A Parábola do Traje de Casamento (Mateus 22:1-14) é tão semelhante à Parábola da Grande Ceia que algumas pessoas julgaram-nas como sendo a mesma parábola relatada de maneira diferente. Elas se relacionam com o mesmo tema de uma maneira notavelmente semelhante, mas sua ênfase é diferente. Ambas as parábolas retratam o reino de Deus como uma festa alegre e falam do desprezo de Israel pela bondade de Deus e de sua posição favorecida. Ambas falam da graça de Deus para com os “indignos” e o tipo de povo que mais provavelmente receberá seu reino com alegria. Mas a Parábola do Traje de Casamento acrescenta violência desdenhosa e assassinato às insensatas descortesias ressaltadas na Grande Ceia e contém sinistras advertências de áspera retribuição. Isto não é surpreendente numa parábola contada nas últimas horas da última semana do Senhor, e pode bem se referir à brutal perseguição judaica que estava próxima de rebentar contra ele e seus seguidores. Era uma advertência severa num tempo crítico.
Na parábola do Traje de Casamento, a festa é elevada de apenas uma ocasião social de um homem rico para a festa de casamento do filho de um rei, um caso que ocorre uma vez na vida. E com esta mudança é muito mais ressaltado o tamanho da afronta oferecida pelos hóspedes convidados originalmente e as dimensões de suas conseqüências. O rei não pode tolerar este insolente desprezo por sua majestade, e ainda mais porque seus servos não foram enviados para coletar alguns impostos onerosos, mas para emitir um gracioso convite. Na primeira parábola os convidados apenas perdem a festa; na segunda eles são privados de suas vidas (Mateus 22:7). Como diz aos Hebreus, “... como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hebreus 2:3; cf. 10:28-29).
Contudo, o que sobressai e dá uma identidade especial a esta parábola não é o comportamento daqueles que não comparecem, mas daquele que compareceu: o homem sem traje de casamento. A natureza deste caso tem sido muito debatida por estudantes das parábolas. Tem parecido incongruente para alguns que o rei fosse tão sensível a respeito da roupa de um grupo de pessoas mais humildes, recolhidas nas ruas (Mateus 22:10)! Ela, de algum modo choca, em suas mentes, com o generoso convite estendido a pessoas de todas as classes. Onde essas pessoas, convocadas apressadamente, teriam achado tais vestimentas?
Tudo isto tem feito muitos comentadores concluirem que as vestimentas foram fornecidas pelo anfitrião, deixando até mesmo os mais pobres ou convidados às pressas sem desculpa. Qualquer que seja a circunstância, o homem em questão não achou justificação para si e foi sumariamente lançado fora por essa mesma razão (Mateus 22:12-13). Este caso torna claro que o tratamento sem cerimônia do reino de Deus, quer por aqueles que nunca o recebem, quer por aqueles que o recebem, trará imediata retribuição. Desprezo é desprezo. Indiferença é indiferença. Podem aqueles que foram uma vez salvos ser perdidos? Esta parábola responde com clara afirmação. Que ninguém abuse da graça de Deus (Romanos 6:1).
Não é preciso dizer que, mesmo em nossa era democrática, não se entra na presença da realeza negligentemente. Precisa-se ser treinado nas conveniências da roupa e da conduta. Isto é muitas vezes mais verdadeiro para aqueles que se propõem ficar na presença do Deus vivo. Precisa-se vestir o espírito submisso do temor reverente para se propor comer pão no reino celestial. Podemos, na verdade, não ser capazes de apresentar-lhe a vida sem pecado que ele verdadeiramente merece, mas o mais pobre de nós é absolutamente capaz de levar uma devoção de mente sincera e obediente. É verdade que em sua misericórdia Deus vestiu seu povo com uma justiça que não é deles mesmos, mas há uma atitude de coração que só nós podemos atingir. Na sua linguagem, o apóstolo Paulo diz: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão e de longanimidade” (Colossenses 3:12). Tal espírito cresce da percepção de que estamos sempre na presença do grande Rei e precisamos estar vestidos para a ocasião.
O pensamento da ira divina é amedrontador. Na pregação, ele é, às vezes, totalmente negligenciado. Mas ambas as parábolas da “festa” ressaltam-no. Na primeira, o anfitrião enraivece-se pela desdenhosa rejeição da sua bondade e declara definitivamente que “nenhum daqueles homens que foram convidados provará da minha ceia” (Lucas 14:21, 24). Na segunda, a ira do rei sobe. Furioso com aqueles que desdenharam sua festa e brutalizaram seus mensageiros, ele envia seus exércitos para destruir tanto eles como sua cidade (Mateus 22:7) – será uma referência à destruição de Jerusalém?). E se a punição do homem sem vestimenta de casamento parece branda, em comparação (Mateus 22:13), é preciso ser lembrado que Jesus freqüentemente usou estas mesmas palavras para descrever o julgamento dos ímpios (Mateus 8:12; 25:30). Eles são sinistros, com angústia eterna.
–por Paul Earnhart
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