mais utilidade do que esses de nós que parecem estar melhor em pé diante de Deus, porque nós temos mais dons e talentos? Deus pode fazer uma faísca incendiar o mundo – ele pode acender toda uma nação com a faísca de uma pobre alma em oração. Você ainda pode ser de utilidade; portanto tenha bom ânimo. O musgo cresce nas lápides; a hera se agarra à estaca apodrecida; a erva de passarinho cresce nos galhos mortos; e mesmo assim a graça, a piedade, a virtude, a santidade, e a bondade vêm dos pavios fumegantes e das canas esmagadas.