Pode parecer para alguns de nossos leitores que a exposição que demos de João
“E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”.
Esta é uma passagem, mais do que qualquer outra, a qual é apelada por aqueles que crêem em uma redenção universal, e que à primeira vista parece ensinar que Cristo morreu por toda a raça humana. Decidimos, então, dar a esta passagem uma detalhada examinação e exposição.
“E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 João 2:2). Esta é uma passagem que, aparentemente, muito favorece a visão Arminiana da Expiação; todavia, se ela for considerada atentamente, será visto que isto é somente na aparência, e nãona realidade. Abaixo, ofereceremos um número de provas conclusivas para mostrar que este verso não ensina que Cristo propiciou a Deus em favor de todos os pecados de todos os homens.
Em primeiro lugar, o fato deste verso começar com “e” necessariamente liga-o com o que vem antes. Nós, portanto, daremos uma tradução literal de palavra por palavra de 1 João 2:1 das entrelinhas de Bagster: “Filhinhos meus, estas coisas eu escrevo para vocês, para que vocês possam não pecar; e se alguém pecar, um Paracleto temos para com o Pai, Jesus Cristo (o) justo”. Poderá ser dessa forma visto que o apóstolo João está aqui escrevendo para e sobre os santos de Deus. Seu propósito imediato era duplo: primeiro, para comunicar uma mensagem que guardasse os filhos de Deus de pecar; segundo, suprir conforto e segurança para aqueles que pudessem pecar, e, em conseqüência, ficarem desanimados e atemorizados de forma que o assunto poderia se mostrar fatal. Ele, então, lhes faz conhecido a provisão que Deus tem feito para justamente uma tal emergência. Isto encontramos no final do verso 1 e por todo o verso 2. O fundamento do conforto é duplo: que o abatido e arrependido crente (1 João 1:9) esteja seguro que, primeiro, ele tem um “Advogado para com o Pai”; segundo, que este Advogado é “a propiciação pelos nossos pecados”. Ora, somente os crentes podem tomar conforto disto, porque somente eles têm um “Advogado”, porque somente para eles é Cristo a propiciação, como é provado pela união de Propiciação (“e”) com o “Advogado”!
Em segundo lugar, se outras passagens no Novo Testamento que falam de “propiciação”, forem comparadas com 1 João 2:2, será descoberto que ela é estritamente limitada em seu escopo. Por exemplo, em Romanos 3:25 nós lemos que Deus apresentou Cristo “como propiciação pela fé em Seu sangue”. Se Cristo é uma propiciação “pela fé”, então Ele não é uma “propiciação” para aqueles que não têm fé! Novamente, em Hebreus 2:17 lemos, “Para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hebreus 2:17, R.V.).
Em segundo lugar, se outras passagens no Novo Testamento que falam de “propiciação”, forem comparadas com 1 João 2:2, será descoberto que ela é estritamente limitada em seu escopo. Por exemplo, em Romanos 3:25 nós lemos que Deus apresentou Cristo “como propiciação pela fé em Seu sangue”. Se Cristo é uma propiciação “pela fé”, então Ele não é uma “propiciação” para aqueles que não têm fé! Novamente, em Hebreus 2:17 lemos, “Para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hebreus 2:17, R.V.).
Em terceiro lugar, quem se tem em vista quando João diz, “Ele é a propiciação pelos nossos pecados”? Nós respondemos, os crentes Judeus. E uma parte da prova sobre a qual baseamos esta afirmação nós agora submetemos à cuidadosa atenção do leitor.
Em Gálatas 2:9 somos informados que João, junto com Tiago e Cefas, eram apóstolos “para a circuncisão” (isto é, Israel). Em harmonia com isto, a Epístola de Tiago é endereçada às “doze tribos, que estão dispersas entre as nações” (1:1). Então, a primeira Epístola de Pedro é endereçada aos “eleitos que são peregrinos da Dispersão” (1 Pedro 1:1, R.V.). E João também está escrevendo para Israelitas salvos, maspara Judeus salvos e Gentios salvos.
Algumas evidências de que João está escrevendo para Judeus salvos são as seguintes.
(a) Na abertura do versículo ele diz de Cristo, “O que nós vimos com nossos olhos....e nossas mãos apalparam”. Quão impossível seria para o Apóstolo Paulo ter começado qualquer uma de suas epístolas aos santos Gentios com tal linguagem!
(b) “Amados, não vos escrevo mandamento novo, mas um mandamento antigo, que tendes desde o princípio” (1 João 2:7). O “princípio” aqui se refere ao começo da manifestação pública de Cristo - em prova compare 1:1; 2:13, etc. Ora, esses crentes, o apóstolo nos conta, tinham o “mandamento antigo”desde o princípio. Isto foi verdadeiro a respeito dos crentes Judeus, mas não foi verdadeiro sobre os crentes Gentios.
(c) “Pais, eu vos escrevo, porque vós tendes conhecido aquele que é desde o princípio” (2:13). Aqui, novamente, é evidente que são os crentes Judeus que estão em vista.
(d) “Filhinhos, esta é a última hora; e, conforme vós tendes ouvido que vem o anticristo, já muitos anticristos se têm levantado; por onde conhecemos que é a última hora. Eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se manifestasse que não são dos nossos” (2:18, 19). Esses irmãos para quem João escreveu, tinham“ouvido” do Próprio Cristo que o Anticristo viria (veja Mateus 24). Os “muitos anticristos” sobre quem João declara “ter saído dentre nós” foram todos Judeus, porque durante o primeiro século ninguém senão umJudeu poderia passar-se pelo Messias. Então, quando João diz: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados” ele somente poderia querer dizer pelos pecados dos crentes Judeus. [1]
Em quarto lugar, quando João adiciona, “E não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”, ele anuncia que Cristo foi a propiciação pelos pecados dos crentes Gentios também, porque, como previamente mostrado, “o mundo” é um termo contrastado com Israel. Esta interpretação é inequivocadamente estabelecida por uma cuidadosa comparação de 1 João 2:2 com João 11:51,52, que é uma passagem estritamente paralela: “Ora, isso não disse ele por si mesmo; mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus havia de morrer pela nação, e não somente pela nação, mas também para congregar num só corpo os filhos de Deus que estão dispersos”. Aqui Caifás, sob inspiração, faz conhecido por quem Jesus “morreria”. Observe agora a correspondência desta profecia com esta declaração de João:
(a) Na abertura do versículo ele diz de Cristo, “O que nós vimos com nossos olhos....e nossas mãos apalparam”. Quão impossível seria para o Apóstolo Paulo ter começado qualquer uma de suas epístolas aos santos Gentios com tal linguagem!
(b) “Amados, não vos escrevo mandamento novo, mas um mandamento antigo, que tendes desde o princípio” (1 João 2:7). O “princípio” aqui se refere ao começo da manifestação pública de Cristo - em prova compare 1:1; 2:13, etc. Ora, esses crentes, o apóstolo nos conta, tinham o “mandamento antigo”desde o princípio. Isto foi verdadeiro a respeito dos crentes Judeus, mas não foi verdadeiro sobre os crentes Gentios.
(c) “Pais, eu vos escrevo, porque vós tendes conhecido aquele que é desde o princípio” (2:13). Aqui, novamente, é evidente que são os crentes Judeus que estão em vista.
(d) “Filhinhos, esta é a última hora; e, conforme vós tendes ouvido que vem o anticristo, já muitos anticristos se têm levantado; por onde conhecemos que é a última hora. Eles saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; mas todos eles saíram para que se manifestasse que não são dos nossos” (2:18, 19). Esses irmãos para quem João escreveu, tinham“ouvido” do Próprio Cristo que o Anticristo viria (veja Mateus 24). Os “muitos anticristos” sobre quem João declara “ter saído dentre nós” foram todos Judeus, porque durante o primeiro século ninguém senão umJudeu poderia passar-se pelo Messias. Então, quando João diz: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados” ele somente poderia querer dizer pelos pecados dos crentes Judeus. [1]
Em quarto lugar, quando João adiciona, “E não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”, ele anuncia que Cristo foi a propiciação pelos pecados dos crentes Gentios também, porque, como previamente mostrado, “o mundo” é um termo contrastado com Israel. Esta interpretação é inequivocadamente estabelecida por uma cuidadosa comparação de 1 João 2:2 com João 11:51,52, que é uma passagem estritamente paralela: “Ora, isso não disse ele por si mesmo; mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus havia de morrer pela nação, e não somente pela nação, mas também para congregar num só corpo os filhos de Deus que estão dispersos”. Aqui Caifás, sob inspiração, faz conhecido por quem Jesus “morreria”. Observe agora a correspondência desta profecia com esta declaração de João:
1 João 2:2 | João 11:51, 52 |
“Ele é a propiciação pelos nossos (os crentes israelitas) pecados”. | “Ele profetizou que Jesus havia de morrer pela nação”. |
“E não somente pelos nossos”. | “E não somente pela nação”. |
“Mas também pelos de todos mundo” — Isto é, os crentes Gentios espalhados por toda a terra. | “Mas também para congregar num só corpo os filhos de Deus que estão dispersos”. |
Em quinto lugar, a interpretação acima é confirmada pelo fato que nenhuma outra é consistente ou inteligível. Se o “de todo o mundo” significa toda a raça humana, então a primeira cláusula e o “também” na segunda cláusula são absolutamente sem significado. Se Cristo é a propiciação por cada pessoa, seria uma tautologia ociosa dizer, primeiro, “Ele é a propiciação pelos nossos pecados e também pelos de cada pessoa”. Não poderia haver “também” se Ele é a propiciação por toda a família humana. Tivesse o apóstolo o intuito de afirmar que Cristo é a propiciação universal, ele teria omitido a primeira cláusula do verso 2, e simplesmente dito, “Ele é a propiciação pelos pecados de todo o mundo”. Confirmatório de “não pelos nossos (crentes Judeus) somente, mas também pelos de todo o mundo” - crentes Gentios, também; compare João 10:16; 17:20.
Em sexto lugar, nossa definição de “mundo inteiro” está de perfeito acordo com outras passagens no Novo Testamento. Por exemplo: “Por causa da esperança que vos está reservada nos céus, da qual antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho, que já chegou a vós, como também está em todo o mundo” (Colossenses 1:5,6). Significa aqui “todo o mundo”, absolutamente e sem limitação, toda humanidade? Todas as famílias humanas tinham ouvido o Evangelho? Não; o significado do apóstolo é que, o Evangelho, no lugar de ser confinado à terra da Judéia, tinha se espalhado, sem restrição, para terras Gentílicas. Assim em Romanos 1:8: “Primeiramente dou graças ao meu Deus, mediante Jesus Cristo, por todos vós, porque em todo o mundo é anunciada a vossa fé”. O apóstolo está aqui se referindo à fé daqueles santos Romanos sendo anunciada em uma forma de recomendação. Mas certamente toda humanidade não tinha ouvido da fé deles! Era a todo o mundo dos crentes que ele estava se referindo! Em Apocalipse 12:9 lemos de Satanás, o qual “engana todo o mundo”. Mas novamente a expressão não pode ser entendida como uma expressão universal, porque Mateus 24:34 nos diz que Satanás não pode “enganar” os eleitos de Deus. Aqui “todo o mundo” é o mundo dos descrentes.
Em sétimo lugar, insistir que “todo o mundo” em 1 João 2:2 significa toda a raça humana é minar os próprios fundamentos de nossa fé. Se Cristo é a propiciação para aqueles que estão perdidos igualmente como para aqueles que estão salvos, então que segurança temos que os crentes também não possam se perder? Se Cristo é a propiciação para aqueles que agora estão no inferno, que garantia terei que eu não possa terminar no inferno? O sangue derramado do Filho encarnado de Deus é a única coisa que pode livrar qualquer um do inferno, e se muitos daqueles por quem este precioso sangue fez propiciação estão agora no terrível lugar da condenação, então aquele sangue se mostrou ineficaz para mim! Fora com um pensamento tão desonroso a Deus!
Embora os homens possam fugir e perverter as Escrituras, uma coisa é certa: A Expiação não falhou. Deus não permitirá que o precioso e caro sacrifício falhe no cumprimento, completamente, para o qual foi designado efetuar. Nem uma gota do santo sangue foi derramado em vão. No último grande Dia não haverá um Salvador desapontado e derrotado, mas Um que “verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito” (Isaías 53:11). Não são nossas palavras, mas a infalível asserção dEle que declara: “O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade” (Isaías 46:10). Sobre esta impregnável rocha nós descansamos. Que outros descansem nas areias da especulação humana e da teorização do século 20 se eles quiserem. Isto é assunto deles. Mas a Deus eles terão de prestar contas. De nossa parte preferimos ser chamados de mentes limitadas, fora de moda, hyper-Calvinista, do que sermos encontrados repudiando a verdade de Deus e reduzindo a eficácia Divina da expiação para uma mera ficção.
Em sétimo lugar, insistir que “todo o mundo” em 1 João 2:2 significa toda a raça humana é minar os próprios fundamentos de nossa fé. Se Cristo é a propiciação para aqueles que estão perdidos igualmente como para aqueles que estão salvos, então que segurança temos que os crentes também não possam se perder? Se Cristo é a propiciação para aqueles que agora estão no inferno, que garantia terei que eu não possa terminar no inferno? O sangue derramado do Filho encarnado de Deus é a única coisa que pode livrar qualquer um do inferno, e se muitos daqueles por quem este precioso sangue fez propiciação estão agora no terrível lugar da condenação, então aquele sangue se mostrou ineficaz para mim! Fora com um pensamento tão desonroso a Deus!
Embora os homens possam fugir e perverter as Escrituras, uma coisa é certa: A Expiação não falhou. Deus não permitirá que o precioso e caro sacrifício falhe no cumprimento, completamente, para o qual foi designado efetuar. Nem uma gota do santo sangue foi derramado em vão. No último grande Dia não haverá um Salvador desapontado e derrotado, mas Um que “verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito” (Isaías 53:11). Não são nossas palavras, mas a infalível asserção dEle que declara: “O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade” (Isaías 46:10). Sobre esta impregnável rocha nós descansamos. Que outros descansem nas areias da especulação humana e da teorização do século 20 se eles quiserem. Isto é assunto deles. Mas a Deus eles terão de prestar contas. De nossa parte preferimos ser chamados de mentes limitadas, fora de moda, hyper-Calvinista, do que sermos encontrados repudiando a verdade de Deus e reduzindo a eficácia Divina da expiação para uma mera ficção.
NOTA FINAL:
[1] É verdade que muitas coisas na Epístola de João se aplicam igualmente a crentes Judeus e Gentios. Cristo é o Advogado de um, tanto como de outro. A mesma coisa pode ser dita de muitas coisas na Epístola de Tiago que é também uma epístola católica ou geral, apesar de ter sido expressamente endereçada às dozes tribos espalhadas entre as nações.
NOTA DO TRADUTOR: O presente artigo é um dos apêndices (o quarto) do excelente livro “A Soberania de Deus”, de Arthur Pink. Este livro foi traduzido para o português e publicado pela Editora Fiel, com o título “Deus é Soberano”. Contudo, não consta na versão brasileira o capítulo sobre “A Soberania de Deus na Reprovação” e nenhum dos quatro apêndices, os quais podem ambos ser lidos aqui no site Monergismo
Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto
Cuiabá-MT, 24 de Julho de 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário