A palavra “expiação” ocorre só uma vez na versão do Rei Tiago em o  Novo Testamento. Vide Romanos 5:11. Aqui está uma tradução de  “katallage”. Este substantivo grego ocorre em três outras passagens: uma  vez em Romanos 11:15, onde está traduzido “reconciliando”; uma vez em 2  Coríntios 5:18, onde está traduzido “reconciliação” e uma vez no verso  seguinte, onde outra vez está traduzido “reconciliação”.  
  
  O verbo grego “katallasso”, correspondente ao nome “katallage”,  acha-se também em 2 Coríntios 5:18,19; em Romanos 5:10 e 1 Coríntios  7:11. Em cada um destes casos está traduzido para significar  “reconciliar”.  
  
  Segundo o uso do grego, a palavra “expiação” pode ser usada  tanto da provisão da base objetiva de salvação, na qual temos uma  expiação potencial, como da realização atual da salvação, na qual temos  uma expiação atual na aplicação dos benefícios da morte de Cristo e a  oferenda do Seu sangue no templo celestial. 
  
  O verbo grego “katallasso” está usado no primeiro sentido em 2  Coríntios 5:19, onde lemos: “Deus estava em Cristo reconciliando o mundo  consigo mesmo, não lhes imputando os seus pecados”. O sentido aqui é  que Deus estava reconciliando o mundo Consigo mesmo por lançar os seus  pecados sobre Cristo. Refere-se, pois, a passagem ao que se realizou na  morte de Cristo e não ao que se realizou através do Seu ministério  Profético, predicante.  
  
  É neste sentido que a palavra “expiação” é ordinariamente  empregada nas discussões teológicas, sentido em que a usamos neste  capítulo.  
  
 I. A IMPORTÂNCIA DA EXPIAÇÃO 
  
  A expiação é o tema central do cristianismo. Tudo que a  precede, olha para frente e tudo que a segue olha para ela atrás.  Pode-se ver sua importância revendo os fatos seguintes:  
  
 1. ELA É O TRAÇO DISTINTIVO DO CRISTIANISMO 
  
  O cristianismo é a única religião com uma expiação. Conta-se  que há alguns anos passados, quando se reuniu uma Parlamento de Religião  na Exposição de Chicago, Joseph Cook, de Boston, o orador escolhido do  cristianismo, levantou-se, depois de terem sido apresentadas outras  religiões, e disse: “Eis aqui Lady Macbeth com as suas mãos manchadas  com a morte infame do Rei Duncan. Vede-a como perambula pelas salas e  corredores de sua casa palacial, detendo-se para gritar. “Fora, mancha  danada! Nunca mais estas mãos ficarão limpas?” O representante do  cristianismo virou-se para os adeptos de outras religiões e os desafiou  triunfantemente: “Pode alguém de vós que estais tão ansiosos de propagar  vossos sistemas religiosos proporcionar qualquer eficácia purificadora  para o pecado e a culpa do crime de Lady Macbeth? Emudeceram, porque  nenhum deles teve uma expiação a oferecer.  
  
 2. ELA VINDICA A SANTIDADE E A JUSTIÇA DE DEUS 
  
  Não podia haver em Deus verdadeira santidade e justiça se Ele  permitisse ao pecado passar impune. A santidade proíbe semelhante  encorajamento do pecado. A justiça requer retribuição. 
  
 3. ELA ESTABELECE A LEI DE DEUS 
  
  Sem expiação a salvação dos crentes deixaria a lei vã, letra morta. Vide Romanos 3:31 e Hebreus 2:2.  
  
 4. ELA MANIFESTA A GRANDEZA DO SEU AMOR 
  
  De nenhum outro modo podia Deus ter manifestado maior amor pelo  Seu povo do que por dar o Seu único Filho unigênito para morrer em  lugar dele povo. Vide João 3:16, 15:13; Romanos 5:8; I João 4:9.  
  
 5. ELA PROVA A AUTORIDADE DIVINA DOS SACRIFÍCIOS DO VELHO TESTAMENTO 
  
  Vemos na expiação de Cristo o antítipo mais belo dos  sacrifícios do Velho Testamento. E vemos nesses sacrifícios um método  efetivo de apontar à necessidade de expiação e um tal quadro da expiação  real como guiaria o iluminamento a espiritualmente inculcar através do  véu de sombra à verdadeira luz. A divina autoridade dos sacrifícios do  Velho Testamento não apresenta dificuldades ao que crê que a morte de  Cristo foi substitucionária; mas, os que desejam negar este último fato  também sabem que Deus instituiu os sacrifícios de animais do Velho  Testamento.  
  
 6. ELA FORNECE A PROVA DEFINITIVA DOS SISTEMAS TEOLÓGICOS 
  
  Por sua atitude para com a expiação, os sistemas teológicos  classificam-se em pagãos ou cristãos. A oposição deles quanto à expiação  também reflete sua idéia da natureza de Deus, de Sua Lei e do pecado.  
  
 II. A NATUREZA DA EXPIAÇÃO 
  
 1. IDÉIAS FALSAS DA EXPIAÇÃO 
  
 (1). A idéia governamental 
  
  Esta idéia sustenta que o propósito da expiação foi impedir que  o perdão dos pecadores por Deus encorajasse o pecado. A salvação dos  pecadores não exige que eles levem a penalidade dos seus pecados. O seu  virar do pecado para Deus é suficiente para justificar Deus em  salva-los; mas o perdão dos culpados, sem alguma exibição do ódio de  Deus contra o pecado e de Sua consideração pela Lei, licenciaria o  pecado e roubaria qualquer autoridade sobre as consciências dos homens.  
  
 (2). A idéia de exemplo 
  
  Esta idéia sustenta em comum com a governamental que a morte de  Cristo não foi substitucionária: sustenta que Deus não precisou de ser  propiciado em benefício do pecador; que o único óbice à salvação dos  pecadores jaz na prática contínua do pecado pelo pecador. Reforma,  portanto, é o remédio adequado e isto pode ser efetuado pela própria  vontade do homem. Para encorajar-nos nisto Jesus morreu como um nobre  mártir, exemplificando uma devoção abnegada que escolheu a morte antes  que falhasse do Seu dever a Deus e ao homem. Somos salvos, não por  confiar nEle como nosso porta-pecado senão por confiar em Deus segundo  Seu exemplo e assim devotando-nos à justiça.  
  
 (3). A idéia de Influência Moral. 
  
  Esta idéia sustenta em comum com ambas as primeiras que o  pecado não traz culpa que deva ser removida: não é a culpa senão a  prática do pecado que impede a salvação. A morte de Cristo foi somente  uma exibição de amor para abrandar o coração do homem e leva-lo ao  arrependimento. “Os sofrimentos foram necessários, não para remover um  obstáculo ao perdão de pecadores que existe na mente de Deus senão para  convencer os pecadores de que não existe tal obstáculo” (Strong). 
  
 (4). A idéia de depravação gradualmente extirpada. 
  
  Esta idéia está definida por Strong como segue:  
  
  “Cristo tomou a natureza humana como ela estava em Adão, não  antes mas depois da queda, - a natureza  humana, portanto, com a  corrupção nata e predisposta para o mal moral; que, não obstante a  possessão desta natureza inquinada e depravada, Cristo, pelo poder do  Espírito Santo, ou de Sua divina natureza, não só guardou Sua natureza  humana de se manifestar em pecado atual ou pessoal, mas purificou-a  gradualmente, por meio de luta e sofrimento até que na Sua morte Ele  extirpou completamente sua depravação original e a reuniu com Deus. Esta  purificação subjetiva da natureza humana na pessoa de Jesus constitui  Sua expiação e os homens não são salvos por qualquer propiciação  objetiva senão somente por se tornarem através da fé participantes da  nova humanidade de Cristo”. 
  
 Há outras duas idéias da expiação que os teólogos comumente  discutem sob teorias falsas ou inadequadas da expiação aqui não daremos  tratamento especial. Referimo-nos a idéia de acidentes e à comercial. A  primeira sustenta que a morte de Cristo foi um acidente imprevisto e não  antecipado por Cristo. Esta idéia é tão manifestamente absurda que não  merece aqui o espaço que ela tomaria para refuta-la. Não damos aqui  atenção especial à idéia comercial da expiação porque ela envolve tanta  verdade que achará exame sob a epígrafe da idéia correta da expiação.  
  
 2. A IDÉIA CORRETA DA EXPIAÇÃO. 
  
  A idéia correta da expiação, que concebemos como sendo a  correta, reconhece o elemento de verdade em cada uma das seguintes  teorias que tem recebido especial menção e também combina o que são  costumeiramente chamadas idéias comercial e ética, mas esta vai mais  longe do que qualquer delas.  
  
 (1). Verdades reconhecidas noutras idéias.  
  
  A. Uma falha em punir o pecado derrubaria o governo divino. 
  
  Este é o elemento de verdade na idéia governamental, mas isto é  só um dos muitos elementos de verdade envolvidos na expiação. Uma  simples exibição do ódio de Deus contra o pecado sem medir uma justa  penalidade, portanto, não consegue e não conserva inteiramente os  interesses do governo divino. Qualquer exibição do ódio divino para com o  pecado agirá como um óbice ao pecado e assim tenderá a manter governo,  mas, até ao ponto em que essa exibição do ódio divino se fruste da justa  penalidade, ela fracassa em fornecer um óbide ao pecado que honre  completamente o governo divino.  
  
  B. Na morte de Cristo temos um exemplo inspirador. 
  
  É um exemplo de abnegada devoção a Deus e ao homem. E o povo  salvo (não os perdidos) são mandados seguir este exemplo. Vide Mateus  16:24; Romanos 8:17; 1 Pedro 2:21, 3:17 e 18; 4:1 e 2. Mas, que Cristo  não morreu meramente como um nobre mártir, evidente é de Sua própria  atitude para com a Sua morte.  Se Ele morreu apenas como exemplo, então  Ele supriu exemplo muito pobre. Muitos mártires humanos tem ido para a  fogueira sem um sinal de angustia; todavia, o Senhor Jesus Cristo suou  como se fossem grandes gotas de sangue no horto. Muitos mártires  desfrutaram um vívido senso da presença de Deus na hora da morte, mas o  Senhor Jesus Cristo foi desertado pelo Pai na hora da morte. Contrastai a  atitude de Cristo perante a morte com a de Paulo.  
  
  C. Na morte de Cristo temos uma exibição de amor de Deus. 
  
  Vide João 3:16; Romanos 5:8; 15:13; 1 João 4:9. E esta exibição  deveria mover os homens ao arrependimento. Este é o elemento de verdade  na idéia de influência moral da expiação; mas, que a expiação foi mais  do que uma simples exibição de amor far-se-á manifesta ao passo que  avançamos.  
  
  D. Através da morte de Cristo somos feitos participantes da vida de Cristo. 
  
  Vide 2 Coríntios 4:11; 5:14-17; 12:9 e 10; Gálatas 2:20; 2  Pedro 1:4. Este é o elemento de verdade na idéia de depravação  gradualmente extirpada da expiação; mas, atingimos esta nova vida em  Cristo em conjunção com a fé nEle como nosso porta-pecado. Esta idéia  recém mencionada nega:  
  
 (2). Outras verdades reconhecidas. 
  
  A verdadeira idéia da expiação reconhece todas as verdades das  outras idéias, mas reconhece mais. Erram os que acentuam um elemento de  verdade com exclusão de outros.  
  
  Outras verdades reconhecidas pela verdadeira idéia da expiação, são:  
  
  A. A verdade quanto à natureza de Deus. 
  
  Tudo das falsas idéias a que temos dado especial atenção nega  que haja qualquer obstáculo que seja em a natureza de Deus ao perdão dos  pecadores. O entrave supõe-se ser todo ele de parte do pecador. O  sofrimento de Cristo não foi em nenhum sentido uma satisfação de  qualquer princípio em a natureza divina.  
  
  Assim estas idéias negam, logicamente, a santidade e justiça de  Deus. Elas representam Deus como sendo somente amor. A ira retribuitiva  contra o pecado não é elemento da natureza divina.  
  
  Que essa idéias são falsas em respeito à idéia da natureza  divina suprida por elas é evidente de Romanos 3:25,26. Aqui se nos diz  que Deus estabeleceu a Jesus Cristo não simplesmente como uma exibição  cênica do seu ódio contra o pecado para servir às exigências do Seu  governo; nem como um exemplo de abnegada devoção ao dever; nem como  simples manifestação de amor através do sofrimento do Criador com a  criatura; nem ainda como o meio de purificação subjetiva da natureza  humana senão como cobertura do pecado (pela expiação), que Sua justiça  não fosse impugnada na justificação de homens pecadores.  
  
  B. A verdade quanto à natureza da Lei. 
  
  Tudo das falsas idéias de expiação a que temos dado especial  atenção representa a Lei de Deus como uma indicação puramente arbitrária  que pode ser relaxada parcial ou totalmente à vontade em vez de uma  revelação da natureza de Deus com nenhuma possibilidade mais de mudança  nos seus requisitos do que há de mudanças em a natureza de Deus. Ela  requer um olho por um olho e um dente por um dente; requer que toda  transgressão e desobediência deve receber uma justa recompensa de  prêmio. Hebreus 2:2. Toda idéia da expiação que for correta deve  reconhecer isto.  
  
  C. A verdade quanto à culpa do pecado. 
  
  Que essas falsas idéias sob consideração negam que o pecado nos  envolve em culpa objetiva que exige expiação. As passagens seguintes  ensinam que ele envolve: João 3:36; Romanos 1:18; 2:5,6; 3:19; 6:23;  Gálatas 3:10; Efésios 5:5,6; Colossenses 3:5,6; Apocalipse 20:13.  
  
  D. A verdade quanto à natureza substitucionária da expiação. 
  
  As passagens seguintes mostram que o sofrimento de Cristo foi  um substituto do sofrimento que os crentes suportariam no inferno: 
  
  “Seguramente Ele tomou sobre Si as nossas enfermidades e as  nossas dores levou sobre Si; nós O reputávamos por aflito, ferido de  Deus e oprimido. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um  se desviava pelo seu caminho. Porém o Senhor fez cair sobre Ele a  iniqüidade de nós todos” (Isaías 53:4-6). 
  
  “... sendo justificados livremente pela Sua graça, pela  redenção que está em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para ser uma  propiciação, pela fé no Seu sangue, para demonstração da Sua justiça,  pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus;  para a demonstração da Sua justiça, pela remissão dos pecados dantes  cometidos, sob a paciência de Deus; para a demonstração, digo, da Sua  justiça neste tempo presente, para que Ele seja justo e justificador  daquele que tem fé em Jesus” (Romanos 3:24-25). Propiciação é um  sinônimo de expiação, que significa “aturar a penalidade toda de um erro  ou crime”. A propiciação aplaca o legislador por satisfazer a Lei na  “cessão de um equivalente legal completo pelo mal causado”.  
  
  “... Cristo morreu por nós. Muito mais então, sendo  justificados pelo Seu sangue seremos salvos da ira de Deus por meio  dele.” (Romanos 5:8,9).  
  
  “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus” (Romanos  8:33). A resposta implicada é: Ninguém! E a implícita razão é: Porque  Cristo pagou sua dívida de pecado padecendo a penalidade da Lei em seu  lugar. 
  
  “Cristo é o fim da Lei para justiça de todo aquele que crê.” (Romanos 10:4).  
  
  “... nossa páscoa também foi sacrificada, mesmo Cristo.” (1 Coríntios 5:7).  
  
  “... Cristo morreu por nossos pecados, segundo a Escritura” (I Coríntios 15:3). 
  
  “Aquele que não conheceu pecado. Fê-lo pecado por nós, para que  nEle fossemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21). Nós nos  tornamos justiça de Deus em Cristo, não por meio de qualquer influência  moral da morte de Cristo sobre nós, mas pela imputação a nós da justiça  através da fé sem as obras.  
  
  “... Cristo entregou-Se por nós, em oferta e sacrifício a Deus ...” (Efésios 5:2) 
  
  “... ofereceu para sempre um sacrifício pelos pecados” (Hebreus 10:12).  
  
  “Porque Cristo também sofreu pelos pecados uma vez, o justo  pelos injustos, para que nos trouxesse a Deus ...” (I Pedro 3:18).  
  
  E. A verdade quanto aos aspectos redentores e resgatadores da expiação.  
  
  Notai as seguintes passagens:  
  
  “O Filho do homem não veio para ser ministrado, mas a ministrar e dar Sua vida em resgate por muitos” (Mateus 20:28).  
  
  “Mas dEle sois vós em Cristo Jesus, que nos foi feito sabedoria  de Deus, justiça e santificação e redenção.” (1 Coríntios 1:30).  
  
  “Cristo nos redimiu da maldição da Lei, fazendo-Se maldição por nós” (Gálatas 3:13).  
  
  “Deus propôs Seu Filho ... para que redimisse os que estavam sob a Lei ” (Gálatas 4:4,5).  
  
  “... em Quem temos redenção por Seu sangue, o perdão de nossos delitos, segundo as riquezas de Sua graça” (Efésios 1:7).  
  
  “... que Se deu em resgate por todos” (1 Timóteo 2:6).  
  
  “... que Se deu a Si mesmo por nós para que nos redimisse de toda a iniqüidade” (Tito 2:14).  
  
  “... pelo Seu próprio sangue entrou uma vez por todas no lugar santo, tendo obtido redenção eterna” (Hebreus 9:12).  
  
  “Fostes redimidos ... com sangue precioso... mesmo o de Cristo” (1 Pedro 1:18-19).  
  
  “... foste morto e remiste para Deus com o Teu sangue homens de toda a tribo, língua, povo e nação” (Apocalipse. 5:9).  
  
  Nas passagens supra, nas quais “redimir” ou uma de suas  cognatas aparece, temos quatro palavras gregas ou suas cognatas:  “agorazo”, significando “adquirir no fórum”;  “exagorazo”, “adquirir do  fórum”; “lutroo”, “soltar por um preço”; “apolutrosis”, “libertar”. As  palavras gregas nas passagens em que “resgate” aparece são,  respectivamente, “Lutron”, “um preço” e “antilutron”, “um preço  correspondente”. O sentido claro dessas passagens, à luz do resto do  Novo Testamento, especialmente Romanos 3:25-26, é que a morte de Cristo  foi o preço de nosso livramento da penalidade do pecado. Vide mais além  Romanos 8:33,34; 10:4; Gálatas 3:13 descreve exatamente como somos  redimidos quando nos diz que somos remidos da maldição da Lei por meio  de Cristo, que se fez uma maldição por nós. Ele pagou a penalidade que  nós devíamos. Por essa razão vamos livres. 
   
  Notai que “resgate”em 1Timóteo 2:6 significa “um preço  correspondente”. Isto quer dizer que o preço saldado por Cristo  correspondeu à dívida que devíamos. Em outras palavras, Cristo sofreu o  equivalente exato daquilo que teriam de sofrer no inferno aqueles por  quem Ele padeceu. Se a justiça de Deus exigiu que Cristo morresse para  que Deus justificasse pecadores, a mesma justiça exigiu que Ele pague a  penalidade toda devida pelos pecadores. A justiça tanto pode arcar com  toda a penalidade como tão facilmente arcar com a mínima parte dela.  
  
  “Porque Deus tomar como satisfação o que realmente não é tal é  dizer que não há verdade em nada. Deus pode tomar a parte pelo todo; o  erro pela verdade, o erro pelo acertado ... Se toda a coisa criada  oferecida a Deus vale justamente tanto como Deus a aceita, então o  sangue de touros e bodes podia tirar pecados e Cristo está morto em vão”  (Hodge, Syst. Theol. 2:573-81; 3:188-9).  
  
  “Deus não mandou Cristo ao inferno para sempre, mas Ele pôs na  punição de Cristo o equivalente disso. Ainda que Ele não deu a Cristo  beber o inferno atual de crentes, contudo deu-Lhe um quid pro quo – algo  equivalente disso. Ele tomou o copo da agonia de Cristo e nele botou  sofrimento, miséria e angústia ... o que foi o equivalente exato de todo  o sofrimento, toda a desgraça e todas as torturas eternas de todo  aquele que por fim estará no céu, comprado com o sangue  de Cristo”  (Spurgeon, Sermões, Vol. 4, pág. 217).  
  
  “A penalidade paga por Cristo é estrita e literalmente  equivalente à que o pecador teria de levar, conquanto não seja idêntica.  O porte vicário dela exclui a última” (Shedd, Discourses and Essays,  pág. 307).  
  
 “A substituição exclui identidade de sofrimento; não exclui equivalência” (Strong, Systematic Theology, pág. 420).  
  
  Algumas vezes os oponentes à natureza resgatadora e redentora  da morte de Cristo perguntam a quem foi pago o preço. E eles um tanto  sarcasticamente lembram-nos que alguns se apressaram em dizer que foi  pago ao diabo. Não, não foi pago ao diabo; como uma transação comercial,  não foi pago a ninguém. Os termos são figurativos. Mas o resultado é o  mesmo como se a transação fora de natureza comercial. O preço é a  penalidade exigida pela justiça de Deus.  
  
  Adotamos, portanto, como a verdadeira idéia da natureza da  expiação, uma idéia que combina as teorias comercial e ética como estão  descritas por Strong. Da teoria comercial aceitamos a idéia expressa em 1  Timóteo 2:6 – o pagamento de um preço correspondente ou equivalente. E,  da teoria ética, aceitamos o fato que não foram a honra e a majestade  divinas que exigiram a expiação, segundo afirma a idéia comercial, mas  os princípios éticos da santidade e justiça de Deus.  
  
 III. A EXPIAÇÃO E A DEIDADE DE CRISTO 
  
  Objeta-se algumas vezes que Cristo não podia ter sofrido em  poucas horas o equivalente do sofrimento eterno do pecador no inferno,  mas esta objeção deixa de tomar em consideração o fato que Cristo era  divino e, portanto, infinito em habilidade para sofrer. Ele disse que  nenhum homem podia tomar-Lhe a vida; que dEle mesmo a daria. Tendo o  poder, portanto de reter Sua vida, à vontade, Ele a reteve através de  tamanha intensidade de sofrimento que Ele tragou as últimas feses do  veneno do inferno por todos aqueles a serem salvos por Ele. O que  pecadores crentes teriam sofrido extensivamente, por serem finitos,  Cristo sofreu intensivamente, por ser infinito. Um homem com uma  constituição dez vezes tão forte como a que o homem médio pode sofrer em  um segundo o equivalente de tudo que o homem mediano pode sofrer em  dez. Correspondentemente um ser infinito pode suportar qualquer porção  de sofrimento num tempo tão breve quanto lhe apraza faze-lo.  
  
 IV. A EXPIAÇÃO E A HUMANIDADE DE CRISTO 
  
   Enquanto foi necessário que Cristo seja divino para suportar  numas poucas horas o sofrimento eterno devido a pecadores crentes,  também foi necessário que Ele seja humano para suportar o equivalente  daquilo que os seres humanos são para aturar no inferno.  
  
  Talvez foi necessário também que Cristo seja organicamente um  com o homem para faze-lo perfeitamente apropriado para Deus aceitar o  Seu sofrimento como um substituto para o do homem. Somos responsáveis  pela apostasia de Adão porque fomos organicamente um com Adão, da qual  os anjos não participaram e em cuja queda não nos envolvemos. Assim  parece claro que não teria sido segundo a filosofia divina colocar nossa  responsabilidade sobre Cristo sem Ele tornar-se organicamente um  conosco.  
  
 V. A EXTENSÃO DA EXPIAÇÃO 
  
  Há três teorias quanto à extensão da expiação.  
  
 1. A TEORIA DE UMA EXPIAÇÃO GERAL PARCIAL 
  
  Referimo-nos aqui à noção que Cristo pagou a penalidade pelo  pecado de Adão na raça inteira. Esta idéia é sustentada em conjunção,  usualmente, com a idéia de uma suposta base provisional para a salvação  de todos os homens, mas sua natureza necessita de que a tratemos  separadamente.  
  
  Pensa-se, por alguns, que esta teoria é necessária para  explicar a salvação daqueles que morrem na infância e imbecilidade nata,  mas mostramos uma base escriturística para a salvação dos tais sem esta  teoria.  
  
  João 1:29 é o passo principal citado como uma base para esta  teoria. A forma singular de “pecado” acentua-se como se referindo ao  pecado de Adão; mas o argumento não tem força, porque há outras  numerosas passagens em que se usa o singular em referência aos pecados  pessoais de homens num sentido coletivo. Vide Romanos 3:20; 4:8; 6:1;  Hebreus 9:26.  
  Esta teoria supõe que  o efeito do pecado de Adão sobre a raça é  duplo: (1) imputação de culpa pelo ato ostensivo de Adão em participar  do fruto proibido e (2) corrupção da natureza. E implica que a culpa  pode ser imputada à parte da corrupção. Isto nós negamos redondamente.  Nós tornamos culpados por meio de sua prioridade natural e da qual  herdamos uma natureza corrupta. Estamos sob a penalidade do pecado  porque pecamos em Adão, sendo nossa natureza uma com ele. Romanos 5:12.  Se a culpa fosse imputada sem corrupção, então a Lei exigiu a morte de  Cristo, porque Ele teve uma natureza humana; mas a idéia que Ele morreu  em qualquer sentido para Si mesmo é totalmente estranha à Escritura. Ele  em toda a parte se descreve e se apresenta sem nenhuma culpa de Si  mesmo, mas como levando a culpa dos outros. Se Lhe foi imputada culpa  pelo pecado adâmico, como necessariamente era o caso se esta culpa é  imputada a todo descendente de Adão à parte de corrupção, então Ele  conheceu pecado, mas a Escritura diz que Ele não conheceu pecado.  
  
 2. A TEORIA DE UMA EXPIAÇÃO GERAL. 
  
 (1) A teoria apresentada. 
  
  A teoria de uma expiação geral é que Cristo morreu para cada  filho de Adão – para um tanto como para outros (* ), removendo do  caminho da salvação de todos os homens impedimentos legais e fazendo-a  objetivamente possível a cada ouvinte do Evangelho salvar-se. Diz  Strong: “As Escrituras representam a expiação como tendo sido feita para  todos os homens e como suficiente para a salvação de todos. A expiação,  portanto, não está limitada senão a aplicação da expiação.” E outra  vez: “A expiação de Cristo fez provisão objetiva para a salvação de  todos, por remover da mente divina todo obstáculo ao perdão e  restauração dos pecadores, exceto sua contumaz oposição a Deus e recusa  de virar-se para Ele.” Diz Andrew Fuller que, se a expiação é vista  meramente quanto “ao que ela é suficiente em si mesma e declarada no  Evangelho estar adaptada para, ... foi para pecadores como pecadores”;  mas que, em “respeito ao propósito do Pai em dar Seu Filho para morrer e  ao designo de Cristo em ceder Sua vida, foi para os eleitos só.”  
  
  Esta teoria da expiação é algumas vezes sumarizada pelo dito  que a expiação foi suficiente para todos, mas suficiente somente para os  eleitos ou, como alguns prefeririam, para aqueles que crêem. Ou, para  pô-lo de outra maneira, diz-se muitas vezes que Cristo é o Salvador de  todos os homens provisional e especial ou efetivamente de crentes.  
  
  Outros têm imaginado que o sacrifício no Calvário foi para  todos, mas que a oferenda do sangue de Cristo no céu foi para os  eleitos.  
  
  Tudo dessas afirmações dá na mesma coisa – uma expiação geral  com uma aplicação ou designio limitados. Isto cremos e esperamos provar  que é uma contradição em termos, contrária à razão, repugnamente à  natureza de Deus e não segundo uma interpretação homogênea da Escritura.   
  
  
 (2). A teoria desaprovada. 
  
  A. Esta teoria não provê satisfação real da justiça de Deus, ou  ela envolve a Deus na injustiça de punir aqueles para quem a justiça  foi satisfeita. Eis-aqui um dilema e cada advogado de uma expiação geral  escolha a ponta em que se pendure. Uma dessas proposições deve ser  verdadeira.  
  
  A primeira proposição é, provavelmente, a que mais advogados de  uma expiação geral são logicamente forçados a aceitar. Nenhuma dúvida  que os mais deles subscreveriam a declaração que, se tivesse havido só  um pecador para salvar, teria sido necessário a Cristo ter sofrido exata  e identicamente o que Ele padeceu. Diz Boyce: “O que Cristo precisou  fazer por um homem teria sido suficiente para todos” (Abstract of  Theology, pág. 314). Diz Strong: “Cristo não precisaria de sofrer mais,  se todos fossem salvos” (Sytematic Theology, pág. 422).  
  
  Esta noção quanto ao sofrimento de Cristo é totalmente  inconsistente com a justiça. Mil pecadores no inferno, merecendo todos o  mesmo grau de punição, sofrerão mil vezes tanto como sofrerá cada um  deles individualmente. Tomará isto para satisfazer a justiça. Ficará a  justiça satisfeita agora em Cristo por todos os mil, se Cristo sofre  apenas tanto como sofreria um pecador? Em outras palavras, a justiça  exige uma coisa dos pecadores mesmos e outra de Cristo como substituto  deles? É isto exatamente o que a teoria de uma expiação geral envolve.  
  
  A teoria de uma expiação geral não satisfaz a justiça mais do  que a teoria governamental. Na morte de Cristo, segundo a teoria de uma  expiação geral, temos apenas uma exibição cênica da ira de Deus contra o  pecado; então Deus aplica, à vontade, os benefícios disto a quem  queira. Noutras palavras, em vista do que Cristo fez, Deus relaxa a  justiça rigorosa e salva uma multidão incontável de pecadores que  mereciam  o inferno, para os quais a justiça não foi atualmente  satisfeita. De modo que, em vez de a morte de Cristo proporcionar a Deus  o meio de ser justo e ao mesmo tempo salvar pecadores crentes, O  habilitar a relaxar Sua justiça.  
  
  A única maneira de escapar desta última proposição é considerar  o arrependimento, a fé e a obediência dos que se salvam como  completando o que está faltando na morte de Cristo. Os arminianos podem  dizer isto (contudo alguns deles não consideram arrependimento, fé e  obediência como sendo meritórios na salvação), mas outros não podem sem  render sua crença na salvação como sendo inteiramente da graça de Deus.  
  
  Alguns podem tentar escapar ao dilema estabelecido no primeiro  parágrafo sob esta epígrafe por afirmarem que Cristo sofreu atualmente  pelos pecados de todos os homens e que os perdidos no inferno sofrerão  apenas pelo pecado de incredulidade continuada. Diversas coisas podiam  ser ditas em refutação desta idéia. (1) Deixa o pagão que não ouviu o  Evangelho sem sofrer nada no inferno, porque nenhum homem pode ser  acusado justamente por não crer em um de quem nunca ouviu falar. Romanos  10:14. Que Deus não acusará aqueles que nunca ouvem o Evangelho do  pecado de incredulidade está claro em Romanos 2:12, que nos informa que  Deus não julgará pela Lei os que nunca ouviram a Lei. Deus os julgará  somente à luz de suas próprias consciências. Romanos 2:14,15. Alguém  deve pecar contra a luz antes de poder ser justamente punido por  desobediência. Daí, se ninguém sofrerá no inferno por qualquer pecado,  exceto o pecado de incredulidade continuada, os que nunca ouvem o  Evangelho nada terão por que pagar. (2) Todo crente era culpado do  pecado de incredulidade desde o tempo de ouvir o Evangelho até ao tempo  de o aceitar. Este pecado de incredulidade, sem dúvida, teve de ser  expiado como qualquer outro pecado. Assim Cristo sofreu pelo pecado de  incredulidade por aqueles que estão salvos. Agora, se Ele morreu por  todos, por um tanto como por outro, o que é necessário se a salvação era  para ser feita possível a todos, então Ele morreu pelo pecado de  incredulidade por todos os homens. Isto deixa a qualquer que for para o  inferno absolutamente sem pecado algum por que sofrer. Se Cristo não  morreu pelo pecado de incredulidade de todos que o cometeram, então Ele  não morreu suficientemente para a salvação de todos. (3) A Bíblia  claramente ensina que os perdidos no inferno sofrerão por todos os seus  pecados. Romanos 2:5,6; 2 Coríntios 5:10; Efésios 5:5,6; 2 Pedro 2:9-13;  A. S. V.; Apocalipse 20:13.  
  
  B. Esta teoria é fútil, naquilo em que ela não é necessária  como uma base de qualquer fato escriturístico, dever, ou resultado, ou  como prova de qualquer verdade revelada.  
  
  (a). Não se discute que Deus estava sob a obrigação de prover  redenção por todos os homens, sem exceção, porque um argumento tal  excluiria a graça da expiação. A graça quer dizer não somente favor  imerecido senão também favor não devido. Graça e obrigação excluem-se  mutuamente. Ainda mais, se Deus foi obrigado a prover redenção por todo  filho de Adão, da mesma maneira Ele seria obrigado a dar a cada um a  habilidade de receber essa redenção pela fé. Isto Deus não fez, segundo  mostramos no prévio capítulo sobre a eleição (*).  
  
  (b). Ademais, não era necessário que Deus provesse uma expiação  geral para fazer os homens responsáveis pela rejeição de Cristo. Os  homens rejeitam a Cristo, não por causa de uma falta de expiação para  eles, mas por causa de amarem as trevas mais do que a luz (João 3:19);  por causa de não quererem que Ele reine sobre eles (Lucas 19:14).  
  
  (c). Nem foi necessário que Cristo morresse por toda a raça  adâmica para que Deus fizesse sincera Sua chamada geral. É da noção de  alguns que a chamada geral de Deus requer de todos os homens crerem que  Cristo morreu por eles. Isto não é verdade. Os vinte e oito capítulos de  Atos, “ainda que repletos de informações sobre relações apostólicas com  as almas, não arquivam precedente algum que seja desse discurso agora  popular aos inconvertidos – Cristo morreu por vós (Sanger, Os  Redimidos)”.  “Todos os homens são chamados na Escritura a crerem no  Evangelho, mas não há um caso na Escritura em que os homens são  intimados a crer que Cristo morreu por eles.” (Carson, “The Doctrine of  the Atonement and Other Treatises”, Pag. 146).  
  
  A ilustração seguinte de “O sangue de Jesus”, por William Reid,  pág. 37, também mostra a compatibilidade de uma expiação limitada e os  convites gerais do Evangelho. Após descrever passageiros tomando um trem  na Estação de Aberdeen, Estrada de Ferro Nordeste, diz ele:  
  
  “Nem eu vi qualquer um recusando-se entrar porque o carro  proveu só um número limitado de seguir por aquele trem. Podia haver  oitenta mil habitantes na cidade e nos seus arredores, mas não haver  ainda assim alguém que falasse disso como absurdo prover acomodação só  para umas vinte pessoas porque, praticamente, descobriu-se ser  suficiente...” 
  
  “Deus, na sua infinita sabedoria, fez provisão de uma espécie  semelhante para todo o nosso mundo perdido. Proveu um trem de graça para  levar ao céu tantos dos seus habitantes, a grande metrópole do  universo, quantos estão dispostos a se aproveitarem das provisões  graciosas”.  
  
  Supondo que Deus tivesse esperado até o fim antes de mandar  Cristo morrer (como Ele podia ter feito só tão facilmente como Ele  esperou quatro mil anos depois que o pecado entrou no mundo antes de  mandar a Cristo), e o tivesse então mandado para morrer por todos que  tivessem crido. Teria então sido manifesto que uma expiação limitada não  oferece obstáculo a salvação de qualquer homem que não existe já por  causa da perversidade da natureza do homem. Está claro, seguramente, a  toda pessoa pensante, que a ocorrência da morte de Cristo há dois mil  anos não altera o caso, porque Ele morreu por todos que crerem, estes  tendo sido conhecidos de Deus desde a eternidade tão completamente como  serão no fim.  
  
  Insinuamos que Deus está tanto sob a obrigação de remover a  inabilidade espiritual do homem para vir a Cristo como está para  prover-lhe uma expiação. Em outras palavras, a perversidade da natureza  do homem faz sua salvação tão impossível de um ponto de vista como faz a  ausência de uma expiação.  
  
  Mas alguns podem abrir uma exceção a isto, dizendo que,  enquanto a perversidade de natureza do homem cria uma impossibilidade  moral, a falta de expiação fornece uma impossibilidade natural.  Respondemos que isto está correto, mas a impossibilidade moral é  primária e é absoluta; portanto, a impossibilidade natural não pode  fornecer nenhum entrave mais.  
  
  (d). Também não é necessário uma expiação geral à manifestação  do amor de Deus. A provisão de uma expiação sem efeito não revelaria  nada senão um amor cego e fútil. É desta espécie de amor de Deus? Não,  na verdade, o amor de Deus é inteligente, intencionado, soberano,  efetivo. O amor redentivo de Deus está totalmente fundado dentro dEle  mesmo e não procede de modo algum de os objetos dele serem amorosos, nem  porque mereçam qualquer coisa boa de Suas mãos; logo, este amor está  inteiramente sujeito à Sua soberana vontade (Deuteronômio 10:15 ;  Romanos 9:13). Dispensar Seu favor a objetos eleitos é do seu prazer  gracioso, imanente e particular.  
  
  (e). Uma expiação universal, finalmente, não é necessária para a  manutenção do zelo evangelístico e do espírito missionário. Admite-se  livremente que tem havido quem sustentou uma expiação limitada cujo zelo  evangelístico esteve longe do que devera ter sido. Todavia, a falta não  estava nessa doutrina senão na sua falta em ver e crer outras verdades.  Com muitos, incluindo os nobres valdenses e albingenses, bem como  Spurgeon e muitos outros de grande marca, transbordante zelo  evangelístico e forte crença numa expiação limitada, tem morado lado a  lado na mais gloriosa harmonia. De fato, a crença numa expiação  limitada, em razões que aqui não dispomos de espaço para discutir,  deveria fazer homens mais evangelísticos do que a crença numa expiação  geral, guardando-os, entrementes, de excessos dolorosos.  
  
 3. A TEORIA DE UMA EXPIAÇÃO LIMITADA 
  
 (1). A teoria apresentada. 
  
  A teoria de uma expiação limitada sustenta que Cristo morreu  para os eleitos e só para eles; que o valor e desígnio ou aplicação, a  suficiência e a deficiência dela são as mesmas; que Cristo, em nenhum  sentido que seja, morreu por qualquer que perece no inferno. A isto  damos o nosso endosso feliz e incondicional. 
  
 (2). A teoria prova 
  
  A. Argumentos de outros homens. 
  
  “Todos aqueles por quem Cristo deu a sua vida em resgate ou  estão por ela resgatados, ou não estão; que todos não estão resgatados  ou remidos do pecado, da Lei, de Satã e da segunda morte, é evidente ...  Agora, se alguns por quem Cristo deu Sua vida em resgate, não estão  resgatados, então essa absurdidade chocante ... segue ... a saber, que  Cristo está morto em vão, ou que, em última análise, Ele deu Sua vida  como um resgate em vão; pelo que será retamente concluído que Ele não  deu sua vida em resgate por todo homem individualmente” (John Gill, The  Cause of God and Truth, pág. 98).  
  
  “As provas da Escritura assim chamadas de Redenção Universal  dependem de suposição humana, não da simples Palavra. Assim, quanto ao  que concerne à “propiciação pelos pecados de todo mundo”, é-nos dito que  a palavra “mundo” deve significar toda pessoa no mundo. Mas, porque  deve significar isto? Essa é a pergunta sem resposta. A palavra “mundo”  quer dizer muitas coisas diferentes na Palavra de Deus, sobre as quais  vide Crudens Concordance. Só a relação textual é o seu verdadeiro  intérprete. Decretar que ela deve significar isto ou aquilo não é senão  indulgir em prosa temerária e ociosa” (Sanger, The Redeemed, pág. 7).  
  
  “Indubitavelmente, ‘universal’ e ‘redenção’ (aqui usadas como  sinônimos com ‘expiação’: no sentido de ‘agorazo’), onde grandíssima  parte dos homens perece, são tão irreconciliáveis como ‘Romano’ e  ‘Católico’” (John Owen, como citado aprovadamente por C. H. Spurgeon,  Sermões, Vol. 4, pág. 220).  
  
  “Fosse o todo da humanidade igualmente amado de Deus e  promiscuamente remido por Cristo, o cântico que Deus os crentes são  mandados cantar custosamente correria  nestas admiráveis  toadas: “Ao  que nos amou e lavou de nossos pecados no seu próprio sangue e nos fez  reis e sacerdotes para Deus”, etc. (Apocalipse 1:5,6). Um hino de louvor  como este parece proceder, evidentemente, na hipótese de eleição  particular da parte de Deus e de uma redenção limitada da parte de  Cristo, a qual achamos declarada mais explicitamente (Apocalipse 5:9),  onde temos um transcrito desse hino que os espíritos dos justos  aperfeiçoados cantam agora diante do trono e do Cordeiro: Tu foste morto  e nos remiste para Deus pelo Teu sangue de toda a raça e língua e povo e  nação. Donde se diz que os eleitos foram remidos dentre os homens  (Apocalipse. 19:4)” (Augustus M. Toplady, autor de “Rocha dos Séculos”,  no prefácio a Absolute Predestination, por Zanchius).  
  
  “Que Cristo é nossa vida, verdade, paz e justiça – nosso pastor  e advogado, sacrifício e sacerdote, que morreu para a salvação de todos  que cressem e de novo surgiu para sua justificação” (Artigo 7 da  Confissão de Fé adotada em 1.120 pelos valdenses, o grupo mais em  evidência de progenitores batistas. Vide Jones Church History, pag.  276).  
  
  A doutrina da expiação tem sido entendida diferentemente. As  igrejas antigas bem uniformes sustentaram que era particular; isto é,  que Cristo morreu só pelos eleitos e que nos Seus estupendos sofrimentos  “não se teve respeito nem se fez provisão por quaisquer outros da raça  arruinada de Adão” (Benedict, General History of the Baptist  Denomination, pág. 456).  
  
  “Se há qualquer coisa claramente ensinada na Escritura é que o  sacrifício de Cristo foi feito somente para aqueles que forem  eventualmente salvos por ela” (Alexander Carson, The Doctrine of the  Atonement and Other Treaties, pág. 196).  
  
  “Não pode ser que uma alma por quem Ele (Cristo) deu Sua vida e  derramou Seu sangue; cujos pecados Ele levou e cuja maldição Ele  susteve, deva perecer finalmente. Porque, se esse fosse o caso, a divina  justiça, depois de ter cobrado e satisfeito à mão do Abonador,  requereria o principal; em outras palavras, exigiria pagamento em dobro”  (Booth, The Reign of Grace, pág. 235).  
  
  “Pode um Deus de perfeição ética infinita, que com a Sua  própria mão lançou a tremenda carga da culpa do pecador sobre o adorável  Abonador, repudiar os tratos do Seu próprio concerto e sonegar-Lhe a  recompensa comprada pelo custo do Seu preciosíssimo sangue? Dizer assim  equivale e uma contestação à verdade e à justiça de nosso Deus guardador  do pacto”. (Prof. Robert Watts, Sovereignty of God, ajuntando artigos  de Pres. G. W. Northrup, publcados no Standard of Chicago, e as  respostas de Prof. Watts, quais artigos foram escritos pela sugestão de  T. T. Eaton e publicados no Western Recorder enquanto Eaton foi editor).   
  
  “Eles (certos teólogos) crêem que Judas foi expiado tanto como  Pedro; crêem que os precitos no inferno foram tão objetos da satisfação  de Jesus Cristo como os salvos no céu; e conquanto eles o não digam nos  devidos termos, contudo o devem pensar, porque é uma bela inferência  que, no caso de multidões, Cristo morreu em vão, pois morreu por todos  eles, dizem; e ainda tão ineficiente foi Sua morte por eles que,  conquanto morreu, eles são condenados subseqüentemente. Agora, uma tal  expiação eu a desprezo, rejeitou-a. Posso ser chamado antinominiano ou  calvinista por pregar uma expiação limitada; mas eu antes crera numa  expiação limitada que é eficaz para todos os homens para quem foi  intencionada do que uma expiação universal ineficaz, salvo quando com  ela se ajuntou a vontade do homem.” (Spurgeon, Sermons, Vol. 4, pág.  218).  
  
  “Creio que a eleição elegeu os eleitos, que a presciência os  pré-conheceu; que foram “ordenados para a vida eterna” e “pré-ordenados  para serem conforme a imagem do Seu Filho”; que a redenção os remiu; que  a regeneração os regenerou; que a santificação os santifica; que a  justificação os justifica; que a conservação os conserva; que a  providência provê por eles e assim por diante até à glorificação. Daí,  aqueles a serem glorificados são aqueles pré-conhecidos e remidos. Não  creio numa redenção geral e numa glorificação especial” (J. B. Moody,  Sin, Salvation, and Service), pág. 40).  
  
  “Eis aqui os cinco pontos do calvinismo: eleição incondicional  ou predestinação, expiação limitada ou redenção particular, depravação  total necessitando graça proveniente chamada eficaz ou graça  irresistível, conservação e perseverança dos santos. E o escritor não  hesita em subscrever todos os cinco pontos” (C. D. Cole, Definitions of  Doctrines, Vol. 1, pag. 131).  
  
  O autor dá um entusiástico “Amém” a todos destes. Ele não se  envergonha de se achar na sua companhia como na de muitos outros  eminentes santos de Deus que sustentaram os mesmos sentimentos. Ele está  pronto a achar-se contendendo pela fé histórica dos batistas, a fé das  antigas igrejas; a fé dos valdenses, “essas eminentes e honradas  testemunhas da verdade durante o longo período em que a igreja e o mundo  foram assaltados por torpe erro e imoralidade” (Rice, Deus Soberano e o  Homem Livre).  
  
  B. Argumento da razão 
  
  É a única teoria que faz a morte de Cristo verdadeiramente  substitucionária. Se Cristo morreu por um homem tanto como por outro, o  que Ele deve ter feito se Ele fez a salvação possível a todos os homens,  então Ele morreu por alguns que sofrerão eternamente no inferno. Sua  morte, portanto, não foi verdadeiramente substitucionária.  
  
  (b). É a única teoria compatível com a justiça de Deus. A  justiça de Deus exigiu que Cristo pagasse a penalidade exata dos pecados  daqueles que se salvam. Sua justiça (de Deus) também exige que Ele  salve todos cuja penalidade Cristo pagou. Isto é uma proposição  axiomática. É também uma proposição escriturística. Qual é o significado  de 1 João 1:9 em estabelecer que Deus é “justo para perdoar os nossos  pecados”, se não quer dizer que o perdão de nossos pecados é um ato de  justiça para com Cristo? A teoria de uma expiação limitada sozinha deixa  qualquer razão justa para a condenação de pecadores impenitentes. Se  fez-se uma expiação geral, então não há justiça em mandar qualquer  pecador para o inferno. Se for suficiente para todos os homens, então  exige quitação para todos. Desde que a expiação foi exigida como uma  satisfação à justiça de Deus, sua eficiência deve igualizar sua  suficiência. A mesma justiça que requer a penalidade do pecado seja  paga, assim tão enfaticamente requer que o pecado seja libertado quando o  pagamento se tenha feito. Não há absolutamente fundamento na Escritura  ou na razão para se fazer uma distinção entre a expiação e a redenção ou  reconciliação, quanto ao seu alcance ou valor. Expiação, redenção e  reconciliação, todas se aplicam à base objetiva do perdão e todas por  igual se aplicam ao perdão atual.  
  
  (c). É a única teoria que dá à morte de Cristo qualquer valor  argumentativo em provar a segurança do crente. A seguinte afirmação será  reconhecida, sem dúvida, como um forte argumento da segurança do crente  por todos que crêem essa doutrina:  
  
  “Cristo, na Sua morte sobre a cruz, sofreu por todos dos  pecados de todo crente. Se o crente devera ir para o inferno, ele  sofreria pelos mesmos pecados pelos quais Cristo sofreu. Crente e Cristo  estariam então pagando pelos mesmos pecados, e Deus, ao punir dois  homens pelos pecados de um, seria o tirano mais injusto do universo.  Pereça o pensamento! O juiz de toda a terra deve fazer justiça” 
  
  Mas este argumento não tem força se Cristo morreu por todos,  que tanto um como outro, que Ele deve ter feito se fez a salvação  possível para todos, removendo todos os obstáculos do caminho de sua  salvação. Ademais, segundo este argumento e também segundo a verdade e a  lógica, todos aqueles que afirmam que Cristo sofreu a penalidade da Lei  por todo homem fazem Deus “o tirano mais injusto do universo”.  
  
  C. Argumentos da Escritura 
  
  (a) Isaías 53:11. Nesta passagem, o profeta, ao falar do  sacrifício de Cristo, diz que Deus “verá o trabalho da sua alma e ficará  satisfeito”.  Tomamos isto para significar que as justas exigências de  Deus, a penalidade da Lei transgredida, foram satisfeitas na morte de  Cristo. Mas, por quem? Se por todo o filho de Adão, então Deus não pode  com justiça condenar qualquer deles. A justiça satisfeita não pode  exigir nada mais. Se o leitor está pensando de argüir que o perdido no  inferno sofrerá, não pelos seus pecados em geral senão somente pelos  pecados de rejeitar a Cristo, nós o devolvemos à nossa discussão da  teoria de uma expiação sob “(2). A teoria desaprovada”.  
  
  Mais ainda, esta mesma passagem representa a Deus como dizendo:  “Pelo seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos:  porque as suas iniqüidades levará sobre Si”.  Isto ensina como Cristo  justifica os homens, isto é, levando suas iniqüidades. E notai que esta  justificação não é feita para depender de qualquer outra coisa mais. Se  Cristo tivesse que levar as iniqüidades dos homens para justifica-los,  então segue, como o dia à noite, que aqueles cujas iniqüidades Ele levou  devem receber justificação. Por aceitar esta satisfação às mãos de  Cristo, Deus põe-se a Si mesmo sob a obrigação a Cristo (não ao pecador)  de comunicar justificação a cada um por quem a satisfação se faz, a  qual Ele faz pela operação do arrependimento e da fé no coração.  
  
  (b). João 15:13: “Ninguém tem maior amor do que este, de dar  alguém a sua vida pelos seus amigos”. Se Cristo depôs Sua vida por todo  homem sem exceção, então Ele tem o maior amor por todo homem; e,  portanto, ama os que perecem no inferno tanto como aqueles a quem Ele  salva. Podia Cristo porventura estar satisfeito com alguns dos objetivos  do Seu maior amor no inferno?  
  
  Mais ainda, se fosse verdade que Cristo ama aqueles que perecem  tanto como os que se salvam, teriam de atribuir nossa salvação a nós  mesmos antes ao amor de Cristo.  
  
  (c). Romanos 8:32. “O que não poupou Seu próprio Filho, mas O  entregou por todos nós, como não nos dará com Ele também todas as  coisas?” Esta passagem argue que o amor dom de Deus, o Seu Filho,  garante todos os dons menores. Daí se segue que Deus entregou Seu Filho a  ninguém exceto aqueles a quem Ele livremente da todas as outras bênçãos  espirituais, isto é, aqueles que crêem. Vide Efésios 1:3.  
  
  (d). Romanos 8:33,34. Estes versos dizem-nos que acusação ou  condenação não podem ser trazidos contra os eleitos; que Deus não os  acusará, porque é Ele que justifica e que Cristo não condenará, porque  por eles morreu. Esta passagem estaria privada de toda a força lógica se  Cristo tivesse morrido por qualquer que Ele algum dia condenará em  juízo. Daí Ele não morreu por ninguém exceto aqueles que escapam ao  juízo.  
  
  (e). 2 Coríntios 5:14 “Porque o amor de Cristo nos constrange  que assim julgamos, que um morreu por todos, logo todos morreram”. Eis  aqui a inegável asserção que todos por quem Cristo morreu, morreram  representativamente nEle. Daí a morte não tem poder sobre eles e nenhum  deles a sofrerá, mas todos receberão a justificação e a vida eterna pela  fé. Ao comentar as três últimas palavras desta passagem, diz A. T.  Robertson: “Conclusão lógica ... o um morreu pelo todo e assim o todo  morreu quando ele morreu. TODA A MORTE ESPIRITUAL POSSÍVEL PARA OS A  QUEM CRISTO MORREU” (Ênfase nosso – Word Pictures in the New Testament).  Não deixe de notar o uso de “todo” nesta passagem.  
  
  (f). 2 Coríntios 5:19 “Deus estava em Cristo, reconciliado  (Katalasso) o mundo consigo mesmo, NÃO LHES IMPUTANDO OS SEUS PECADOS  ...” Isto ensina o que Deus estava fazendo na morte de Cristo e como Ele  o estava fazendo: Ele estava reconciliando os homens consigo e Ele o  estava fazendo por lançar os seus pecados sobre Cristo e, portanto, não  imputando, reconhecendo e acusando aqueles por quem Cristo morreu.  Cristo, na Sua morte, executou completa reconciliação objetiva para os  objetivos de Sua morte, o que necessita serem eles trazidos à  experiência da reconciliação subjetiva. A única conclusão correta disso é  que Cristo morreu por aqueles e só aqueles que recebem reconciliação  eventualmente. Note o uso da palavra “mundo” nesta passagem.  
  
  (g). João 10:15; Atos 20:28; Efésios 5:25. Nestas passagens se  diz ter Cristo comprado a igreja, ter-Se dado por ela, ter dado Sua vida  pelas ovelhas. “Sei que termos universais estão algumas vezes ligados  nas Escrituras com a expiação; mas, se os mesmos são para ser  interpretados no seu sentido mais lato, por que os escritores sagrados  deveriam ter empregado apenas o restritivo? Os termos universais ...  podem ser harmonizados prontamente com os restritivos, mas homem algum  pode fazer o restritivo harmonizar-se com o ilimitado” Parks, The Five  Points of Calvinism) 
  
 (3). As Escrituras explicadas 
  
  Tomamos aqui as passagens tomadas por alguns como ensinando a expiação geral.  
  
  A. João 3:16; 1 João 2:2. Em ambas as passagens a palavra  “mundo” é usada em conexão com a obra salvadora de Cristo. Uma fala de  Deus como amando o “mundo” e a outra fala de Cristo como sendo uma  propiciação pelos pecados de todo o “mundo”.  
  
   Contra a interpretação dada a essas passagens pelos advogados de uma expiação geral, respondemos: 
  
  (a). Um amor que causasse Deus dar a Cristo para morrer em  lugar de cada homem individual da raça de Adão também causaria Deus  salvar a todos (* ). Por que deveria Deus discriminar entre os homens em  salva-los se Ele os amou a todos com o amor de todos os amores? Vide  Romanos 8:32.  
  
  (b). Não haveria expressão real de amor em mandar um salvador a  morrer vãmente pelos homens. Que espécie de amor é aquele que realiza  um ato que não pode beneficiar realmente? Haveria qualquer mor real  mostrado por um pai em comprar belo quadro para um filho que está  totalmente cego?  
  
  (c). Deus não ama todos os homens sem exceção está provado,  como já citado, pela declaração: “Amei a Jacó mas aborreci Esaú”  (Romanos 9:13).  
  
  (d). A palavra “mundo”, finalmente, de nenhum modo alude a  todos os homens sem exceção em cada caso da Escritura e, portanto, fica  para ser provado que ela tem essa acepção nessas passagens. “Mundo” é  usado de incrédulos em distinção de crentes (João 7:7, 12:31, 14:17,  15:18,19, 16:20, 17:14; I Coríntios 4:9, 11:32; Efésios 2:2; Hebreus  11:7; 1 João 3:1; 3:13; 5:19. Está usada para gentios em distinção de  judeus (Romanos 11:12,15). Está para a generalidade do povo conhecido  (João 12:19). Cremos que a palavra alude, nas duas passagens sob  consideração, não a todos os homens sem exceção, mas a todos os homens  sem distinção; isto é, a homens de todas as nações, tribos e línguas (da  qual temos uma paralela em Apocalipse 7:9); revelando que Cristo não  morreu só para os judeus senão para os gentios também, mesmo até aos  confins da terra. A razão lógica do emprego desta palavra neste sentido é  dada por John Gill, como segue: “Foi uma controvérsia agitada entre os  doutores judeus se, quando o Messias vier, os gentios, o mundo, terão  qualquer benefício por ele; a maioria estava excedendo de muito na  negativa da resposta e determinou que não teriam ... que os juízos mais  severos e tremendas calamidades lhes aconteceriam; sim, que seriam  lançados no inferno no lugar dos israelitas. Esta noção recebeu a  oposição de João Batista, Cristo e seus apóstolos e é a verdadeira razão  do uso desta frase nas passagens que falam da redenção de Cristo” (The  Cause of God and Truth, pág. 66) (* ). Como um judeu típico Nicodemos  pensou que Deus não amava a ninguém fora dos judeus, mas nosso Senhor  lhe disse que Deus de tal maneira amou o mundo (gentios bem como  judeus), que lhe deu o Seu Filho unigênito, para que quem crer nEle  (gentios ou judeus) não pereça, mas tenha a vida eterna” (Cole,  Definitions of Doctrines, Vol. 1, pág. 120). Notai outra vez o uso de  “mundo” em II Coríntios 5:19, onde o “mundo” por quem Cristo morreu foi  potencialmente reconciliado por Sua morte, não é para ter imputado seus  pecados. Noutras palavras, deve receber o perdão que Ele lhe comprou.  
  
  B. 1 Timóteo 2:6; Tito 2:11. A palavra “todos” aparece em ambas  estas passagens, mas esta palavra é usada na Escritura numa variedade  de sentidos e de nenhum modo é usada na Escritura numa variedade de  sentidos e de nenhum modo é sempre usada no absoluto. Notai uns poucos  de seus usos limitados: (1). Um grande número (Mateus 3:5; 4:24; 14:35).  (2). Todas espécies e classes (Mateus 23:47; Lucas 2:10; João 12:32;  Atos 13:10; Romanos 1:29; 15:14; II Tessalonicenses 2:9; 1 Timóteo  6:10). (3). Tudo com exceções manifestas (Marcos 11:30; Atos 2:46-47; 1  Coríntios 6:18; 8:32; 9:22; 10:33; Tito 1:15). (4). Todos ou cada um de  uma certa classe (Lucas 3:21; Romanos 5:18, última parte; 1 Coríntios  8:2 comparado com os vs. 7 e 11; 15:22, última parte; 1 Coríntios 8:2  comparado com os vs. 7 e 11; 15:22, última parte; Colossenses 1:28).  Assim podemos ver facilmente que o significado de “paz” deve ser  determinado segundo o contexto e o ensino da Escritura em geral.  Portanto, em vista do que se tem dito sobre as inferências  inescriturísticas da idéia que Cristo morreu por todos os homens sem  exceção, afirmamos que “paz”, nas passagens pré-citadas, é usada no  segundo sentido acima listados e que o significado é homens de “toda a  nação, de todas as tribos e povos e línguas”, da qual achamos uma  paralela descrita em Apocalipse 7:9. O “todos” pelo qual Cristo morreu é  exatamente cotérmino com o “todos” que Ele atrai a Si (João 12:32) (*).   
  
 “Está observado (I Timóteo 2:6) que se diz que Cristo dar-se em  resgate por todos, o que está entendido de todos os homens em  particular; mas devera ser observado também que este resgate é  “antilutron huper panton”, um resgate vicário, substituído no lugar de  todos, pelo que, um preço inteiro foi pago por todos e satisfação  plenária feita pelos pecados de todos, o que não pode ser verdadeiro de  todo homem individual, porque então nem um homem podia ser condenado e  punido justamente ... É melhor entender-se por todos os homens alguns de  toda espécie ...” (John Gill, Cause of God and Truth, pag. 51).  
  
  C. Hebreus 2:9. Não há aqui palavra para “homem” no grego. A  expressão é simplesmente “todos” ou “cada um”. No grego: “pás”. E o  contexto supre explanação quanto àqueles incluídos nesta passagem, a  saber, todo filho que Ele traz à glória. Assim, “todos” é usado aqui no  quarto sentido listado acima, isto é, todo ou cada um de uma certa  classe.  
  
  D. I Timóteo 4:10. A mera provisão de salvação por todos os  homens não faz de Deus seu Salvador qualquer coisa mais do que  salva-los. Isto não satisfaz o significado de salvador se é aplicado à  salvação da alma. No grego é “soter”, que quer dizer “livrador” e  “conservador”, bem como salvador. Estamos persuadidos que este é o  significado aqui. Deus livra a todos os homens (tanto quanto Lhe apraz  fazer assim) de perigos tanto visíveis como invisíveis e os conserva em  suas vidas. É assim que Ele exibe “as riquezas de Sua bondade e  paciência e longanimidade” que deveriam levar os homens ao  arrependimento (Romanos 2:4). O que Deus faz por todos os homens em  geral, Ele faz de uma maneira especial pelos crentes. 
  
  E. II Pedro 2:1. A palavra desta passagem para o Senhor não é  “Kurios”, a qual é usada tanto de Deus ou de Cristo; mas é “despotes”, a  qual nunca se usa de Cristo. Daí ser a referência a Deus. Pedro  escreveu especialmente aos judeus. Sem duvida os falsos mestres também  eram judeus. E em Deuteronômio 32:6 explica como o Senhor os comprara.  Aqui se diz ter Deus comprado toda a nação judaica porque Ele os livrou  do Egito.  
  
    
Autor: Thomas Paul Simmons, D.Th.
     Digitalização: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos,      2004 
     Revisão: Charity D. Gardner e Calvin G Gardner, 05/04