“E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição”. (2 Pedro 2:1)
Esta passagem das Escrituras é freqüentemente apresentada como prova, tanto da final e total apostasia dos santos, [1] como da redenção universal; ou de que, além daqueles que são salvos, Cristo morreu também pelos que perecem. Dr. Whitby [2] menciona as várias respostas que diferentes homens deram a estas palavras: alguns dizem que Cristo resgatou aqueles pessoas somente de serem escravas; outros que Ele morreu para resgata-las dos castigos temporais, mas não dos eternos; uma terceira classe diz que Ele morreu por eles porque Ele pagou um preço que seria suficiente para eles; uma quarta, diz que eles negaram o Senhor que eles professavam ter lhes resgatado; e uma quinta que eles O negaram, Aquele, que no julgamento de outros homens, lhes resgatou. Sobre as quais ele observa, que eles são tão extravagantes, que é tão fácil refuta-los como recitá-los.
1. Eu não penso em preocupar-me em defender qualquer destes sentidos do texto mencionado, julgando nenhum deles ser o significado das palavras, e assim não tenho nada para fazer com os raciocínios empregados na contradição deles; embora, talvez, as duas últimas não sejam tão extravagantes como representadas. Contudo, a fim de dar o sentido genuíno deste texto, permita-se ser observado,
2. Cristo não é mencionado aqui, como também nem uma só sílaba se refere a Sua morte por quaisquer pessoas, em nenhum sentido. A palavra "despotés", traduzida por Senhor, não se refere a Cristo, mas a Deus, o Pai de Cristo. Os únicos lugares além destes onde esta palavra é empregada, quando aplicada à uma pessoa divina, são Lucas 2:29, Atos 4:24, Judas 1:4, Apocalipse 6:10, em todos os quais o que se tem em mente é claramente o Pai, e na maioria em manifesta distinção de Cristo. Nem há neste texto ou contexto nada que nos obrigue a entender que se refere ao Filho de Deus; nem deve-se imaginar ser isto qualquer diminuição da glória de Cristo, visto que a palavra “despotés” só expressa apropriamente o poder que os senhores têm sobre seus servos; ao passo que a palavra “kyrios”, que é empregada sempre que Cristo é chamado Senhor, denota o domínio e autoridade que os príncipes têm sobre seus súditos. Adicionalmente, Cristo é chamado Rei dos reis, e Senhor dos senhores, e o único Soberano; sim, Deus sobre todas as coisas, bendito eternamente. Demais,
3. Quando se diz que estas pessoas foram resgatadas, o sentido não é que foram redimidos pelo sangue de Cristo, pois, com foi observado antes, a intenção não é referir-se a Cristo. Além disso, toda vez que se fala da redenção realizada por Cristo, geralmente o preço é menciona ou são mencionadas estas ou aquelas circunstâncias que determinam plenamente o sentido da expressão; (veja Atos 20:28; 1 Coríntios 6:20; Efésios 1:7; 1 Pedro 1:18-19; Apocalipse 5:9; Apocalipse 14:3-4), ao passo que aqui não há mínima insinuação de qualquer coisa deste tipo. Acrescente a isto, que jamais se deixa que aqueles que são redimidos por Cristo O neguem de molde a perecerem eternamente, pois se tais pessoas se perdessem ou se lhes fosse trazida repentina destruição, a aquisição delas feita por Cristo seria em vão e o preço de resgate pago não serviria para nada. Mas,
4. A palavra comprar (ASV e KJ: “bought” comprou, resgatou) relaciona-se com libertação temporal, particularmente com a redenção do povo de Israel do Egito; o qual é por isso chamado povo adquirido pelo Senhor. A frase é tomada de Deuteronômio 32:6; “Recompensais assim ao Senhor, povo louco e ignorante? Não é Ele teu Pai, que te adquiriu, te fez e te estabeleceu?”. Tampouco este é o único lugar em que o apóstolo Pedro se refere a isso neste capítulo; (veja os versículos 12 e 13 e compare com Deuteronômio 32:5). As pessoas para quem o apóstolo escreve, eram Judeus, os peregrinos da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Betínia, um povo que, em todas as épocas, se auto avaliavam, e se ostentavam poderosamente de serem resgatados, o povo adquirido pelo Senhor; portanto, Pedro faz uso desta frase da mesma maneira como Moisés tinha feito antes dele, para agravar a ingratidão e impiedade dos falsos doutores entre os Judeus; que eles negaram, se não em palavras, pelo menos em atos, que o poderoso Jeová tinha redimido seus pais do Egito com braço estendido, e, em sucessivas eras, tinha distinguido-lhes com favores peculiares; sendo homens ímpios, convertendo a graça, a doutrina da graça de Deus, em dissolução. Por conseguinte,
5. Nada pode ser concluído desta passagem a favor da morte de Cristo por aqueles que perecem; visto que nem Cristo, nem a morte de Cristo, nem a redenção pelo Seu sangue, são aqui alguma vez mencionados, nem pelo menos pretendido. Nem se pode imaginar que estas palavras são uma prova e exemplo da final e total apostasias dos verdadeiros santos, visto que não há qualquer coisa dita destes falsos doutores, que dê qualquer razão para crer que eles foram verdadeiros crentes em Cristo, ou que tiveram alguma vez a graça do Espírito infundida em suas almas.
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