Paulo, como já vimos, não só testifica a alegria em sua própria experiência de prisão, como manda que seus amigos filipenses pratiquem a alegria como disciplina constante de vida. "Alegrai-vos sempre no Senhor", ele escreve, e se repete para dar ênfase. É como se dis¬sesse: Vocês precisam orar, cultuar, amar uns aos outros, guardar os mandamentos, levar as cargas uns dos outros, guiar sua visão moral pelo Sermão do Monte, testemunhar, evitar toda forma do pecado, ser cheios do Espírito para batalhar contra Satanás e as tentações quando estes os assaltam, buscar boas obras, e procurar mostrar o fruto do Espírito constantemente — e, juntamente com tudo isso, como questão de importância especial, vocês devem alegrar-se no seu relacionamento com Jesus Cristo o tempo todo!
A alegria é, de fato, um aspecto do fruto do Espírito, e o hábito de alegrar-se no Senhor, como meio indicado pelo qual a alegria se torna realidade, é tanto assunto de mandamento divino e obrigação cristã como a apresentação de qualquer outra das coisas mencionadas. É verdade que a alegria, tanto a natural como a espiritual, nos virá periodicamente como uma rajada de vento ou brilho de satisfação íntima, como se fosse um beijo inesperado do céu, pelo qual devemos ser agradecidos toda vez; mas nem por isso devemos pensar na alegria como sendo essencialmente um estado de espírito de eu¬foria que pedimos e depois nos sentamos para aguardar. A alegria é um hábito do coração, induzido e sustentado por nós como qualidade permanente de vida pela disciplina do regozijo. A alegria não é um acidente de temperamento ou um benefício da providência imprevisível; a alegria é questão de opção. Paulo está instruindo os leitores a escolher alegrar-se porque é pela atividade de regozijar-se que a alegria se torna realidade pessoal.
Já vimos isso em Paulo. Ele ora pelos filipenses "com alegria" por causa de sua cooperação no evangelho (1.4-5) e os chama de sua "alegria" (4.1), como faz com os tessalonicenses também (lTs 2.19ss.; 3.9). O que ele quer dizer é que quando pensa neles, concentrando-se na graça de Deus em sua vida, a alegria penetra em seu coração. Assim ele se alegra neles, ou melhor, alegra-se no Senhor por causa deles, como por exemplo em Filipenses 4.10: "Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a meu favor o vosso cuidado". Como vimos também, Paulo pode optar por regozijar-se em um aspecto de uma situação da qual outros aspectos são calculados como deprimentes. Ele se alegra que Cristo está sendo pregado e se recusa a ficar pensando nos maus motivos dos pregadores, ou a alimentar a autopiedade por não estar livre para fazer o mesmo que eles estão fazendo (1.15-18). Isso, mais do que qualquer outra coisa, torna claro que a alegria é uma opção; a pessoa escolhe focalizar seu pensamento em fatos que evocam a alegria. Tal é o segredo de "alegrar-se sempre no Senhor", isto é, escolher sobre o que você vai pensar. É tão simples — e tão difícil — assim.
Será que podemos realmente escolher em que vamos pensar? Nestes dias, quando somos interminavelmente superestimulados por coisas externas, e quando a TV de cada dia estimula a mentalidade passiva que nos faz aguardar um divertimento em vez de criá-lo, a idéia de escolher temas para nossos pensamentos regularmente pa¬rece estranha a ponto de ser excêntrica. Mas Paulo não duvida de que esse tipo de controle do pensamento é possível. Realmente, ele ordena isso. "Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento" (Fp 4.8). Controlar e dirigir os nossos pensamentos é um hábito, e quanto mais treinamos, mais peritos ficamos.
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