Jonathan Edwards uma vez pregou um sermão a respeito da visão beatífica, baseado no texto de Mateus 5.8. Em sua exposição, ele sustenta que a visão de Deus não será um ato físico:
“Não se trata de qualquer visão com olhos físicos: a bem-aventurança da alma não entra pela porta. Isto tornaria a bem-aventurança dependente do corpo, ou a felicidade da porção superior do homem dependente da inferior (...) Não se trata de qualquer forma ou representação visível, nem de contorno, nem de cor, nem de luz brilhante, que é vista, na qual esta grande felicidade da alma consiste”.
Embora a visão de Deus venha a consistir numa percepção espiritual, isto não significa que não teremos visão física no céu. Em nossos corpos ressurretos seremos capazes de desfrutar da visão do esplendor de Cristo:
“Os santos no céu contemplarão uma glória visível porquanto estão na natureza humana de Cristo, a qual está unida sob a forma da Trindade, que é o corpo daquela pessoa que é Deus; e terão a aparência indubitável de uma glória e beleza divinas e imutáveis no corpo glorificado de Cristo, o que será de fato uma visão agradável e abençoada de se ver.
Mas a beleza do corpo de Cristo, vista através de olhos físicos, será encantadora e deleitável, sobretudo porque expressará sua glória espiritual”.
Esta doce e majestosa visão do Cristo encarnado e glorificado não será a última visão de Deus de que nos falam as Escrituras. Edwards diz:
“Mas nisto consiste ver a Deus. É ter uma compreensão imediata, sensível e exata da gloriosa excelência e do amor de Deus.”
Quando Edwards fala de uma visão "imediata" de Deus, ele quer exprimir uma visão que não é indireta, através dos olhos. É uma "visão" direta da mente. Ele descreve detalhadamente qual o significado bíblico da "visão" de Deus. A "visão" de Deus é assim chamada porque, como Edwards assinala:
“a visão será muito direta; como quando vemos coisas com os olhos físicos. Deus irá, por assim dizer, revelar-se imediatamente a suas mentes, de modo que elas poderão contemplar a glória e o amor de Deus, do mesmo modo que um homem contempla o semblante de um amigo”.
Edwards fornece uma segunda razão, pela qual a visão beatí-fica é chamada de "visão":
“Ela é chamada de visão porque será mais do que certa. Quando as pessoas vêem uma coisa com os seus próprios olhos, isto lhes dá a maior certeza que elas podem ter a respeito desta coisa, maior do que aquela que elas poderiam ter a partir da informação de terceiros. Deste modo, a visão que elas terão no céu afastará qualquer incredulidade”.
Em terceiro lugar, Edwards cita a vivacidade desta experiência como sendo tão nítida quanto qualquer razão terrena:
“Ela é chamada de visão, porque a percepção da glória e do amor de Deus é tão clara e vigorosa quanto qualquer coisa que vemos com olhos físicos (...) Os santos no céu verão a glória do corpo de Cristo, após a ressurreição, com olhos físicos, mas esta maneira de ver a glória visível não será mais imediata e perfeita do que a contemplação da glória espiritual e divina de Cristo (...) Eles contemplarão Deus de um modo inefável, e para nós inconcebível”.
Finalmente, Edwards fala da visão da íntima natureza espiritual de Deus:
“A visão intelectual que os santos terão de Deus os tornará tão sensíveis à sua presença, e lhes dará tão grandes vanta¬gens no trato com ele, quanto a visão dos olhos físicos o fazem em relação a um amigo terreno (...) Mas suas almas terão a mais clara visão da própria natureza espiritual de Deus. Elas deverão contemplar seus atributos e disposição concernentes a eles de um modo mais que imediato, e portanto com uma certeza maior do que é possível de encontrar na alma de um amigo terreno através de seu discurso e de sua conduta”.
Desta maneira, Edwards fornece razoes lúcidas pelas quais a visão beatífica é chamada de visão. Ela envolve uma vista mais pura, mais ampla e mais deleitável do que uma visão terrena pode captar. Ele então explica a bem-aventurança que flui da visão. Ela é que torna a visão realmente beatífica:
“Primeiro. Ela produz um deleite adequado à natureza de uma criatura inteligente (...) A racionalidade do homem é, por assim dizer, um clarão celestial, ou, na linguagem do sábio, a "vela de Deus". Nela consiste essencialmente a imagem natural de Deus, é ela a faculdade mais nobre do homem, é ela que deve reger as outras faculdades; sendo concedida para este fim, que ela possa dirigir a alma (...) A satisfação intelectual consiste na contemplação de excelências e belezas espirituais, mas as gloriosas excelência e beleza de Deus são para os favoritos (...) É algo extremamente agradável para a razão, que a alma deva ela própria deleitar-se nisto (...) a fim de que, quando for desfrutada, esteja com paz interior e uma doce tranqüilidade na alma”.
No prazer da visão beatífica a alma finalmente alcança o fim de sua busca suprema. Finalmente adentramos este refúgio, onde encontramos nossa paz e descanso. O fim da inquietação é alcançado; a guerra entre a carne e o espírito termina. A paz que transcende a qualquer coisa neste mundo enche o coração. Alcançamos o apogeu da excelência e doçura somente sonhado neste corpo mortal. Deveremos vê-lo como ele é. Nenhum véu, nenhum escudo para esconder sua face. A visão imediata e direta inundará a alma a partir da fonte jorrando do alto. A alegria mais sublime, o prazer mais intenso, o deleite mais puro serão nossos sem mistura e sem fim.
Uma prova desta felicidade irá apagar todas as memórias dolorosas e curar cada ferida terrivelmente exposta neste vale de lágrimas. Nenhuma cicatriz restará. A jornada do peregrino estará completada. O corpo da morte, o peso do pecado, se evaporarão no momento em que contemplarmos a face de Deus.
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