É uma loucura adiar o desenvolvimento da salvação até o cair da tarde, até o pôr do sol. "A noite vem, quando ninguém pode trabalhar. " (João 9:4).
Um marinheiro seria muito imprudente se permanecesse ancorado quando o navio está equipado, com as máquinas com capacidade, vento favorável, e o mar calmo, porém ao chegar a tempestade e o navio começar a se encher de água, então se decidisse a içar velas para a viagem. Esta é a condição daquele que negligencia a saúde e o vigor, e quando a idade avançada chega e sua máquina estiver já arruinada, então ele começa a pensar na sua viagem em direção ao céu.
E muito questionável se Deus irá aceitar o arrependimento dele quando já é tão tarde. Ele chama para os primeiros frutos, e achamos que podemos oferecer-Lhe só o restolho? Este não foi o menor dos motivos pelos quais Deus rejeitou a oferta de Caim, pois aquela oferta foi feita com muito tempo de atraso. "E aconteceu que ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor " (Gen. 4:3), ou, como no original que é mais enfático: "depois de muitos dias. " Parece que já estava estragada quando foi trazida. Não seria indigno os homens darem ao diabo seu vigor e suas forças e trazerem diante do altar de Deus seus ossos velhos e sem nenhum vigor? É verdade que Deus pode mostrar Sua misericórdia no final, contudo isso pode ser um risco perigoso. O pecador, na idade avançada, dorme entre a morte e o diabo como Pedro dormiu entre os dois soldados.
Até chegar a enfermidade. Seria muito imprudente que, aquele que se prepara para uma longa jornada colocasse a bagagem sobre o cavalo mais fraco. Não seria imprudência colocar a bagagem pesada do arrependimento sobre si quando você está tão fraco por causa da enfermidade? Quando as mãos vacilam, os lábios tremem, as forças diminuem, e o coração desfalece? Possivelmente você não sofrerá enfermidades, possivelmente não terá o uso de seus sentidos. É possível que Deus negue Sua graça a você e então onde estará seu arrependimento? É provável que aquele que se esquece de Deus em tempos de saúde, Deus Se esqueça dele em tempos de enfermidade.
Ele reprova aqueles que começam a trabalhar, mas não desenvolvem sua salvação. Não basta ter um bom começo. Alguns há que, como Jeú, atiram-se com tudo na religião, mas em pouco tempo seu esmorecimento é bem visível. Nós vivemos no outono. Observamos muitos que uma vez floresceram e deram boas esperanças de conversão, porém suas primaveras transformaram-seem outonos. Pararam de trabalhar para o céu, um sinal de que a motivação era apenas superficial e não vital. "Israel rejeitou o bem". (Os. 8:3). Eles que uma vez foram diligentes e zelosos na oração, que se reuniam santamente, agora deixaram as coisas boas. Eles se cansaram em sua caminhada para o céu.
Eu tenho pensado com freqüência que há muitos que podem ser comparados à imagem de Nabucodonosor em Daniel, capítulo 3. A princípio eles pareciam ter a cabeça de ouro. Eles se assemelhavam a gloriosos professores. Então depois pareciam ser prata, depois cobre, ferro e então barro. Eles por fim se degeneraram no pecado. Assim, como acontece com manhãs ensolaradas, eles rapidamente se tornaram nublados. Epifanios fala dos gnósticos que a princípio pareciam ser um povo santo e rigoroso, todavia posteriormente caíram na libertinagem. Alguns se tornaram tão impudentes que vangloriaram-se de sua apostasia. Foram os tempos quando eles liam e oravam com suas famílias, mas agora agradecem a Deus porque têm se tornado mais sábios e abandonaram essas tarefas. Bem como se você pudesse ouvir o diabo vangloriando-se de que primeiro era um anjo de luz, porém agora se transformou no anjo das trevas. Os apóstatas são os mais ricos despojos que satanás leva consigo. Ele irá dependurá-los no inferno como seu troféu de triunfo. Os tais que deixaram de trabalhar, que leiam este trovejante versículo em II Ped. 2:21: "Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado. " Ao deixar de trabalhar, eles perderam tudo o que haviam feito antes. Eles perderam sua recompensa. Aquele que corre metade da corrida e depois desmaia, perde o prêmio.
E assim eu passarei para o próximo ponto, que é o da exortação, para persuadir a todos, pelas misericórdias de Cristo, a desempenharem este grande trabalho, o desenvolvimento de sua salvação. Amados, eis aqui uma fórmula para chegar ao céu, e eu incluiria a todos nesta fórmula. Reúnam todas as forças de suas almas, não dêem descanso nem a Deus nem a vocês mesmos até que tenham confirmada sua eleição. Cristãos, não deixem de trabalhar. Façam isso imediata, honesta e incessantemente. Persigam a salvação como se fosse uma caçada santa. Outras coisas são assuntos de simples conveniência; salvação é uma questão de necessidade. Ou vocês fazem o trabalho que os cristãos estão fazendo ou vocês farão o trabalho que os demônios estão fazendo. Oh, vocês que ainda nem começaram a desenvolver sua salvação, comecem agora. Religião é uma boa ocupação se for seguida corretamente. Estejam certos de que não existe salvação sem obras. No entanto, aqui eu devo registrar um aviso para evitar enganos.
Cuidado. Embora não sejamos salvos sem obras, ainda não somos salvos por causa de nossas obras. Belarmino disse que merecemos o céu apesar de nossa indignidade. Não, embora sejamos salvos pelo uso dos meios, somos também salvos pela graça. (Ef. 2:5). E necessário arar o solo e semear, mas não podemos esperar nenhuma colheita sem a influência do sol. Assim, é necessário trabalhar, porém não se deve esperar a colheita da salvação sem o brilho do sol da livre graça, "...a vosso pai agradou dar-vos o reino " .(Luc. 12:32). Dar? "Ora", alguns poderiam argumentar, "nós trabalhamos duramente para isso"! Sim, mas o céu é uma doação. Embora alguém trabalhe para alcançá-lo, não deixa de ser a boa vontade de Deus que o concede. Observem ainda que o mérito é de Cristo. Não é o suor do homem, e sim o sangue dEle que salva.
Está claro, amigo, que seu trabalho não o torna merecedor da salvação: "porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar. " (Fil. 2:13). Não é seu esforço e sim o co-esforço de Deus. Assim como o professor guia a mão da criança para que possa escrever, semelhantemente o Espírito de Deus precisa propiciar Sua cooperação, ou nosso esforço torna-se inútil. Como pode então o homem ter mérito pelo trabalho quando é Deus que o ajuda a trabalhar estimulando e operando?
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