A maioria das pessoas não morre de velhice; morre de aposentadoria. Li em algum lugar que, das pessoas que se aposentam no estado de Nova York, metade morre num prazo de dois anos. Poupe sua vida e você irá perdê-la. Igual a outras drogas e a outros vícios psicológicos, a aposentadoria é uma doença terrível, não uma bênção.
Essas são palavras de Ralph Winter, fundador do United States Center for World Mission. Sua vida e estratégia têm sido um lembrete constante para jovens e mais velhos de que a única maneira de achar a vida é entregá-la. Ele é um dos meus heróis. Ele diz tantas coisas que cristãos hedonistas devem dizer (apesar de ele preferir que eu não usasse o termo "hedonista")!
Ele não apenas intima cristãos aposentados a parar de jogar fora sua vida em cursos de golfe quando podiam estar se dedicando à causa global de Cristo, mas também convoca alunos a buscar com afinco a mais plena e profunda alegria da vida. Em seu livrete Say yes to missions [Diga sim a missões], ele diz: "Jesus, pela alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, desprezando a fama. [...] Segui-lo é escolha sua. Você foi avisado! Mas não se esqueça da alegria".
De fato, em todas as minhas leituras fora da Bíblia nos últimos quinze anos, a maior fonte de confirmação da minha busca emergente de prazer cristão esteve na literatura missionária, em especial nas biografias. E aqueles que sofreram mais parecem declarar essa verdade sem tanto constrangimento. Neste capítulo mostrarei algumas das minhas descobertas.
Primeiro, porém, voltemos à questão da aposentadoria. Winter pergunta: "Onde eles vêem isso na Bíblia? Moisés se aposentou? Paulo se aposentou? Pedro? João? Será que oficiais do exército se aposentam no meio de uma guerra?"2 Boas perguntas. Se tentarmos responder a elas no caso do apóstolo Paulo, saltamos diretamente para uma definição de "missão", que é o que precisamos aqui no começo deste capítulo.
Paulo, ao escrever sua carta aos Romanos, já era missionário havia uns vinte anos. Ele tinha entre vinte e quarenta anos de idade (essa é a abrangência do termo grego traduzido por "jovem" em Atos 7.58) quando se converteu. Podemos supor, então, que tinha por volta de cinqüenta anos ao escrever essa carta grandiosa.
Isso pode parecer pouca idade para nós. Mas lembre-se de duas coisas: naquele tempo, a expectativa de vida era mais baixa, e Paulo levara uma vida incrivelmente estressante —por cinco vezes recebera 39 chicotadas, três vezes fora castigado com varas, uma vez apedrejado, naufragara três vezes, estava sempre indo de um lugar para outro e constantemente em perigo (2Co 11.24-29).
Por nossos padrões atuais, ele deveria estar "passando o bastão" e planejando sua aposentadoria. Mas em Romanos 15 ele diz que esta planejando ir para a Espanha! De fato, uma das principais razões de escrever aos romanos foi conseguir o apoio deles para essa grande e nova missão de vanguarda. Paulo não está perto de se aposentar. Grandes regiões do Império Romano ainda não haviam sido alcançadas, isso sem falar das regiões além das fronteiras do império! Por isso ele diz:
Agora, não tendo já campo de atividades nestas regiões e desejando há muito visitar-vos, penso em fazê-lo quando em viagem para a Espanha, pois espero que, de passagem, estarei convosco e que para lá seja por vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa companhia (Rm 15.23, 24).
Paulo provavelmente foi morto em Roma antes de poder realizar seu sonho de pregar na Espanha. Mas uma coisa é certa: ele foi derrubado em plena luta, não na aposentadoria. Ele estava na vanguarda e não na retaguarda, sentando-se para gozar os resultados das suas realizações impressionantes. É exatamente aqui que aprendemos o sentido de "missões".
Como Paulo podia dizer, em Romanos 15.23: "Já não tenho campo de atividades nestas regiões"? Havia milhares de descrentes a serem convertidos na Judéia, Samaria, Síria, Ásia Menor, Macedônia e Acaia. Isso fica evidente nas instruções de Paulo às igrejas sobre como relacionar-se com os descrentes. Mas para Paulo não sobrou espaço para trabalhar!
A explicação aparece nos v. 19-21:
Desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo, esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio; antes, como está escrito: Hão de vê-lo aqueles que não tiveram notícia dele, c compreendê-lo os que nada tinham ouvido a seu respeito.
A estratégia missionária de Paulo é pregar onde ninguém pregou antes. Isso é o que queremos dizer com "missões de vanguarda". Paulo tinha a paixão de ir aonde não havia ainda igrejas estabelecidas —e isso lhe indicava a Espanha.
Surpreendente nesses versículos é que Paulo pode dizer que tem "divulgado" (BLH: "anunciado de modo completo"; literalmente: "cumprido") o evangelho desde Jerusalém, no sul da Palestina, até o Ilírico, a noroeste da Grécia! Compreendendo isso compreenderemos o que são missões de vanguarda. O trabalho de Paulo de "plantar" estava feito, e outra pessoa viria depois dele para "regar" (ICo 3.6).
Portanto, quando falo do trabalho missionário neste capítulo, via de regra refiro-me ao esforço contínuo da igreja para executar a estratégia de Paulo: pregar o evangelho de Jesus Cristo e plantar sua igreja entre grupos étnicos ainda não alcançados.
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