por Dr. Greg L. Bahnsen
A ironia intelectual da década anterior é a de que, enquanto teólogos seculares e pós-radicais se uniram para anular a deidade sobrenatural da Escritura, tem havido uma onda periódica de publicações e reimpressões sobre Satanás e o ocultismo. Deus pode estar sem sentido ou morto, mas Satanás está vivo e ativo no planeta terra (ou ao menos é o que nos dizem). Uma seção separada, dedicada exclusivamente à literatura sobre ocultismo e demonologia tem sido por necessidade montada em muitas livrarias cristãs e seculares; somente alguém dedicado exclusivamente à satanologia poderia manter-se informado sobre a literatura e as relações sociais centralizadas em torno desses tópicos.
A igreja antiga em Tiatira vivia no meio de uma sociedade economicamente dominada por guildas, politicamente controlada por pagãos imorais, culturalmente subjugada por atividades desenfreadas e religiosamente oprimida pela idolatria e pelo misticismo. Como a igreja de hoje, a de Tiatira tinha de ser lembrada de que todo o poder e autoridade no céu e na terra pertenciam ao Messias ressurreto (conf. Mt. 28:18) e que Ele prometera exercer controle sobre as nações através do Seu povo (Ap. 2:26-27). O domínio seria do reino de Deus, e não do de Satanás. No entanto, ainda que Satanás exercesse o poder central sobre a história, uma seita herética e mística dentro da igreja se orgulhava de uma suposta compreensão doutrinária (como dizem) dos “profundos segredos de Satanás” (Ap. 2:24). Sua ênfase recaía sobre o príncipe das trevas ao invés de sobre a Luz do mundo, e apesar de seus experimentos concentrados nas coisas de Satanás, esses “jezabitas” pensavam equivocadamente que haviam aprimorado sua caminhada cristã!
Um amplo segmento da igreja na atualidade também tem concentrado sua atenção pessimista em Satanás e seus poderes. Juntamente com a avalanche de literatura sobre esse assunto veio também a alegação de alguns autores de revelar “os profundos segredos de Satanás” e a declaração de muitos outros autores de que Satanás é o fator determinante no desfecho da dispensação presente. Como a igreja em Tiatira, a igreja moderna perdeu de vista o fato de que a escuridão não pode vencer a luz (João 1:5); como consequência, ela se acovarda diante das obras das trevas ao invés de reprová-las (Ef. 5:11). Calhamaços de textos são escritos, entregando desesperadamente o mundo a Satanás e ao anticristo. O tema da vitória, que desempenha um papel crucial nas cartas às sete igrejas em Apocalipse 2-3 têm sido ora reinterpretado, ora eliminado. Satanás passou a ocupar lugar de destaque até algum tempo depois do “arrebatamento secreto” (a mais recente doutrina escapista), e a convicção sólida de Martinho Lutero parece ter sido relegada a um plano inferior:
Se nos quisessem devorar
Demônios não contados,
Não nos podiam assustar,
Nem somos derrotados.
O grande acusador
Dos servos do Senhor
Já condenado está;
Vencido cairá
Por uma só palavra.
À luz da informação sobre Satanás que está sendo publicada nestes dias, o crente precisa ter consciência da perspectiva sobre Satanás que é exposta nas Escrituras da Nova Aliança. Somente este ensino revelacional é capaz de fornecer um padrão apropriado com o qual estudos atuais a ele comparados podem ser avaliados por sua acuracidade, ortodoxia e valor ético. As páginas a seguir tentarão resumir o que o Novo Testamento revela sobre Satanás e sua obra. Nós nos concentramos na revelação da Nova Aliança, considerando as limitações do estudo extenso de um objeto, mas ainda mais importante, na alteração profunda e consideravelmente relevante da posição de Satanás no período inter-advento. Nossas conclusões estarão organizadas sob oito importantes definições de Satanás no Novo Testamento; essas definições resumem convenientemente as várias facetas refletidas na doutrina bíblica de Satanás, bem como afastam para bem longe o engano de Tiatira.
O INÚTIL (BELIAL)
II Coríntios 6:15 é um bom lugar para uma caracterização geral de Satanás. Durante a exortação aos crentes para que se abstenham do comprometimento com um mundo incrédulo e pecaminoso, Paulo organiza uma série de contrastes antitéticos. A justiça não tem nenhuma comunhão com a maldade (vs. 14; conf. Rm.; Hb. 1:9), assim como a luz é incompatível com as trevas (conf. Rm. 13:12; Ef. 5:8; 1 Pe. 2:9; 1 Jo. 1:5). As forças da justiça e da luz, assim como as forças da maldade e das trevas têm um comandante sobre elas; Paulo, consequentemente, torna o contraste mais pessoal. Ele avança dos termos éticos mais abstratos rumo a um contraste entre dois indivíduos nomeados: Cristo e Belial. A antítese entre esses dois talvez seja ampliada devido ao fato de que na Apócrifa e na Pseudo-Epigrafa, “Belial” denote não apenas o primeiro anjo caído e acusador do povo de Deus (i.e., Satanás), mas também o anticristo.
Por um lado, temos “Cristo”, o “ungido” de Deus. Ele é o eleito e favorecido por Deus, aquele em quem se encontra a suprema dignidade, e que merece o mais elevado louvor. Aquele que Deus unge é cheio do Espírito Santo (conf. Is. 61:1) e tipifica aderência à justiça: “Amas a justiça e odeias a iniqüidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria, como a nenhum dos teus companheiros.” (Sl. 45:7). Em comparação ao valor de Cristo, todas as outras coisas devem ser consideradas como perda e refugo (Fp. 3:8). Assim, o Ungido de Deus, o Messias é o resumo da legalidade e da honra mais elevada. No entanto, contra “Cristo” há “Belial”. No Antigo Testamento “belial” era usado como um adjetivo para descrever os homens ímpios, especialmente os que eram culpados de imoralidade bruta e de rebelião contra autoridade. Tinha o sentido geral de inutilidade (“sem benefício, ou uso”). Através de uma leve modificação da derivação da palavra, a tradição rabínica interpretava “belial” como “sem jugo,” ou seja, alguém que é rebelde, irrefreável ou sem lei. A ideia de que belial é alguém que recusava o jugo da lei é novamente reafirmada pelo fato de que a Septuaginta traduz “belial” como “ilegalidade”, tanto em sentido geral como no termo aplicado a pessoas. A literatura inter-testamentária definitivamente identificava Satanás como “Belial.” Do mesmo modo, Paulo usa “Belial” como um título para Satanás em 2 Coríntios 6:15, tomando-o como o paradigma da ilegalidade e da inutilidade. Belial e Cristo estão em antagonismo insolúvel; não há nenhuma harmonia (“sinfonia” tem a mesma origem da palavra grega) entre os dois.
Aqui, então, temos uma caracterização básica com a qual podemos começar nossa análise sobre Satanás. Paulo o apresenta não simplesmente como um princípio, um símbolo ou uma força impessoal, mas como o membro de igual importância em sua série de contrastes em relação à pessoa de Cristo. Satanás é uma pessoa. Não pode ser racionalizado como um mito pré-científico ou uma personificação literária. Ele se move (1 Pe. 5:8), trabalha (Ef. 2:2), conhece (Ap. 12:12), fala (Mt. 4:3), trama (2 Co. 2:11), deseja (Lucas 22:31), disputa (Judas 9), engana (2 Co. 11:3), sente emoção (Ap. 12:12; 1 Tm. 3:6, Tiago 2:19), tenta (1 Ts. 3:5), faz promessas (Mt. 4:9), peca (1João 3:8) e se envolve em muitas outras atividades de natureza pessoal.
É claro que Satanás é mais que simplesmente uma pessoa, de acordo com Paulo em 2 Coríntios 6:15. Ele é uma pessoa inútil e corrupta, o representante pessoal das trevas e da injustiça. A partir daquilo que o Novo Testamento nos ensina, a queda de Satanás deve ser atribuída à sua apostasia da verdade (João 8:44) e ao seu orgulho condenável (1 Tm. 3:6). Arrogando-se de ter prerrogativas que não eram suas próprias, Satanás não permaneceu firme na verdade. Consequentemente, não manteve sua condição ou posição original (conf. Judas 6). Quando caiu, arrastou uma multidão de anjos com ele, como indica Judas 6 ao mencionar uma pluralidade de anjos apóstatas. Verdadeiramente, a menos que a menção a um terço das estrelas sendo lançadas sobre a terra em Apocalipse 12:4 seja meramente uma figura usada para expressar o tamanho ou a influência do dragão vermelho com respeito ao imaginário dessa passagem, parece que uma minoria significativa de anjos (simbolizados pelas estrelas; conf. Ap. 9:1, onde Satanás aparece como uma estrela) caiu com ele (assim como mais tarde ficou desprovida de certo poder, juntamente com ele; conf. Ap. 12:9). Não contente com esse resultado, Satanás também se empenhou no projeto de conquistar a lealdade dos homens na desobediência. Historicamente, ele é responsável por enganar Eva (2 Co. 11:3) e por desencadear, por meio de suas mentiras, a morte espiritual da raça humana (conf. João 8:44). A desaprovação sentida pelos autores inspirados para com Satanás é manifesta a partir da designação que eles lhe dão de maligno (Mt. 6:13; 13:19, 38; João 17:15; Ef. 6:16; 1 João 2:13-14; 3:12; 5:18-19), caluniador (Mt. 4: 1, 11; Lucas 4:2, 6; 1 Tm. 3:6-7; 2 Tm. 2:26; 1 Pe. 5:8; Ap. 12:9; 20:2), adversário (1 Pe. 5:8), inimigo (Mt. 13:28-29), acusador (Ap. 12:10), destruidor (1 Co. 10:10), e líder mundial das trevas (Ef. 6:12); como mentiroso e homicida (João 8:44), anjo do abismo (Ap. 9:11), leão que ruge (1 Pe. 5:8), dragão vermelho (Ap. 12:3-17; 20:2), e a velha serpente (Ap. 12:9; 20:2; 2 Co. 11:3). Ele não apresenta nada que seja construtivo, aproveitável ou bom.
Finalmente, 2 Coríntios 6:15 retrata Satanás em extrema oposição à pessoa de Cristo e a tudo o que Ele representa; não há qualquer ponto no qual Satanás e Belial possam harmonizar-se com Cristo. Satanás é dedicado à obra de atrapalhar e destruir o reino de Deus (quer esse objetivo seja realista, quer não). Com esse alvo ele aparece, não apenas como o tentador do primeiro Adão, mas também como o tentador de Jesus Cristo, o Segundo Adão. Imediatamente após o batismo de Jesus, Ele foi para o deserto para ser tentado pelo demônio, que fez um ataque ostensivo à aprovação divina que Jesus havia recebido em seu batismo, bem como à presumível autoridade sobre os reinos do mundo (Mt. 4:1-11). Satanás esforçou-se por induzir Jesus a trair o Seu chamado, submeter-se ao reino das trevas, e assim abandonar o estabelecimento do reino de Deus. Satanás estava lutando por sua vida, assim como Jesus resistiu em face do ataque demoníaco a fim de redimir, reivindicar e refazer a vida de Seu povo eleito. A confrontação no deserto foi uma batalha mortal entre dois reinos, e Cristo venceu essa batalha que Satanás e Adão haviam perdido, não por meio do poder autônomo, mas da completa obediência à vontade de Deus. Diferentemente de Satanás, Jesus estava disposto a humilhar-se (conf. Fp. 2:7-8), e permaneceu na verdade (conf. João 1:14,17).
Além de nos mostrar a principal derrota de Satanás, essa narrativa também revela a personalidade de Satanás como o antagonista amargo do Ungido de Deus e Messias do Reino. Ele expressa esse antagonismo atuando em indivíduos (Ef. 2:2), no corpo (Lucas 13:16) e na mente (Lucas 22:3), através do mundo natural (Lucas 8:23-24, onde Jesus repreendeu as ondas assim como repreendera os demônios, por exemplo em Marcos 9:25), no comportamento social (Lucas 8:27) e nas relações (2 Co. 2:5-11), nas questões intelectuais (1 Tm. 4:1), nos assuntos políticos (Ap. 12-13), e nos religiosos, quer nas falsas seitas (2 Co. 11:14-15) ou no caminho verdadeiro, distorcendo-o (Gl. 4:8-9) e competindo com (Mt. 13:39) a pregação do evangelho. Não há nenhuma faceta da vida que Satanás evite em seu projeto de atrapalhar o reino de Cristo. Ele é uma pessoa inútil que em ponto algum se harmoniza com Cristo. Ele é, em resumo, “Belial.”
O PRÍNCIPE DOS DEMÔNIOS
De acordo com a Escritura, não há somente anjos de Deus (Mt. 22:30; Lucas 12:8; 15:10; João 1:51), mas, por contraste, há também “anjos de Satanás” (Mt. 25:41; 2 Co. 12:7; Ap. 12:7, 9).
Estes são denominados “demônios.” Enquanto há muitos daimonia (demônios) mencionados na Bíblia, há somente um diabolos (demônio). Uma minoria significativa de anjos criados pecou juntamente com Satanás e com ele foi lançada à terra (2 Pe. 2:4; Ap. 12:4), tornando-se assim um grupo de demônios sob a liderança do diabo. Consequentemente, Satanás é chamado “o príncipe dos demônios” em Mateus 9:34. Paulo o denomina de “príncipe da potestade do ar” (Ef. 2:2), e em Apocalipse 9:11, ele é considerado “rei sobre” o enxame do abismo. Assim como Cristo é o cabeça de Sua igreja, o soberano monarca sobre Seus discípulos, assim também Satanás é o líder da multidão demoníaca; ele tem um exército de espíritos desobedientes sob seu comando. Esses demônios são perversos, sujos e cruéis (Mt. 8:28; 10:1; Marcos 5:2-5; 9:20; Atos 19:15).
Além disso, há graus de perversidade entre eles (Mt. 12:45), e alguns são mais difíceis de exorcizar que outros (Mt. 17:21). Alguns textos fornecem detalhes de várias categorias de anjos e demônios (Ef. 1:21; 3:10; 6:12; Cl. 1:16; 2:10, 15), que sugerem a possibilidade de uma hierarquia de demônios, embora as muitas combinações de títulos tornem impossível para nós estabelecer firmemente qual seria a graduação. No entanto, uma coisa é certa: Satanás é o príncipe ou soberano deles, ultrapassando a todos em autoridade e em nível de perversidade e força.
Muitos têm sustentado que Mateus 12:43-45 e Marcos 5:12 DEMONSTRAM QUE OS DEMÔNIOS ANSEIAM OCUPAR CORPOS FÍSICOS E QUE ESSE É SEU MODUS OPERANDI PRIMORDIAL. NO ENTANTO, A PRIMEIRA PASSAGEM PARECE SER UMA PARÁBOLA REFERENTE NÃO APENAS A INDIVÍDUOS, MAS A CULTURAS OU SOCIEDADES INTEIRAS QUE TENTAM SER NEUTRAS EM RELAÇÃO A CRISTO. A SEGUNDA PASSAGEM MUITO PROVAVELMENTE REPRESENTA UMA TÁTICA DE DIVERSIFICAÇÃO (E NESSE PONTO MALOGRADA) POR PARTE DOS DEMÔNIOS. MAS QUER A POSSESSÃO FÍSICA DE CORPOS (ESPECIALMENTE HUMANOS) SEJA OU NÃO UM PROCEDIMENTO-PADRÃO de DEMÔNIOS, AS NARRATIVAS DO NOVO TESTAMENTO SOBRE POSSESSões DEMONÍACAS SÃO MUITAS (HÁ NO MÍNIMO CINQUENTA E DOIS EXEMPLOS SOMENTE NOS EVANGELHOS, ONDE A PALAVRA “ENDEMONINHADO” OCORRE CINQUENTA E CINCO VEZES E A expressão “IMUNDO” OU “ESPÍRITO(S) MALIGNO(S)” APARECE VINTE E OITO VEZES); EXEMPLOS CLÁSSICOS DE POSSESSÃO DEMONÍACA SÃO OS DOS DOIS HOMENS GADARENOS (MT. 8:28-34 E PARALELOS), O HOMEM MUDO (MT. 9:32-33), O HOMEM CEGO E MUDO (MT. 12:22 E PARALELOS), A FILHA DA SIRO-FENÍCIA (Mt. 15:22-29 E PARALELOS), A CRIANÇA LUNÁTICA (Mt. 17:14-18 E PARALELOS), O HOMEM NA SINAGOGA (MARCOS 1:23-26 E PARALELOS), E MARIA MADALENA (MARCOS 16:9 E PARALELOS).
A BÍBLIA, DE FORMA GERAL, deseja que entendamos A POSSESSÃO DEMONÍACA COMO UMA OCORRÊNCIA REAL, e NÃO MERAMENTE UMA DESCRIÇÃO METAFÓRICA. AS NARRATIVAS DO EVANGELHO FAZEM DISTINÇÃO CLARA ENTRE DOENCA E POSSESSÃO DEMONÍACA ÀS VEZES COMO FENÔMENOS SEPARADOS E ÀS VEZES COMO CAUSA E EFEITO (MT. 4:24; 8:16; MARCOS 1:32). VALE NOTAR QUE LUCAS, UM MÉDICO EM SEUS DIAS, MENCIONA AMBAS SEPARADAMENTE (LUCAS 4:33-36, 40-41; 6:17-18; 9:1-2). ALÉM DISSO, O SENHOR DIRIGE-SE AOS DEMÔNIOS COMO ENTIDADES DISTINTAS DA PESSOA POSSUÍDA (MT. 17:18; 8:32; MARCOS 1:25, 34; 9:25). FINALMENTE, A POSSESSÃO PODERIA OCORRER POR MEIO DE UM grande número DE DEMÔNIOS (MARCOS 5:9; 16:9; LUCAS 11:26) E SE MANIFESTAR EM PORCOS; AMBOS OS FATOS SERIAM ENFEITES SUPÉRFLUOS SE A POSSESSÃO DEMONÍACA FOSSE SIMPLESMENTE UM MODO MITOLÓGICO DE FALAR SOBRE DOENÇA MENTAL (IRONICAMENTE, SE ALGUMA COISA É UM MITO, SUPÕE-SE QUE SEJA UM FENÔMENO DE DOENÇA MENTAL, E NÃO DE POSSESSÃO DEMONÍACA!). A POSSESSÃO DEMONÍACA PODERIA TER UMA INFLUÊNCIA PROFUNDA E preponderANTE SOBRE O CORPO (MARCOS 9:17-26), A VONTADE (JOÃO 13:27), AS PALAVRAS (MARCOS 1:23) E A MENTE DE ALGUÉM (MARCOS 5:1-18). O ENDEMONINHADO PODIA PERDER O CONTROLE SOBRE SI MESMO, E ISSO CONTRA A SUA VONTADE (CONF. LUCAS 9:39). A POSSIBILIDADE DA POSSESSÃO DEMONÍACA NA ATUALIDADE SERÁ DISCUTIDA BREVEMENTE ABAIXO.
A BÍBLIA DÁ MAIS INFORMAÇÕES SOBRE DEMÔNIOS. EM EFÉSIOS 2:2, PAULO DESCREVE SATANÁS COMO “O PRÍNCIPE Da POtestade DO AR”, UMA ALUSÃO QUE ENCERRA AO MENOS TRÊS LIÇÕES. PRIMEIRO, OS CONTROLADORES DEMONÍACOS DA REBELIÃO PECAMINOSA (TREVAS) SOBRE QUEM SATANÁS GOVERNA, SÃO PODERES ABSTRATOS Deste mundo tenebroso (CONF. EF. 6:12). SEGUNDO, ESSES AGENTES ESPIRITUAIS ENCHEM O AR (CONF. EF. 3:10-12) OU OCUPAM A ATMOSFERA AO REDOR DA TERRA; OU SEJA, PAULO OS RETRATA VIVIDAMENTE COMO SERES QUE HABITAM O NOSSO MUNDO, FORÇAS ESPIRITUAIS AO NOSSO ALCANCE E COM QUEM LUTAMOS (CONF. EF. 6:12). E TERCEIRO, PORQUE PODERES DO MAL NÃO-MATERIAIS ESTÃO EM AÇÃO POR TODO O MUNDO, ELES CRIAM UMA ATMOSFERA ÉTICA OU UMA VISÃO DE MUNDO IMPREGNANTE EM DETERMINADA CULTURA (NOTE COMO “POtestade DO AR” É PARALELO A “ORDEM [ESPÍRITO, É CLARO] DESTE MUNDO” EM EF. 2:2); PORQUE OS FILHOS DA DESOBEDIÊNCIA TÊM O PRÍNCIPE DO PODER DO AR atuANDO NELES, CAMINHAM NA vaiDADE DE SEUS Próprios ENSAMENTOS (EF. 4:17). UMA SOCIEDADE OU CULTURA PODE CHEGAR A UMA ESTRUTURA MENTAL QUE SEJA APROPRIADAMENTE DESIGNADA DE “DEMONÍACA”; PODE DESENVOLVER UMA ATMOSFERA DE OPINIÃO QUE SEJA INÚTIL, CORRUPTA E DESTRUTIVA COMO É O PRÓPRIO BELIAL.
NO ENTANTO, NÃO SE DEVE PENSAR QUE SATANÁS E SEU EXÉRCITO DEMONÍACO SEJAM NO FINAL DAS CONTAS INDEPENDENTES DE DEUS, CONSTITUINDO-SE UMA FORÇA RIVAL GENUÍNA NO UNIVERSO. EM APOCALIPSE 9:1-11 LEMOS QUE SATANÁS, COMO ANJO DO ABISMO, LIBERA SEUS DEMÔNIOS (SIMBOLIZADOS COMO TERRÍVEIS E PODEROSOS GAFANHOTOS) SOBRE A TERRA. NOTE, NO ENTANTO, QUE ELES ESTÃO SUJEITOS AO CONTROLE (VS. 1: A AUTORIDADE PARA ABRIR O ABISMO TINHA DE SER CONCEDIDA POR DEUS A SATANÁS, A ESTRELA CAÍDA) E À CONTENÇÃO DIVINOS (VS. 5: O PODER QUE OS DEMÔNIOS POSSUEM É LIMITADO E CONCEDIDO POR DEUS A ELES). ESSA PRAGA DE GAFANHOTOS, JUNTAMENTE COM A DO GRANIZO (AP. 8:7) E A DA ESCURIDÃO (AP. 8:12) TENCIONAM LEMBRAR AS DEZ PRAGAS ENVIADAS POR DEUS AO EGITO. EM APOCALIPSE 9, DEUS É REPRESENTADO COMO aquele que PUNe O NOVO “EGITO” (ONDE CRISTO FOI CRUCIFICADO, JERUSALÉM; CONF. AP. 11:8) AO LIBERAR O TERROR DOS DEMÔNIOS SOBRE SUA DESCRENÇA E REBELIÃO COMO UMA FORMA DE TORMENTO E DE JUÍZO HISTÓRICOS. CONQUANTO SATANÁS POSSA SER O PRÍNCIPE DOS DEMÔNIOS, ELE, NO ENTANTO, RECEBE SEU PODER DE DEUS SOMENTE; O EXÉRCITO DEMONÍACO ESTÁ, NO FINAL DAS CONTAS, SOB COMANDO DE DEUS, CUMPRINDO SUAS ORDENS SOBERANAS E SERVINDO A SEUS PROPÓSITOS DIVINOS. QUALQUER QUE SEJA A OBRA QUE OS DEMÔNIOS FAÇAM NO MUNDO, ELA É FEITA SOB A INFLUÊNCIA DO SENHOR DEUS TODO-PODEROSO, E CONFORME SEU PLANO SÁBIO. QUANDO A ATIVIDADE DEMONÍACA OCORRE DE MANEIRA DESENFREADA EM UMA SOCIEDADE, DEVEMOS ENXERGAR nela PUNIÇÃO DIVINA, REJEIÇÃO AO EVANGELHO OU APOSTASIA DELE, OU SEJA, JUÍZO SOBRE A ATMOSFERA MENTAL DEMONÍACA QUE nela SE DESENVOLVEU.
A ESCRITURA NÃO SOMENTE NOS ENSINA QUE apenas DEUS É O SOBERANO SUPREMO E QUE, PORTANTO, OS DEMÔNIOS ESTÃO SOB SEU CONTROLE, CONTENÇÃO E DIREÇÃO, COMO TAMBÉM ENSINA QUE MESMO AGORA ESSES DEMÔNIOS ESTÃO ACORRENTADOS POR DEUS. ELE NÃO POUPOU OS ANJOS QUE PECARAM, ANTES os LANÇOU NO TÁRTARO (A PROVÍNCIA MAIS DESPREZÍVEL DO INFERNO), APRISIONANDO-OS ÀS CORRENTES (A LEITURA MAIS ANTIGA E CONFIÁVEL, AO INVÉS DE “POÇOS”) DAS TREVAS, PRESERVANDO-OS PARA O JUÍZO (2 PE. 2:4). JUDAS CONFIRMA QUE OS ANJOS QUE NÃO MANTIVERAM SUA POSIÇÃO INICIAL, antes ABANDONARAM SEU PRÓPRIO DOMÍNIO (A POSIÇÃo DESIGNADA POR DEUS SOB SEU GOVERNO) FORAM PRESERVADOS POR ele EM ALGEMAS OU LAÇOS ETERNOS (A PALAVRA USADA É CORRENTES, POR EXEMPLO, EM LUCAS 8:29, ATOS 16:26; 22:30) NA ESCURIDÃO ATÉ O JUÍZO DO GRANDE DIA (JUDAS 6). OS DEMÔNIOS TÊM ESTADO TRANCAFIADOS DESDE O MOMENTO DE SUA APOSTASIA; NUNCA HOUVE QUALQUER DÚVIDA DE QUE QUAISQUER QUE SEJAM AS ATIVIDADES NAS QUAIS ESTEJAM ENVOLVIDOS, ELES ESTÃO SOB O CONTROLE DE DEUS, QUE OS COLOCOU DE LADO ATÉ A CONDENAÇÃO FINAL. A OBRA DOS DEMÔNIOS DEVE SER VISTA CONSTANTEMENTE EM TERMOS DAS CORRENTES QUE AGORA OS PRENDEM. SUA PERDIÇÃO É CERTA. COMO APOCALIPSE 20:10 E MATEUS 25:41ENSINAM, O LAGO DE FOGO FOI PREPARADO PARA A PERDIÇÃO ETERNA DE SATANÁS E SEUS ANJOS; ELE É SEU HABITAT E DESTINO APROPRIADO. ESTAS PASSAGENS NOS MOSTRAM, A PROPÓSITO, QUE O FATO DE QUE OS DEMÔNIOS ESTÃO ACORRENTADOS não SIGNIFICA QUE ESTEJAM COMPLETAMENTE DESPROVIDOS DE PODER E TOTALMENTE SEM INFLUÊNCIA NO MUNDO. ELES ESTÃO APRISIONADOS DESDE SUA QUEDA EM PECADO E, NO ENTANTO, OS REGISTROS DO EVANGELHO MOSTRAM QUE TÊM ESTADO INTENSAMENTE ATIVOS, ASSIM COMO APOCALIPSE 9 ENSINA QUE DEUS FAZ COM QUE SIRVAM AOS PROPÓSITOS DELE NA HISTÓRIA. DESSE MODO, ESTAR ACORRENTADO não IMPLICA EM ESTAR DESTRUIDO OU IMOBILIZADO; SIMPLESMENTE SIGNIFICA QUE OS DEMÔNIOS ESTÃO ESTRITAMENTE SOB CONTROLE DE DEUS E REPRIMIDOS EM SUAS ATIVIDADES. SUAS OPERAÇÕES NUNCA OS LIBERTARÃO DE SEU DESTINO FINAL, PARA O QUAL AS CORRENTES DE DEUS OS DETERMINARAM. DEUS OBSERVA UM TIPO DE LEI DE TALIÃO: OS ANJOS QUE não MANTIVERAM SUA POSIÇÃO INICIAL ESTÃO AGORA DESTINADOS À PERDIÇÃO ETERNA.
O DESTRUIDOR (ABADOM, APOLIOM)
Passamos agora a examinar a natureza e o efeito da obra de Satanás no mundo. Recordando brevemente Apocalipse 9 onde Satanás é retratado como o líder de uma multidão de demônios que são soltos para exercer juízo sobre Jerusalém, notamos que a obra desses demônios é descrita como sendo uma obra de terrível destruição: trevas (v. 2), terror e desânimo (v. 6). Em geral, eles trabalham para produzir trevas e iniquidade (conf. Ef. 6:12), e quando são soltos para exercer juízo histórico (como foram na tribulação de Jerusalém no ano 70 AD) as circunstâncias se tornam tão desesperadoras que os homens preferem morrer a viver (conf. Lucas 23:27-30). Portanto, a influência do exército de Satanás é terrível: trevas, desespero, morte e destruição. A obra de Satanás não é construtiva; ela tem como objetivo retirar dos homens e do mundo o bom da vida e da criação através das forças negativas da desobediência, da desordem, do engano e da doença. Consequentemente, Apocalipse 9:11 dá um nome descritivo a Satanás, um nome que caracteriza o efeito de suas operações. O nome é dado primeiro em hebreu, depois em grego, a fim de que não haja nenhum engano sobre o seu significado. Ele é “Abadom,” o título para Hades no Antigo Testamento (Jó 26:2; 28:22; 31:12; Pv. 15:11; 27:20; Sl. 88:12), que quer dizer “destruição”. Ele está personificado em Jó 28:22, que torna a referência em Apocalipse 9:11 especialmente apropriada, uma vez que nela Satanás é chamado de anjo do abismo. Ele personifica a província a partir da qual opera, trazendo “o inferno à terra” (como dizemos). A personificação do inferno em Satanás está indicada na forma grega de seu nome “Apoliom”; este é o particípio para o verbo que significa “destruir”, sendo assim traduzido por “Destruidor.” Satanás é “Destruição,” e, verdadeiramente o próprio “Destruidor” (conf. 1 Co. 10:10; Hb. 2:14). Seus objetivos são puramente negativos e ele não realiza nada belo, verdadeiro ou bom.
Satanás pode trazer doença e indisposições físicas, tais como convulsões (Marcos 9:18, 20, 26), auto-flagelo (Lucas 4:35; Marcos 9:18, 22), surdez e mudez (Marcos 9:17-27). Lucas, o médico, fala de uma mulher que tinha “um espírito de enfermidade,” estando “presa por Satanás” com uma deformidade na espinha por dezoito anos (Lucas 13:11, 16). Quando os demônios são expulsos de um homem diz-se sobre ele que está “curado” ou “salvo” (Lucas 8:36). O “espinho na carne” de Paulo é considerado um “mensageiro de Satanás” (2 Co. 12:7). E Pedro resume o ministério de Jesus ao dizer que Ele andava por toda parte “curando a todos os oprimidos do diabo” (Atos 10:38). Satanás promove a decadência e a miséria no mundo físico.
Ele também tem o poder de colocar certas circunstâncias sob seu controle. Através da ação do concílio, Satanás impediu que Paulo retornasse a Tessalônica (1 Ts. 2:18). Através da perseguição política, Satanás pode fazer com que cristãos sejam levados à prisão (Ap. 2:10). Apocalipse 13 mostra que Satanás é o poder vitalizante da “besta” política, e Paulo discerniu que a vinda do “iníquo” (uma figura política) era “segundo a eficácia de Satanás” (2 Ts. 2:9). Pérgamo era o centro do culto ao imperador na província; os crentes eram obrigados a dizer “César é senhor.” Satanás foi muito ativo ali na perseguição à igreja e em produzir o martírio de crentes como Antipas. Portanto, dizia-se que o “trono” e a “habitação” de Satanás estavam ali (Ap. 2:13). Satanás ocasiona corrupção e ilegalidade na ordem política, inspirando através disso, oposição ao reino de Deus.
Satanás se esforça em tentar os que são de Deus para que pequem (Mt. 4:1; 1 Co. 7:5; 1Ts. 3:5), obtendo assim o título de “tentador.” Ele incita à apostasia e à murmuração (1 Co. 10:10). O Espírito Santo dá um novo coração ao povo de Deus e, desse modo, Deus promove nos crentes (Fp. 2:13; conf. 1 Co. 12:6; Ef. 3:20; Cl. 1:29) tanto o querer quanto o realizar, segundo a Sua boa vontade. Em contrapartida, Satanás apela ao velho coração do pecador e opera nele com disposição; uma vez que Satanás atua nos filhos da desobediência, eles andam de acordo com ele (Ef. 2:1-2) de modo que seguem os desejos de sua natureza pecaminosa (v. 3). Os incrédulos são vistos como a obra do inimigo (Mt. 13:28); eles são “filhos do maligno,” ervas daninhas semeadas por ele no campo de Deus, o mundo (Mt. 13:38).
Ele prazerosamente invadiria o reino de Deus, destruindo-o por meio de pessoas cujas vidas ele já destruiu espiritualmente. Satanás não somente tenta os homens a pecar, atua em suas naturezas pecaminosas e propaga rebelião contra o evangelho no mundo, como também coloca o pecado dentro do coração do réprobo. Satanás plantou a traição a Jesus Cristo no coração de Judas (João 13:2; conf. Lucas 22:3), e na última ceia entrou em Judas, levando-o a realizar sua obra perversa (João 13:27). Satanás também colocou o pecado da mentira no coração de Ananias (Atos 5:3). Satanás está constantemente tramando para estimular, provocar e produzir pecado no homem e, desse modo, consumar sua morte espiritual. Como o autor da desobediência, Satanás outrora teve o poder de sua morte como consequência, embora não sobre o povo de Deus sem permissão divina (Ex. 12:23; Jó 1: 12-2:6). Portanto, Hebreus 2:14 fala “daquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo.” Como as trevas e a destruição, a morte não é parte da ordem de Deus, e sim é o reino ético de Satanás. Ele tenta subjugar a morte, tornando-a subserviente para seus fins, seduzindo homens para seguirem os caminhos dela, ao invés do Caminho, da Verdade e da Vida. Ele é o destruidor da integridade ética e da vida espiritual do homem natural.
Satanás também produz seu caos no mundo do pensamento, o que explica por que a Escritura o denomina de “mentiroso” (João 8:44). Ele trabalha para distorcer a palavra de Deus (Gl. 4:8-9), arrebatá-la quando ela é pregada (Mt. 13:19), e substituí-la por “doutrina de demônios” (1 Tm. 4:1). Os incrédulos carecem do conhecimento genuíno da verdade porque são apanhados nos “laços do diabo” (2 Tm. 2:26). Uma das tarefas principais do diabo é o engano do mundo, de modo que ele é conhecido como o “sedutor de todo o mundo” (Ap. 12:9; por exemplo, 1 João 2:22; 4:2).
Para esse fim, ele corrompe a mente do homem (2 Co. 11:3), tornando-a propensa a ser desencaminhada; ele também “cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.” (2 Co. 4:4). Isso faz com que os não-regenerados sirvam a Satanás como se ele fosse deus deles (conf. Rm. 1:18-25). Ao dar início ao pecado, Satanás tornou-se responsável por suas consequências: nesse caso, uma inabilidade de perceber o esplendor do evangelho, o que só tem a representar condenação final. Por meio de suas mentiras, Satanás se torna também um homicida (conf. João 8:44). A obra destrutiva que Satanás promove no mundo do pensamento é especialmente perigosa, pois ele pode fazer com que a rebelião e as mentiras pareçam plausíveis e corretas. Uma vez que o seu domínio é o das trevas (Lucas 22:53; Atos 26:18; Ef. 6:12; Cl. 1:13), ele não tem nada em comum com o reino da luz (2 Co. 6:14). No entanto Satanás imita a Deus (conf. 1 João 1:15) ao disfarçar-se em “anjo de luz” (2 Co. 11:14). Sua sutileza é insuperável; ele não faz com que suas doutrinas errôneas pareçam ser o que são, fruto de uma mente perversa, antes as camufla em forma de opções íntegras ou razoáveis. Uma vez que não permaneceu na verdade, ele trabalha com empenho para destruir a permanência do homem na verdade, usando qualquer recurso que puder a fim de enganar, corromper e cegar o pensamento humano.
Outra atividade central de Satanás é blasfemar contra o povo de Deus (Ap. 12:10); ele faz acusações falsas contra eles a fim de promover sua morte espiritual. Desse modo, ele é um homicida (João 8:44). Seus intentos assassinos, no entanto, se estendem para além do reino espiritual e incluem também o mundo físico. Além de lançar blasfêmias, o diabo gera perseguição aos santos. Quando os judeus buscaram matar Jesus (João 8:40-41), Ele disse que eles estavam realizando os desejos de seu pai o diabo, que foi “homicida desde o princípio” (v. 44) referindo-se à origem diabólica de Caim, que assassinou seu irmão (1 João 3:12). Satanás inspira a perseguição e o martírio de cristãos (Ap. 2:9-10). Sabendo que seu tempo é curto, Satanás age sobre a terra com grande ira (Ap. 12:12). Portanto, os cristãos devem levar Satanás a sério e estarem alertas em relação a ele (1 Pe. 5:8), pois “vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar.” Satanás rodeia a terra e tem acesso a nós (conf. Jó 2:2). Muitos comentaristas têm interpretado erroneamente a alusão em 1 Pedro 5:8 ao negligenciarem o fato de que é a caminhada de Satanás (e não ele pessoalmente) que é comparada a um leão, e ao não perceberem que a comparação que Pedro usa à caminhada de Satanás é a de um leão que ruge (e não um leão que espreita secretamente). Satanás não é um leão, mas seu caminhar ou seu comportamento no mundo pode ser comparado à caminhada de um leão que ruge. Um leão que ruge era um símbolo no Antigo Testamento da oposição selvagem, e dos inimigos. (Sl. 22:13-14; Pv. 28:15; Is. 5:29; Sf. 3:3); ser “salvo da boca do leão” era uma figura de linguagem da libertação do perseguidor (Sl. 22:21; 2 Tm. 4:17). Leões não rugem quando se aproximam de sua presa (por razões óbvias); antes, rugem a fim de infundir medo e expressar uma natureza feroz (por exemplo, Juízes 14:5) ou como parte de um ataque cruel a um intruso (por exemplo, Dn. 6:22). Desse modo, o rugido do leão era a metáfora da ira e da ameaça de um monarca (Pv. 19:12; 20:2). Em 1 Pedro 5:8, não vemos Satanás representado em suas atividades secretas e sutis como adversário do povo de Deus; nós o vemos como a ameaça feroz trazida por perseguidores (especialmente opressores políticos) contra os crentes. Pedro explica a ameaça do leão que ruge como “sofrimentos” no versículo seguinte, e em 4:12 ele havia prevenido seus leitores do “fogo ardente” que em breve desceria sobre eles. Como um leão busca alguém para devorar, assim Satanás anda pela terra gerando perseguição física contra os cristãos. Ele tentaria conduzi-los à incredulidade e à apostasia através de uma oposição violenta, por ele engendrada. No pouco tempo que lhe resta, Satanás expressa grande ira contra o povo de Deus. Se ele não pode destruí-los por meio do engano, ele deseja destruí-los (espiritualmente) por meio do medo, ou destruí-los (fisicamente) através do martírio.
Assim, temos observado a influência destrutiva de Satanás no mundo físico (por exemplo, através de doenças), no mundo político (por exemplo, através da ilegalidade), no mundo espiritual (por exemplo, através da tentação, do pecado e da morte), no mundo intelectual (por exemplo, distorcendo, enganando, cegando), no campo ético-judicial (por exemplo, a blasfêmia diante de Deus) e no campo social (por exemplo, através da perseguição violenta). Tudo que entra em contato com ele é degradado e destruído. Pouco antes da volta de Cristo, no juízo final do mundo, Satanás será liberado das restrições que estão agora sobre ele, de modo que acentuará sua tendência destrutiva com intensidade ainda maior (Ap. 20:7-10). Ele enganará novamente com a eficiência que possuía na época do Antigo Testamento. Causará pragas e enfermidades sobre a terra. Colocará as nações e reinos da terra contra o Messias e Sua igreja, com severa perseguição. A corrupção e a apostasia caracterizarão esse tempo. No entanto, será um período curto, comparado à longa era de prosperidade do evangelho que o precederá. Esse tempo serve para imprimir sobre nossa memória a natureza e o efeito das operações satânicas; ilustra o quão apropriado é seu título, “Destruição e Destruidor.”
Tradução: Jorge Camargo
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