“O quarto evangelista não registra a instituição da Ceia do Senhor no cenáculo. Onde os outros evangelistas a registram, ele põe o relato do lava-pés (13.2ss.). Porém, mesmo não registrando a instituição, neste discurso de Jesus ele nos dá elementos que preenchem a Ceia do Senhor com uma profunda riqueza de significado para o crente. É verdade que o Senhor neste discurso não está falando diretamente da Ceia, mas ele expõe a verdade de que a Ceia fala”. (F. F. Bruce) Ela é resumida muito bem nas palavras que acompanham a entrega do pão ao comungante no Livro de Oração Comum: “Tome e coma isto em lembrança de que Cristo morreu por você, e alimente-se dele no coração, pela fé, com gratidão”.
1. Contraste entre o maná (e a multiplicação dos pães [Jo 6.1-15]) e Jesus: ambos foram dados por Deus: graça comum (6.11, 32) e graça especial!
2. Um perece, outro permanece: os seus ouvintes se impressionaram com muito pouco – se contentavam apenas com a vida presente (queriam até coroá-lo rei!). Ele não é veio para ser um mero rei (6.15). Ter uma perspectiva de Jesus menor do que aquela apresentada nos evangelhos é insultá-lo! Quem é Jesus?
Eu sou o pão da vida (6.35-48)
Eu sou o pão vivo (6.51)
Eu sou a luz do mundo (8.12)
Eu sou lá de cima, vós sois cá de baixo (8.23)
Eu sou a porta das ovelhas (10.7)
Eu sou o bom pastor (10.11)
Eu sou a ressurreição e a vida (11.25)
Eu sou o caminho, a verdade e a vida (14.6)
Eu sou a videira verdadeira (15.1)
“Se não crerdes que Eu sou, morrereis em vossos pecados” (8.24)
3. O que significa “carne” e “sangue”? O sacrifício de Cristo (v. 51): voluntário (“eu darei”, cf. 6.38), vicário (“pela vida do mundo”, cf. 1.29) e eficaz (“viverá eternamente”).
4. Como receber este alimento? “Quem crê em mim” (6.47): “A fé na expiação realizada por Cristo é essencial à salvação” (J. C. Ryle). “Crede, et manducasti” (Agostinho).
5. O que nos garante “comer” e “beber”?
• Vida eterna nos é assegurada já nesta vida (6.47, 51, 54, 57-58)!
• União mística, participação na vida trinitária (v. 56: “permanece”: habita, mora).1 “Permanecer em Jesus é permanecer em sua palavra (8.31), não permanecer em trevas (12.46), permanecer na luz (1Jo 2.10), permanecer na doutrina (2Jo 9), permanecer em seu amor (15.9-10), guardar seus mandamentos (1Jo 3.24), amar uns aos outros (1Jo 4.16). Para Jesus, o permanecer em seus discípulos significa que sua palavra habita neles (5.38), que o amor de Deus permanece neles (1Jo 3.17), que a verdade mora neles (2Jo 2). Em contraste, os descrentes estão nas trevas (12.46) e na morte (1Jo 3.14). Permanecer ou estar em Cristo significa manter comunhão inquebrantável com ele”. (George Eldon Ladd)
“Quanto mais velho fico, e quanto mais progrido na fé, mais importante esta ordenança se torna para mim. Se há algum lugar que experimento a comunhão doce de minha alma com Cristo, este lugar é a mesa. Sob um aspecto, a experiência da Ceia do Senhor vem se tornando uma fonte de embaraço para mim. Frequentemente sou obrigado a cobrir meus olhos com as mãos enquanto comungo, a fim de esconder as lágrimas que não consigo conter. De fato, a doçura de tal comunhão às vezes ultrapassa meus limites, à medida que a exuberância da presença de Cristo inunda a minha alma”. (R. C. Sproul)
Agarrando-se à fé
“Em um domingo gelado em novembro de 1994, um pequeno grupo de senhoras, com suas cabeças cobertas por lenços de cores vivas, aconchegava-se do lado de fora de uma igrejinha em Balabanovo, na Rússia. Essa casa de oração, construída a partir de uma pequena casa, era a primeira igreja que essas mulheres tinham conhecido desde o tempo da revolução bolchevique em 1917 e a repressão religiosa que se seguiu. Faltava quase meia hora para o sermão começar, mas, apesar do frio cortante, essas mulheres ansiosas estavam esperando a chegada do pastor para destrancar a porta. Quando visitantes americanos se aproximaram delas, uma pequena senhora começou a sorrir. Ela estava ansiosa para dar as boas-vindas às irmãs e aos irmãos americanos, mas ela não conseguia falar inglês. Em vez disso, uma enxurrada aparentemente interminável de palavras em russo saiu de sua boca sorridente. O intérprete disse aos americanos que ela estava recitando um Salmo – a Palavra de Deus que ela teve que esconder em seu coração ao longo dos muitos anos de julgamentos e perseguições. À medida que ela falava, lágrimas começaram a cair gentilmente por suas bochechas enrugadas enquanto ela apontava com a mão trêmula para a igreja e dizia: ‘Eu esperei setenta anos por isso!’ Essa mulher manifestou uma fé que a tinha sustentado por todos aqueles anos. Finalmente ela podia adorar a Deus com liberdade. No ano seguinte, essa santa foi ter com o seu Senhor, aos 100 anos de idade. Ela é um exemplo nos dias de hoje do princípio da fé tão fundamental no Evangelho de João”. (Walter Elwell & Robert Yarbrough)
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1 – Todas as grandes doutrinas da graça são mencionadas neste contundente discurso de Jesus: eleição incondicional (6.65), expiação limitada (6.37), chamado eficaz (6.44-45) e perseverança dos santos (6.39), pressupondo a incapacidade humana de responder ao puro evangelho. Também deve ser notada a ênfase na união mística do crente em Cristo (6.51-58), e a cooperação entre o Pai (6.37-40; 44-46, 57, 65), o Filho e o Espírito Santo (63) na obra de redenção.
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