Devemos agir com violência contra Satanás. Ele se nos opõe tanto pela violência explícita
quanto pela perfídia secreta. Por causa da sua manifesta violência ele é chamado de o dragão
vermelho; pela sua perfídia, de a antiga serpente. Lemos nas Escrituras quanto às suas
armadilhas e dardos. Ele fere mais com as suas armadilhas do que com os seus dardos.
A Violência de Satanás. Ele trabalha diligentemente para tomar de assalto o castelo
do coração, instigando a paixão, a concupiscência, e a vingança. Esses são os chamados
dardos inflamados (Ef 6.16) porque põem sempre a alma em chamas. Por causa da sua
ferocidade ele é cognominado de leão: “O Diabo, vosso adversário, anda em derredor, como
leão que ruge procurando alguém para devorar” (1Pe 5.8); não para morder (como diz
Crisóstomo), mas para devorar.
A Perfídia de Satanás. Aquilo que ele não consegue fazer pela força, se empenhará
para alcançar pela fraude. Satanás tem muitas maneiras ardilosas de tentar. Para adequar as
suas tentações à índole e temperamento do indivíduo, Satanás estuda a fisionomia (isto é, os
aspectos e as expressões faciais) e coloca as iscas apropriadas. Ela conhecia a inclinação
cobiçosa de Acã e o tentou com uma barra de ouro. Ao vaidoso ele tenta com a beleza.
Um outro ardil é conduzir os homens ao mal, sub specie boni, sob o pretexto de um
bem. Assim como o pirata engana exibindo uma bandeira falsa, também Satanás o faz
exibindo a bandeira da religião. Ele leva alguns a cometerem ações pecaminosas persuadindoos de que muitas coisas boas resultarão delas. Algumas vezes lhes diz que podem deixar de
lado a regra da Palavra e levar as suas consciências para além dessa fronteira, de modo a
serem capazes de prestar um maior serviço — como se Deus precisasse do nosso pecado para
exaltar a Sua glória.
Satanás tenta ao pecado gradualmente. Assim como o lavrador cava em torno da raiz de
uma árvore fazendo-a gradativamente perder a sua firmeza e, por fim, cair, Satanás infiltra-se
gradualmente no coração. No princípio ele é mais moderado. Ele não disse a Eva de supetão:
“Coma o fruto”; não, trabalhou mais sutilmente, fazendo uma pergunta: “Deus disse isso?
Eva, você deve estar enganada. O dadivoso Deus nunca teve a intenção de lhe privar de uma
das melhores árvores do jardim. Será que Deus disse isso? Certamente que não, e se o disse,
não foi essa a intenção dEle”. Assim, pouco a pouco, ele a fez duvidar, e ela, então, colheu o
fruto e o comeu. Oh, acautele-se dos primeiros impulsos, aparentemente mais modestos, de
Satanás para lhe fazer pecar — principiis obsta (isto é, opõe-te desde o começo)! No
princípio ele é uma raposa, e em seguida, um leão.
Satanás tenta ao mal in licits, nas coisas lícitas. Era lícito a Noé comer do fruto da vide,
mas ele bebeu demais, e assim pecou. O excesso torna aquilo que é bom em mau. Comer e
beber podem se converter em intemperança. Quando em excesso, a diligência na profissão é
cobiça. Satanás leva os homens a um amor exagerado por aquilo que fazem, fazendo-os
transgredir naquilo que amam, assim como Agripina envenenou o seu marido Cláudio com a
carne que ele mais gostava.
Satanás inclina os homens a fazerem o bem motivados por maus motivos. Se ele não os
puder ferir com ações escandalosas, ele o fará com ações virtuosas. Portanto ele tenta alguns
a adotarem a religião como um modo de se promoverem e a dar esmolas para receberem
aplauso, para que os outros possam ver as suas boas obras e canonizá-los. Tal hipocrisia
contamina os deveres da religião e os faz perder a recompensa.
O Diabo persuade os homens ao mal através daqueles que são bons. Isso dá um falso brilho às suas tentações tornando-as menos suspeitas. Algumas vezes o Diabo usou os mais
eminentes e santos homens como agentes das suas tentações. O Diabo tentou Cristo através de
um apóstolo — Pedro a dissuadi-Lo de sofrer. Abraão, um homem bom, mandou sua mulher
ser ambígua: “Dize, pois, que és minha irmã”.
São essas as sutilezas de Satanás ao tentar. Agora, aqui temos que agir violentamente
contra Satanás através da fé: “resiste-lhe firmes na fé” (1Pe 5.9). A fé é uma graça sábia,
inteligente; ela pode perceber o anzol que vai escondido na isca. Ela é uma graça heróica, é
quem, acima de tudo, apaga os dardos inflamados de Satanás. A fé resiste ao Maligno.
A fé protege o castelo do coração para que ele não se renda. Ser tentado não torna o
homem culpado, mas o assentir à tentação. A fé protesta contra Satanás.
A fé não apenas não se rende, mas derrota a tentação. Em uma das mãos a fé agarra-se à
promessa, e na outra, a Cristo. A promessa encoraja a fé, e Cristo a fortalece; a fé, portanto,
expulsa o inimigo do campo de batalha.
Temos que agir violentamente contra Satanás através da oração. Nós o derrotamos
quando ajoelhados. Assim como Sansão clamou ao céu por socorro, assim também o cristão,
através da oração, busca forças de auxílio no céu. Em todas as tentações recorra a Deus pela
oração. “Oh Senhor! Ensina-me a usar cada peça da minha armadura espiritual: como segurar
o escudo, como usar o capacete, como manejar a espada do Espírito. Senhor, fortalece-me na
batalha; é-me preferível morrer como conquistador, do que cair prisioneiro e ser arrastado em
triunfo por Satanás”. Por isso devemos agir violentamente contra Satanás. Há um leão no
meio do caminho, mas devemos nos decidir a lutar.
Que isso nos encoraje a agir violentamente contra Satanás. Nosso inimigo já está
derrotado em parte. Cristo, o Capitão da nossa salvação, na cruz, já o feriu de morte (Cl 2.15).
A Serpente muito em breve será morta pela cabeça. Cristo esmagou a cabeça da antiga
serpente. O Diabo é um inimigo em cadeias, conquistado. Portanto, não tema lutar contra ele.
Resista ao diabo, e ele fugirá; ele não conhece outra alternativa senão fugir.
Tradução: © Marcos Vasconcelos
marcos.tradutor@gmail.com
Recife – Pernambuco - Brazil
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