Filho meu, dá-Me o teu coração – M. Lloyd-Jones
(Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus). Chegamos agora ao que indubitavelmente é uma das maiores afirmações encontradas em qualquer dos vastos domínios da Escritura Sagrada. Quem quer que chegue a captar um pouquinho que seja do significado das palavras: «Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus», só poderá abordá-las com sentimento de temor e de sua total falta de adequação...
Encontra-se aí, por certo, a própria essência da posição cristã e do ensino cristão. «Bem-aventurados os limpos de coração». E disso que trata o cristianismo, Sua mensagem é essa. . . O Evangelho de Jesus Cristo lida com as coisas do coração: toda a sua ênfase recai no coração. . . Leia nos Evangelhos os relatos do ensino de nosso bendito Senhor, e você verá que de começo a fim Ele fala a respeito do coração. . . Nosso Senhor sem dúvida põe essa ênfase aí por causa dos fariseus. Era a grande acusação que Ele sempre lançava contra eles, por mostrarem interesse pelo exterior dos copos e pratos, enquanto ignoravam o interior. Vistos externamente, estavam sem mancha. Mas por dentro estavam cheios de rapina e iniqüidade. Sua maior preocupação era com o conjunto de atos externos da religião; mas esqueciam os preceitos mais importantes da lei, a saber, o amor a Deus e o amor ao próximo.
Assim é que o Senhor repete aqui Sua grande ênfase neste ponto. O coração ocupa toda a parte central dos Seus ensina¬mentos. . . Ele dá ênfase ao coração, e não à cabeça. . . Ele não elogia os intelectuais; Seu interesse está no coração. . . Devemos sempre evitar dar-nos por satisfeitos com um mero assentimento intelectual à fé ou a dado número de proposições. Devemos fazer isso, mas o terrível perigo é que fiquemos só nisso.
Studies in the Sermon on the Mount, i, p. 106,108,9
Assassinos de Deus no Coração - C. H. Spurgeon
“Olharão para aquele a quem traspassaram” (Zacarias 12.10).
O quebrantamento santo que faz um homem lamentar o seu pecado surge de uma operação divina. O homem caído não pode renovar seu próprio coração. O diamante pode mudar seu próprio estado para tornar-se maleável, ou o granito amolecer a si mesmo, transformando-se em argila? Somente aquele que estendeu os céus e lançou os fundamentos da terra pode formar e reformar o espírito do homem...
Buscando de todo Coração - C. H. Spurgeon
/ On : 14:31/ SOLA SCRIPTURA - Se você crê somente naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no Evangelho que você crê,mas, sim, em si mesmo - AGOSTINHO.
“Bem aventurados os que guardam seus testemunhos, e que os buscam de todo o coração” (Sl 119.2) – The Golden Alphabet
Atribui-se bem-aventurança aos que entesouram os tes temunhos do Senhor; no quê está implícito que eles examinam as Escrituras, que adquirem compreensão delas, que as amam e en tão passam a praticá-las. Primeiro temos que adquirir uma coisa antes de podermos guardá-la. A fim de guardá-la bem, é preciso que nos apoderemos firmemente dela. Não podemos guardar no coração aquilo que não abraçamos sinceramente pelas afeições. A palavra de Deus é sua testemunha ou que comunica o testemunho e importantes verdades que dizem respeito a ele e a nossa relação com ele. Isso devemos desejar conhecer; conhecendo-o, devemos crer nele; crendo-o, devemos amá-lo; e amando-o, devemos retê-lo com firmeza contra todos os que se opuserem. Há uma obser vância doutrinai da palavra quando nos dispomos a morrer em sua defesa, e uma observância prática dela quando realmente vive mos sob seu poder. A verdade revelada é preciosa como diaman tes, e deve ser guardada ou entesourada na memória e no coração como jóias num escrínio, ou como a lei era guardada na arca; isso, contudo, não basta; pois ela se destina ao uso prático, e por isso deve ser guardada ou seguida, como os homens se mantêm no caminho ou seguem uma linha de negócios. Se guardarmos os testemunhos de Deus, eles por sua vez nos guardarão; nos mante rão retos na opinião, confortáveis no espírito, santos na conversa ção e esperançosos na expectativa. Se foram sempre de real valor, e nenhuma pessoa sensata põe isso em dúvida, então são dignos de ser guardados; seu efeito designado não é uma conquista tem porária, mas vem por uma perseverante posse deles: "em os guar dar há grande recompensa".
Somos obrigados a guardar a Palavra de Deus com todo cui dado, porque ela são seus testemunhos. Ele no-los deu, mas ainda são dele. E preciso que os guardemos como um vigilante guarda a casa de seu patrão; como um mordomo administra os bens de seu senhor; como umpastor guarda o rebanho de seu proprietário. Somos obrigados a prestar contas, porquanto o evangelho nos foi confiado, e ai de nós se formos encontrados infiéis. Não podemos combater o bom combate, nem concluir nossa carreira, a menos que guardemos a fé! Com este alvo em vista, o Senhor nos guarda rá; somente aqueles que são guardados pelo poder de Deus, para a salvação, é que serão capazes de guardar seus testemunhos. Por tanto, que bem-aventurança se evidencia e se testifica mediante meticulosa convicção na Palavra de Deus e uma contínua obediência a ela! Deus os tem abençoado, os está abençoando e os abençoará para sempre. A bem-aventurança que Davi visualizou em outros, ele a concretizou em si, pois ele diz no versículo 168: "Tenho guardado teus preceitos e teus testemunhos"; e nos versí culos 54 a 56, ele associa seus cantos jubilosos e suas felizes me mórias a esta mesma observância da lei, e confessa: "E isto eu fiz, porque guardei teus mandamentos." As doutrinas que ensinamos a outros, antes devemos experimentar em nós mesmos.
E que os buscam de todo o coração. Os que guardam os testemunhos do Senhor se asseguram de que vão em busca deles mesmos. Se sua Palavra é preciosa, podemos estar certos de que ele mesmo é ainda mais precioso. O tratamento pessoal com um Deus pessoal é a aspiração de todos quantos se asseguram de que a Palavra do Senhor tenha seu pleno efeito sobre eles. Uma vez tenhamos experimentado realmente o poder do evangelho, é mis ter que busquemos o Deus do evangelho. Nosso sincero clamor será este: "Oh, que eu saiba onde posso encontrá-lo!" Veja o de senvolvimento que essas frases indicam: primeiro, no caminho; então, no transpô-lo; em seguida, descobrindo e guardando o te souro da verdade; e, acima de tudo, ir após o Senhor da maneira como ele preceitua. Note também que, à medida que uma alma avança na graça, mais divinas e espirituais são suas aspirações: o andar externo não satisfaz à alma agraciada, nem mesmo os testemunhos entesourados; no devido tempo, ela se entrega a Deus pessoalmente, e quando, em certa medida, o encontra, ainda o deseja muito mais, e continua a buscá-lo.
Buscar a Deus significa o ardente desejo de ter comunhão com ele de maneira mais íntima, segui-lo mais plenamente, manter a mais perfeita união com sua mente e vontade, promover sua glória e compreender plenamente tudo o que ele é para os corações san tos. O homem abençoado já possui a Deus, e por esse motivo ele o busca. Isso pode parecer contraditório; mas é apenas um paradoxo.
Deus não é buscado genuinamente pelas frias ponderações do cérebro; é preciso que o busquemos com o coração. O amor se manifesta amando; Deus manifesta seu coração no coração de seu povo. E vão esforçarmo-nos em compreendê-lo através da razão; é preciso compreendê-lo através da afeição. O coração, porém, não deve ser dividido entre muitos objetos, se porventura o Se nhor é buscado por nós. Deus é um só, e não o conheceremos até que nosso coração seja um com o dele. Um coração quebrantado não necessita de ser dominado pela angústia, porque nenhum co ração é tão íntegro em sua busca por Deus como o coração que brantado, do qual cada fragmento suspira e clama pelo rosto do grande Pai. E o coração dividido que a doutrina do texto censura, e, por estranho que pareça, na fraseologia bíblica um coração pode estar dividido sem estar quebrantado, e pode estar quebrantado, porém não dividido; e no entanto pode ser quebrantado e estar curado, e nunca pode estar curado antes de ser quebrantado. Quan do nosso coração inteiro busca o Deus santo em Cristo Jesus, então ele se chega para aquele de quem está escrito: "Tantos quantos o tocavam, ficavam perfeitamente curados”.
O que o salmista admira neste versículo ele reivindica no déci mo, onde diz: "De todo meu coração te busquei” Fica tudo bem quando a admiração de uma virtude leva à obtenção da mesma. Os que não crêem na bem-aventurança de buscar o Senhor provavelmente não terão seus corações estimulados para a desejarem; mas aquele que acena para outro bem-aventurado por cau sa da graça que nele vê, está no caminho de granjear para si a mesma graça.
Se os que buscam o Senhor são bem-aventurados, o que di zer daqueles que realmente habitam com ele e sabem que ele lhes pertence?
"Quão bondoso és para com os Que caem! Quão benigno, para com os Que te buscam! Mas, o Que dizer daqueles Que te acham? Ah! isto nenhuma língua nem pena pode expressar: O amor de Jesus - o Que é, Ninguém, senão seus amados, pode saber." [v. 3] Também não praticam iniqüidade, mas andam em seus caminhos. Também não praticam iniqüidade. Aliás, bem-aventurados devem ser todos aqueles de quem se pode isso afirmar sem reserva e sem explicação: Teremos atingido a região da perfeita bem-aventurança quando cessarmos totalmente de pecar. Os que seguem a Palavra de Deus não amam a iniqüidade; a regra é perfeita, e se ela for constantemente seguida não haverá erro. Ávida, para o obser vador do lado de fora, consiste em atos; e aquele que, em suas atividades, nunca se desvia da eqüidade, quer em relação a Deus, quer em relação aos homens, realmente tomou o caminho da per feição, e estejamos certos de que seu coração é íntegro nele. Então notamos que um coração íntegro se desvia do mal, porquanto o salmista diz: "Que o buscam de todo o coração. Também não pra ticam iniqüidade." Receamos que ninguém tenha como alegar ser absolutamente destituído de pecado; todavia nutrimos confiança de que existam muitos que podem alegar que intencional, voluntá ria, consciente e continuamente fogem de fazer o que é perverso, ímpio ou injusto. A graça conserva a vida íntegra, mesmo quando o cristão se põe a deplorar as transgressões do coração. Conside rados como seres humanos, julgados por seus semelhantes de acor do com as normas que os homens impõem aos homens, o genuíno povo de Deus não pratica iniqüidade: são honestos, íntegros e cas tos e, no que tange à justiça e moralidade, são inculpáveis. Portan to são bem-aventurados.
Andam em seus caminhos. Inclinam-se não só para os gran des princípios da lei, mas também para os mínimos detalhes de preceitos específicos. Uma vez que fogem de perpetrar qualquer pecado de comissão, assim também esforçam-se por se ver livres de todo pecado de omissão. Não lhes basta ser inculpáveis, também desejam ser ativamente justos. É possível que um ermitão fuja para a solidão a fim de não praticar a iniqüidade; um santo, toda via, vive em sociedade a fim de servir a seu Deus andando em seus caminhos. Precisamos ser justos tanto positiva quanto negativa mente: jamais teremos a posse do segundo, a menos que tomemos posse do primeiro; pois os homens terão que percorrer um cami nho ou outro, pois se não seguirem a vereda da lei de Deus, logo estarão praticando a iniqüidade. A mais segura maneira de abster-se do mal é vivendo totalmente ocupados na prática do bem. Este versículo descreve os cristãos como existem entre nós: embora se jam falhos e frágeis, todavia odeiam o mal e não se permitirão viver nele; amam as veredas da verdade, da justiça e da genuína piedade, e habitualmente andarão nelas. Não alegam ser absoluta mente perfeitos, exceto em seus anseios, nos quais são de fato puros; pois anseiam ser guardados de todo pecado e de ser guia dos a toda a santidade. Gostariam de andar sempre segundo o anseio de seus corações renovados, de seguir o Senhor Jesus em cada pensamento, palavra e ação; sim, gostariam que todo seu ser fosse a encarnação da santidade.
O Amor de Deus no Coração – João Calvino
Ora, a esperança não confunde... (Rm 5.5). Ou seja, ela tem a nossa salvação como um fato garantido. Isto mostra claramente que a aflição é usada pelo Senhor para provar-nos, de modo que a nossa salvação possa, por isso, progredir gradualmente. Portanto, aquelas misérias, que a seu próprio modo são os suportes de nossa felicidade, não podem transformar-nos em miseráveis. E assim a tese de Paulo fica provada, ou seja: que os piedosos contam com bases sólidas para gloriar-se no meio de suas aflições.
Porque o amor de Deus é derramado em nossos corações. Não refiro isto só à última frase, mas ao todo dos dois versículos precedentes. Somos estimulados à paciência pela instrumentalidade da tribulação, e a paciência é para nós a prova do auxílio divino. Este fato robustece um tanto mais a nossa esperança; pois, por mais que sejamos acossados, e nos pareçamos desgastados, não cessamos de sentir a munificência divina para conosco. Esta é a mais rica consolação, e muito mais abundante do que quando tudo parecia ir-nos bem. Uma vez que o que se nos afigura como felicidade não passa de miséria, quando Deus nos hostiliza e se revela descontente conosco, assim também, quando ele se mostra favoravelmente disposto para conosco, nossas próprias calamidades indubitavelmente nos resultarão em prosperidade e alegria.
Todas as coisas devem servir a vontade do Criador, porque, segundo o seu paternal favor para conosco (conforme Paulo o reiterará no capítulo 8), ele direciona todas as provações oriundas da cruz para nossa salvação. Este conhecimento do amor divino para conosco é insulado em nossos corações pelo Espírito de Deus, pois as boas coisas que Deus preparou para aqueles que o adoram estão ocultas dos ouvidos, dos olhos e das mentes dos homens, e tão-somente o Espírito é quem pode revelá-las. O particípio derramado é bastante enfático, e significa que a revelação do amor divino para conosco é tão copiosa que enche os nossos corações. Sendo assim derramado, e permeando cada parte de nós, não só mitiga nosso sofrimento na adversidade, mas também age como um agradável condimento a transmitir graça às nossas tribulações.
Ele diz mais que o Espírito é outorgado ou seja, ele nos é concedido pela munificência divina, cuja motivação não se acha em nós, e nem nos foi conferida com base em nossos méritos, conforme a feliz observação de Agostinho. Contudo, o mesmo Agostinho equivocou-se em sua interpretação do amor de Deus. Eis sua explicação: visto que suportamos as adversidades com persistência, então somos confirmados em nossa esperança; e visto que fomos regenerados pelo Espírito Santo, então amamos a Deus. Este pode ser um sentimento piedoso, mas não justifica a intenção de Paulo. O amor não pode ser considerado aqui em sentido ativo, mas passivo. E certo também que o que Paulo nos ensina aqui consiste em que a genuína fonte de todo o amor está na convicção que os crentes têm do amor divino por eles. Esta não é uma leve persuasão a imprimir-lhes certos matizes [à vida], senão que suas mentes são completamente permeadas por ele.
Propósitos do coração
Esdras foi um grande líder de Israel que se dedicou ao ensino da Palavra de Deus depois do cativeiro babilônico. Setenta anos de escravidão haviam se passado. Dias tormentosos e angustiantes sobrevieram sobre a nação. Morte, fome, opressão e desespero tomaram conta daqueles que foram arrancados de suas famílias e lançados fora da sua terra. Por intervenção divina o povo voltou à sua terra. Os grilhões foram quebrados. O cativeiro acabou. A liberdade despontou como o sol no horizonte. Como o povo deveria viver nesse novo tempo? Quais seriam as bases sobre as quais a nova geração deveria erguer os seus valores?
É no meio da crise que surge o grande líder Esdras. Dos escombros da desesperança ergueu-se essa coluna de encorajamento. No capítulo sete, versículo dez, Esdras fala sobre três propósitos do coração de um líder comprometido com Deus e com o seu povo:1. Ele dispôs o seu coração para conhecer a Palavra de Deus – Esdras era um estudioso das Escrituras. Ele examinava meticulosamente a Palavra de Deus. Ele mergulhava nas águas profundas das mais sublimes revelações emanadas do trono de Deus. Diz o texto que Esdras tinha disposto o coração para conhecer a Palavra. Precisamos de líderes que conheçam a Palavra de Deus e o Deus da Palavra. Vivemos um tempo de grande apostasia, de surgimento de novidades estranhas às Escrituras, que têm encontrado guarida no coração de muitos crentes. Estamos vendo o povo errante, buscando avidamente as últimas novidades no mercado da fé, correndo atrás de experiências místicas, de milagres arrebatadores. Muitas igrejas deixaram de lado o estudo criterioso das Escrituras, para ouvir as vozes confusas do coração humano cheio de engano. Estamos vendo o surgimento de uma geração analfabeta da Bíblia. Quando falta o ensino fiel das Escrituras, o povo cai nas malhas de um experiencialismo heterodoxo, desviando-se das veredas da verdade.2. Ele dispôs o seu coração para viver a Palavra de Deus – Esdras não era apenas um estudioso da Bíblia. Ele não era um teólogo de gabinete, um catedrático que blasonava do alto de um púlpito mensagens moralistas para o povo. Ele vivia o que pregava. Sua vida era coerente. Ele não era um teórico. Ele praticava o que transmitia ao povo. Sua vida era um exemplo e um paradigma para os seus ouvintes. Esdras dispôs o seu coração para viver a Palavra. Vivemos hoje uma profunda crise moral em nossa nação. Aqueles que lideram o nosso povo, com raras exceções, são sérios no discurso, mas claudicantes na conduta. Há um abismo entre o que as pessoas falam e o que elas fazem. Essa mesma crise ética tem atingido a igreja. Há um hiato entre o que os crentes pregam e o que eles vivem. Há um divórcio entre a profissão de fé e a prática. Muitos são ortodoxos, mas não são ortopráticos. Não basta conhecer, é preciso viver. Não basta ser intelectual, é preciso ser ético. Não basta conhecer Bíblia, é preciso ser piedoso.3. Ele dispôs o seu coração para ensinar a Palavra de Deus – Esdras segue uma linha de coerência. Primeiro, ele estuda a Palavra. Depois, ele aplica essa Palavra à sua própria vida. Então, ele está apto para ensiná-la aos outros. Ele não retém a verdade de Deus apenas para si. Ele não sonega ao povo as insondáveis riquezas da Palavra de Deus. Do seu coração transborda a Palavra. Dos seus lábios jorram os mananciais do céu. Sua vida é um vaso útil, preparado para toda boa obra. Esdras dispôs o seu coração para ensinar a Palavra de Deus ao povo. Precisamos de líderes que amem as Escrituras, que amem o povo de Deus e busquem ensinar com profundidade e fidelidade todo o conselho de Deus.Rev. Hernandes D. Lopes.
“Bem aventurados os que guardam seus testemunhos, e que os buscam de todo o coração” (Sl 119.2) – The Golden Alphabet
Atribui-se bem-aventurança aos que entesouram os tes temunhos do Senhor; no quê está implícito que eles examinam as Escrituras, que adquirem compreensão delas, que as amam e en tão passam a praticá-las. Primeiro temos que adquirir uma coisa antes de podermos guardá-la. A fim de guardá-la bem, é preciso que nos apoderemos firmemente dela. Não podemos guardar no coração aquilo que não abraçamos sinceramente pelas afeições. A palavra de Deus é sua testemunha ou que comunica o testemunho e importantes verdades que dizem respeito a ele e a nossa relação com ele. Isso devemos desejar conhecer; conhecendo-o, devemos crer nele; crendo-o, devemos amá-lo; e amando-o, devemos retê-lo com firmeza contra todos os que se opuserem. Há uma obser vância doutrinai da palavra quando nos dispomos a morrer em sua defesa, e uma observância prática dela quando realmente vive mos sob seu poder. A verdade revelada é preciosa como diaman tes, e deve ser guardada ou entesourada na memória e no coração como jóias num escrínio, ou como a lei era guardada na arca; isso, contudo, não basta; pois ela se destina ao uso prático, e por isso deve ser guardada ou seguida, como os homens se mantêm no caminho ou seguem uma linha de negócios. Se guardarmos os testemunhos de Deus, eles por sua vez nos guardarão; nos mante rão retos na opinião, confortáveis no espírito, santos na conversa ção e esperançosos na expectativa. Se foram sempre de real valor, e nenhuma pessoa sensata põe isso em dúvida, então são dignos de ser guardados; seu efeito designado não é uma conquista tem porária, mas vem por uma perseverante posse deles: "em os guar dar há grande recompensa".
Somos obrigados a guardar a Palavra de Deus com todo cui dado, porque ela são seus testemunhos. Ele no-los deu, mas ainda são dele. E preciso que os guardemos como um vigilante guarda a casa de seu patrão; como um mordomo administra os bens de seu senhor; como umpastor guarda o rebanho de seu proprietário. Somos obrigados a prestar contas, porquanto o evangelho nos foi confiado, e ai de nós se formos encontrados infiéis. Não podemos combater o bom combate, nem concluir nossa carreira, a menos que guardemos a fé! Com este alvo em vista, o Senhor nos guarda rá; somente aqueles que são guardados pelo poder de Deus, para a salvação, é que serão capazes de guardar seus testemunhos. Por tanto, que bem-aventurança se evidencia e se testifica mediante meticulosa convicção na Palavra de Deus e uma contínua obediência a ela! Deus os tem abençoado, os está abençoando e os abençoará para sempre. A bem-aventurança que Davi visualizou em outros, ele a concretizou em si, pois ele diz no versículo 168: "Tenho guardado teus preceitos e teus testemunhos"; e nos versí culos 54 a 56, ele associa seus cantos jubilosos e suas felizes me mórias a esta mesma observância da lei, e confessa: "E isto eu fiz, porque guardei teus mandamentos." As doutrinas que ensinamos a outros, antes devemos experimentar em nós mesmos.
E que os buscam de todo o coração. Os que guardam os testemunhos do Senhor se asseguram de que vão em busca deles mesmos. Se sua Palavra é preciosa, podemos estar certos de que ele mesmo é ainda mais precioso. O tratamento pessoal com um Deus pessoal é a aspiração de todos quantos se asseguram de que a Palavra do Senhor tenha seu pleno efeito sobre eles. Uma vez tenhamos experimentado realmente o poder do evangelho, é mis ter que busquemos o Deus do evangelho. Nosso sincero clamor será este: "Oh, que eu saiba onde posso encontrá-lo!" Veja o de senvolvimento que essas frases indicam: primeiro, no caminho; então, no transpô-lo; em seguida, descobrindo e guardando o te souro da verdade; e, acima de tudo, ir após o Senhor da maneira como ele preceitua. Note também que, à medida que uma alma avança na graça, mais divinas e espirituais são suas aspirações: o andar externo não satisfaz à alma agraciada, nem mesmo os testemunhos entesourados; no devido tempo, ela se entrega a Deus pessoalmente, e quando, em certa medida, o encontra, ainda o deseja muito mais, e continua a buscá-lo.
Buscar a Deus significa o ardente desejo de ter comunhão com ele de maneira mais íntima, segui-lo mais plenamente, manter a mais perfeita união com sua mente e vontade, promover sua glória e compreender plenamente tudo o que ele é para os corações san tos. O homem abençoado já possui a Deus, e por esse motivo ele o busca. Isso pode parecer contraditório; mas é apenas um paradoxo.
Deus não é buscado genuinamente pelas frias ponderações do cérebro; é preciso que o busquemos com o coração. O amor se manifesta amando; Deus manifesta seu coração no coração de seu povo. E vão esforçarmo-nos em compreendê-lo através da razão; é preciso compreendê-lo através da afeição. O coração, porém, não deve ser dividido entre muitos objetos, se porventura o Se nhor é buscado por nós. Deus é um só, e não o conheceremos até que nosso coração seja um com o dele. Um coração quebrantado não necessita de ser dominado pela angústia, porque nenhum co ração é tão íntegro em sua busca por Deus como o coração que brantado, do qual cada fragmento suspira e clama pelo rosto do grande Pai. E o coração dividido que a doutrina do texto censura, e, por estranho que pareça, na fraseologia bíblica um coração pode estar dividido sem estar quebrantado, e pode estar quebrantado, porém não dividido; e no entanto pode ser quebrantado e estar curado, e nunca pode estar curado antes de ser quebrantado. Quan do nosso coração inteiro busca o Deus santo em Cristo Jesus, então ele se chega para aquele de quem está escrito: "Tantos quantos o tocavam, ficavam perfeitamente curados”.
O que o salmista admira neste versículo ele reivindica no déci mo, onde diz: "De todo meu coração te busquei” Fica tudo bem quando a admiração de uma virtude leva à obtenção da mesma. Os que não crêem na bem-aventurança de buscar o Senhor provavelmente não terão seus corações estimulados para a desejarem; mas aquele que acena para outro bem-aventurado por cau sa da graça que nele vê, está no caminho de granjear para si a mesma graça.
Se os que buscam o Senhor são bem-aventurados, o que di zer daqueles que realmente habitam com ele e sabem que ele lhes pertence?
"Quão bondoso és para com os Que caem!
Quão benigno, para com os Que te buscam!
Mas, o Que dizer daqueles Que te acham?
Ah! isto nenhuma língua nem pena pode expressar:
O amor de Jesus - o Que é,
Ninguém, senão seus amados, pode saber."
[v. 3]
Também não praticam iniqüidade, mas andam em seus caminhos.
Também não praticam iniqüidade. Aliás, bem-aventurados devem ser todos aqueles de quem se pode isso afirmar sem reserva e sem explicação: Teremos atingido a região da perfeita bem-aventurança quando cessarmos totalmente de pecar. Os que seguem a Palavra de Deus não amam a iniqüidade; a regra é perfeita, e se ela for constantemente seguida não haverá erro. Ávida, para o obser vador do lado de fora, consiste em atos; e aquele que, em suas atividades, nunca se desvia da eqüidade, quer em relação a Deus, quer em relação aos homens, realmente tomou o caminho da per feição, e estejamos certos de que seu coração é íntegro nele. Então notamos que um coração íntegro se desvia do mal, porquanto o salmista diz: "Que o buscam de todo o coração. Também não pra ticam iniqüidade." Receamos que ninguém tenha como alegar ser absolutamente destituído de pecado; todavia nutrimos confiança de que existam muitos que podem alegar que intencional, voluntá ria, consciente e continuamente fogem de fazer o que é perverso, ímpio ou injusto. A graça conserva a vida íntegra, mesmo quando o cristão se põe a deplorar as transgressões do coração. Conside rados como seres humanos, julgados por seus semelhantes de acor do com as normas que os homens impõem aos homens, o genuíno povo de Deus não pratica iniqüidade: são honestos, íntegros e cas tos e, no que tange à justiça e moralidade, são inculpáveis. Portan to são bem-aventurados.
Andam em seus caminhos. Inclinam-se não só para os gran des princípios da lei, mas também para os mínimos detalhes de preceitos específicos. Uma vez que fogem de perpetrar qualquer pecado de comissão, assim também esforçam-se por se ver livres de todo pecado de omissão. Não lhes basta ser inculpáveis, também desejam ser ativamente justos. É possível que um ermitão fuja para a solidão a fim de não praticar a iniqüidade; um santo, toda via, vive em sociedade a fim de servir a seu Deus andando em seus caminhos. Precisamos ser justos tanto positiva quanto negativa mente: jamais teremos a posse do segundo, a menos que tomemos posse do primeiro; pois os homens terão que percorrer um cami nho ou outro, pois se não seguirem a vereda da lei de Deus, logo estarão praticando a iniqüidade. A mais segura maneira de abster-se do mal é vivendo totalmente ocupados na prática do bem. Este versículo descreve os cristãos como existem entre nós: embora se jam falhos e frágeis, todavia odeiam o mal e não se permitirão viver nele; amam as veredas da verdade, da justiça e da genuína piedade, e habitualmente andarão nelas. Não alegam ser absoluta mente perfeitos, exceto em seus anseios, nos quais são de fato puros; pois anseiam ser guardados de todo pecado e de ser guia dos a toda a santidade. Gostariam de andar sempre segundo o anseio de seus corações renovados, de seguir o Senhor Jesus em cada pensamento, palavra e ação; sim, gostariam que todo seu ser fosse a encarnação da santidade.
O Amor de Deus no Coração – João Calvino
Ora, a esperança não confunde... (Rm 5.5). Ou seja, ela tem a nossa salvação como um fato garantido. Isto mostra claramente que a aflição é usada pelo Senhor para provar-nos, de modo que a nossa salvação possa, por isso, progredir gradualmente. Portanto, aquelas misérias, que a seu próprio modo são os suportes de nossa felicidade, não podem transformar-nos em miseráveis. E assim a tese de Paulo fica provada, ou seja: que os piedosos contam com bases sólidas para gloriar-se no meio de suas aflições.
Porque o amor de Deus é derramado em nossos corações. Não refiro isto só à última frase, mas ao todo dos dois versículos precedentes. Somos estimulados à paciência pela instrumentalidade da tribulação, e a paciência é para nós a prova do auxílio divino. Este fato robustece um tanto mais a nossa esperança; pois, por mais que sejamos acossados, e nos pareçamos desgastados, não cessamos de sentir a munificência divina para conosco. Esta é a mais rica consolação, e muito mais abundante do que quando tudo parecia ir-nos bem. Uma vez que o que se nos afigura como felicidade não passa de miséria, quando Deus nos hostiliza e se revela descontente conosco, assim também, quando ele se mostra favoravelmente disposto para conosco, nossas próprias calamidades indubitavelmente nos resultarão em prosperidade e alegria.
Todas as coisas devem servir a vontade do Criador, porque, segundo o seu paternal favor para conosco (conforme Paulo o reiterará no capítulo 8), ele direciona todas as provações oriundas da cruz para nossa salvação. Este conhecimento do amor divino para conosco é insulado em nossos corações pelo Espírito de Deus, pois as boas coisas que Deus preparou para aqueles que o adoram estão ocultas dos ouvidos, dos olhos e das mentes dos homens, e tão-somente o Espírito é quem pode revelá-las. O particípio derramado é bastante enfático, e significa que a revelação do amor divino para conosco é tão copiosa que enche os nossos corações. Sendo assim derramado, e permeando cada parte de nós, não só mitiga nosso sofrimento na adversidade, mas também age como um agradável condimento a transmitir graça às nossas tribulações.
Ele diz mais que o Espírito é outorgado ou seja, ele nos é concedido pela munificência divina, cuja motivação não se acha em nós, e nem nos foi conferida com base em nossos méritos, conforme a feliz observação de Agostinho. Contudo, o mesmo Agostinho equivocou-se em sua interpretação do amor de Deus. Eis sua explicação: visto que suportamos as adversidades com persistência, então somos confirmados em nossa esperança; e visto que fomos regenerados pelo Espírito Santo, então amamos a Deus. Este pode ser um sentimento piedoso, mas não justifica a intenção de Paulo. O amor não pode ser considerado aqui em sentido ativo, mas passivo. E certo também que o que Paulo nos ensina aqui consiste em que a genuína fonte de todo o amor está na convicção que os crentes têm do amor divino por eles. Esta não é uma leve persuasão a imprimir-lhes certos matizes [à vida], senão que suas mentes são completamente permeadas por ele.
Propósitos do coração
Esdras foi um grande líder de Israel que se dedicou ao ensino da Palavra de Deus depois do cativeiro babilônico. Setenta anos de escravidão haviam se passado. Dias tormentosos e angustiantes sobrevieram sobre a nação. Morte, fome, opressão e desespero tomaram conta daqueles que foram arrancados de suas famílias e lançados fora da sua terra. Por intervenção divina o povo voltou à sua terra. Os grilhões foram quebrados. O cativeiro acabou. A liberdade despontou como o sol no horizonte. Como o povo deveria viver nesse novo tempo? Quais seriam as bases sobre as quais a nova geração deveria erguer os seus valores?
É no meio da crise que surge o grande líder Esdras. Dos escombros da desesperança ergueu-se essa coluna de encorajamento. No capítulo sete, versículo dez, Esdras fala sobre três propósitos do coração de um líder comprometido com Deus e com o seu povo:
É no meio da crise que surge o grande líder Esdras. Dos escombros da desesperança ergueu-se essa coluna de encorajamento. No capítulo sete, versículo dez, Esdras fala sobre três propósitos do coração de um líder comprometido com Deus e com o seu povo:
1. Ele dispôs o seu coração para conhecer a Palavra de Deus – Esdras era um estudioso das Escrituras. Ele examinava meticulosamente a Palavra de Deus. Ele mergulhava nas águas profundas das mais sublimes revelações emanadas do trono de Deus. Diz o texto que Esdras tinha disposto o coração para conhecer a Palavra. Precisamos de líderes que conheçam a Palavra de Deus e o Deus da Palavra. Vivemos um tempo de grande apostasia, de surgimento de novidades estranhas às Escrituras, que têm encontrado guarida no coração de muitos crentes. Estamos vendo o povo errante, buscando avidamente as últimas novidades no mercado da fé, correndo atrás de experiências místicas, de milagres arrebatadores. Muitas igrejas deixaram de lado o estudo criterioso das Escrituras, para ouvir as vozes confusas do coração humano cheio de engano. Estamos vendo o surgimento de uma geração analfabeta da Bíblia. Quando falta o ensino fiel das Escrituras, o povo cai nas malhas de um experiencialismo heterodoxo, desviando-se das veredas da verdade.
2. Ele dispôs o seu coração para viver a Palavra de Deus – Esdras não era apenas um estudioso da Bíblia. Ele não era um teólogo de gabinete, um catedrático que blasonava do alto de um púlpito mensagens moralistas para o povo. Ele vivia o que pregava. Sua vida era coerente. Ele não era um teórico. Ele praticava o que transmitia ao povo. Sua vida era um exemplo e um paradigma para os seus ouvintes. Esdras dispôs o seu coração para viver a Palavra. Vivemos hoje uma profunda crise moral em nossa nação. Aqueles que lideram o nosso povo, com raras exceções, são sérios no discurso, mas claudicantes na conduta. Há um abismo entre o que as pessoas falam e o que elas fazem. Essa mesma crise ética tem atingido a igreja. Há um hiato entre o que os crentes pregam e o que eles vivem. Há um divórcio entre a profissão de fé e a prática. Muitos são ortodoxos, mas não são ortopráticos. Não basta conhecer, é preciso viver. Não basta ser intelectual, é preciso ser ético. Não basta conhecer Bíblia, é preciso ser piedoso.
3. Ele dispôs o seu coração para ensinar a Palavra de Deus – Esdras segue uma linha de coerência. Primeiro, ele estuda a Palavra. Depois, ele aplica essa Palavra à sua própria vida. Então, ele está apto para ensiná-la aos outros. Ele não retém a verdade de Deus apenas para si. Ele não sonega ao povo as insondáveis riquezas da Palavra de Deus. Do seu coração transborda a Palavra. Dos seus lábios jorram os mananciais do céu. Sua vida é um vaso útil, preparado para toda boa obra. Esdras dispôs o seu coração para ensinar a Palavra de Deus ao povo. Precisamos de líderes que amem as Escrituras, que amem o povo de Deus e busquem ensinar com profundidade e fidelidade todo o conselho de Deus.
Rev. Hernandes D. Lopes.
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