Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Sempre agradecemos a Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, quando oramos por vocês, pois
temos ouvido falar da fé que vocês têm em Cristo Jesus e do amor que têm por todos os santos,
por causa da esperança que lhes está reservada nos céus, a respeito da qual vocês ouviram por
meio da palavra da verdade, o evangelho que chegou até vocês. Por todo o mundo este evangelho
vai frutificando e crescendo, como também ocorre entre vocês, desde o dia em que o ouviram e
entenderam a graça de Deus em toda a sua verdade. Vocês o aprenderam de Epafras, nosso amado
cooperador, fiel ministro de Cristo para conosco, que também nos falou do amor que vocês têm
no Espírito. (Colossenses 1:3-8, NVI)
Algumas pessoas têm aversão à palavra “religião” e preferem não ter nada a
ver com ela. Entre elas, aqueles que se consideram cristãos opõem-se à palavra
sobre o fundamento que o Cristianismo não é uma religião, mas uma “vida” ou
“relacionamento”. Mas esse desdém para com a palavra é baseado em ignorância e
falsa piedade.
Primeiro, podemos questionar se as palavras “vida” e “relacionamento” são
de fato descrições adequadas da fé cristã. O relato bíblico dessa vida e
relacionamento é muito mais rico do que pensam a maioria das pessoas que
preferem essas palavras como descrições da fé. De fato, a Escritura inclui muitas
coisas em sua exposição dessa vida e relacionamento que essas pessoas estão
procurando excluir ao rejeitar a palavra “religião”.
No dicionário Merriam-Webster, uma definição principal de religião é “o
serviço ou adoração a Deus”. Isso pode parecer muito específico para alguns
filósofos, mas o cristão mediano dificilmente protestaria contra. Mesmo que a
definição seja insuficiente, não há nada repulsivo ou não-espiritual nela. E sem
dúvida, “o serviço ou adoração a Deus” pode incluir a idéia de uma vida ou um
relacionamento, mas é também amplo o suficiente para incluir mais, ou mais das
coisas que estão envolvidas nesta vida ou relacionamento.
Então, uma segunda definição é “um conjunto pessoal ou sistema
institucionalizado de atitudes, crenças e práticas religiosas”. Isso provavelmente
representa a idéia de “religião” que muitos cristãos dissociam de sua fé ou qualquer
vida espiritual legítima. Contudo, não há nada inerentemente errado nessa idéia de
religião; antes, precisamos saber o que tem sido personalizado ou institucionalizado.
Se for uma religião verdadeira, então ela deveria ser personalizada. Se essa religião
verdadeira endossa uma organização formal em suas operações, então ela deveria
ser institucionalizada.
Institucionalizar algo significa “incorporar num sistema estruturado e, com
freqüência, altamente formalizado”. Isso poderia ser correto ou errado, e a forma
como é feito poderia ser correta ou errada. Um “sistema… altamente formalizado”
poderia canonizar um conjunto de tradições humanas, resultando na repudiação da
ortodoxia doutrinária e liberdade espiritual. Contudo, a falta então reside no que é
formalizado, e não na idéia em si de uma organização formal. Assim, mesmo a
institucionalização não tem nada inerentemente censurável, nem é necessariamente
oposta ao ou pelo Cristianismo.
Assim, por exemplo, se não é errado para um crente dizer que “o
Cristianismo é o único serviço ou adoração verdadeira a Deus”, então não é errado
ele dizer que “o Cristianismo é a única religião verdadeira”. Da mesma forma, não
existe nenhum problema com a primeira e segunda definição do Webster's New
World Dictionary: “crença num poder ou poderes divino ou super-humano, que deve
ser obedecido e adorado como o(s) criador(es) e governador(es) do universo” e
“qualquer sistema específico de crença e adoração, freqüentemente envolvendo um
código de ética e uma filosofia”.
Se uma pessoa insiste sobre uma definição privada de religião que a torne
errada ou anti-bíblica, então sem dúvida não deveria aplicá-la ao Cristianismo, mas
ele não tem nenhum fundamento para impor tal definição sobre outras pessoas. O
ponto é que quando consideramos as definições comuns dos dicionários, a
declaração “o Cristianismo não é uma religião” é falsa, e de fato anti-bíblica. Sem
dúvida o Cristianismo é uma religião. E se estamos considerando essas definições,
então a pessoa que diz “Dê-me Jesus, e não religião” está nos dizendo que ela não
quer nada que tenha a ver com “o serviço e adoração a Deus”.
A distinção necessária não é entre religião e relacionamento, visto que pelo
menos mediante as definições de dicionários, uma religião pode incluir um
relacionamento. Antes, a distinção necessária é entre uma religião boa e má, uma
religião verdadeira e falsa. O Cristianismo é superior ao Islamismo, Budismo e
outros, não porque é um relacionamento enquanto os outros são meras religiões.
Todos são religiões! A diferença é que o Cristianismo é verdadeiro e o restante é
falso. O Cristianismo é uma religião divinamente revelada. É a palavra de Deus
mesmo sobre o apropriado serviço e adoração a Deus. Todas as outras religiões são
invenções humanas e demoníacas.
Assim, a questão crucial não é se o Cristianismo é uma religião, mas que tipo
de religião é. Uma forma que a Escritura caracteriza a religião cristã é com as
palavras fé, amor e esperança (v. 4-5). Quando significados subjetivos e emocionais
são atribuídos a essas palavras, elas não podem transmitir algo substancial sobre o
Cristianismo ou acentuar suas características distintivas das outras religiões e
filosofias. Mas quando entendidas de acordo com o seu uso bíblico, essas palavras
são capazes de expressar alguns aspectos centrais da religião cristã, tanto que alguns
escritores têm organizado suas dogmáticas em torno delas. Sem dúvida, a mesma
informação pode ser apresentada em diferenças formas, no que diz respeito a
termos de estrutura e ênfase.
A fé não é uma crença ou confiança geral. Algumas pessoas encorajam a “ter
fé” sem menção do conteúdo dessa fé. Mesmo incrédulos são encorajados a ter fé
nesse sentido. Se se pretende que essa fé produza um resultado desejável, ou faça o
esforço e vigor de alguém prosperar, então qual é a base para essa confiança? “Fé”
nesse sentido freqüentemente não se refere a nada, senão a uma força de vontade
ou expectativa irracional.
A Escritura fala sobre fé de diferentes formas. Aqui mencionaremos apenas
dois de seus significados mais amplos. Primeiro, “fé” pode se referir à religião cristã
em si, isto é, a série de doutrinas e práticas que a definem, como quando dizemos
“a fé cristã” e “o conteúdo da fé” (Judas 3). Ou, “fé” pode se referir à crença
pessoal nessa religião, como quando dizemos “tenha fé em Deus” (Marcos 11:22) e
“temos ouvido falar da fé que vocês têm em Cristo Jesus” (Colossenses 1:4). Esse
tipo de fé é um dom de Deus, produzido por seu Espírito naqueles a quem
escolheu. Quando afirmamos a doutrina da justificação pela fé, afirmamos que
Deus nos salva dando-nos fé em Jesus Cristo.
Quando discutimos fé, amor e esperança juntos, estamos interessados nesse
segundo sentido de fé – é a “fé em Cristo Jesus”. Existe o equívoco popular
segundo o qual “crer em” Deus não é o mesmo que “crer que” o que ele revelou
sobre si mesmo é verdadeiro, isto é, crer em coisas “sobre” Deus. Algumas vezes a
distinção é feita entre confiança e crença, ou confiança e assentimento. Contudo, a
distinção apropriada é uma feita entre fé verdadeira e falsa, não entre uma fé “crer
em” e “crer que”, ou entre confiança e assentimento. Seria absurdo dizer: “Creio
em Cristo, mas não creio em nada sobre ele” – “crer em” Cristo dessa forma não
tem sentido. Ter fé em alguém é crer em algo sobre ele, e é impossível ter fé em
alguém de uma forma além ou diferente da que temos fé com respeito a ele, ou sobre
ele.
Tem sido argumentado que o conteúdo de “crer em” e “crer sobre” (ou
“crer que”) não são necessariamente idênticos, visto crermos em certas coisas sobre
uma pessoa que nos fornece uma base para “crer em” ou “confiar” nela, além
daquilo imediatamente indicado por aquelas coisas cridas sobre ela. A menos que
“confiança” refira-se a uma suposição cega afirmada por pura força de vontade, em
cujo caso não é de forma alguma a fé bíblica, dizer que você “confia” em Deus
além do que crê “sobre ele”, é simplesmente dizer que o que você crê “sobre” ele
fornece uma base para você fazer isso, que por sua vez significa que essa
“confiança” permanece idêntica ao que você crê “sobre” ele. Isto é, a distinção ou
“distância” feita entre confiança e assentimento é ela mesma outro objeto de
assentimento. E isso significa que a distinção é de fato falsa, e a “distância” não
existe.
Assim, dizer que temos fé em Cristo é uma abreviatura para dizer que
cremos em várias proposições sobre Cristo. A palavra “fé” indica a natureza
positiva e desejável das coisas que cremos sobre ele, e na extensão em que essa fé é
bíblica, essas coisas serão proposições bíblicas.
Fonte: http://www.vincentcheung.com
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