Inferno: Tormento eterno ou aniquilamento?
Samuele Bacchiocchi
O inferno é uma doutrina bíblica. Mas que espécie de inferno? Um lugar onde os pecadores impenitentes queimam para sempre e conscientemente sofrem dor num fogo eterno que nunca termina? Ou um julgamento penal pelo qual Deus aniquila pecadores e pecado para sempre?
Tradicionalmente, através dos séculos, as igrejas têm ensinado e pregadores têm proclamado o inferno como tormento eterno. Mas em tempos recentes, raramente ouvimos os sermões de “fogo e enxofre”, mesmo de pregadores fundamentalistas, que podem ainda estar comprometidos com tal crença. Sua hesitação em pregar sobre tormento eterno provavelmente não é devida a uma falta de integridade em proclamar uma verdade impopular, mas a sua aversão de pregar uma doutrina na qual dificilmente crêem. Afinal, como é possível que o Deus, que tanto amou o mundo que enviou Seu Filho unigênito para salvar pecadores, pode também ser um Deus que tortura as pessoas (mesmo o pior dos pecadores) para sempre, indefinidamente? Como pode Deus ser um Deus de amor e justiça e ao mesmo tempo atormentar os pecadores para sempre no fogo do inferno?
Este paradoxo inaceitável tem levado estudiosos de todas as persuasões a re-examinar o ensino bíblico quanto ao inferno e o castigo final.1
A questão fundamental é: O fogo do inferno tormenta os perdidos eternamente ou os consome permanentemente? As respostas a esta questão variam. Duas interpretações recentes visando tornar o inferno mais humano merecem uma breve menção.
Opiniões alternativas sobre o inferno
Opinião metafórica do inferno. A interpretação metafórica mantém que o inferno é tormento eterno, mas o sofrimento é mais mental do que físico. O fogo não é literal mas figurativo, e a dor é causada mais por um senso de separação de Deus, do que tormentos físicos. 2
Billy Graham expressa esta opinião metafórica quando afirma: “Tenho-me perguntado muitas vezes se o inferno não é um fogo queimando dentro de nossos corações por Deus, para comunhão com Deus, um fogo que nunca podemos apagar”.3 A interpretação de Graham é engenhosa. Infelizmente ela ignora o fato que a descrição bíblica do “queimar” refere não a um queimar dentro do coração, mas a um lugar onde os ímpios são consumidos.
William Crockett também favorece a opiniáo metafórica: “O inferno, então, não devia ser imaginado como um inferno vomitando fogo como a fornalha ardente de Nabucodonosor. O máximo que podemos dizer é que os rebeldes serão expulsos da presença de Deus, sem nenhuma esperança de restauração. Como Adão e Eva serão expulsos, mas desta vez para uma ‘noite eterna’, onde alegria e experança estão para sempre perdidas”.4
O problema com esta opinião do inferno é que ela quer substituir tormento físico por angústia mental. Alguns podem duvidar se angústia mental eterna é realmente mais humana do que tormento físico. Mesmo que fosse verdade, a diminuição do grau de dor num inferno não literal não muda substancialmente a natureza do inferno, pois ele ainda permanece um lugar de tormento sem fim. A solução se encontra não em humanizar ou sanear a opinião tradicional sobre o inferno de modo a torná-lo um lugar mais tolerável onde os ímpios passarão a eternidade, mas em compreender a natureza verdadeira do castigo final o qual, como veremos, é aniquilamento permanente e não tormento eterno.
A opinião universalista do inferno. Uma revisão mais radical do inferno tem sido tentada por universalistas que reduzem o inferno a uma condição temporária de castigos graduados que no fim levam ao céu. Os universalistas crêem que Deus afinal terá êxito em levar a todo ser humano à salvação e à vida eterna de modo que ninguém será condenado no julgamento final ao tormento eterno ou ao aniquilamento.5
Ninguém negará o apelo que o universalismo tem para a consciência cristã, porque toda pessoa que sentiu o amor de Deus almeja vê-lo salvar a todos. Todavia, nossa apreciação pelo interesse do universalista de defender o triunfo do amor de Deus e para refutar a opinião não bíblica do sofrimento eterno não nos devia cegar ao fato que esta doutrina é uma distorção séria do ensino bíblico. Salvação universal não pode ser correta somente porque sofrimento eterno é errado. O alvo universal do propósito salvífico de Deus não deve ser confundido com o fato que aqueles que rejeitam Sua dádiva de salvação hão de perecer.
Embora as opiniões metafórica e universalista representem tentativas bem intencionadas para abrandar o conceito do sofrimento eterno, deixam de reconhecer os dados bíblicos e conseqüentemente representam mal a doutrina bíblica da punição final dos que não se salvam. A solução razoável dos problemas das opiniões tradicionais se encontra, não diminuindo ou eliminando o grau de dor de um inferno literal, mas em aceitar o inferno tal como ele é: o castigo final e o aniquilamento dos ímpios. Como a Bíblia diz: “O ímpio não existirá” (Salmo 37:10) porque seu “fim é a perdição” (Filipenses 3:19).
O conceito do inferno como aniquilamento
A crença no aniquilamento dos perdidos é baseada em quatro considerações bíblicas: (1) a morte como castigo do pecado; (2) o vocabulário sobre a destruição dos ímpios; (3) as implicações morais do tormento eterno; e (4) as implicações cosmológicas do tormento eterno.
A morte como punição do pecado. O aniquilamento final dos pecadores impenitentes é indicado, em primeiro lugar, pelo princípio bíblico fundamental que o castigo final do pecado é a morte: “A alma que pecar morrerá” (Ezequiel 18:4, 20); “O salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). A punição do pecado compreende não somente a primeira morte, a qual todos experimentam como resultado do pecado de Adão, mas também o que a Bíblia chama a segunda morte (Apocalipse 20:14; 21:8), que é a morte final e irreversível a ser sofrida pelos pecadores impenitentes. Isso significa que o salário final do pecado não é o tormento eterno, mas morte permanente.
A Bíblia ensina que a morte é a cessação da vida. Não fosse pela segurança da ressurreição (I Coríntios 15:18), a morte que experimentamos seria a terminação de nossa existência. É a ressurreição que converte a morte de ser o fim da vida em ser um sono temporário. Mas não há ressurreição para a segunda morte, porque aqueles que a sofrem são consumidos no “lago de fogo” (Apocalipse 20:14). Este será o aniquilamento final.
O vocabulário bíblico sobre a destruição dos ímpios. A segunda razão compulsiva para crer no aniquilamento dos perdidos no julgamento final é o rico vocabulário de destruição usado na Bíblia para descrever o fim dos ímpios. Segundo Basil Atkinson, o Velho Testamento usa mais de 25 substantivos e verbos para descrever a destruição final dos ímpios.6
Diversos salmos descrevem a destruição final dos ímpios com imagens dramáticas (Salmos 1:3-6; 2:9-12; 11:1-7; 34:8-22; 58:6-10; 69:22-28; 145:17, 20). No Salmo 37, por exemplo, lemos que os ímpios logo “murcharão como a verdura” (v. 2); eles “serão desarraiga-dos...e...não existirão” (vv. 9, 10); eles “perecerão...e em fumo se desfarão” (v. 20); os transgressores “serão a uma destruídos” (v. 38). O Salmo 1 contrasta o caminho do justo com o dos ímpios. Dos últimos ele diz que “não subsistirão no juízo” (v. 5); mas serão “como a moinha que o vento espalha” (v. 4); “o caminho dos ímpios perecerá” (v. 6). No Salmo 145, Davi afirma: “O Senhor guarda a todos que o amam; mas todos os ímpios serão destruídos” (v. 20). Esta amostra de referências sobre a destruição final dos ímpios está em perfeita harmonia com o ensinamento do resto das Escrituras.
Os profetas freqüentemente anunciam a destruição final dos ímpios em conjunção com o dia escatológico do Senhor. Isaías proclama que os “transgressores e os pecadores serão juntamente destruidos, e os que deixarem o Senhor serão consumidos” (Isaías 1:28). Descrições semelhantes se encontram em Sofonias 1:15, 17, 18 e Oséias 13:3.
A última página do Velho Testamento provê um contraste impressionante entre o destino dos crentes e o dos incrédulos. Sobre aqueles que temem o Senhor, “nascerá o sol da justiça e salvação trará debaixo das suas asas” (Malaquias 4:1). Mas para os incréduls o dia do Senhor “os abrasará... de sorte que não lhes deixará nem raiz nem ramo”(Malaquias 4:1).
O Novo Testamento segue de perto o Velho ao descrever o fim dos ímpios com palavras e imagens que denotam aniquilamento total. Jesus comparou a destruição total dos ímpios a coisas como o joio atado em molhos para serem queimados (Mateus 13:30, 40), o peixe ruim que é lançado fora (Mateus 13:48), as plantas daninhas que serão arrancadas (Mateus 15:13), a árvore sem fruto que será cortada (Lucas 13:7), os ramos ressequidos que são lançados no fogo (João 15:6), os lavradores infiéis que serão destruídos (Lucas 20:16), os antediluvianos que foram destruídos pelo dilúvio (Lucas 17:27), o povo de Sodoma e Gomorra que foi consumido pelo fogo (Lucas 17:29), e os servos rebeldes que foram mortos à volta de seu Senhor (Lucas 19:27).
Todas estas ilustrações descrevem de modo gráfico a destruição final dos ímpios. O contraste entre o destino dos salvos e o dos perdidos é um de vida versus destruição.
Aqueles que apelam às referências de Cristo ao inferno ou fogo do inferno (gehenna, Mateus 5:22, 29, 30; 18:8, 9; 23:15, 33; Marcos 9:43, 44, 46, 47, 48) para apoiar sua crença num tormento eterno, deixam de reconhecer um ponto importante. Como John Stott assinala: “O fogo mesmo é chamado ‘eterno’ e ‘inextinguível’, mas seria muito estranho se aquilo que nele fosse jogado se demonstrasse indestrutível. Esperaríamos o oposto: seria consumido para sempre, não atormentado para sempre. Segue-se que é o fumo (evidência de que o fogo efetuou seu trabalho) que ‘sobe para todo o sempre’ (Apocalipse 14:11; ver 10:3)”.7 A referência de Cristo a gehenna não indica que o inferno seja um lugar de tormento infindo. O que é eterno ou inextinguível não é o castigo mas o fogo que, como no caso de Sodoma e Gomorra, causa a destruição completa e permanente dos ímpios, uma condição que dura para sempre.
A declaração de Cristo de que os ímpios “‘irão para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna’” (Mateus 25:46) é geralmente considerada como prova do sofrimento eterno e consciente dos ímpios. Esta interpretação ignora a diferença entre punição eterna e o ato de punir eternamente. O termo grego aionios (“eterno”) literalmente significa “aquilo que dura um período”, e freqüentemente refere à permanência do resultado e não à continuação de um processo. Por exemplo, Judas 7 diz que Sodoma e Gomorra sofreram “a pena do fogo eterno”. É evidente que o fogo que destruiu as duas cidades é eterno, não por causa de sua duração mas por causa de seus resultados permanentes.
Outro exemplo se encontra em II Tessalonicenses 1:9, onde Paulo, falando daqueles que rejeitam o evangelho, diz: “Os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, ante a face do Senhor e a glória do seu poder. É evidente que a destruição dos ímpios não pode ser eterna em sua duração, porque é difícil imaginar um processo de destruição eterno e inconclusivo. Destruição pressupõe aniquilamento. A destruição dos ímpios é eterna, não porque o processo de destruição continua para sempre, mas porque osresultados são permanentes.
A linguagem de destruição é inescapável no livro do Apocalipse. Lá ele representa a maneira de Deus vencer a oposição do mal a Si mesmo e a Seu povo. João descreve com ilustrações vívidas o lançamento do diabo, da besta, do falso profeta, da morte, de Hades e de todos os ímpios no lago de fogo que é a “a segunda morte” (Apocalipse 21:8; cf. 20:14; 2:11; 20:6).
Os judeus freqüentemente usavam a frase “segunda morte” para descrever a morte final e irreversível. Exemplos numerosos podem ser achados no Targum, a tradução e interpretação em aramaico do Velho Testamento. Por exemplo, o Targum sobre Isaías 65:6 diz: “Seu castigo será em Gehenna onde o fogo arde todo o dia. Eis, está escrito diante de mim: ‘Não lhes darei descanso durante [sua] vida mas lhes darei o castigo de sua transgressão e entregarei seus corpos à segunda morte’”.8
Para os salvos, a ressurreição marca o galardão de outra vida mais elevada, mas para os perdidos marca a retribuição de uma segunda morte que é final. Como não há mais morte para os remidos (Apocalipse 21:4), assim não há mais vida para os perdidos (Apocalipse 21:8). A “segunda morte”, então, é a morte final e irreversível. Interpretar a frase de outro modo, como um tormento eterno e consciente ou separação de Deus, nega o significado bíblico da morte como uma cessação de vida.
As implicações morais do tormento eterno. Uma terceira razão para crer no aniquilamento final dos perdidos e a implicação moral inaceitável da doutrina do tormento eterno. A noção de que Deus deliberadamente tortura pecadores através dos séculos sem fim da eternidade é totalmente incompatível com a revelação bíblica de Deus como amor infinito. Um Deus que inflige tortura infinda a Suas criaturas, não importa quão pecadoras foram, não pode ser o Pai de amor que Jesus Cristo nos revelou.
Tem Deus duas faces? É Ele infinitamente misericordioso de um lado e insaciavelmente cruel de outro? Pode Ele amar os pecadores de tal modo que enviou Seu Filho para salvá-los, e ao mesmo tempo odiar os pecadores impenitentes tanto que os submete a um tormento cruel sem fin? Podemos legitimamente louvar a Deus por Sua bondade, se Ele atormenta os pecadores através dos séculos da eternidade? A intuição moral que Deus plantou em nossa consciência não pode aceitar a crueldade de uma divindade que sujeita pecadores a tormento infindo. A justiça divina não poderia jamais exigir a penalidade infinita de dor eterna por causa de pecados finitos.
Além disso, tormento eterno e consciente é contrário ao conceito bíblico de justiça porque tal castigo criaria uma desproporção séria entre os pecados cometidos durante uma vida e o castigo resultante durando por toda a eternidade. Como John Stott pergunta: “Não haveria, então, uma desproporção séria entre pecados conscientemente cometidos no tempo e tormento conscientemente sofrido através da eternidade? Não minimizo a gravidade da pecado como rebelião contra Deus nosso Criador, mas qüestiono se `tormento eterno consciente’ é compatível com a revelação bíblica da justiça divina”.9
As implicações cosmológicas do tormento eterno. Uma razão final para crer no aniquilamento dos perdidos é que tormento eterno pressupõe um dualismo cósmico eterno. Céu e inferno, felicidade e dor, bem e mal continuariam a existir para sempre lado a lado. É impossível reconciliar esta opinião com a visão profética da nova terra na qual não mais “haverá morte, nem pranto, nem clamor, porque já as primeiras coisas são passadas” (Apocalipse 21:4). Como poderiam pranto e dor serem esquecidos se a agonia e angústia dos perdidos fossem aspectos permanentes da nova ordem? A presença de incontáveis milhões sofrendo para sempre tormento excruciante, mesmo se fosse bem longe do arraial dos santos, serviria apenas para destruir a paz e a felicidade do novo mundo. A nova criação resultaria defeituosa desde o primeiro dia, visto que os pecadores permaneceriam como uma realidade eterna no universo de Deus.
O propósito do plano da salvação é desarraigar definitivamente a presença de pecado e pecadores deste mundo. Somente se os pecadores, Satanás e os diabos são afinal consumidos no lago de fogo e extintos na segunda morte que verdadeiramente poderemos dizer que a missão redentora de Cristo foi concluída. Tormento eterno lançaria uma sombra permanente sobre a nova criação.
Nossa geração precisa desesperadamente aprender o temor de Deus, e esta é uma razão para pregar o juízo final e castigo. Precisamos advertir as pessoas que aqueles que rejeitam os princípios de vida de Cristo e a provisão de salvação experimentarão afinal um julgamento terrível e “padecerão eterna perdição” (II Tessalonicenses 1:9). Precisamos proclamar as grandes alternativas entre vida eterna e destruição permanente. A recuperação do ponto de vista bíblico do juízo final pode soltar a língua dos pregadores, porque podem pregar esta doutrina vital sem receio de retratar a Deus como um monstro.
Samuele Bacchiocchi (Ph.D., Pontificia Universita Gregoriana) é professor de religião na Andrews University, Berrien Springs, Michigan, E.U.A. Este artigo é baseado num capítulo de seu novo livro Immortality or Resurrection? A Biblical Study on Human Nature and Destiny (Berrien Springs, Michigan: Biblical Perspectives, 1997). Seu endereço: 4990 Appian Way; Berrien Springs, Michigan 49103; E.U.A.
Notas e referências
1. Para um exame de pesquisa recente sobre a natureza do inferno, ver Samuele Bacchiocchi. Immortality or Resurrection? A Biblical Study on Human Nature and Destiny(Berrien Springs, Mich.: Biblical Perspectives, 1997), págs. 193-248.
2. Ver William V. Crocket, “The Metaphorical View”, em William Crockett, ed., Four Views of Hell (Grand Rapids, Mich.: Zondervan, 1992), págs. 43-81.
3. Billy Graham, “There is a Real Hell”, Decision 25 (Julho-Agosto 1984), pág. 2. Noutro lugar Graham pergunta: “Poderia ser que o fogo do qual Jesus falou é uma eterna busca de Deus que nunca é satisfeita? Isso, com efeito seria inferno. Estar separado de Deus para sempre, separado de sua Presença”. Ver The Challenge: Sermons From Madison Square Garden (Garden City, N.Y.; Doubleday, 1969), pág. 75.
4. Crockett, pág. 61.
5. Basil F. C. Atkinson, Life and Immortality: Examination of the Nature and Meaning of Life and Death as They are Revealed in The Scriptures (Taunton, England: E. Goodman, n.d.), págs. 85, 86.
6. Idem.
7. John Stott e David L. Edwards, Essentials: A Liberal-Evangelical Dialogue (London: Hodder and Stoughton, 1988), pág. 316.
8. M. McNamara, The New Testament and the Palestinian Targum to the Pentateuch (New York: Pontifical Biblical Institute, 1978), pág. 123.
9. Stott e Edwards, Essentials, págs. 318, 319.
Um Entendimento Bíblico do Inferno - Matt Perman
“Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado...” (João 3:17-18). A Bíblia ensina que toda pessoa é culpada de pecado. Pecado é escolher antes o nosso próprio caminho do que o de Deus; é rebelião contra Deus; e num sentido real é um ataque contra a santidade de Deus. Porque Deus é justo e reto, bem como amoroso, Ele não pode meramente fazer vistas grossas para o nosso pecado. Poderia Deus ser realmente justo se Ele não fizesse nada sobre os ataques contra Sua santidade?
A Bíblia ensina que nossos pecados merecem a penalidade de morte. Visto que todos pecaram, isto significa que todos são merecedores do julgamento de Deus no inferno. Por causa do Seu amor, Deus enviou Seu Filho Jesus para nos salvar deste julgamento. Ele morreu na cruz em nosso lugar para pagar a penalidade de nossos pecados. Sendo julgado em nosso lugar, Jesus satisfez a justiça de Deus e fez possível para nós o receber o perdão.
Deus fez tudo que era necessário para nos resgatar da penalidade de nossos pecados. Nós temos a responsabilidade de responder à livre oferta de perdão de Deus voltando-nos de nossos pecados e confiando em Jesus para nos perdoar e nos dar a vida eterna. A penalidade para os nossos pecados deve ser paga. Aqueles que não aceitam a Jesus e Sua obra sobre a cruz devem pagar, eles mesmos, esta penalidade no inferno por toda eternidade.
O assunto do inferno é deveras muito difícil e aterrorizador. Todavia, ele é um claro ensino da Bíblia e necessita ser entendido; não podemos ignorar os fatos sobre algo que Deus revelou simplesmente porque ele é desconfortável. Este artigo foi escrito para encorajar nosso entendimento e para esclarecer muita confusão sobre este importante assunto.
O Inferno é Real
Jesus repetidamente advertiu sobre o inferno. Por exemplo, veja Mateus 5:21-22, 27-30; 23:15,33. Negar a existência do inferno é, portanto, rejeitar a autoridade de Jesus. Seria estranhamente inconsistente aceitar Jesus como Senhor, mas rejeitar um aspecto de Seu ensino. Além do mais, isto seria colocar uma gigantesca falha moral no caráter de Cristo, se Ele ensinasse sobre a realidade do inferno quando na verdade ele não fosse um perigo para ninguém. Deve ser entendido, contudo, que Jesus não quer que as pessoas vão para o inferno – Ele veio para que pudéssemos ser resgatados através da fé nEle. O inferno é a conseqüência necessária de não aceitar o convite de Cristo para salvação – se alguém recusar estar com Ele no céu, a única alternativa restante é estar separado dEle no inferno.
O Inferno é um Lugar
O inferno é sempre referido como sendo um lugar. A palavra grega usada para inferno nos Evangelhos é gehenna, uma transliteração da expressão hebraica, “Vale de Hinon”. Neste vale (que estava localizado fora de Jerusalém), sacrifícios humanos foram oferecidos aos falsos deuses em vários pontos na história de Israel (2 Reis 16:3; 21:6; 2 Crônicas 28:3; Jeremias 32:35). Mais tarde ele se tornou um “depósito de lixo” de Jerusalém, com um fogo que continuamente queimava consumindo seu entulho. Quando Jesus usou gehenna para se referir ao inferno, isto chamou a atenção dos seus ouvintes para este vale, e eles entenderam o terrível sofrimento que os ímpios experimentariam.
O Inferno é um Lugar de Castigo
Na conclusão de uma parábola, Jesus falou do servo fiel como sendo recompensado, mas disse que o infiel como sendo “cortado pelo meio e separado num lugar com os hipócritas, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mateus 24:51). Ambos os Testamentos falam de “cortar pelo meio” como um castigo severo (Deuteronômio 32:41; Hebreus 11:37). Jesus provavelmente não quis dizer que os perdidos serão literalmente “cortados pelo meio”, mas estava usando a expressão para dizer que eles seriam castigados. Algumas passagens adicionais sobre o terrível castigo do inferno são Hebreus 10:29; 2 Tessalonicenses 1:8,9; Apocalipse 19:20; 20:10. Neste ponto, deveria também ser observado que as imagens de fogo no inferno não devem ser tomadas com um literalismo grosseiro, mas são descrições de terror e sofrimento do inferno com uma linguagem do presente mundo.
Há dois aspectos do castigo no inferno – a dor de perda e a dor de sentir. A dor de perda é a ausência de tudo que é bom; mais significativamente é a separação de Deus. Isto não quer dizer que Deus não está no inferno; significa que aqueles no inferno não terão comunhão com Deus e não experimentarão nada de Seu amor, graça ou benção. Em outras palavras, eles serão isolados de qualquer gozo de Sua glória espetacular. Este é o significado da imagem de trevas usada para descrever o destino dos perdidos. Aqueles no inferno experimentarão a ira e a justiça de Deus. A dor de sentir é o sofrimento do tormento no corpo e na alma – a adição de castigo indesejado. Ambos destes aspectos do inferno são transmitidos por Jesus em Mateus 25:41, quando Ele diz aos perdidos “Apartai-vos de mim [a punição de perda], malditos, para o fogo eterno [a punição de sentir – tormento] preparado para o diabo e seus anjos”. Resumindo, o castigo do perdido é a subtração de benção e a punição de sentir é a adição de tormento físico e espiritual. Nesta seção, investigaremos a punição de sentir. Depois, discutiremos a punição da separação.
Castigo envolve exposição à ira de Deus: Hebreus 10:27,31; Romanos 2:5; João 3:36.
Castigo no inferno será um resultado de exposição à ira de Deus. Embora Deus não esteja no inferno em graça e benção, Ele está lá em santidade de ira. João 3:36 diz “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece”. Apocalipse 14:9-11 diz que “Se alguém adorar a besta, e a sua imagem, e receber o sinal na sua testa, ou na sua mão. Também este beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da sua ira; e será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. E a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre; e não têm repouso nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a sua imagem, e aquele que receber o sinal do seu nome”.
A ira de Deus é a justa afirmação de Sua santidade contra tudo que é impuro; ela resulta no castigo retributivo. Beber a “taça da ira de Deus” significa que o perdido sofrerá diretamente esta ira no inferno. Exatamente como a ira de Deus será experimentada, eu não sei (Romanos 1:18-32 e Judas 7 talvez dêem alguma visão parcial disto). O que é visto claramente é que aqueles no inferno serão atormentados por causa da ira de Deus. Uso de João das palavras “ira” e “sem mistura” mostram o terror de se cair nas mãos do Deus vivo. Devemos notar que Deus tolera pecado somente até quando Ele responde em ira.
Castigo envolve terrível dor: Mateus 13:30, 40-43, 49-50; 18:6-9; 24:51.
Em Mateus 13:42 Jesus diz “E lançá-los-ão [os incrédulos] na fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes”. Alguns sustentam que a imagem de fogo significa aniquilação do ímpio. Mas Jesus não associa fogo com aniquilação, mas com dor “ranger de dentes”. Cinco vezes em Mateus Jesus descreve aqueles no inferno como pranteando e rangendo os dentes; as pessoas estão “rangendo os dentes” por causa da terrível dor (veja Mateus 8:12; 13:42,50; 22:13; 24:51). Jesus fala do fogo causando dor, não consumação (veja também Mateus 13:49-50).
Castigo envolve consciente tormento: Apocalipse 14:10,11; 20:10; Lucas 16:23, 28.
Temos visto muitas passagens das Escrituras indicando a terrível dor e tormento do castigo no inferno, que resulta da exposição à ira de Deus. Quase não se precisa dizer que isto tudo será experimentado conscientemente pela pessoa (de outra forma não seria castigo), e isto é confirmado pela famosa parábola de Jesus do homem rico e Lázaro em Lucas 16:19-31. O homem rico, que tinha sido ganancioso e nunca tinha se arrependido de seu pecado, foi para o Hades e experimentou tormento após a morte. Este homem estava ciente e consciente do tormento, a ponto de dizer “Estou atormentado nesta chama”.
Craig Blomberg, um especialista no estudo de parábolas, diz que devemos derivar um ponto a partir de cada personagem principal numa parábola. Tomando os princípios de interpretação de Blomberg, podemos traçar muitos ensinos significativos desta parábola. Primeiro, como Lázaro, haverá vida com Deus para o povo de Deus. Segundo, o impenitente experimentará julgamento irreversível como o homem rico. Note que Jesus deixa claro que não há segunda chance após a morte, mas em vez disso, haverá um abismo intransponível entre céu e inferno (16:26). Terceiro, Deus adequadamente Se revela através das Escrituras de forma que ninguém que negligencia esta revelação pode legitimamente protestar contra o seu destino.
Robert Stein, outro erudito em parábolas, ensina “a regra da tensão final”. Isto significa que Jesus guarda a idéia principal da parábola para o final, a fim de deixar a parte mais significativa nas mentes de Seus ouvintes. O ponto final nesta parábola é que a palavra de Deus é necessária e suficiente para salvação – negligenciá-la é cometer “suicídio espiritual”. A parábola termina com a declaração, “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos” (16:31). O interesse principal de Jesus parece ser trazer a atenção à severidade de se ignorar a mensagem da Bíblia.
O Inferno é um Lugar de Separação
Tendo examinado o castigo de sentir no inferno, examinaremos o segundo aspecto do horror do inferno – exclusão de Deus e dos outros.
De Deus: Efésios 2:12; 5:8; Romanos 6:23; Mateus 7:23; 8:12; 2 Tessalonicenses 1:8, 9; Judas 13
Em Mateus 7:23 expressa uma das palavras mais chocantes da Bíblia. Tendo advertido dos falsos profetas que parecem bons exteriormente, mas cujos pecados no final das contas os separará, Jesus se volta para o assunto dos falsos discípulos: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade”. Quão terrível será que estas pessoas esperando ganhar entrada no céu no dia do julgamento, somente descobrirão que elas nunca estiveram realmente em comunhão com Jesus. Isto deveria ser um chamado para seriamente examinarmos a nós mesmos e “ver se estamos na fé” (2 Coríntios 13:5).
Mateus 25:30 diz que os perdidos serão “lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes”. Ser lançado nas trevas exteriores simboliza ser excluído da gloriosa luz da presença de Deus, ou seja, é uma ausência de todo bem. O ranger de dentes simboliza o extremo sofrimento e remorso.
2 Tessalonicenses 1:7-9 diz, "Quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder em chama de fogo, e tomar vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus; os quais sofrerão, como castigo, a perdição eterna, banidos da face do senhor e da glória do seu poder”. Aqueles que não conhecem a Deus serão excluídos de Sua presença para sempre quando Cristo voltar.
Novamente, é importante notar que quando falamos daqueles no inferno como estando “separados” de Deus, isto não significa que Deus não está no inferno. Significa que os perdidos serão separados da comunhão com Ele – eles não experimentarão Sua gloriosa presença e amor, mas antes a Sua ira e desprazer.
De outros: Mateus 8:12; 22:13; 25:30; Judas 13; Apocalipse 22:14
Em Mateus 8:11-12 Jesus novamente declara que os incrédulos “serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes”. Isto está em contraste aos muitos que “virão do oriente e do ocidente, e reclinar-se-ão à mesa de Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus”. Os perdidos serão lançados nas “trevas exteriores”, indicando isolamento e separação de tudo que é bom. E como mostrado pela exclusão do banquete, os incrédulos serão excluídos dos gozos do céu e da presença de outras pessoas. Mateus 22:13 e versos seguintes listam descrevem ainda mais o inferno como um lugar de trevas e separação.
O Inferno é um Lugar de Profundo Lamento
Sete vezes é dito que “haverá pranto e ranger de dentes” (Mateus 8:12; 13:42, 50; 22:13; 24:51; 25:30; e Lucas 13:28). O pranto significa um grito profundo numa dor terrível, que resulta num profundo lamento.
O Inferno tem Graus de Sofrimento
Todos que estão no inferno não recebem o mesmo castigo. Embora todas pessoas estarão igualmente separadas de Deus (que é o castigo de perda), ninguém experimentará o mesmo castigo de sentir. Os graus de castigo são baseados sobre a quantia de luz recebida e sobre as obras da pessoa.
De acordo com a luz recebida
Um conhecimento maior de Deus traz consigo uma maior responsabilidade. Isto significa que quanto maior a quantidade de luz rejeitada, maior o julgamento. Isto é evidente em Mateus 11:21-24: “Ai de ti, Corazin! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem operado os milagres que em vós se operaram, há muito elas se teriam arrependido em cilício e em cinza. Contudo, eu vos digo que para Tiro e Sidom haverá menos rigor, no dia do juízo, do que para vós. E tu, Cafarnaum, porventura serás elevada até o céu? até o hades descerás; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se operaram, teria ela permanecido até hoje. Contudo, eu vos digo que no dia do juízo haverá menos rigor para a terra de Sodoma do que para ti”. Aqueles de Cafarnaum teriam um julgamento mais severo porque tiveram mais luz. Este é talvez um conceito preocupante para aqueles de nós nos Estados Unidos, onde há pelo menos três vezes mais Bíblias do que pessoas.
Em Lucas 12:42-48 Jesus é também claro que haverá graus de castigo no inferno. No final de Sua parábola, Jesus distingue os castigos de “muitos açoites” e “poucos açoites” baseado sobre a quantia de conhecimento que os servos infiéis (que representam os perdidos) tiveram da vontade de seus senhores. Ele diz “O servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; mas o que não a soube, e fez coisas que mereciam castigo, com poucos açoites será castigado” (Lucas 12:47-48). O princípio básico é que “a quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá” (v. 48).
De acordo com as obras
Paulo diz em Romanos 2:5 que os incrédulos estão “entesourando ira para si mesmos”. A palavra usada para ira nesta passagem é a mesma palavra usada quando Jesus encoraja os crentes para “ajuntar tesouros no céu” (Mateus 6:20). Assim como algumas pessoas têm mais tesouro “ajuntado no céu” por causa de sua obediência à Deus, assim também algumas pessoas têm mais ira “entesourada” para eles mesmos por causa de sua expressa desobediência e rejeição de Deus. Julgamento de acordo com as obras garante que o castigo “conforme o crime” e que o perdido será castigado em proporção com os seus pecados.
Satanás não Governa no Inferno
Um mal-entendido comum é que Satanás governa no inferno. De acordo com a Bíblia, isto não pode ser verdade porque o próprio Satanás será eterna e terrivelmente atormentado no Lago de Fogo. Ele não será capaz de atormentar ninguém mais lá, muito menos governar, por causa do terrível destino que ele estará experimentando.
O Inferno é Eterno
No julgamento, Jesus dirá para os incrédulos: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eteno preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25:41). Este verso mostra que o inferno não foi originalmente criado para os seres humanos, mas para Satanás e seus demônios. Por causa da rejeição da humanidade de Deus, aqueles que recusam vir a Cristo participarão do destino do diabo. Apocalipse 20:10 elabora ainda mais sobre o destino do diabo: “O Diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde estão a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados pelos séculos dos séculos”. Visto que os incrédulos compartilharão o destino do diabo, e o diabo sofrerá o tormento no inferno para sempre, os incrédulos também sofrerão o tormento eterno. Também observe que Jesus disse que o fogo é eterno, o que não poderia ser dito se o inferno fosse somente temporário.
Mateus 25:46 é o mais claro testemunho de que as pessoas que estão no inferno sofrerão eternamente: “E irão eles [os ímpios] para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna”. Jesus está traçando um paralelo entre os destinos dos ímpios e dos justos. Visto que ambos destinos são ditos ser eternos, “segue-se necessariamente que ambos devem ser tomados ou com um lugar de longa duração mais finito, ou ambos como um lugar sem fim e perpétuo. As frases ‘castigo eterno’ e ‘vida eterna’ são paralelas e seria um absurdo usá-las numa e mesma sentença para significar: ‘Vida eterna será infinita, enquanto castigo eterno terá um fim’. Por conseguinte, porque a vida eterna dos santos será sem fim, o castigo eterno também...”
Jesus assevera que no inferno “o fogo não se apaga” (Marcos 9:48). Quando o fogo consome seu combustível, ele desaparece. O fogo do inferno nunca desaparecerá porque o seu trabalho nunca é consumado. Portanto, o fogo nunca desaparece porque o ímpio sofre eterno tormento no inferno, não extinção eventual.
A declaração do apóstolo João em Apocalipse 14:9-11 que os ímpios serão atormentados “com fogo e enxofre” refuta a reivindicação aniquilacionista de que o propósito do foto no julgamento é de dar fim à existência de alguém (O aniquilacionismo ensina que os perdidos serão um dia aniquilados no inferno e cessarão de existir). João é claro aqui que o propósito do enxofre é atormentar, não aniquilar.
Que a “fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre” (Apocalipse 14:11) também significa que os sofrimentos do inferno não terão fim. O aniquilacionismo ensina que João pretendia fazer uma distinção entre o fogo e a fumaça quando ele escreveu isso, e, portanto, ele não está dizendo que o castigo será eterno. É dito que embora a fumaça será para todo o sempre, o fogo não durará para sempre (mas somente até os ímpios serem extinguidos e cessarem de existir). Esta é uma séria distorção do texto. A fumaça não pode subir eternamente se não houve fogo para isso. Além do mais, não há indicação que João pretendesse distinguir entre a fumaça levantando para sempre, mas o fogo não durando para sempre.
Apocalipse 20:10 é claro que o Diabo, a Besta e o Falso Profeta perecerão eternamente em tormento: “Eles serão atormentados dia e noite para todo o sempre”. Visto que Jesus ensinou que os incrédulos compartilharão o destino do diabo e de seus anjos (Mateus 25:41), os incrédulos também serão atormentados para sempre. Apocalipse 20:15 também é claro que os incrédulos serão lançados no Lago de Fogo assim como o Diabo será.
Judas 7 diz, “Assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se prostituído como aqueles anjos, e ido após outra carne, foram postas como exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno”. Primeiro, note que o fogo é um castigo. Depois, observe que ele é eterno. Visto que o fogo denota castigo, e ele é eterno, então, o castigo deve ser eterno. Para aqueles que sustentam que o fogo indica que o ímpio será destruído, devemos notar que Judas claramente define o fogo como sendo um castigo para o ímpio, não um agente para extinguir a existência deles. Uma pessoa precisa existir para ser castigada.
O historiador eclesiástico inglês Richard J. Bauckham acrescenta sobre o uso de Judas de Sodoma e Gomorra como um exemplo terreno e temporal do destino daqueles no inferno: “A idéia é que o lugar das cidades...um cenário de devastação sulfúrica, provê uma evidência já presente da realidade do divino julgamento...De acordo com Philo [um escritor judeu do primeiro século] até estes dias os sinais visíveis do desastre indescritível são observados Síria – ruínas, cinzas, exofre, fumaça e chamas sombrias que continuam a se levantar do chão como se um fogo ainda queimasse lentamente embaixo’...Judas quis dizer que o lugar ainda em chamas é uma imagem de advertência do fogo eterno do inferno”.
Judas 13 diz “Estes [falsos mestres] são ondas furiosas do mar, espumando as suas próprias torpezas, estrelas errantes, para as quais tem sido reservado para sempre o negrume das trevas”. O negrume, denotando completa separação e isolamento, é “reservado para sempre”; assim, ele não terá fim. Esta declaração é muito clara.
Jesus expele os iníquos para “o fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25:41). João diz que isto envolve ser atormentado dia e noite para sempre e sempre (Apocalipse 20:10). A Bíblia é clara – o inferno é eterno.
Os Estados Intermediário e Final
A última coisa que deve ser observada é que a Bíblia distingue entre o estado intermediário e o estado final. O estado intermediário é a separação do corpo e da alma de uma pessoa depois da morte, mas antes da ressurreição do seu corpo (a Bíblia ensina que tanto crentes como incrédulos experimentarão uma ressurreição do corpo). Este “estado intermediário” não é o purgatório, mas é a existência ou no céu com Deus (para os crentes) ou no Inferno excluído de Deus (para os incrédulos). O estado final é a existência dos crentes no novo céu na nova terra após a ressurreição, e para os descrentes a existência no Lago de Fogo (Inferno) depois de sua ressurreição.
A principal diferença entre o estado intermediário e o final é que durante o estado intermediário a pessoa não terá ainda o seu corpo ressuscitado, e no estado final todos terão seus corpos ressuscitados. O estado intermediário para os perdidos não é tecnicamente o inferno. O inferno é o Lago de Fogo após o retorno de Cristo e o Último julgamento. Contudo, os aspectos do inferno que previamente discutimos são verdadeiros tanto com relação ao estado intermediário como em relação ao estado final dos perdidos.
Sofrimento consciente (para os incrédulos) e benção (para os crentes) no estado intermediário é ensinado na parábola de Jesus do homem rico e Lázaro em Lucas 16:19-31. 2 Pedro 2:9 também ensina a existência consciente após a morte, mas antes do julgamento final e da ressurreição: “O Senhor sabe livrar da tentação os piedosos, e reservar para o dia do juízo os injustos, que já estão sendo castigados”.
Conclusão
Robert Peterson resume o assunto quando ele diz que as imagens do inferno “chocam nossas sensibilidades. Elas apresentam um destino envolvendo absoluta ruína e perda (morte e destruição), eterna ira de Deus (castigo), indizível aflição e dor (pranto e ranger de dentes), terrível sofrimento (fogo), e rejeição por Deus e exclusão de Sua bendita presença (trevas e separação)”.
Jesus morreu para nos salvar do inferno e nos trazer para o gozo eterno de Sua glória. Tudo o que precisamos fazer é nos voltar para Ele em arrependimento e fé, e Ele nos dará a vida eterna. Não há questão de maior importância nesta vida do que onde passaremos a eternidade.
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