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5 de out. de 2010

Não há salvação pelas obras, porque não há bem naquilo que o homem obra.


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Por Mizael Reis 


O que a mente alienada de Deus, mancomunada com as trevas, de mãos dadas com o maligno jamais entenderá, é que a salvação em e por Jesus Cristo, se dá única, exclusiva e efetivamente pela graça e por ela somente. A graça de Deus não age na mesa da barganha nem na peita do “uma mão lava a outra”. Não espera ser correspondida pelo seu objeto de alcance, pois se assim o fosse tal graça reduzir-se-ia banalmente a uma mera recompensa, porém, uma recompensa inalcançável, inacessível, pois o objeto que por ela obrasse, a saber, o homem, jamais a alcançaria, posto que tal homem sem Deus, jamais moverá sequer um passo em sua direção, isso porque o veredicto dado pela Escritura Sagrada o desfavorece, neste julgamento do qual Deus é o supremo Juiz e aferidor da sentença:



“Deus olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não, nem sequer um.” (Sl 53.2,3)

Somos salvos pela graça, porque pelo mérito seríamos condenados. Somos salvos pela graça, porque falta-nos a justiça necessária para entrarmos nos “santo dos santos” sem sermos fulminados. O homem sem Deus é ímpio, pois anseia tenazmente vaguear na senda incerta que o mundo o enclausurou com seus pés mancos, ouvidos moucos, visão turva e coração irremediavelmente entenebrecido pelo pecado que guerreia contra a paz de Deus, aprisionando-o no neste pecado, à mercê de suas insólitas consequencias. A ordem do Senhor para os que desejam agradá-lo é “Aparta-te do mal e faze o bem; e terás morada para sempre” (Sl 37.3). Porém, se tratando dos que querem agradá-lo sem responsabilizá-lo pela força e vida, tal como a seiva da raiz é responsável pelo fruto dos ramos de uma árvore, fracassarão, pois “Na verdade que não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque.” (Ec 7.20)

O ímpio não pode laborar a favor da verdade porque “Com as suas línguas tratam enganosamente” (Rm 3.13). Não podem com seu fôlego louvar ao Senhor porque sua “boca está cheia de maldição e amargura” (Rm 3.14).Não conseguem trilhar sua lida em busca do caminho que os leva á vida Eterna porque “Os seus pés são ligeiros para derramar sangue, em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz..” (Rm 3.15).Não hesitam em praticar a maldade porque “Não há temor de Deus diante de seus olhos.” (Rm 3.18)

Por essa razão, a salvação não pode estar sob ombros humanos, a depender de seu engajamento para satisfazer as exigências salvíficas, porque não há, e jamais haverá sequer uma partícula de luz no recôndito do seu ser a brilhar, deste para Deus, para que por essa suposta e utópica boa ação, seja por Deus conquistado e recebido para salvação porque "Quem do imundo tirará o puro? Ninguém." (Jó 14.4)Analisemos a verdade da Escritura e o que por meio dela Deus nos revela. Se “do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias”(Mt 15.19) e “uma vez que tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce.” (Tg 3.12), como então seria possível a essa vontade, submetida a uma força maior e antecessora que a controla, trilhar autonomamente, os retos caminhos de Deus? Se o coração do homem é fonte de toda sorte de pecados e se de uma fonte apenas, não seja possível jorrar simultaneamente uma torrente de água doce e outra amarga, então não há nada que esse homem faça para que por meio de méritos próprios se faça merecedor de Deus, praticando um suposto bem o qual se acha enganosamente capaz de fazer, isso porque o homem sem Deus é homem perdido, irreconciliável, destinado a condenação. 
Certamente, ante a essa exposição radical e radicalmente bíblica, alguns que são simpatizantes a salvação que segundo acreditam, se dá sinergicamente entre Deus e homem, me dirão que há um justiça no homem sim, embora inerte, porém a espreita, a fim de que ladeada da força de Deus, motivando este Deus a agir pela a ação primeira daquele, ajam juntos para benefício da salvação do homem, mas “ Como, pois, seria justo o homem para com Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher?" (Jó 25.4) Ou ainda, que homem, que por sua própria capacidade “poderá dizer: Purifiquei o meu coração, limpo estou de meu pecado?” (Pv 20.9). Nenhum homem pode ir contra sua própria natureza dantes boa, agora caída em sua própria estultícia porque “Deus fez ao homem reto, porém eles buscaram muitas astúcias.” (Ec 7.29) A Escritura Sagrada é a luz que vai adiante de nós, alumiando o caminho pela qual peregrinamos, e por meio dela, Deus desnuda-nos e mostra-nos quem de fato somos, e o que somos sem Deus, não agrada aos ouvidos do homem sem Deus.
Enquanto da Escritura a voz de Deus estrondeia a composição de nossa débil natureza, o homem sem Deus busca iludir-se ostentando uma força que não tem isso porque “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (jr 17.9). Ao Olhar Deus dos céus a vida dos homens na terra, ele sentencia: “Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um” (Sl 14.3).Se Deus, ao observar nossa frenética vida existencial, que gira em torno dos desejos que circundam o nosso umbigo, diz que ao homem lhe é impossível fazer o bem por si só, como se encorajam alguns a dizer que nos passos pelos quais se consuma a salvação, cabe o homem dar o primeiro passo a fim de que Deus, por meio de uma ação correspondente de honra ao mérito humano, responda-o dando o segundo passo? Que graça é essa, que espera o passo inicial de alguém e ainda se intitula de graça? Se alguém receber alguma coisa por merecer a isso não devemos chamar de graça, mas sim de soldo ou ainda salário e “o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm 6.23). Se a morte é seu soldo merecido e a graça é dom gratuito ternamente concedido, então a morte é o que o homem merece, embora não receba (digo dos salvos) e graça é o que ele recebe embora não a mereça. 

A pergunta é: Se o homem é pecador e se sua nascente é má, sendo os desejos que dela elevam-se de igual modo corruptos, donde virá o suposto bem que alguns dizem o homem ter? A Escritura diz: “Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão se não há quem pregue? (Rm 10.14). Ou seja, como crerão naquele (porque por si mesmos não podem crer) que pode salvá-los, e como o conhecerão, senão por meio da palavra que apresenta Jesus aos seus corações, bem como acrescenta-lhes a fé necessária para crer nele, ou não “foi o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia?”(At 16.14). Sim de fato foi Ele, isso porque a “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17). A Fé vem, não nasce do coração do homem, vem de quem a tem para concedê-la, ela vem “descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” (Tg 1.17)

O homem sem Deus é tão imundo que se “tu, SENHOR, observares as iniqüidades, Senhor, quem subsistirá?” (Sl 130.3). Se Deus levasse em conta quem o homem é, nem ao menos sería estendido a nós a possibilidade de salvação. A Salvação iniciou-se não por um desejo de Deus em dar ao homem a oportunidade que lhe é de direito, mas sim “Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou,” (Rm 9.23). Os que resistem em se renderem à doutrina bíblica de que Deus é plenamente soberano e soberanamente responsável por tudo que aos homens é acometido, devem compreender que a Salvação é um ato arbitrário de Deus (Resultante de arbítrio pessoal; de ninguém mais além dele), no sentido de que ele não sofreu coerção, nem imposição para levá-la a efeito; Deus não é forçado a salvar para corresponder a alguma coisa que alguém possa ter feito a ele, pois “quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado?” (Rm 11.35) ou como para cumprir um roteiro de final feliz que alguém possa ter escrito para que assim o fosse. Pois então se Deus quisesse julgar-nos por aquilo que somos, nós aqui não estaríamos por isso o rogamos a que “não entres em juízo com o teu servo, porque à tua vista não se achará justo nenhum vivente” (Sl 143.2). E se assim não quisesse agir, alguns inconsequentes entre os poupados, jamais estariam agora o indagando dizendo “Que fazes? ou a tua obra: Não tens mãos?” (Is 45.9)
Isso não me assombra, pois não é outra coisa, senão a medida dos homens no cabal cumprimento das profecias de Deus. Não há sequer uma ínfima possibilidade de o homem ser bom levando sua salvação a seu termo e não há justificativas plausíveis para dizer que ele o seja ou possa vir a ser autonomamente, face ao mal do qual ele, o homem, está dolosamente envolvido jurídica e soberanamente responsabilizado por Deus. Desde a mais tenra idade, ou ainda, desde o início do seu “vir a ser” ele é mal, pois “Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras”. (SL 58.3). 

Muitos são os que dizem que Deus, motivado por sua livre escolha de nos amar nos poupou do furor de sua ira, que justamente nos lançaria no inferno, onde a total separação com Deus imperaria eternamente. Somos alvos de sua infinita graça, de seu amor unilateral que jamais dependeu ou dependerá de seu objeto, de igual modo afirmam. Bom, então analisemos isso às últimas consequências. Se somos alvos de sua graça, o que de fato nós somos, então caso Deus optasse por agir de forma justa e não graciosa conosco, (o que ele fará com alguns), não poderíamos reprová-lo, nem argui-lo, pois estaria punindo-nos pelos erros que segundo nos constam, somos culpados. O que é culpa, senão o que Deus imputa em nos por sermos pecadores, e o que é graça senão a ação voluntária de Deus, em que, ao invés de permitir que sejamos ovelhas obstinadamente desgarradas, esse Deus, por si só e para si só, restitui-nos ao seu aprisco, buscando-nos quando não queríamos voltar, amando-nos quando o aborrecíamos, se entregando por nós, quando sequer beleza víamos nele para que o desejássemos? (Is 53.5) Sem Deus a nossa escolha seria o pecado, nada além de nos sujarmos no lamaçal do pecado“Porque o ímpio gloria-se do desejo da sua alma; bendiz ao avarento, e renuncia ao SENHOR." (Sl 10.3)

Se o homem nasce mal, isso significa que impossivelmente ele se tornará em algo além daquilo que ele inerentemente o é. Se caso houvesse no homem a capacidade de pelos seus próprios logros ser bom ou mau, tal ênfase que lhe é dada pela Bíblia, ao dizer que o homem é pecador seria incoerente, se caso lhe fosse possível ser um ou outro, bastando-lhe apenas correr atrás do prejuízo; mas isso, Israel bem que tentou. Com mãos sujas de sangue e templo profanado pela idolatria, Israel, pôs-se a tentar cumprir os mandamentos de Deus sem Deus. Mas o Eterno chamou o profeta e a seu povo por meio dele o exortou:

“Porventura pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Então podereis vós fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal.”(Jr 13.23)
Portanto, salvação não pode acontecer pelas obras porque não há obras que lhe sejam boas, quando produzidas estritamente pela alçada humana.

Ainda alguém poderá perguntar: Mas por qual motivo faz-se necessário dizer tão enfaticamente que o homem é pecador? Além do fato de julgar tal proclamação relevante, pela razão de constarem tais declarações como minas na Escritura Sagrada, somente assim nós compreenderemos o quanto Deus se proclama como Soberano em nossa salvação. 

Somente assim entenderemos o Senhor Jesus a nos dizer que “sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15.5). Entenderemos Paulo quando diz que “Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus,” (2 Co 3.5), e assim daremos toda honra à Deus e sua justiça por estarmos onde estamos, nos lugares celestiais em Cristo Jesus, restaurados ao reino do filho do seu amor, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo.

Finalmente, assim, somente assim subiremos humildemente “ao templo”, não a esbanjarmos uma louca auto-justiça diante do Eterno, mas sim batendo a mão sobre ao peito, ao menear de nossa cabeça, certificaremos o quão indignos somos de seus favores, e assim declararemos, no grito de um suplicante pecador: 
“O Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lc 18.13)
Graça e Paz
Mizael Reis

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