O profeta Isaías, sendo elevado e carregado com a asa de um espírito profético, atravessa todo o tempo entre ele e o aparecimento deJesus Cristo na carne. Vendo com o olho da profecia, e com o olho dafé, Cristo como presente, ele o apresenta, no nome de Deus, ao olhoespiritual de outros, nestas palavras: “Eis o meu servo, a quem sustenho; o meu eleito, em que a minha alma se deleita; pus o meuespírito sobre ele; produzirá juízo entre os gentios. Não clamará,não se exaltará, nem fará com que a sua voz seja ouvida na rua. Ocaniço ferido não quebrará, nem apagará o pavio que fumega;produzirá julgamento em verdade” (Is 42.1-3, KJV). Tais palavrassão afirmadas por Mateus como já cumpridas em Cristo (Mt 12.18-20).
Nelas são expostos, primeiro, o chamado de Cristo ao seu ofício;segundo, a maneira pela qual ele o leva a efeito.
COMO CRISTO É CHAMADO
Deus o chama aqui de seu servo. Cristo era o servo de Deus no melhor serviço que já teve, um servo escolhido e seleto que fez e sofreu tudo por comissão do Pai. Nisso podemos ver o doce amor de Deus para conosco, em que ele reputa a obra de nossa salvação por Cristo seumaior serviço, e naquela ele porá seu amado Filho único para talserviço. Ele bem pode ser chamado de “Amado” para elevar nossospensamentos ao mais alto grau de atenção e admiração. Na hora datentação, as consciências apreensivas olham tanto para o problemapresente em que estão, que precisam ser incitadas para contemplara ele, em quem podem encontrar repouso para suas almas aflitas. Nas tentações, é mais seguro olhar para coisa nenhuma, a não ser Cristo, averdadeira serpente de bronze, o verdadeiro “Cordeiro de Deus, quetira o pecado do mundo” (João 1.29).
Esse objeto salvídico tem uma especial influência consoladora paraa alma, especialmente se olharmos atentamente não apenas paraCristo, mas para a autoridade do Pai e seu amor nele. Pois em tudoque Cristo fez e sofreu como Mediador, devemos ver nele Deus reconciliando o mundo consigo (2 Co 5.19). Que apoio esse para anossa fé, que Deus Pai, a parte ofendida por nossos pecados, sejaassim agradado com a obra de redenção! E que conforto esse, que,vendo o amor de Deus repousar sobre Cristo, que tanto se apraz nele,podemos inferir que ele também se agrada conosco, se estivermosem Cristo! Pois seu amor repousa num Cristo inteiro, no Cristo místico,tanto quanto no Cristo natural, porque ele o ama e a nós com um amor. Que abracemos, portanto, Cristo, e nele o amor divino, eedifiquemos nossa fé com segurança em um tal Salvador que foiprovido com uma tão alta comissão.
Vemos aqui, para nosso conforto, uma doce concordância de todas astrês pessoas: o Pai dá uma comissão a Cristo; o Espírito o provê eo santifica para isso, e Cristo mesmo executa o ofício de Mediador.Nossa redenção está fundamentada sobre a concordância conjunta detodas as três pessoas da Trindade.
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