Por suportar o sofrimento com paciência a recompensa por nossa experiência da glória de Deus no céu aumenta. Isso é parte do que Paulo quer dizer em 2 Corintios 4.17-18.
A nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.
A aflição de Paulo é "preparar", "efetuar" ou "realizar" um peso de glória acima de toda comparação. Devemos tomar seriamente as palavras de Paulo aqui. Ele não está meramente dizendo que tem uma grande esperança no céu que o capacita a suportar o sofrimento. Isso é verdade. Mas aqui ele diz que o sofrimento tem um efeito sobre o peso de glória. Aí parece haver uma conexão entre o sofrimento suportado e o grau de glória desfrutado. Certamente a glória ultrapassa infinitamente o sofrimento, como Paulo afirma em Romanos 8.18: "Para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós." Entretanto, o peso dessa glória ou a experiência dessa glória parecem ser mais ou menos, dependendo em parte da aflição que suportamos aqui com fé paciente.
Jesus apontou para a mesma direção quando disse: "Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, men¬tindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus"(Mt 5.11-12). Isso proporciona o maior dos incentivos para alegrar-nos, uma vez que Jesus afirma que, quanto mais suportarmos o sofrimento em decorrência da fé, maior será nossa recompensa. Se um cristão que sofreu muito por Jesus e outro que não sofreu muito experimentarem a glória final de Deus exatamente do mesmo modo e grau, pareceria estranho dizer ao cristão sofredor para regozijar-se e alegrar-se (naquele mesmo dia, cf. Lc 6.23), porque ele receberia a recompensa mesmo se não tivesse sofrido. A recompensa prometida parece ser em res¬posta ao sofrimento e um prêmio específico por ele. Se isso não é explícito e certo aqui, parece ser subentendido em outras passagens do Novo Testa¬mento. Permitirei que Jonathan Edwards as apresente, enquanto lemos uma das mais profundas reflexões que já li sobre esse problema. Aqui Edwards trata, de forma surpreendente, sobre a questão de como pode haver graus de felicidade em um mundo de perfeita alegria.
Há diferentes graus de felicidade e glória no céu.... A glória dos santos citada será de algum modo proporcional à sua eminência em santidade e boas obras aqui [e paciência por meio do sofrimento é, antes de tudo, uma das boas obras, cf. Rm 2.7]. Cristo compensará a todos de acordo com as suas obras. Aquele que ganhou dez moedas teve autoridade sobre dez cidades e o que ganhou cinco moedas, sobre cinco cidades (Lc 19.17-19). "Aquele que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia com fartura, com abundância também ceifará" (2 Co 9.6). E o apóstolo Paulo diz-nos que, assim como uma estrela difere de outra em glória, assim também será na ressurreição dos mortos (1 Co 15.41). Cristo ensina-nos que aquele que dá um copo de água fresca a um discípulo, em nome de um discípulo, de modo algum perderá seu galardão. Mas isso pode não ser assim, se uma pessoa não receber um galardão maior por fazer muitas boas obras do que se fizesse apenas poucas.
Não haverá nenhum desalento à felicidade daqueles que têm menores graus de felicidade e glória, por haver outros avançados em glória acima deles: pois todos serão perfeitamente felizes e satisfeitos. Toda embarcação que é lançada nesse oceano de felicidade está cheia, embora haja algumas bem maiores que outras; e não haverá no céu coisas como inveja, mas o perfeito amor reinará sobre toda a sociedade. Aqueles que não forem tão elevados em glória como outros não invejarão os que estão mais acima, antes sentirão amor tão grande, forte e puro por eles que se regozijarão com sua felicidade superior; seu amor por eles será tamanho que ficarão mais alegres pela maior felicidade dos outros; assim, em vez de ficarem desalentados com sua própria felicidade, mais felicidade será adicionada a ela....
Então, por outro lado, aqueles que são mais altos em glória, como serão também os mais amáveis, exceder-se-ão proporcionalmente em divina benevolência e amor para com os outros e terão mais amor a Deus e aos santos do que aqueles que estão abaixo em santidade e felicidade. E, além disso, aqueles que se elevam em glória também se elevarão em humildade. Aqui, neste mundo, aqueles que estão acima dos demais são objeto de inveja, porque... outros os imaginam como superiores; mas no céu não será assim, os santos que se distinguirem em felicidade serão [distintos] em santidade e, conseqüentemente, humildade....
A exaltação de alguns no céu acima dos demais estará tão longe de diminuir a perfeita felicidade e alegria dos restantes que estão abaixo, que eles serão mais felizes por isso; de tal modo será a união em sua sociedade que serão partilhadores da felicidade um do outro. Então será cumprido em suas perfeições o que está declarado em 1 Coríntios 12.22: "Os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários."
Assim, um dos objetivos de Deus no sofrimento dos santos é ampliar sua capacidade de desfrutar da glória dele, tanto aqui como no que está por vir. Quando seu cálice for apanhado, como se fosse do "lixo do mundo"(1 Co 4.13), e lançado ao oceano da felicidade celestial, ele possuirá mais felicidade por ter se afastado do mundo e vivido somente em Deus.