Muitos de nós simplesmente seguem uma rotina, sem pensar, sem inteligência. Soa estranho dizer isso num período como este na história da Igreja Cristã, mas na Igreja há muitos que não têm idéia da razão pela qual estão ali, exceto pelo fato de que foram habituados a freqüentar os cultos. Não fosse isso, não estariam ali. Nunca pensaram nessas coisas o bastante para romper o hábito; seguem uma rotina. Há pessoas que não pensam, pessoas sem entendimento, que não têm a mínima idéia do conflito espiritual, não têm a mínima idéia da crucial importância da Igreja Cristã numa hora como esta. Seguem o mesmo itinerário e fazem a mesmíssima coisa domingo após domingo, simplesmente como parte da rotina da vida. Entretanto lhes falta entendimento. E esse o tipo da coisa que o apóstolo tem em mente. Tais cristãos, é claro, já estão derrotados; são inúteis na batalha. Não têm valor nenhum no exército. Os cristãos ativos têm que carregá-los porque eles não conseguem mover-se; não estão prontos para alguma súbita mudança de tática. Eles são passageiros que temos que levar, e sempre são um grande empecilho para um exército. Eles têm sido um grande problema em toda a história das guerras.
Por outro lado, há também muitos que vivem em função das suas próprias atividades e que não têm ciência de que há um conflito espiritual. Para eles, o cristianismo é o que eles fazem. Isso faz parte do perigo de amoldar-se a um tipo. E triste ver pessoas que recentemente entraram na vida cristã dentro de um curto período de tempo repetindo frases e chavões. Não têm idéia do que significam; estão apenas imitando os outros; estão pegando o linguajar, as expressões e as atividades. E isso continua indefinidamente. Pode-se perceber que elas não estão vivamente conscientes da verdadeira situação.
Permitam-me admitir com sinceridade que estas exigências estritas se aplicam a todas as partes da Igreja, tanto aos pregadores como aos membros e freqüentadores. Não há nada que eu saiba que seja tão completamente oposto ao que o apóstolo está ensinando aqui como o pregador profissional, o homem que adota certo maneirismo e certo tom de voz, o chamado tom de voz clerical, e todas as outras características da"veste" sacral. O profissional no púlpito é uma grande maldição. Esse homem está realmente combatendo a favor do inimigo. É um traidor no exército do Deus vivo!
Tenhamos os nossos pés calçados com a preparação do evangelho da paz. Tratemos de saber o que estamos fazendo. O referido profissionalismo acha-se entre os liberais, e também entre os evangélicos. Alguns fingem, apresentando um artificial brilho e entusiasmo, uma espécie de "cristianismo muscular". Os que procedem assim estão se amoldando a um modelo. Não estão tendo entendimento, e revelam uma incapacidade de entender o profundo caráter da vida cristã. E há outros, às vezes jovens, que tentam parecer puritanos, como se vivessem há trezentos anos, e que falam na linguagem dos puritanos. Isso é igualmente mau. Vestir um casaco ou uma máscara ou agir por puro profissional ismo, é exatamente o oposto do que o apóstolo nos exorta a fazer.
Todas essas coisas são apenas manifestações daquele "estar em paz em Sião" enquanto uma tremenda batalha está sendo travada. Um cristianismo respeitável ou formal num tempo como este é inútil. É por isso que a Igreja está decaindo e exibindo nada mais do que um cristianismo respeitável, "Moralidade com um toque de emoção", como Matthew Arnold o descreveu, sem nenhum valor. Não me surpreende o fato de que o estado em que se acha a Igreja é o que é. Falta entendimento espiritual, ou, para usar a figura do apostolo, os pés estão pesadamente calçados com meras tradições e culto formal. Não há nada daquela mobilidade e agilidade que são essenciais numa época como esta.
A Igreja atual tem muita semelhança com Davi vestido com a armadura de Saul. Golias desafia Israel com sua armadura, sua lança e sua espada; e Israel se abala e treme, e não sabe o que fazer. Todos estão morrendo de medo deste homem que matou tantos. Então Davi, jovem, simples pastor, chega ao acampamento israelita, e, movido pelo Espírito de Deus, apresenta-se para responder ao desafio de Golias. Saul e os seus companheiros, sem os pés "calçados com a preparação do evangelho da paz", e pensando na velha terminologia em vez de pensarem espiritualmente, dizem: "Ele parece convencido de que poderá fazê-lo; vamos buscar a armadura de Saul e colocá-la nele". Acreditavam que a única maneira pela qual alguém poderia pelejar com Golias era com a armadura de Saul. Por isso a colocaram nele. Mas Davi percebeu logo que se fosse vestindo aquela armadura, seria morto. Mal podia mover-se, a armadura era pesada demais e grande demais para ele. E assim livrou-se dela. "Não vou conseguir lutar usando a armadura de Saul", disse ele; "tenho que usar o meu método de combate e, em nome do Deus vivo, é o que vou fazer." Pode-se dizer que Davi percebeu a importância de estar "calça¬do com a preparação do evangelho da paz". Ele queria ter mobilidade, e ser capaz de mover-se rapidamente e responder e reagir a cada movimento de Golias.
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