- Manhã de Domingo, 29 de Dezembro de 1872 -
"Jesus ouviu que o haviam expulsado, e, ao encontrá-lo, disse: 'Você crê no Filho do homem?' Perguntou o homem: 'Quem é ele, Senhor, para que eu nele creia?'"
(João 9.35-36).
Este texto provém da história do cego a quem Jesus concedeu a vista. Quando o cego curado contou a narrativa da sua cura, provocou a ira dos judeus e de seus governantes; e, uma vez que esse homem não podia ser levado a considerar, juntamente com eles, que aquele que lhe abrira os olhos pudesse ser mesmo um homem mau, eles o colocaram para fora da sua assembléia e, com essa ação, deixaram claro que ele seria expulso (ou já estava expulso) da Igreja Judaica, excluído da sinagoga, e réu da excomunhão maior. Essa era uma das calamidades mais pavorosas que podia sobrevir a um judeu, e não duvido que o homem também a considerasse assim. Ora, a probabilidade de alguma pessoa aqui estar sentindo essa mesma aflição é quase nenhuma, mas muitas pessoas podem estar sofrendo algo semelhante. É possível que vocês se tenham excomungado. Dentro do seu tribunal interior, a sua própria consciência tem feito uma sessão solene, e declarado uma decisão judicial que ainda retine nos seus ouvidos sem cessar. Vocês dificilmente ousam conviver com aqueles que se reúnem na casa de Deus por se sentirem indignos de estarem no meio deles. Até recentemente, vocês estavam de bem consigo mesmos, e achavam que estivessem também de bem com Deus. Esperavam estar numa situação tão boa como a de outras pessoas, no mínimo, e talvez imaginassem ser um pouco melhores do que muitos ao seu redor; mas agora, um processo de esclarecimento sobreveio à sua mente - vocês passaram a reconhecer como iniquidades graves práticas que antes eram consideradas bagatelas, e o próprio pecado chegou a mostrar um aspecto bem diferente daquele que tinha nos tempos passados. Há alguém assim entre nós neste momento? Se houver, quero lhe dar a certeza de que o seu estado mental me é bem conhecido, porque eu conheci os seus horrores durante muitos meses. Eu, também, me sentia excluído da congregação dos esperançosos, e sem a esperança de receber a misericórdia de Deus. Nem sequer ousava levantar aos céus os meus olhos, mas me queixava diante do Senhor assim como fez Jonas: "Estou excluído da tua vista." Por isso, é com simpatia fraternal que me dirijo a qualquer pessoa que se considera reprovada, excluída da casa do Senhor.
O homem na narrativa, felizmente para ele, na ocasião em que a sentença começou a lançar sua triste sombra sobre ele, foi achado pelo Senhor Jesus Cristo, que imediatamente passou a lhe administrar o remédio necessário para animá-lo. Cristo veio para ser a consolação de Israel, e quando vê homens sobrecarregados de espírito, começa sua obra graciosa; no entanto, notemos que ele apresenta um único remédio e receita uma única maneira de levar a efeito a sua eficácia. Falou com o homem oprimido a respeito do Filho de Deus e da fé pessoal nele, pois esta é a consolação suprema para os corações partidos, é a melhor e mais segura forma de dar alegria às almas que estão sentadas nas masmorras do desânimo. Nosso Senhor começou por falar ao repudiado: "Você crê no Filho de Deus?" Agora, se alguns estiverem na condição que acabei de esboçar e se sentirem culpados diante de Deus, com o espírito pouco à vontade, com o coração alarmado diante do juízo vindouro e merecido, eu quero vir até eles, neste momento, com palavras de consolo, mas elas não serão outras senão aquelas que Jesus falou na Antiguidade. Nada tenho para lhes dizer a título de consolação, a não ser no que diz respeito ao Filho de Deus, e exclusivamente a ele, e isso exigindo que vocês creiam nele, pois é somente à medida que vocês o receberem pela fé que ele lhes será o alívio da tristeza. Aquele que crer no Senhor Jesus não será envergonhado, mas, sem fé, vocês ficam sem salvação.
Por isso, vamos nos esforçar para transmitir a todos vocês a questão em pauta. Para você, que ainda não é crente, haverá um encontro direto entre a doutrina do evangelho e a sua alma. Agora, você se colocará em posição diante do evangelho, quer o rejeite, quer o aceite. Você ficará sabendo, se as palavras mais claras puderem lhe contar, que, se crer em Jesus Cristo, você será salvo, e lhe será apresentada a proposição de crer assim ou não, e você crerá no Filho de Deus ou incorrerá novamente no pecado de repudiar o único nome concedido debaixo dos céus entre os homens, por médio do qual você pode ser salvo. Você será levado a enfrentar essa escolha se palavras puderem levá-lo a isso, e depois, ficará nas mãos de Deus, o Espírito Santo, a obra de levar você a uma decisão. Suplico àqueles que amam ao Senhor, e que prevalecem na oração, que me ajudem nas suas súplicas, a fim de que o resultado de colocar o pecador face a face com o evangelho seja que ele faça a decisão de crer em Jesus, que a fé lhe seja dada, que o Filho de Deus fique sendo o objeto da confiança da sua alma, e que, em nenhuma circunstância, alguém continue na incredulidade e rejeite o Filho de Deus. Na boca das minas de carvão, os vagões cheios, ao descer o declive, fazem com que os vazios subam até à boca do poço, para que eles também sejam carregados de carvão; eu gostaria, diante de Deus, que aqueles que possuem graça, possam exercer o poder que Deus lhes deu para com ele; e assim, pela intercessão que prevalece, vocês possam atrair outras pessoas ao Salvador. Enquanto nós pregamos, estejam vocês em oração, e Deus operará através de nós juntos. Contemplem, com olhar de compaixão, os não salvos em seu redor, e então, olhem para Cristo, seu Salvador exaltado, com olhar de fé, e digam a ele: "Jesus, tu que redimiste miríades pelo teu sangue, opera agora mediante o teu Espírito eterno, e redime também com poder. Que o Espírito que repousou sobre teu próprio ministério, o Espírito que estava com os teus servos no Pentecostes, o Espírito que também nos converteu à tua verdade, opere poderosamente na congregação nesta manhã, e que todos sejam levados a obedecer-lhe. Quando tua cruz for exaltada, que ela transmita vida aos mortos em todo o arraial, e seja, para os despertados, um farol de segurança, e para os desesperados, uma coluna de esperança."
I. Sendo que o desenvolver de nossa mensagem é seriamente prático, vamos, de modo muito claro, apresentar e definir a questão em pauta.
Meu amigo ansioso, o assunto mais grandioso e forte que pode interessar a você é receber a salvação. Sua consciência lhe diz que ainda não a possui; e, embora esteja bem consciente de que precisa obtê-la, por enquanto você tem uma perspectiva mínima de encontrá-la. Você pecou, e o castigo aguarda você; e não pode escapar! A questão suprema para você é que seja salvo, e, se de fato está realmente acordado, você deseja ser salvo do pecado bem como do respectivo castigo; você queria escapar, não somente das consequências da prática do mal, mas também da propensão de praticá-lo; do poder constante e da mácula do pecado no passado, e da tendência de pecar de novo. Você também deseja ser perdoado e, mediante o perdão, ficar isento da ira justa de um Deus ofendido, e ser tornado aceitável para o Altíssimo; e se você está no seu são juízo, deseja que tudo isso seja realizado do modo real e verdadeiro, e não com fingimento e ficção, mas de fato e na verdade. Deus livre você de ficar satisfeito, em qualquer momento, com o mero nome de estar salvo, com uma salvação externa e professa de ritos e cerimônias exteriores, enquanto seu coração permanecer sem purificação, e sua natureza, sem ficar limpa. Em alguns outros aspectos da vida, podemos ser enganados sem perdermos muita coisa com isso, mas, nas questões da alma, devemos certificar-nos de tudo; porque se formos enganados nesse âmbito, tudo se acaba mesmo para nós. Que alguém me ludibrie com metal baixo em lugar de ouro, se for o caso, mas não com mentiras em lugar da verdade salvífica, ou com noções enganosas em lugar das operações da graça. Que eu seja logrado com os alimentos que como, e descubra que cada bocado é adulterado, se necessário for; mas não no caso do pão da vida eterna, pelo qual anseia a minha alma. Que minha alma seja tratada com lealdade, mesmo que tudo o mais seja mentira!
Você deseja, meu amigo, a salvação do poder e da culpa do pecado, e que seja uma obra completa e genuína? Você não anseia, também, que seja agora? Se Deus vivificou você, mesmo um pouco, você anseia por ser salvo de imediato, e estremece diante da idéia da demora. O pecado é amargo para você agora, é uma pestilência. A questão que temos diante de nós agora é a salvação presente, a salvação pessoal para você apropriar para você mesmo. Se realmente existe a possibilidade de você levantar os olhos para o rosto sorridente de um Pai reconciliado no céu, você deseja desfrutar dele agora; se é possível que o fardo do pecado seja tirado de cima dos ombros de um mortal, para sempre, você deseja estar livre desse peso, neste instante; se existe, de fato, uma fonte na qual se um homem for lavado, terá todas as manchas removidas, você anseia por mergulhar imediatamente em suas águas purificadoras e ser tornado mais branco do que a neve fresca. Se a sua alma for despertada até esse ponto, bendigo a Deus, pois nada existe debaixo do sol - nem sequer acima dele - que possa se rivalizar em importância com a salvação da sua alma.
Mas se for para você chegar a ser salvo, Deus declara que a salvação terá de vir até você como uma dádiva da sua graça, com ato do seu livre favor, e você somente poderá receber se crer no seu Filho. Assim como Cristo consolou o homem no templo ao falar-lhe "Você crê no Filho de Deus?", assim também hoje não há consolação, e muito menos salvação, para você, a não ser por meio da fé no próprio Filho de Deus. Você já ouviu uma centena de vezes a história do Filho unigênito de Deus, que ama as almas humanas; mas precisamos contá-la mais uma vez. Deus não salvará os homens com base nos méritos deles; e se realmente possuíssem méritos, não precisariam da salvação. Se Deus dever alguma coisa para você, apresente a conta, e você receberá dele. Se houver, da parte de Deus, obrigações para com você, declare quais são elas, e se for comprovada a existência delas, Deus nunca lhe dará menos do que você puder reivindicar com justiça. Ai de você, meu amigo! Pois se for colocado no lugar onde você merece estar, que outro lugar seria senão no abismo do inferno? Seria melhor para você, portanto, acabar com todas as reivindicações e exigências. Deus somente salvará você como pessoa culpada que merece ser destruída, mas a quem salva porque ele opta por salvá-lo - porque ele resolve manifestar nessa pessoa a abundância da sua misericórdia. "Vocês são salvos pela graça", é o propósito imutável do céu; e é decretado, ainda, que essa graça seja recebida pelos homens através do canal da fé, e somente através desse canal. Deus salvará somente aqueles que confiarem no seu Filho. Jesus Cristo, o Senhor, entrou neste mundo e tomou para si a nossa natureza, conforme ensinamos a vocês no domingo passado, e sendo achado em forma de homem, assumiu o lugar do transgressor; as transgressões do seu povo foram contadas contra Cristo, imputadas a ele, lançadas na sua conta corrente, e ele sofreu por elas como se fossem seus próprios pecados. Foi açoitado, torturado, crucificado e morto; os açoites que recebeu eram os castigos devidos ao pecado humano, e a morte que sofreu foi morte que era o castigo que ameaçava os transgressores; e, agora, quem quiser confiar em Jesus participará de todas as agonias vicárias de Jesus, e a situação ficará sendo a seguinte - os sofrimentos de Cristo substituirão os sofrimentos do crente, e os méritos de Cristo substituirão a obediência que o homem deveria ter prestado. A fé em Jesus nos torna justos mediante a justiça de outros; nos leva a ser aceitos como amados, perfeitos em Cristo Jesus. Assim como caímos na queda do primeiro Adão, assim ficamos em pé de novo através do segundo Adão. Ora, a maneira de participarmos dos benefícios do Senhor Jesus é simplesmente crendo nele. E crer em Jesus não é uma ação misteriosa e complexa. Não é necessária uma semana para explicar o que é a fé. A fé crê naquilo que Deus revela a respeito de Cristo, e, portanto, ela confia em Cristo como o Salvador nomeado por Deus. Creio que Jesus era Filho de Deus, que Deus o enviou ao mundo para salvar os pecadores, que para fazer isso ele passou a ser substituto da justiça daqueles que nele confiam, e, posto que confio nele, sei que ele foi meu substituto e que eu estou inocente diante de Deus. Posto que Jesus morreu por mim, a justiça de Deus não pode me condenar à morte eterna, por quem Jesus, meu substituto, morreu; a justiça de Deus não pode cobrar pela segunda vez a dívida que já foi plenamente quitada em meu favor. A base racional do assunto inteiro é da máxima clareza, e toda ou qualquer pessoa neste mundo, velha ou jovem, judia ou gentia, alfabetizada ou não, rica ou pobre, devassa ou moral, que confiar em Jesus será salva - e mais, ela é salva no momento em que crê; mas quem, nascido de mulher, se recusar a confiar em Jesus já está condenado por não crer no Filho de Deus. Seja qual for o caráter de um homem, se nele não existir fé, ele é uma alma perdida; mas, por outro lado, seja o que tiver sido esse caráter, se esse homem agora vier à cruz e crer em Jesus, ele começa, a partir desse momento, uma nova vida; Deus lhe dará todas as graças e excelências de caráter que adornarão a sua fé, e a sua fé o salvará. Confiar em Jesus, crer em Jesus, essa é a questão. Quero aplicar meu martelo a esta bigorna com cada golpe, e se o Senhor se agradar em colocar diante de mim algum coração que ele tiver derretido no forno da convicção, os golpes surtirão efeito, se o Deus Eterno usar seu braço onipotente e golpear com energia divina. Se alguma alma for levada à fé em Jesus, a obra terá sido feita; a questão é só crer no Filho de Deus, e nada mais.
II. Sendo essa a questão em pauta, existe uma pergunta em nosso texto que envolve a totalidade da base da fé.
O homem disse a Jesus: "Quem é ele, Senhor, para que eu nele creia?" Esse homem, no decurso da narrativa, mostra ser muito sagaz. As Escrituras Sagradas não nos oferecem nenhum exemplo (pelo que eu saiba) de um homem de mais bom senso do que esse homem cujos olhos foram abertos; e assim, quando Jesus lhe diz que deve crer no Filho de Deus, o homem chega imediatamente ao âmago da questão e diz: "Quem é ele, Senhor, para que eu nele creia?", como se fosse somente isso que quisesse saber: "Quem é ele?", e então a fé seguramente viria. Quando uma alma está buscando a fé, essa pergunta é o assunto principal; nela está o âmago de toda a questão. Esse homem não disse: "Senhor, quem sou eu para que eu creia?" De modo nenhum; isso seria totalmente fora de propósito. Se eu lesse uma reportagem nos jornais e tivesse alguma dúvida a respeito dela, não começaria perguntando qual é o meu próprio caráter, como se isso tivesse algo que ver com o caso, mas perguntaria quem era a autoridade que estava por trás do relato. Não olho para dentro, mas olho para a pessoa que diz merecer crédito. A reportagem continua sendo verdadeira, ou não, independentemente de quem eu for. Meu próprio caráter nada tem a ver com a veracidade ou falsidade daquela declaração, é a respeito da própria declaração que preciso me informar. Portanto, esse homem não fez nenhuma observação a respeito de quem ele teria sido ou ainda continuaria sendo, mas pendurou a questão neste único gancho - "Quem é ele, Senhor, para que eu nele creia?" E agora, portanto, caro amigo, todos os argumentos a respeito da sua fé ficam dentro da esfera dessa pergunta: "Quem é ele, Senhor, para que eu nele creia?" Você não precisa dizer: "Quem sou eu para que eu creia? Vivi uma vida maculada pelo pecado, passei de uma transgressão a outra; resisti à minha consciência; tomei posição contra o evangelho; contaminei-me com pecados contra a luz e contra o conhecimento." Isso não importa. Ali está você em pé, com toda a sua impureza tomada como certa, e Deus lhe diz: "Quem crê no Senhor Jesus Cristo tem a vida eterna." A questão da salvação está nessa declaração; nela, e nada mais. Você crê no Senhor Jesus ou não? O que você é não tem nada a ver com o assunto. Se o testemunho de Deus é verdadeiro, continua sendo verdadeiro, quer você seja um pecador grande ou pequeno; e se for falso, não ficará em nada mais verdadeiro, quer você for bom ou mau, digno ou indigno. Se Jesus é poderoso para salvar, devemos confiar nele; e se ele não é e se não tem essa capacidade, ninguém deve confiar nele - a questão toda gira em torno disso.
Não levante, tampouco, questões a respeito da sua condição atual. Você diz: "Mas neste momento estou me sentindo tão duro de coração; não consigo chorar como algumas pessoas; o arrependimento está oculto dos meus olhos; comigo, a oração é trabalho pesado que me faz gemer; mesmo enquanto escuto o evangelho nesta manhã, minha atenção não se fixa devidamente na verdade que reconheço ser vital; estou destituído de boas qualidades; estou vazio de tudo quanto pudesse me recomendar à misericórdia." Respondo: o que isso tem a ver? Imaginemos que eu digo a certo homem que a soma de dez mil lhe foi legada num testamento, haveria alguma vantagem em ele me mostrar seus farrapos, sua despensa vazia e sua cama miserável? A pobreza dele me torna mentiroso? Por que o homem quer introduzir nessas boas notícias semelhante matéria que não vem ao caso? Ou a notícia é verídica ou não é; a situação dele não tem nada a ver com a veracidade ou falsidade da minha declaração. Se esse homem estivesse vestido de púrpura e linho fino, isso não tornaria minha declaração mais veraz; e, se os cachorros o lamberem como fizeram com Lázaro, isso não lhe dá o direito de negar minha veracidade quando lhe conto um fato. Assim, ó pecador, sua condição não tem nada que ver com a questão de se Jesus é fidedigno ou não. "Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho unigênito para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna." Você quer crer nele? Você quer confiar no Senhor Jesus? Se você desejar confiar nele, o assunto para indagação é: "Ele merece confiança?" Mas é fora de propósito dizer "Eu sou isto" ou "Eu sou aquilo". Não é mesmo?
"Mas ainda fica a questão do futuro", diz alguém; "é possível que eu volte aos meus pecados antigos. Não posso confiar em mim mesmo, pois já fiz algumas reformas antes, e não passaram de tentativas ineficazes; minha nau já se foi ao alto-mar e afundou com o primeiro vendaval; não posso esperar, com tamanhas tentações que me aguardam, que me manterei firme e entrarei no céu." Ora, o que a questão de crer em Jesus tem a ver com as suas boas resoluções ou com seus fracassos miseráveis? Quem confiar em Cristo será salvo. Se você for perdido, confiando nele no futuro, a palavra de Deus não seria verdade. A pergunta é: Você pode confiar em Cristo? E essa pergunta gira em torno daquela outra: "Ele é digno de confiança?" Nenhuma outra pergunta poderá ser permitida nem por um único momento. O caso é um pouco semelhante ao de um homem no mar; seu navio naufragou e está se desfazendo; o convés já foi totalmente varrido pela água; o homem mantémse agarrado, com dificuldade, a uma parte flutuante do mastro. Veja! O barco salva-vidas chega bem ao lado dele, e está pronto para recolhê-lo a bordo. Agora, se houver alguma dúvida na mente desse homem sobre entrar nesse bote para ser salvo, a única pergunta racional que eu posso conceber é: "O barco me levará à praia? Ele está em condições de enfrentar o mar? Sobreviverá aos vagalhões? Conseguirá chegar à terra com segurança?" Você não poderá imaginar que o coitado vai dizer: "Estou tremendo demais com calafrios para ser salvo por aquele barco", ou "O mar arrancou o último farrapo das minhas costas, o barco não será apropriado para mim", ou "Numa outra ocasião, posso ficar naufragado numa praia da África, e pode haver um barco salva-vidas ali." Não, não. Homem de Deus! Ali está o barco! Ele está em condições de enfrentar o mar? A pergunta é esta. Caso positivo, embarque nele. Se Cristo não merece confiança, não confie nele; e se ele foi digno de toda confiança, acabe com todos os questionamentos infrutíferos e lance-se sobre ele. "Nós aceitamos o testemunho dos homens, mas o testemunho de Deus tem maior valor, pois é o testemunho de Deus que ele dá acerca de seu Filho. Quem crê no Filho de Deus tem em si mesmo esse testemunho. Quem não crê em Deus o faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus dá acerca de seu Filho. E esse é o testemunho: "Deus nos deu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho. Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida" (1Jo 5.9-12).
Continuaremos nessa mesma consideração: Jesus merece confiança, merece a fé inabalável do pecador. Ele é fidedigno, ó pecador, porque ele mesmo, em favor de quem você é ordenado a confiar neste dia, segundo o mandamento do evangelho, é o próprio Deus. Você ofendeu Deus, e é Deus quem entrou no mundo a fim de salvar os pecadores. Você atirou seus pecados contra Cristo, como flechas atiradas do arco, mas aquele contra quem elas foram atiradas veio na plenitude do seu poder e na infinidade da sua misericórdia para salvar aqueles que crêem. Você não pode confiar nas mãos onipotentes - onipotentes para salvar? Há alguma coisa que seja impossível para Deus? Um anjo não poderia salvar você, mas com certeza o próprio Deus poderá. Como você pode limitar o Santo de Israel? Como pode você demarcar fronteiras para o amor sem fronteiras ou limites para a graça ilimitada? Se Jesus fosse homem sem ser Deus, a incredulidade teria uma boa desculpa; mas já que o Salvador é divino, onde a desconfiança poderá se ocultar?
Neste momento, minha convicção é que eu não poderia deixar de crer em Cristo, agora que sei que ele é divino. A fé tornou-se um ato necessário da minha mente. Quanto a ele me salvar, quem poderá me persuadir que ele não pode? Apareçam, ó diabos, com seus argumentos e discutam comigo, mas vocês não poderão injetar nenhuma dúvida na minha alma, já que sei que Cristo é Deus; ele pode sacudir os céus quando assim lhe agrada, e deixar a terra tremer; ele sustenta o universo nos seus ombros; e não pode salvar a minha pobre alma? Sim, certamente pode. "Quem é ele para que eu nele creia?" Ele é divino e, por isso, creio.
Mas, além disso, o Senhor Jesus Cristo, em quem o pecador é conclamado a confiar, é comissionado por Deus para salvar. Ele entrou no mundo como Salvador, e não sozinho por contra própria, mas como Messias enviado por Deus. Ele tem a plena concordância da Santíssima Trindade. É da vontade do Pai, é a vontade do Espírito Santo, e também é a vontade do Filho, que quem crer em Jesus seja salvo. Ele foi ungido pelo Senhor para a sua obra específica. Ora, considero isso um motivo especial para confiar nele. Se Cristo fosse um Salvador amador que adotasse por conta própria a atividade de salvar, poderia haver alguma dúvida; mas já que Deus o comissionou divinamente para salvar, ó alma, como você poderá continuar duvidando? Garantido por Deus, autorizado pelo Eterno, ó coração, repouse nele.
Em seguida, note que o Senhor Jesus Cristo realmente fez tudo quanto lhe é necessário fazer em prol da salvação de todos quantos nele confiam. Há muitos anos, antes de Jesus Cristo ter vindo ao mundo, se eu tivesse sido enviado para pregar o evangelho, teria eu exclamado: "Jesus tomará sobre si mesmo os pecados dos que crerem e dará a sua vida em favor da sua igreja", mas agora tenho uma mensagem mais encorajadora; Jesus levou embora para sempre os pecados do seu povo, ele sofreu em favor dos seus tudo quanto era exigido para acabar com as suas transgressões. Tudo quanto a justiça de Deus exigia como compensação pela honra da Lei, que tinha sido lesada, Jesus pagou. O equivalente de todos os sofrimentos eternos no inferno, para os eleitos, Jesus sofreu sobre si até a última consequência; Cristo suportou tudo quanto era necessário para que Deus fosse justo e, ao mesmo tempo, justificador daquele que crê. A taça da vingança não está cheia para ser bebida por nós; está vazia, e emborcada, porque Jesus bebeu dela até deixá-la seca. As labutas necessárias para a nossa redenção, superlativamente maiores do que as labutas de Hércules, foram todas cumpridas. Cristo entrou na sepultura, saiu da sepultura, e subiu à glória. Entrou no céu porque sua obra já fora realizada; e agora ele está sentado à mão direita do Pai, na posição de descanso e de honra, porque aperfeiçoou para sempre todos quantos nele confiam. Agora, ó alma, como você pode se recusar a crer em Jesus? Para mim, esse argumento parece irresistível. Sendo verdade que Cristo morreu, o justo pelos ímpios, e que todos quantos nele confiarem serão salvos, eu também confiarei nele e acharei a paz mediante o seu sangue.
Além disso, ó alma, a conclusão à qual, creio, a graça de Deus está levando você, é a seguinte: Jesus merece que confiemos nele, e confiaremos mesmo - porque ele está cheio de poder para salvar, por estar agora no seu trono, e todo o poder lhe é dado, no céu e na Terra. Sabemos que ele está cheio de poder para salvar, pois ele está salvando almas todos os dias. Algumas pessoas entre nós são testemunhas vivas de que ele pode perdoar o pecado, pois fomos perdoados, aceitos e renovados de coração; e a única maneira de termos obtido essas bênçãos foi esta: confiamos nele, e nada mais fizemos do que confiar nele. Se perecer qualquer alma aqui que crê em Jesus, eu terei que perecer junto. Estou navegando no mesmo barco, e se ele afundar, não tenho outro para onde fugir. Reconheço diante de todos vocês que não possuo outra confiança. Não possuo nem um farrapo de dependência em qualquer sacramento pelo qual já passei ou do qual já desfrutei, em qualquer sermão que já preguei, em qualquer oração que já fiz, ou em qualquer comunhão com Deus que já conheci. Minha esperança está no sangue e a justiça de Jesus Cristo; e sacudo para longe de mim, como se fosse uma víbora sacudida para a fogueira, como coisa mortífera que só presta para ser queimada, qualquer pretensão de confiar em alguma coisa que eu seja, que eu puder ser, ou que futuramente possa ser ou fazer. "Ninguém senão Jesus", essa é a coluna firme na qual devemos edificar; ela nos sustentará, mas nada mais poderá. Ora, visto que sabemos, mediante a autoridade das Escrituras infalíveis, que Jesus tem esse poder, como é que as almas que buscam o descanso não obedecem à ordem de se repousar livremente nele? Este é o auge da depravação humana: que ela rejeita o testemunho do próprio Deus, e opta por perecer na incredulidade.
Além disso, lembrem-se também de que Jesus Cristo, nesta manhã, não está indisposto, de modo nenhum, para salvar os pecadores, mas, ao contrário, se deleita em fazer isso. Nunca precisamos arrancar misericórdia da parte de Cristo, como se fosse dinheiro tirado de um avarento, pois ela flui livremente dele, assim como a corrente flui da fonte, ou os raios de luz a partir do sol. Se for possível Cristo ser tornado mais feliz, sua maior felicidade é outorgar a sua misericórdia àqueles que não a merecem. Quando um pobre miserável, que somente merece o inferno, chega a Cristo, e este diz: "Eu apaguei os seus pecados", é grande a alegria para o coração de Cristo agir assim. Quando um pobre blasfemador dobra os joelhos e diz: "Senhor, tenha misericórdia de mim, pecador", Cristo fica com coração alegre ao dizer: "Suas blasfêmias foram perdoadas, sofri por elas no madeiro." Quando uma pobre criancinha, à beira da cama, exclama: "Jesus querido ensine uma criancinha a orar e perdoe os pecados que cometi", o Salvador ama dizer: "Deixe essas criancinhas virem a mim, pois essa também faz parte da minha recompensa pelas feridas que sofri nas mãos, nos pés e no lado." Quando alguém entre vocês vier a ele e confessar as suas transgressões e se confiarem nas mãos de Cristo, para ele será um novo céu; colocará estrelas na sua coroa sempre brilhante e lustrosa; e ele verá da labuta da sua alma e ficará satisfeito. Não temos aqui, também, argumentos que comprovam que Jesus merece a nossa confiança?
III. Em terceiro lugar, isso nos leva a dizer que, na base de todas essas respostas à pergunta "Quem é ele?", todo pecador neste momento é limitado pela alternativa da fé ou da incredulidade.
Vocês estão limitados à escolha de confiar em Cristo, em quem Deus ordena que vocês confiem, ou a se recusar a confiar nele. Não fui enviado para pregar a alguns entre vocês, neste momento, mas a todo aquele que tem ouvidos para escutar. Nunca aprendi a pregar um evangelho restrito a determinada parte de uma parte de uma congregação; a comissão recebida por todo verdadeiro ministro de Cristo é: "Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado" (Mc 16.15-16). Já que todos nós somos pessoas, o evangelho está agora sendo pregado a todos nós; sensíveis ou insensíveis, espiritualmente mortos ou espiritualmente vivos, enquanto nós formos capazes de ouvir o evangelho, a mesma mensagem vem até nós a partir da glória excelente: "Quem tiver sede, venha; e quem quiser, beba de graça da água da vida" (Ap 22.17). "Creia no Senhor Jesus Cristo e você será salvo." Mas eu sei qual será a postura que alguns adotarão a não ser que o Espírito de Deus impeça tal coisa. Muitas pessoas tentarão recusar a alternativa entre crer e descrer, que coloquei tão claramente diante de nós. Você não vai querer dizer que não vai confiar em Cristo, mas não vai mesmo confiar nele. O que então vai fazer? Ora, vai apresentar variações da antiga música dos sinos: "Mas sou tão grande pecador. Sou tão indigno!" Já demonstrei que essa defesa não é válida, e que não pode ser introduzida no assunto. A pergunta é única e indivisível: "Você crê no Filho de Deus?" Por que, então, você faz outra pergunta a respeito de você mesmo, que não vem ao caso? Mesmo assim, liderarei com você segundo suas próprias alegações e responderei a sua pergunta. Reconheçamos que você é um pecador especial e abominável: neste caso, de todos os homens no mundo, é você o homem que deve confiar em Cristo, pois está escrito: "Esta afirmação é fiel e digna de toda aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior" (1Tm 1.15). Você tem sido um beberrão, um fornicador, um adúltero, um ladrão, e, realmente, um homem endiabrado; pois você tem sido um pecador; tudo se resume nisso, e Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores; portanto, em vez de ser excluído por causa do seu caráter, você está incluído por ele. Você é o tipo de homem que Cristo veio salvar. Você não pode fugir, dizendo: "Ele não veio salvar a mim, porque não sou pecador." Você não ousará fazer isso.
É muito provável que você responda: "A razão da minha incredulidade é que não me sinto como deveria me sentir." De novo, digo que essa defesa nunca deve ser apresentada. Se eu sentir uma dor no meu pé nesta manhã, esse não seria motivo de eu não confiar num homem honesto, nem acreditar numa declaração que chega até mim com boa autoridade. Mesmo assim, vou tratar com você segundo seus próprios termos. Você é tão pecaminoso que não possui nenhum merecimento, em aspecto algum; pois bem, Jesus veio salvar os seus dos pecados. Fica claro que você é justamente uma pessoa do tipo que ele veio salvar, pois está cheio de pecados. A salvação da parte dele é toda pela graça, e já que não há em você uma coisa boa, você é um caso muito apropriado para receber a misericórdia, a misericórdia gratuita, a grande misericórdia! A salvação, toda pela graça, é exatamente apropriada para você. Você é um vaso vazio, e, por isso, fica claro que você quer ser cheio; você é um vaso imundo, e por isso, precisa ser lavado; e Jesus promete tanto purificar quanto encher. As ofertas que ele faz são adaptadas com exatidão às suas circunstâncias. Você é exatamente a pessoa certa para ser abençoada pela graça.
"Ah, mas sinto-me perdido, totalmente perdido", diz outro. O quê?! Devemos primeiro lutar contra o fato de alguns entre vocês se sentirem de menos, e depois, contra outros, por se sentirem demais; neste caso, devemos voltar para nossa única consideração determinada, e lembrar, de novo, que as duas desculpas são totalmente fora de propósito, e que a única pergunta é: você quer, ou não quer, crer no Senhor Jesus, a quem Deus determinou como o Salvador dos homens? Mas ainda que você esteja esmagado por sentimentos tristonhos, tem motivos especiais para atender à chamada do evangelho, uma vez que alguns convites se dirigem especialmente a você, tais como: "Venham, todos vocês que estão com sede, venham às águas" (Is 55.1) e "Se alguém tem sede, venha a mim e beba" (Jo 7.37). Já que existem mensagens de graça especiais para vocês que estão um pouco despertados para um senso de necessidade, então lhes rogo, apressem-se para aceitarem o testemunho de Deus para que a alma de cada um de vocês viva.
A única pergunta para cada pessoa não convertida é: Você quer crer em Jesus Cristo? Mas ouço vocês dizendo: "Preciso me comportar melhor no futuro; acho que, no final das contas, se fizer alguns esforços, poderei alcançar uma condição melhor." Como você pode esperar por isso? Já não provocou muita desordem em sua vida até agora? Seria melhor abrir mão da tentativa vã. Já que você agiu tão mal no passado, pouca coisa poderá animá-lo a arriscar o futuro. Que o desespero o force à fé. O pior aspecto da sua conduta é que você está seguindo em direção contrária ao plano de Deus. Deus diz: "Não vou salvar você no fundamento do mérito, porque você não possui nenhum." Essa declaração de Deus é realmente graciosa, porque serve para excluir falsas esperanças, pois "ninguém é justificado mediante a prática da Lei" (Gl 2.16). Ora, se você disser: "Buscarei a salvação na base das obras", está indo diretamente contra Deus. Isso é aconselhável? Melhor seria que você aceitasse logo o que ele oferece tão livremente. Siga este exemplo: um dia destes, um irmão queria comprar alguma coisa do seu irmão. Esse irmão pedira certa soma por ela, mas o comprador disse: "Pago metade disso." Aquele que possuía o objeto desejado não aceitou: "Antes de aceitar um preço tão baixo, prefiro lhe dar de presente." "Obrigado, aceito", foi a resposta imediata. É assim que eu gostaria que vocês fizessem. Não ofereça a Deus o seu pagamento mesquinho, quando ele está disposto a dar-lhe a bênção sem dinheiro e sem preço! Nunca vi tão grandes tolos quanto os homens o são no que diz respeito às coisas de Deus. Se conseguirem uma coisa boa em troca de nada, no mundo inteiro, a aceitarão sem que ninguém insista, mas, por outro lado, se rebelam contra a livre graça. Há muitos anos, pagamos vinte milhões de libras para a liberdade dos escravos na Jamaica, mas antes de a transação virar lei, objeções ilimitadas foram levantadas na Casa dos Comuns e alhures. Muitas pessoas pleitearam suas objeções, mas nunca ouvi notícia de um negro comparecer em juízo diante do governo para levantar objeções em nome dos escravos. Nenhum negro se apresentou para dizer que os negros eram indignos e sem merecimento, e os escravos não apresentaram nenhuma proposta no sentido de parte do dinheiro ser paga por eles mesmos. Oh não! Não faz parte da natureza humana pedir que outras pessoas onerem seus presentes gratuitos dessa maneira; no entanto, somos tão falsos para com tudo quanto é razoável, que queremos onerar a graça soberana. Quando Deus diz: "Vou apagar a transgressões de vocês e salvá-los de uma vez por todas; é só confiarem no meu Filho amado", seria estranho, bastante estranho, seria o cúmulo da loucura, se os homens levantassem objeções e pleiteassem um evangelho com condições e exigências severas.
Ora, o que farão os homens se forem forçados a deixar essa posição? Muitas vezes vi o pecador apelar à descarada falsidade e dizer: "É tarde demais", embora ele saiba muito bem que nunca será tarde demais; pois o evangelho diz: "Quem crer e for batizado será salvo." Não diz, se ele crer quando tiver vinte ou trinta anos de idade, ou cinquenta e cinco, ou cento e cinco, mas a promessa é igual para todas as idades. Nunca é tarde demais para acreditar numa verdade, e esta é a questão em pauta. "Você quer crer no Filho de Deus?" Então, o pecador dirá que sente em seu íntimo que não há esperança, e, por isso, ele se recusa a crer naquele que Deus declara solenemente, que há salvação em Jesus Cristo! Mas não posso me demorar a fim de mencionar todas essas falsidades, nem mesmo descrever os subterfúgios dos homens que querem fugir de receber misericórdias. Vi em Pompéia, na entrada de uma loja, o lema: "Eme et habebis" ("Compre e você possuirá") e não pude deixar de pensar que, se andasse pelas ruas da Nova Jerusalém, teria visto um lema muito diferente: "Venha, compre vinho e leite, sem dinheiro e sem preço." Ora, se uma loja fosse aberta, na qual todas as mercadorias pudessem ser adquiridas sem dinheiro e sem preço, você brigaria com o lojista, e levantaria uma petição para o Parlamento decretar o fechamento da loja, e diria que era coisa iníqua, e porque você gostaria de voltar às condições antigas e pagar tudo quanto fosse adquirir? Nada disso. Por outro lado, por que você se contrapõe ao lema dourado da livre graça: "Confie em Cristo e você terá." Aqui temos perdão instantâneo, perdão perfeito, perdão eterno, a filiação em Cristo, a segurança na Terra, a glória no céu, tudo de graça; o dom gratuito do Deus gracioso aos pecadores sem merecimento, que confiam em Jesus! Nunca um anjo teve uma mensagem mais graciosa e divina de misericórdia do que a que tenho comigo, e gostaria tanto de poder brilhar com o zelo de um serafim e clamar com a voz de um querubim ao proclamá-la. Queira Deus que os homens deixassem seus raciocínios tolos e cressem em Jesus Cristo.
IV. Por fim, da alternativa aqui apresentada, podem depender hoje coisas eternas para muitas pessoas. Lembro-me bem, pois quase chegou o aniversário da ocasião em que passei por uma situação semelhante à de muitas pessoas, quando soube que estava arruinado e destruído, e ouvi, e entendi pela primeira vez, aquelas palavras: "Voltem-se para mim e sejam salvos, todos vocês, confins da terra" (Is 45.22). Sei qual era a minha situação naquela manhã. Eu era como Naamã à beira do Jordão. Ali fluíram as águas. A velha natureza disse: "Abana e Farpar, rios de Damasco, melhores de todas as águas de Israel. Não posso me lavar neles, e ficar limpo?" A natureza humana disse: "Quero sentir alguma coisa; quero ter a mesma experiência que João Bunyan; quero ter a mesma experiência que minha mãe; quero sentir um coração quebrantado; quero gemer com mais amargura; quero ser mantido acordado durante tantas outras noites; e outras tantas coisas assim." Suponhamos que eu continuasse resistindo; se a graça de Deus não tivesse intervindo e levado todo o meu orgulho a ceder, nem sei onde eu poderia estar nesta hora - se ainda vivesse entre os homens. Eu poderia estar no inferno, roendo a minha própria língua ao pensar que cheguei a ouvir um sermão evangélico claro e afastei para longe de mim o evangelho quando foi proclamado, e tudo porque eu não queria crer naquilo que é a verdade indisputável, e não queria confiar em Cristo, sendo que ninguém chegou a confiar nele em vão. Neste momento, algumas pessoas estão na condição em que eu estava, mas que o bom Espírito está falando a elas: "Lave-se e fique pura", e a alma vai suspirar: "Parece bom demais para ser verdade"; mas o bom Espírito responderá: "Os meus caminhos não são superiores aos seus caminhos, e meus pensamentos, aos seus pensamentos?" A incredulidade dirá: "Seus pecados são muitos", mas o bom Espírito responderá: "Embora os seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; embora sejam rubros como púrpura, como lã se tornarão" (Is 1.18). Então o coração sugerirá: "Mas tenho me rebelado contra ti, ó Deus, durante tanto tempo"; e o doce Espírito de Deus sussurrará: "Como se fossem uma nuvem, varria para longe suas ofensas; como se fossem a neblina da manhã, os seus pecados" (Is 44.22); "Voltem, filhos rebeldes! Pois eu sou o SENHOR [ou: marido] de vocês", declara o SENHOR" (Jr 3.14). E estou confiando que agora, neste mesmo momento, muitos corações dirão: "Eu vou, portanto, simplesmente confiar a salvação da minha alma em Cristo, o Filho de Deus, que é o único Salvador dos perdidos; nunca, a partir de hoje, terei a esperança de ser uma pessoa salva por mim mesmo, nem confiarei em nada, senão nele, que suportou a ira de Deus, no madeiro ensanguentado, em prol de todos quantos crêem em Cristo." Alma, se você realmente confiar em Jesus, está salva, tão certamente quanto você vive! Vá você na paz. Não falo estas palavras somente através destes fracos lábios de barro, mas Cristo que foi pregado no madeiro, e a quem todos os céus adoram, está falando agora através de mim, e a uma pessoa fala: "Filha, seja de bom ânimo, seus pecados lhe são perdoados"; e a outra pessoa: "Filho, seus pecados lhe são perdoados; pegue na sua maca e ande." Ó perdoado, eu conclamo você a fazer assim, a partir desse momento, salvo, e cheio de alegria, saia contando a outras pessoas a respeito; nunca deixe de contar a respeito, e viva para amar aquele que o salvou! Vi, outro dia, um quadro pintado por Rubens, no qual retratou Maria Madalena beijando os pés de Jesus enquanto ainda jorram fontes de sangue na cruz. Foi um quadro estranho, mas me senti como se, caso eu estivesse ali, também os teria beijado, embora fossem vermelhos com o seu sangue. Ó benditos pés! Ó bendito Salvador! Ó bendito Pai que deu seu Filho para ser tão bendito Salvador! Ó bendito Espírito do bendito Deus que levou nossos corações iníquos e orgulhosos à obediência e confiança em Jesus; sim, bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos regenerou para uma esperança viva por meio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos. O Senhor nos abençoe. Amém.
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