"Bem-aventurados os vossos olhos porque vêem, e os vossos ouvidos porque ouvem" (Mt 13.16)
Na verdade, Jesus está falando da chegada do reino de Deus. Ocorre que as gerações anteriores viveram com expectativas que não foram cumpridas. Por exemplo, Daniel 2.37-44 nos apresenta toda uma digressão acerca da esperança messiânica, que se deu com Jesus Cristo e Seu ministério tão somente. Portanto, a expectativa tão acalentada no coração do povo hebreu, em Jesus Cristo vai encontrar sua culminância, razão porque Ele disse mesmo: "O tempo está cumprido, e é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos e crede no evangelho" (Mc 1.15).
Com essa declaração, portanto, é possível compreender a afirmativa de Jesus Cristo que serve de base para nossa meditação. Mateus a registrou com as seguintes palavras: "Bem-aventurados os olhos que vêem o que vós vedes. Pois vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que ouvis, e não o ouviram" (Lc. 10.23,24). Deste modo, encontramos na referência de Mateus uma extraordinária bem-aventurança, e dessa felicidade nós compartilhamos porque temos a grande ocasião de ter, não só a esperança realizada, mas, sobretudo, vivida em nossa existência: a chegada do reino de Deus.
O REINO DE DEUS
O conceito de reino de Deus, segundo as Escrituras, é altamente dinâmico, visto que fala do governo divino sobre todo o universo, e nossos corações. Mas aprendamos com as Escrituras: não é um reino territorial. É um reino presente, é verdade! Porque presente nos sinais, e nos milagres realizados por Jesus Cristo. Mas ao tempo que é um reino já presente, é um reino que terá seu efetivo cumprimento na Segunda Vinda de Jesus Cristo, a Parousia. E assim, porque terá sua culminância na Vinda de Cristo, podemos entender que no reino de Deus plenamente cumprido, dar-se-á a vitória final sobre o pranto. No Apocalipse está dito:
"E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com ele habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas" (Ap. 21.3,4).
Ensina-nos a Palavra de Deus que no reino de Deus efetiva e plenamente realizado, o Pranto já não mais existe. É também a vitória final sobre as Enfermidades.
Há quem lute com o problema crônico da enfermidade. Há, mesmo, um problema teológico com a questão das curas. Mas aprendemos com a Bíblia Sagrada que a vitória final está na realização plena do reino de Deus quando teremos a Grande Cura que é a ressurreição. E esse é um grande patrimônio que todos os cristãos compartilhamos sem sectarismo nem qualquer divisão denominacional. Compartilhamos a suprema esperança da ressurreição final dos corpos.
Lemos, ainda, acerca da vitória final sobre a Morte. O texto já lido de Apocalipse diz "e não haverá mais morte" (21.4a). Há muitos outros textos na Palavra de Deus, entre eles o hino em 1Coríntios 15. 26 que diz: "Ora o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte", e, mais adiante, "E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que esta escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está ó morte? O teu aguilhão? Onde está , ó inferno, a tua vitória?" (vv.54,55; cf. Mt 9.18,19, 23-26; Lc 7.11-15; Jo 11.25,26 ).
Pois é, vamos ter essa vitória final sobre a morte na realização plena do reino de Deus.
Podemos seguir com a nossa reflexão, e perceber que é também a vitória final sobre as Trevas. O profeta Isaías mostra-nos como a humanidade caminha nas trevas:
"Pelo que o juízo esta longe de nós e a justiça não nos alcança; esperamos pela luz e eis que só há trevas; pelo resplendor, mas andamos em escuridão. Apalpamos as paredes como cegos; sim, como os que não teem olhos andamos apalpando; tropeçam,os ao meio-dia como nas trevas , e nos lugares escuros somos como mortos" (Is 59:9,10; Cf. Ef 6.12).
Há quem pregue que o reino de Deus ainda virá. O Novo Testamento assim não ensina. Pelo contrário, esclarece que o reino já veio, e terá sua culminância com a volta de Cristo, e, então, o Servo Sofredor da Paixão será o Rei Conquistador da Segunda Vinda (cf. Is 53:3-7; Lc 22.39-44). Não é o que diz a Palavra de Deus? Paulo, apóstolo, diz que "O Senhor mesmo descerá do céu com alarido, e com voz de arranjo e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro" (1 Ts 4.16; cf. Mt 24.30,31).
A BEM-AVENTURANÇA DO VER
Sim; o Novo Testamento registra uma bem-aventurança de Jesus que não consta da listagem do Sermão do Monte: "Bem-aventurados os vossos olhos porque vêem, e os vossos ouvidos porque ouvem" (Mt 13.16).
Há uma bem-aventurança no ver. Os versos 16 e 17 dão ênfase ao grande privilégio dos santos apóstolos porque viam eles o cumprimento de tudo o que "muitos profetas e justos desejaram ver... e não viram". Aos discípulos, então, é dado o segredo, o mistério do reino dos céus, e isso é uma dádiva da pura graça de Deus.
É esse mistério, então, é essa dádiva que é o motivo do anseio de Jó. No livro de Jó, nos lamentos que ele fazia pela sua situação terrível, assustadora, dizia : "Porque eu sei que o meu redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, o verão" (vv. 19:25-26). Isso foi reafirmado mais adiante, e para o nosso crescimento o autor sagrado coloca sua exclamação: "Com o ouvir dos meus ouvidos, ouvi, mas agora te vêem os meus olhos" (vv. 42:5). E Jesus Cristo diz: "Bem-aventurados os nossos olhos porque vêem".
Ora, não querer ver a Deus é insensatez! Quem pensaria em algo assim? E isso equivale a não crer em Jesus Cristo a na Sua missão redentora. Aqui está a palavra de Jesus: "Aquele que crê no filho tem a vida eterna: mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece" (Jó 3.36; cf. Jr 5.21).
Mas há uma situação reversa: desejar ver a Deus, contemplar o Senhor traz a marca da esperança. Agora podemos ir ao Sermão da Montanha: "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus" (Mt 5:8). Para ver o Senhor, porém, é preciso pureza de mãos, limpeza de coração. Nessa esperança viveu. Simão, o piedoso homem que aguardava "a Consolação de Israel" (Lc 2:25-32), e viveu Ana, a idosa profetisa que vivia no templo orando ao Senhor (Lc 2:36-38).
A Bíblia diz que é preciso olhar para Jesus: "fitando os olhos em Jesus autor e consumador da nossa fé" (Hb 12:2 a ), e assim foram bem-aventurados os apóstolos, que se pronunciaram sobre isso. Pedro disse:
"Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo as fábulas artificialmente compostas; mas nós ,mesmos vimos a sua majestade" (2 Pe 1.16);
e João afirmou:
"O que era desde o principio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da Vida. (Porque a vida foi manifestada , e nós a vimos e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o pai, e nos foi manifestada); O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo" (1 Jo 1.1-3).
Pois é; é necessário guardar a esperança, sabendo que ver a Jesus Cristo equivale a verá Deus (Jô 14:9).
A BEM-AVENTURANÇA DO OUVIR
Voltemos à palavra de Jesus: "Bem-aventurados os vossos olhos porque vêem, e os vossos ouvidos porque ouvem" (Mt 13:16).
Há, portanto, uma bem-aventurança no ouvir, idêntica à de ver. Mas, se desejar ver traz a marca da esperança, ouvir traz a marca da obediência, porque esse é o sentido da palavra ouvir no Antigo Testamento. Sempre que se encontrar o verbo "ouvir" no Antigo Testamento, ele equivale a obedecer.
É preciso ouvir a Deus; é preciso obedecer ao Senhor. Deuteronômio 15.5 tem esta palavra de Moisés: "Se somente ouvires diligentemente a voz do senhor teu Deus para cuidares em fazer todos estes mandamentos que hoje te ordeno". Por esse motivo, é insensatez não ouvir a Palavra de Deus, não querer saber do Senhor e da Sua Palavra. O testemunho da Escritura Sagrada a esse propósito esclarece que "O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável" (Pv 28.9). E, ainda: "Quem vos ouve a vós , a mim me ouve; e quem vos rejeita avós a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou" (Lc 10.16).
Essa é a razão porque a Escritura tem esse convite, quase ordem: "
Porque gastais o dinheiro naquilo que não é pão? E o produto do vosso trabalho naquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me atentamente, e comei o que é bom, e a vossa alam se deleite com a gordura. Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei um concerto perpetuo, dando-vos as firmes beneficências de Davi" (Is 55.2,3).
E de Jesus Cristo temos: "Quem tem ouvidos para ouvir ouça" (Mt 11.15).
E que vai dar isso como resultado? O resultado será habitar em plena e perfeita segurança: "Mas o que me der ouvidos habitará seguramente, e estará descansado do temor do mal" (Pv 133).
Outra conseqüência de ouvir o Senhor são as palavras certas, justas e balsâmicas para nossa vida, porque nada melhor pode existir que ter a palavra de Deus acalentando o nosso coração. Novamente pedindo o testemunho da Escritura Sagrada: "E o Senhor Jeová me deu uma língua erudita, para que eu saiba dizer a seu tempo uma boa palavra ao que está cansado: Ele desperta-me o ouvido para que ouça, como aqueles que aprendem" (Is 50.4).
Vemos ainda na palavra de Deus que quando ouvimos e seguimos a Palavra do Senhor, temos a vida, como Jesus diz em João 5.25: "Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão".
É preciso ouvir a Palavra de Deus, mas, sobretudo, é preciso segui-la. Entendemos que esta bem-aventurança é claríssima. Fala de ver, de ouvir, de esperança, de obediência e de fé; esta bem-aventurança fala de reino de Deus. João 12.20 em diante menciona o desejo que alguns gregos tinham, e por isso, pediram a Filipe: "Queríamos ver a Jesus!" Reconheciam a felicidade, a bem-aventurança. Por outro lado, a promessa de Deuteronômio 4:30 é iluminadora: "Então dali buscarás ao Senhor teu Deus, e o acharás, quando o buscares de todo o teu coração e de toda a tua alma"(Dt 4.29).
Isso é fé. Paulo acrescenta que "a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo"(Rm 1.:17), pois o ouvir tem que ser atualizado (Hb 4:2). Então, a promessa de Isaías 32.3 será real, perfeitamente real: "E os olhos dos que vêem não olharão para trás, e os ouvidos dos que ouvem estarão atentos".
- Pr. Walter Santos Baptista
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