por Rousas John Rushdoony
Ao escrever isso, faço-o logo após jogar uma carta na lareira, para ser queimada como algo imundo. O escritor, um estranho total, exigiu saber o porquê eu acredito que os “crentes do Novo Testamento” devem dizimar. De alguma forma para ele é uma marca de apostasia alguém acreditar que seja o nosso dever obedecer ao Senhor. Para ele, dízimo é uma marca da Besta, um sinal de farisaísmo, romanismo e todo outro tipo de mal que ele pode imaginar! Não somente isso, mas todo o seu veneno é visto como zelo pelo evangelho. Para tais pessoas, as palavras de Paulo em 2 Coríntios 11.13-15 são muito apropriadas. Não adianta fazê-los lembrar das palavras do nosso Senhor: “É mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til sequer da Lei” (Lucas 16.17). Eles acham mais santo dar livremente para si mesmos e escassamente ao Senhor. Mas como Lansdell escreveu, nosso Senhor foi enfático ao dizer que nossa justiça deve exceder aquela dos escribas e fariseus, caso contrário não entraremos no reino dos céus (Mt 5.20). Como nossa justiça ou cumprimento da lei excederá aquela dos escribas e fariseus? Primeiro, considerando a lei com seriedade, e não evasivamente, não mediante um esforço por obediência formal, que constitui uma zombaria para com a lei; segundo, vendo o pleno significado da lei para o coração, mente e ações dos homens. Nas palavras de Lansdell:
Jesus Cristo não promulgou novamente aos cristãos, a partir do Sinai do Novo Testamento, a lei contra o assassinato, ou adultério, ou qualquer outra lei; mas para mostrar a natureza obrigatória e espiritual da lei mosaica, e seus princípios bem abrangentes, ele ensinou que esses mandamentos podem ser violados por uma palavra irada, ou mesmo por um olhar pecaminoso. Nem o Senhor promulgou novamente que os seus seguidores deveriam pagar um dízimo patriarcal, um dízimo levítico, um dízimo festivo, um maaser, ou qualquer outro; mas tão longe estava ele de repelir a lei concernente aos dízimos, ou rebaixar as reivindicações de Deus sobre a propriedade, que ele apresentou diante daqueles que seriam os seus seguidores um cumprimento mais completo da lei de Deus; e um ideal bem mais elevado, deixando entesouradas na memória dos seus ouvintes aquelas palavras memoráveis: “Mais bem-aventurado é dar que receber.” (Atos 20.35); e proclamando a cada um dos seus supostos seguidores: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo” (Lucas 14.33). (p. 126)
A reivindicação de Deus sobre propriedade, pessoas, tempo e todas as coisas mais é total; é por sua graça e misericórdia que ele pede que os dízimos e ofertas sejam dados a ele, e o restante seja usado por nós como membros fieis do seu pacto.
Dessa forma, a pergunta “a quem dizimamos?” já foi respondida: ao Senhor. A Escritura declara que nossos dízimos devem ser “santos ao Senhor” (Lv 27.32), isto é, devem ser separados para ele e sua obra e requerimentos. O dízimo não pertence à igreja ou a alguma agência cristã, embora possa ser dado a elas. Não importa em que mãos esteja, ele pertence ao Senhor.
Quando os levitas eram piedosos, Israel pagava os seus dízimos aos levitas, mas, mesmo então, o dízimo pertencia ao Senhor e poderia ser dado diretamente à causa que o dizimista considerava ser fiel. Dessa forma, em tempo de apostasia, um homem de Baal-Salisa trouxe as suas primícias diretamente a Elias e os seus seguidores (2 Reis 4.42-44). Os levitas não eram uma instituição, mas homens separados para o serviço do Senhor.
Visto que o dízimo é “santo ao Senhor”, é o nosso dever como dizimistas julgar que igreja, grupo missionário ou agência cristã é mais claramente “santa ao Senhor”. O dízimo em si não é para o Senhor se o dízimo for para agências ímpias, extravagantes ou mediocremente eficazes. Dessa forma, o Senhor nos considera responsáveis pelo uso do seu dinheiro, assim como considera o recebedor dele plenamente responsável também.
Isso significa que temos o dever de dar sabiamente. Precisamos estudar tanto a fidelidade como a eficácia de toda agência a qual pretendemos dizimar. Ela é eficaz em nossas vidas e na vida dos outros? Ela usa o dinheiro sabiamente?
O uso sábio do dinheiro não significa usá-lo de forma miserável nem extravagante: é um uso eficaz. Algumas pessoas parecem sentir que há uma virtude especial na pobreza, e preferem causas missionárias que mantém os missionários na beira da pobreza. Isso está em violação de 1 Timóteo 5.17. Um missionário me falou de uma missão que pagava seus missionários ineficazes tão bem que eles estavam em nível de riqueza naquele país estrangeiro. Ao mesmo tempo, outra agência enviou seus missionários “pela fé” e pagava-os tão pobremente que ele e sua esposa acharam necessário dar-lhes comida para que não morressem de fome.
Igualmente, a um pastor eficaz e que trabalhava duro foi negado um aumento muito necessário. A razão veio da reunião do conselho. Um membro-chave do conselho, um homem invejoso e que fracassara em um emprego após outro, mas um membro santarrão e ativo na igreja, lutou amargamente para impedir o aumento, declarando: “O pregador então ganhará mais dinheiro do que eu. É o seu serviço se sacrificar por causa do Senhor”. Esse tipo de raciocínio ímpio é muito comum. Em escolas cristãs, espera-se regularmente que professores “se sacrifiquem” aceitando salários imoralmente baixos, para que os pais possam evitar sacrificar algo. Porque o trabalhador é digno do seu salário (Lucas 10.7), privar um professor de uma escola cristã do seu salário devido a fim de subsidiar um pai e o seu filho é simplesmente roubo. Deus não honra ladrões, e a maioria dos pais em escolas cristãs são ladrões.
Portanto, cuidado com agências que não tratam os trabalhadores de Deus honestamente. Uma estação de televisão “cristã” regularmente paga mal ou simplesmente deixar de pagar os seus empregados, enquanto expande continuamente algum aspecto de suas facilidades e promoções. Os membros do seu conselho são ladrões. Estão usando incorretamente o dinheiro de Deus e roubando os trabalhadores do Senhor.
Dessa forma, a igreja ou agência dever ser uma que obedeça ao Senhor. Ela evita a dívida? Ela empresta ou toma emprestado de crentes com juros ou usura? Ela proclama todo o conselho de Deus? Relatórios financeiros são publicados anualmente? Eles são compreensíveis? Quanto de sua atividade é promoção, e quanto é ação?
Ela é eficaz? Há alguns anos, numa tempestade violenta, eu falei numa cidade a um grupo de cinco pessoas; seguiram-se alguns resultados notáveis. Uns poucos dias depois, falei a mil e cem pessoas, com uma boa recepção, mas nenhum resultado. Aprendi rapidamente que algumas atividades parecem impressionantes, mas produzem pouco; o importante não é semear a semente em mil acres estéreis; antes, é bem melhor semear mesmo que seja num único acre, mas fértil. É uma boa relação pública falar e trabalhar com grupos grandes e impressionantes, mas a obra do Senhor não é relações públicas, “mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Romanos 14.17).
Finalmente, somos informados que o Senhor “ama a quem dá com alegria” (2Co 9.7). S. Paulo não estava falando sobre dízimos aqui, mas mais do que isso: uma oferta especial para aliviar a fome de santos em necessidade e sofrimento. A palavra traduzida como “alegria” é literalmente, no grego, hilário. Por que deveríamos, em nossos dízimos e ofertas, ser hilários ou alegres ao pagar e dar? A palavra fala de felicidade, de espíritos felizes e regozijantes, e com boa razão. Os impostos que pagamos aos homens são em grande parte desperdiçados, e os seus resultados são perversos. Quando damos ao Senhor, nenhuma palavra, ato ou centavo é em vão (1Co 15.58). Deus ordenou que sua palavra não retornará para ele vazia, mas cumprirá aquilo que lhe agrada, e prosperará em seu propósito ordenado (Isaías 55.11). Isso significa que, quando damos ao Senhor, damos eficazmente. Todo o nosso dízimo e oferta é poderoso para remoção das coisas que existem, e para o estabelecimento daquilo que pode permanecer, aquilo que é do Senhor (Hb 12.27). Estamos ajudando a financiar a vitória de Deus por meio dos seus servos. Isso é de fato algo hilário: significa que podemos fazer tanto a nossa vida como o nosso dinheiro contarem para o Senhor.
Fonte: Capítulo 7 do excelente livro “Tithing and Dominion”, futuro lançamento da Editora Monergismo.Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
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