O Novo Testamento estabelece a correlação entre fé e graça para garantir que não nos gloriemos no que só a graça realiza. Um dos exemplos mais conhecidos é este: "Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé" (Efésios 2.8). "Por graça, por meio da fé. Aí está a correlação protetora da liberdade da graça. A fé é o ato da alma que se afasta da nossa insuficiência e se volta aos recursos gratuitos e totalmente suficientes de Deus. A fé focaliza a liberdade de Deus para conceder graça ao indigno. Ela se fundamenta na liberalidade divina.
Por isso a fé, exatamente por sua natureza, anula a vangloria e se harmoniza com a graça. Não importa para onde a fé olha, ela vê graça por trás de todo ato digno de louvor. Assim não pode se gloriar, a não ser no Senhor. Desse modo Paulo, depois de dizer que a salvação é por graça por meio da fé, diz: "... e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie" (Efésios 2.8,9). A fé não consegue se vangloriar da bondade ou competência ou sabedoria humanas, pois ela focaliza a gratuita e suficiente graça de Deus. Não importa a bondade enxergada pela fé, ela a vê como fruto da graça. Quando olha para nossa "sabedoria, justiça, santidade e redenção" ela diz: "Quem se gloriar, glorie-se no Senhor" (ICoríntios 1.30,31).
Quando era menino, certa vez perdi pé na contracorrente do mar em Daytona Beach, senti como se estivesse sendo arrastado para o meio do oceano em um instante. Foi uma coisa aterrorizante. Tentei assumir o controle da situação e descobrir o caminho para fora da água. Mas não consegui firmar meus pés no fundo, e a correnteza era forte demais para eu poder nadar. Além disso, não era bom nadador. No pânico, só pensei em uma coisa: Quem pode me ajudar? Mas eu não conseguia nem gritar debaixo da água. Quando senti a mão do meu pai me segurando pelo braço, me apertando como uma prensa, essa foi a sensação mais agradável que já tive em toda a minha vida. Rendi-me completamente à força dele. Tive a satisfação de ser pego por ele segundo sua vontade. Eu não resisti. Nem me passou pela cabeça a idéia de que devia lhe mostrar que as coisas não estavam tão feias assim; ou que eu devia acrescentar minha força ao braço do meu pai. Tudo que pensei foi: Sim, eu preciso de você! Eu agradeço! Amo sua força! Amo sua iniciativa! Amo sua pegada! Você é fantástico! Com essa atitude de afeição de quem se rendeu, a pessoa não consegue se vangloriar. Chamo "fé" a essa afeição de quem se rendeu. E meu pai foi a personificação da graça futura pela qual tanto ansiava debaixo da água. Essa é a fé que exalta a graça.
Ao refletirmos sobre como viver a vida cristã, o pensamento mais elevado deve ser: Como posso exaltar, e não anular a graça de Deus? Paulo responde a essa pergunta em Gaiatas 2.20,21: "Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim. Não anulo a graça de Deus". Por que a vida dele não anula a graça divina? Porque ele vive pela fé no Filho de Deus. A fé chama toda a atenção para a graça e a exalta, em vez de anulá-la.
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