Nossos temores decorrem da falha de não nos avivarmos — falhamos em pensar, e em assumir controle de nós mesmos. Co meçamos a olhar para o futuro, e então a imaginar coisas e a dizer: "O que será que vai acontecer?" E daí nossa imaginação se descontrola. Acabamos dominados por isso, e não paramos a fim de nos lembrar de quem somos e o que somos, nossos temores nos controlam, e ficamos abatidos. Agora a primeira coisa que precisamos fazer é assumir controle de nós mesmos, erguer-nos, avivar-nos, dominar-nos, e falar conosco mesmos. Como diz o apóstolo, precisamos nos lembrar de certas coisas. E eu creio que a coisa principal que Paulo está dizendo a Timóteo é: "Timóteo, você parece estar pensando a respeito de si mesmo e a respeito da vida e de tudo que você precisa fazer, como se ainda fosse uma pessoa comum. Contudo, Timóteo, você não é uma pessoa comum! Você é um cristão, você nasceu de novo, o Espírito de Deus está em você. Mas você está enfrentando todas essas coisas como se ainda fosse o que era antes — uma pessoa comum". E não é este o problema com todos nós em relação a isso? Ainda que verdadeiramente sejamos cristãos, que creiamos na verdade, que tenhamos nascido de novo, que sejamos filhos de Deus, caímos nessa situação em que começamos a pensar como se ne nhuma dessas coisas tivesse nos acontecido. Como o homem do mundo, o homem que nunca foi regenerado, permitimos que o futuro nos assalte e nos domine, e comparamos nossa própria fraqueza e falta de poder com a grandeza da missão e a tremenda tarefa diante de nós. E ficamos abatidos, como se ainda vivêssemos na esfera do homem natural. Mas a coisa a fazer, Paulo diz a Timóteo, é lembrar-se que, como cristãos, temos recebido o dom do Espírito Santo de Deus, e por causa disso, precisamos compreender que toda a nossa perspectiva de vida e do futuro deve ser essencialmente diferente. Precisamos pensar no sofrimento de forma diferente, e encarar todas as coisas de um modo novo. E a forma que devemos enfrentar isso tudo, é lembrar-nos que o Espírito Santo está em nós. O futuro está aí, a missão está diante de nós, a perseguição está aí, a oposição está aí, o inimigo está aí. Vejo tudo isso. Devo também admitir que sou fraco, que me falta o poder necessário, que me falta a tendência. Mas em vez de parar aí, devo prosseguir dizendo: "Sim, eu sei tudo isso, mas. . ." E no momento que eu uso essa palavra "mas", estou fazendo o que o apóstolo quer que eu faça. Digo: "Mas — mas o Espírito de Deus está; em mim; Deus me deu o Seu Espírito Santo". No momento em que eu digo isso, a perspectiva muda completamente. Em outras palavras, precisamos aprender a dizer que o que importa em qualquer uma dessas questões, não é o que é verdade a meu respeito, mas o que é verdade a respeito dEle. Timóteo era fraco por natureza, o inimigo era poderoso, e a tarefa era grande. Está certo, mas ele não devia pensar apenas em si mesmo, ou na situação em termos de si mesmo — "Porque Deus não nos deu o espírito de temor. Ele nos deu o Espírito de poder". Então, não pensem em sua própria fraqueza; pensem no poder do Espírito de Deus. É quando começamos a fazer isso que equilibramos nossa doutrina e vemos a situação toda cla ramente.
Já me esforcei muito para enfatizar que nossos temperamen tos são diferentes, e quero enfatizá-lo de novo. No entanto, neste ponto eu diria que, embora nossos temperamentos sejam diferen tes, eles não deviam fazer qualquer diferença face a face com a tarefa. Aqui está o milagre da redenção. Deus nos deu nossos temperamentos. Mais uma vez, todos temos temperamentos dife rentes, e isso também é de Deus. Sim, mas nunca deveria acon tecer conosco, como cristãos, o sermos controlados por nossos tem peramentos. Devemos ser controlados pelo Espírito Santo. A coisa deve ser colocada nessa ordem. Aqui estão forças e capacidades, e aqui estão nossos temperamentos específicos que as usam, mas o ponto vital é que, como cristãos, devemos ser controlados pelo Espírito Santo. É uma tragédia quando o cristão permite que o seu temperamento o controle. O homem natural sempre é contro lado por seu temperamento, ele não pode evitar isso; mas a dife rença que a regeneração faz, é que agora há um controle superior até ao temperamento. No momento em que o Espírito Santo entra numa pessoa, Ele controla tudo, inclusive o temperamento, capa citando-a então a operar através do seu temperamento. Esse é o milagre da redenção. O temperamento permanece, porém não está mais no controle. O Espírito Santo está no controle.
Vamos agora examinar isso em detalhe. "Deus não nos deu o espírito de temor". Que espírito, então, Ele nos deu? Notem: "Deus não nos deu o espírito de temor, mas de poder. . ." Isso é o que Ele coloca em primeiro lugar, e com razão. Temos uma tarefa, e conhecemos nossa própria fraqueza. Sim, mas há um poder até para os fracos, e significa poder no sentido mais amplo que se possa imaginar. Vocês estão com medo de não serem capa zes de viver a vida cristã? A resposta é: "Operai a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar". O temor e o tremor permanecem. Isso faz parte dos seus temperamentos, mas vocês são capacitados a trabalhar através do poder "que opera em vós tanto o querer como o efetuar". Então, não se tornam pessoas que não sentem medo ou não são mais sujeitas ao temor. Ainda têm que operar a sua salvação com temor e tremor, mas há poder apesar disso. É o poder de Deus operando em vocês "tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade". Mas isso se refere não só à questão de viver a vida cristã, e batalhar contra tentações e pecados; também significa poder para resistir, poder para prosseguir, não importa as condições ou circunstâncias, poder para perseverar e ficar firme. E digo mais: significa que a pessoa mais tímida pode receber poder para todas as coisas — até para enfrentar a morte. Isso foi evidente nos apóstolos; pode ser visto num homem como Pedro, que tinha medo da morte, tinha medo de morrer. Ele até negou o Senhor por causa desse medo, dizendo: "Não O co nheço, nada tenho a ver com Ele". Negou com pragas e jura mentos o seu bendito Senhor, seu maior benfeitor, para salvar sua vida. Mas olhem para ele depois, no livro de Atos dos Apósto los. O Espírito de poder tinha entrado nele, e agora ele está pronto a morrer, pronto a enfrentar as autoridades, pronto a enfrentar qualquer pessoa. Essa é uma das coisas mais gloriosas nos longos anais da história da Igreja, e ainda está acontecendo. Nunca me canso de dizer a cristãos que leiam as histórias dos mártires, dos pais da Igreja, dos reformadores, dos puritanos e outros. Leiam essas histórias e não encontrarão apenas homens fortes e corajosos, mas também mulheres e jovens fracos, e até mesmo crianças morrendo gloriosamente por amor a Cristo. Não podiam fazê-lo por si mesmos, mas receberam o espírito de poder. Ora, isso é o que Paulo quer dizer aqui. Ele diz a Timóteo: "Não fale assim. Você está falando como um homem natural. Está falan do como se você mesmo, com seu próprio poder, tivesse que enfrentar isso tudo. Mas Deus lhe deu o espírito de poder. Vá em frente. Ele vai estar com você. Você nem vai mais se conhecer; vai ficar assombrado consigo mesmo. E ainda que possa significar ter que enfrentar a morte, irá regozijar-se por ter sido considerado digno de sofrer vergonha e até mesmo à morte por amor do Seu glorioso nome". Poder! Ele foi dado. E o que você e eu devemos fazer, quando somos tentados a ficar deprimidos por causa das coisas que estão contra nós, é dizer: "Eu tenho o Espírito Santo, e Ele é o Espírito de poder".
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