O falar em línguas na primeira carta de Paulo aos Coríntios 14
Já temos comentado sobre o falar em línguas no Novo Testamento nos artigos “e as línguas?” e “O falar em línguas no livro de Atos dos Apóstolos”. Agora nosso objetivo é fazer uma breve análise sobre o fenômeno em 1 Co 14, visto que às vezes se questiona se as línguas nesta carta são idênticas às de Atos. A dúvida se dá também por causa das línguas hoje faladas no meio pentecostal, as quais não aparecem na forma de idiomas humanos, mas como o gritar ou falar sílabas desconexas e sem sentido.
Antes, porém, convém dar uma “olhadinha” nas chamadas línguas dos anjos de 1 Co 13.1. A revista do mestre da Escola Bíblica Dominical da Casa Publicadora das Assembleias de Deus no Brasil (CPAD), no ano de 2004, na lição 7, página 46, nos diz que tal fenômeno “Pode ser uma língua dos homens... ou dos anjos (1Co 13.1)”. Mas quando olhamos o texto de forma atenta, logo percebemos que em 1Co 13.1-3 o autor faz um exagero (uma hipérbole) sobre falar em línguas, profecia, fé e liberalidade em ajudar os necessitados, a fim de mostrar a superioridade e importância do amor. Ele diz “ainda que” eu fale as línguas... e (exagera) dos anjos... tenha o dom de profetizar e conheça TODOS OS MISTÉRIOS E TODA CIÊNCIA (alguém tem o dom da onisciência?)... tenha fé... TRANSPORTE MONTES (é essa a finalidade???)... distribua meus bens... e ENTREGUE MEU CORPO PARA SER QUEIMADO (isso ajudaria alguém??).
Além de Paulo NÃO ESTAR AFIRMANDO que o dom de línguas seja o falar também em línguas dos anjos, a Bíblia também não registra em nenhum lugar um crente sequer falando em língua dos anjos, e, PASMEM, NÃO HÁ TAMBÉM NEM UM ANJINHO SEQUER FALANDO EM LÍNGUA DOS ANJOS! Gabriel quando aparece a Maria fala na língua dela, e não em “gabrielês” (Mt 1.20,21), os anjos com Abraão e Ló (Gn 18-19) etc. Nem os serafins em Isaías 6.1-3 aparecem falando em tais línguas! Não esqueça: Paulo diz “AINDA QUE” antes de discriminar cada dom no texto. O batismo é com o Espírito Santo e não com o arcanjo Miguel!
Mas, e 1 Co 14? Bem, Paulo em todo o Capítulo 12 havia dito que a finalidade dos dons era a edificação da igreja como um todo, e não indivíduos apenas. Em 1Co 14 ele inicia exortando a busca pela profecia, em detrimento das línguas, com o fim de edificar a igreja (v.1), a não ser que haja interpretação para que todos sejam edificados (v.5). É aí que muitos pentecostais se equivocam sobre a natureza das línguas e acham que nessa epístola elas não são idiomas por causa dos v.2,3 e 4. Não devemos nos esquecer que a carta foi escrita com o fim de corrigir os erros que estavam ocorrendo na igreja de Corinto. É por isso que Paulo diz que quem “fala em língua não fala aos homens, senão a Deus...”. PORQUE ELE DISSE ISSO? Ele mesmo responde: “... visto que ninguém o entende”. Ele está dizendo o que está ocorrendo NA PRÁTICA! É como se alguém dissesse: “A sua esposa preparou um bolo, não para você, mas para as formigas, visto que ninguém comeu”. O bolo era para você, mas já que ninguém o comeu, na prática parece ter sido feito para as formigas. Paulo não estava dizendo, como muitos podem pensar, que a finalidade das línguas é a comunicação com Deus, mas falando o que estava OCORRENDO NA PRÁTICA, NA IGREJA.
Então alguém pode perguntar o por quê de Paulo escrever “em espírito fala mistérios...”(v.2). Ora, a palavra mistério aparece no Novo Testamento cerca de 28 vezes, cujo sentido é o de uma verdade sobre o método redentivo, outrora oculta, mas agora revelada. Exemplo: “...a vós é dado SABER OS MISTÉRIOS do Reino dos céus, mas a eles não lhes é dado...” ( Mt 13.11); “Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos” ( 1Co15,51). Note que mistério aqui é algo revelado e que edifica a igreja. Quando Paulo diz “em línguas fala mistérios”, mistérios aqui é o que é falado, o conteúdo, não a natureza da língua. Paulo falou mistérios várias vezes ( Rm11.25; 16.25;Cl 1.25,26). Quem falava em línguas trazia um mistério da parte de Deus. É por isso que Paulo deseja que haja quem traduza, para que toda a igreja seja edificada (v.5). O v.4 deve ser lido nessa perspectiva, pois, não havendo interpretação, se há algum tipo de edificação, essa só se daria para o falante simplesmente por saber que possuía o dom, visto que sua mente ficava infrutífera (v.14). O v.6 mostra que as línguas sem interpretação não tem utilidade. O v.9 chega a dizer que não havendo entendimento, os crentes, na prática, estariam como se ‘falassem ao ar’. Os v.11e 12 dizem que se não houver compreensão, as línguas acabariam por transformar falante e ouvinte em estrangeiros, e que, ainda que essa não fosse a finalidade das línguas, isso é o que estava acontecendo com os coríntios. O entendimento é o que edifica e o que deve ser buscado (v.19).
Os v.20-25 também são de grande relevância. Para explicar o que estava acontecendo, Paulo procura um texto que se encontra em Is 28.11,12, o qual se refere às línguas dos assírios que viriam para castigar o povo rebelde de Israel. Ora, será que o apóstolo usaria um texto que fala de idiomas para tentar explicar as línguas de Corinto caso essas não fossem idiomas humanos? Que escorregada hermenêutica teria dado o “doutor da Lei”! Contudo, Paulo sabia o que estava fazendo. Ele sabia das maldições pactuais estabelecidas por Deus em Deuteronômio 28 em caso de desobediência, e que um dos castigos era o de trazer uma nação de longe, e de língua desconhecido, para castigar Israel (v.49). Isso é repetido em Jeremias 5.15 e em Isaías 28.11,12. Sempre que Deus levantava profetas para exortar o povo ao arrependimento, para os que criam, as declarações proféticas funcionavam de sinal. Já os que não criam nos profetas, só passavam a acreditar que deveriam ter se voltado para Deus quando ouviam as línguas desconhecidas da nação inimiga sitiando a cidade santa. Lembremo-nos que Jesus certa vez falou aos fariseus e sacerdotes que, por causa da incredulidade, o reino de Deus lhes seria tirado e dado a um povo que produza seus devidos frutos (Mt 21.42-46). O tratamento especial dado a Israel (Cf. Sl 147.19,20), deixa de existir e o povo de Deus passa a ser formado por gente de todas as nações (Mt 28.19,20). Quando foi que isso ocorreu? Em Pentecostes (At 1.8; 2.1-13) e com o uso de línguas. Deus mais uma vez castigava Israel tomando-lhe o reino, só que agora seria definitivamente! Não esqueçamos que Paulo antes de ir para os gentios em Corinto, havia ido aos judeus nessa mesma cidade, havendo estes, em sua maioria, rejeitado o Evangelho (Cf. At 18.1-11). Aí ele lembra aos irmãos que o ouvir muitas línguas estrangeiras faladas ao mesmo tempo e sem tradução lembrava o castigo de Deus sobre o povo que não cria nos profetas (1Co 14.22). Esse comportamento seria motivo de escárnio para indoutos, levando o Evangelho a ser motivo de chacota (v.23). Agora, havendo a proclamação profética da vontade de Deus para o homem pecador, o descrente será confrontado com a verdade de sua condição de pecador e se prostrará diante do Senhor (v.24,25). Ainda que não tivessem sido proibidas (v.39), as línguas deveriam ser usadas com ordem e decência (v.40). E o que o autor entende por ordem e decência? Haver no máximo três que falariam no culto, sucessivamente e com tradução (v.27). Caso não houvesse intérprete, o fiel deveria ficar calado, falando consigo e com Deus (v.28). Alguns entendem que esse trecho recomenda o falar baixinho, mas note que ele diz antes “fique calado”, o que nos leva a crer que Paulo aqui recomenda uma oração silenciosa. Só assim é possível estar calado no culto e falando consigo e com Deus.
Sei que muitos poderão dizer que isso é afirmação de crentes frios, que não crêem no poder de Deus, e que com eles acontece segundo o Espírito Santo deseja, e que esse mover espiritual não seria apagado “pela letra morta”. Bem, aqueles que acharem que por que são mais espirituais devem desconsiderar as orientações deixadas pelo apóstolo, deixo as palavras de Paulo como reflexão:
Que Deus abençoe a todos!
Já temos comentado sobre o falar em línguas no Novo Testamento nos artigos “e as línguas?” e “O falar em línguas no livro de Atos dos Apóstolos”. Agora nosso objetivo é fazer uma breve análise sobre o fenômeno em 1 Co 14, visto que às vezes se questiona se as línguas nesta carta são idênticas às de Atos. A dúvida se dá também por causa das línguas hoje faladas no meio pentecostal, as quais não aparecem na forma de idiomas humanos, mas como o gritar ou falar sílabas desconexas e sem sentido.
Antes, porém, convém dar uma “olhadinha” nas chamadas línguas dos anjos de 1 Co 13.1. A revista do mestre da Escola Bíblica Dominical da Casa Publicadora das Assembleias de Deus no Brasil (CPAD), no ano de 2004, na lição 7, página 46, nos diz que tal fenômeno “Pode ser uma língua dos homens... ou dos anjos (1Co 13.1)”. Mas quando olhamos o texto de forma atenta, logo percebemos que em 1Co 13.1-3 o autor faz um exagero (uma hipérbole) sobre falar em línguas, profecia, fé e liberalidade em ajudar os necessitados, a fim de mostrar a superioridade e importância do amor. Ele diz “ainda que” eu fale as línguas... e (exagera) dos anjos... tenha o dom de profetizar e conheça TODOS OS MISTÉRIOS E TODA CIÊNCIA (alguém tem o dom da onisciência?)... tenha fé... TRANSPORTE MONTES (é essa a finalidade???)... distribua meus bens... e ENTREGUE MEU CORPO PARA SER QUEIMADO (isso ajudaria alguém??).
Além de Paulo NÃO ESTAR AFIRMANDO que o dom de línguas seja o falar também em línguas dos anjos, a Bíblia também não registra em nenhum lugar um crente sequer falando em língua dos anjos, e, PASMEM, NÃO HÁ TAMBÉM NEM UM ANJINHO SEQUER FALANDO EM LÍNGUA DOS ANJOS! Gabriel quando aparece a Maria fala na língua dela, e não em “gabrielês” (Mt 1.20,21), os anjos com Abraão e Ló (Gn 18-19) etc. Nem os serafins em Isaías 6.1-3 aparecem falando em tais línguas! Não esqueça: Paulo diz “AINDA QUE” antes de discriminar cada dom no texto. O batismo é com o Espírito Santo e não com o arcanjo Miguel!
Mas, e 1 Co 14? Bem, Paulo em todo o Capítulo 12 havia dito que a finalidade dos dons era a edificação da igreja como um todo, e não indivíduos apenas. Em 1Co 14 ele inicia exortando a busca pela profecia, em detrimento das línguas, com o fim de edificar a igreja (v.1), a não ser que haja interpretação para que todos sejam edificados (v.5). É aí que muitos pentecostais se equivocam sobre a natureza das línguas e acham que nessa epístola elas não são idiomas por causa dos v.2,3 e 4. Não devemos nos esquecer que a carta foi escrita com o fim de corrigir os erros que estavam ocorrendo na igreja de Corinto. É por isso que Paulo diz que quem “fala em língua não fala aos homens, senão a Deus...”. PORQUE ELE DISSE ISSO? Ele mesmo responde: “... visto que ninguém o entende”. Ele está dizendo o que está ocorrendo NA PRÁTICA! É como se alguém dissesse: “A sua esposa preparou um bolo, não para você, mas para as formigas, visto que ninguém comeu”. O bolo era para você, mas já que ninguém o comeu, na prática parece ter sido feito para as formigas. Paulo não estava dizendo, como muitos podem pensar, que a finalidade das línguas é a comunicação com Deus, mas falando o que estava OCORRENDO NA PRÁTICA, NA IGREJA.
Então alguém pode perguntar o por quê de Paulo escrever “em espírito fala mistérios...”(v.2). Ora, a palavra mistério aparece no Novo Testamento cerca de 28 vezes, cujo sentido é o de uma verdade sobre o método redentivo, outrora oculta, mas agora revelada. Exemplo: “...a vós é dado SABER OS MISTÉRIOS do Reino dos céus, mas a eles não lhes é dado...” ( Mt 13.11); “Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos” ( 1Co15,51). Note que mistério aqui é algo revelado e que edifica a igreja. Quando Paulo diz “em línguas fala mistérios”, mistérios aqui é o que é falado, o conteúdo, não a natureza da língua. Paulo falou mistérios várias vezes ( Rm11.25; 16.25;Cl 1.25,26). Quem falava em línguas trazia um mistério da parte de Deus. É por isso que Paulo deseja que haja quem traduza, para que toda a igreja seja edificada (v.5). O v.4 deve ser lido nessa perspectiva, pois, não havendo interpretação, se há algum tipo de edificação, essa só se daria para o falante simplesmente por saber que possuía o dom, visto que sua mente ficava infrutífera (v.14). O v.6 mostra que as línguas sem interpretação não tem utilidade. O v.9 chega a dizer que não havendo entendimento, os crentes, na prática, estariam como se ‘falassem ao ar’. Os v.11e 12 dizem que se não houver compreensão, as línguas acabariam por transformar falante e ouvinte em estrangeiros, e que, ainda que essa não fosse a finalidade das línguas, isso é o que estava acontecendo com os coríntios. O entendimento é o que edifica e o que deve ser buscado (v.19).
Os v.20-25 também são de grande relevância. Para explicar o que estava acontecendo, Paulo procura um texto que se encontra em Is 28.11,12, o qual se refere às línguas dos assírios que viriam para castigar o povo rebelde de Israel. Ora, será que o apóstolo usaria um texto que fala de idiomas para tentar explicar as línguas de Corinto caso essas não fossem idiomas humanos? Que escorregada hermenêutica teria dado o “doutor da Lei”! Contudo, Paulo sabia o que estava fazendo. Ele sabia das maldições pactuais estabelecidas por Deus em Deuteronômio 28 em caso de desobediência, e que um dos castigos era o de trazer uma nação de longe, e de língua desconhecido, para castigar Israel (v.49). Isso é repetido em Jeremias 5.15 e em Isaías 28.11,12. Sempre que Deus levantava profetas para exortar o povo ao arrependimento, para os que criam, as declarações proféticas funcionavam de sinal. Já os que não criam nos profetas, só passavam a acreditar que deveriam ter se voltado para Deus quando ouviam as línguas desconhecidas da nação inimiga sitiando a cidade santa. Lembremo-nos que Jesus certa vez falou aos fariseus e sacerdotes que, por causa da incredulidade, o reino de Deus lhes seria tirado e dado a um povo que produza seus devidos frutos (Mt 21.42-46). O tratamento especial dado a Israel (Cf. Sl 147.19,20), deixa de existir e o povo de Deus passa a ser formado por gente de todas as nações (Mt 28.19,20). Quando foi que isso ocorreu? Em Pentecostes (At 1.8; 2.1-13) e com o uso de línguas. Deus mais uma vez castigava Israel tomando-lhe o reino, só que agora seria definitivamente! Não esqueçamos que Paulo antes de ir para os gentios em Corinto, havia ido aos judeus nessa mesma cidade, havendo estes, em sua maioria, rejeitado o Evangelho (Cf. At 18.1-11). Aí ele lembra aos irmãos que o ouvir muitas línguas estrangeiras faladas ao mesmo tempo e sem tradução lembrava o castigo de Deus sobre o povo que não cria nos profetas (1Co 14.22). Esse comportamento seria motivo de escárnio para indoutos, levando o Evangelho a ser motivo de chacota (v.23). Agora, havendo a proclamação profética da vontade de Deus para o homem pecador, o descrente será confrontado com a verdade de sua condição de pecador e se prostrará diante do Senhor (v.24,25). Ainda que não tivessem sido proibidas (v.39), as línguas deveriam ser usadas com ordem e decência (v.40). E o que o autor entende por ordem e decência? Haver no máximo três que falariam no culto, sucessivamente e com tradução (v.27). Caso não houvesse intérprete, o fiel deveria ficar calado, falando consigo e com Deus (v.28). Alguns entendem que esse trecho recomenda o falar baixinho, mas note que ele diz antes “fique calado”, o que nos leva a crer que Paulo aqui recomenda uma oração silenciosa. Só assim é possível estar calado no culto e falando consigo e com Deus.
Sei que muitos poderão dizer que isso é afirmação de crentes frios, que não crêem no poder de Deus, e que com eles acontece segundo o Espírito Santo deseja, e que esse mover espiritual não seria apagado “pela letra morta”. Bem, aqueles que acharem que por que são mais espirituais devem desconsiderar as orientações deixadas pelo apóstolo, deixo as palavras de Paulo como reflexão:
“Se alguém se considera profeta ou espiritual, reconheça ser mandamento do Senhor o que vos escrevo. E, se alguém o ignorar, será ignorado.” (1 Co 14.37,38).
Que Deus abençoe a todos!
Autor: Anderson José Teixeira Cavalcanti de Barros
Fonte: [ Plugados com Deus ]
Via: [ Presbiterianos Calvinistas ]
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