[DEVOCIONAL] John Piper – As Misericórdias de Hoje para os Problemas de Hoje
Uma parte da fé salvadora é a segurança de que amanhã teremos fé. Confiar em Cristo hoje inclui o crer que Ele lhe dará a confiança de amanhã, quando o amanhã chegar. Com freqüência, sentimos que nossa reserva de forças não será suficiente para mais um dia. E, de fato, não será. Os recursos de hoje são para hoje; e uma parte desses recursos é a confiança de que novos recursos nos serão dados amanhã.
O alicerce desta segurança é o maravilhoso ensino bíblico de que Deus determina para cada dia apenas a quantidade de problemas que este dia é capaz de suportar. Em nenhum dia, Deus permitirá que seus filhos sejam provados além do que a sua misericórdia para aquele dia suportará. Isso foi o que Paulo quis dizer em 1 Coríntios 10.13: “Nenhuma prova lhes tem sobrevindo, que não seja comum ao homem. Deus é fiel, e não permitirá que sejam provados além do que são capazes de agüentar, mas, com a prova, Ele também dará o meio de escape, para que possam suportá-la” (tradução do autor).
O antigo hino sueco “Dia a Dia” é baseado em Deuteronômio 33.25: “A tua força será como os teus dias” (ARC). O hino nos dá a mesma segurança:
Dia a dia e a cada momento que passa,
Acho forças para enfrentar minha provação;Confiando na sábia outorga de meu Pai,Não tenho motivo para temor ou inquietação.A “sábia outorga de meu Pai” é equivalente à quantidade de problemas que podemos suportar a cada dia — e nenhum problema a mais:Ele, cujo coração é imensuravelmente bom,
Com amor, dá a sua parte de prazer e dor,E, a cada dia, o que julga o melhor domMesclando com paz e descanso o intenso labor
Juntamente com a medida de dor para cada dia, Ele nos dá novas misericórdias. Este é o argumento de Lamentações 3.22-23: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade”.
As misericórdias de Deus são novas cada manhã, porque existem misericórdias suficientes para cada dia. É por isso que tendemos a entrar em desespero, quando pensamos que talvez possamos ou tenhamos de levar os fardos de amanhã com os recursos de hoje. Deus deseja que estejamos cientes de que não podemos. As misericórdias de hoje são para os problemas de hoje; as de amanhã, para os problemas de amanhã.
Às vezes, nos perguntamos se teremos misericórdia para permanecermos firmes em provas terríveis. Sim, teremos. Pedro disse: “Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (1 Pe 4.14). Quando a injúria nos sobrevém, o Espírito da glória se manifesta. Aconteceu com Estêvão, quando ele estava sendo apedrejado (At 7.55-60). Acontecerá com você. Quando o Espírito e a glória são necessários, eles surgem.
O maná no deserto foi dado uma vez por dia. Não havia armazenagem de maná. Essa é a maneira como temos de depender da misericórdia de Deus. Você não recebe hoje a força para levar os fardos de amanhã. Recebe misericórdias hoje para os problemas de hoje. Amanhã, as misericórdias serão renovadas. “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Co 1.9). “Fiel é o que vos chama, e Ele também agirá!” (1 Ts 5.24 — tradução do autor.)
Extraído do livro: Uma Vida Voltada para Deus, de John Piper.
Copyright: © Editora FIEL
ÊXODO 34 É PROVA DA MISERICÓRDIA DE DEUS
O simples fato de Êxodo 34 existir é prova de que Deus é um Deus de misericórdia. Esta é a segunda vez que Deus encontra Moisés no monte para fazer uma aliança com o povo de Israel. Quando Moisés desceu do monte na primeira vez, o povo tinha se corrompido pelo amor às obras de suas próprias mãos. Estavam adorando um bezerro de ouro.
A aliança que Deus fez com o povo na montanha pela primeira vez, foi assim: "Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa" (Êx. 19:5-6). Mas ao invés de descansar na estima de Deus, o povo se tornou inquieto e desejou a estima de sua própria feitura. Então trocaram a glória do Deus invisível pela imagem de sua própria glória — uma vaca de ouro.
Eles foram descrentes no Mar Vermelho. Eles murmuraram contra Deus no deserto. Então sua rebelião com o bezerro de ouro deveria ter acabado com a paciência de Deus. Já chega desse povo de dura cerviz!
Mas cá estamos novamente no monte, aguardando a revelação de Deus. O povo não foi destruído. O simples fato desse encontro é prova de que Deus é misericordioso.
Deus Proclama Seu Nome a Moisés
Mas há algo ainda mais incrível que o simples fato de que Deus está disposto a encontrar Moisés novamente e renovar a aliança; a saber, o conteúdo do que Ele revela. Êxodo 34:5 diz: Tendo o SENHOR descido na nuvem, ali esteve junto dele e proclamou o nome do SENHOR.
Deus clama no versículo 6: “Javé! Javé!” E então ele decifra o significado daquele nome em palavras cuja doçura nunca foi superada, nem mesmo no Novo Testamento: "Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado."
DOIS PROBLEMAS NA AUTO DESCRIÇÃO DE DEUS
Deus é JAVÉ — o Deus que é, o Deus que é livre, o Deus que é todo-poderoso, e o Deus que é misericordioso. Há uma conexão entre sua absoluta existência, sua soberana liberdade, sua onipotência e sua transbordante misericórdia. Mas antes de mirarmos nisso, há dois problemas para lidar nesse texto:
Agora, passados esses problemas, espero que possamos ouvir a mensagem com pura simpatia. Vamos voltar ao versículo 6 e a declaração do nome de Deus. O Senhor desce e proclama Seu nome: "Javé! Javé! Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado."
Cinco Expressões da Natureza de Deus
Se eu quisesse deixar claro para meus filhos que eu pretendia ser seu pai, cuidar deles e tratá-los com misericórdia, eu poderia usar duas ou três diferentes expressões e, talvez, repetiria para enfatizar a verdade daquilo que eu estava dizendo. Da mesma forma, Deus se condescende a usar nossos meios e deixa sua misericórdia clara como cristal. Ele amontoa frase sobre frase para expor seu coração de amor.
São cinco expressões:
Quanto mais eu pondero em como essas cinco descrições de Deus são ligadas, mais elas parecem se entrelaçar.
O TRIÂNGULO DA MISERICÓRDIA DE DEUS
Mas deixe-me descrever uma maneira de ver como elas se relacionam entre si.
Imagine um triângulo; em cada ponta da base, estão a primeira e a última afirmação de Deus, a saber: compassivo e clemente (na ponta esquerda da base), e que ele perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado (na ponta direita da base).
Então, em direção ao topo, na metade do caminho, em cada lado do triângulo, imagine a segunda e a quarta afirmação de Deus, a saber, que ele é longânimo (no lado esquerdo), e que guarda a misericórdia em mil gerações (no lado direito do triângulo).
Finalmente, imagine no topo do triângulo a terceira afirmação de Deus, a saber, que ele é grande em misericórdia e fidelidade.
Agora, o objetivo desse quadro é sugerir que a primeira e a segunda afirmação estão juntas; a segunda e a quarta estão juntas; e a terceira é central para todas as cinco. Vamos começar com o principal: O topo do triângulo.
JESUS CRISTO CONFIRMA A NATUREZA MISERICORDIOSA DE DEUS
Eu fecho com este lembrete e convite: Jesus Cristo veio ao mundo para confirmar que Deus é exatamente quem ele disse ser no monte Sinai—“Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado.” Se converta de seus pecados hoje, confie em Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor, e você encontrará uma vastidão na misericórdia de Deus como a vastidão do mar.
Se alguém perguntar para você (ou talvez você pergunte a você mesmo): “Como você sabe que é assim que Deus é?” Você pode responder: “Porque Jesus Cristo viveu isso e selou isto com Seu sangue."
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[AGNOSTO THEO] John Piper - O Senhor; Um Deus Cheio de Graça e Misericórdia
Êxodo 34:1-10
Então, disse o SENHOR a Moisés: Lavra duas tábuas de pedra, como as primeiras; e eu escreverei nelas as mesmas palavras que estavam nas primeiras tábuas, que quebraste. E prepara-te para amanhã, para que subas, pela manhã, ao monte Sinai e ali te apresentes a mim no cimo do monte. Ninguém suba contigo, ninguém apareça em todo o monte; nem ainda ovelhas nem gado se apascentem defronte dele. Lavrou, pois, Moisés duas tábuas de pedra, como as primeiras; e, levantando-se pela manhã de madrugada, subiu ao monte Sinai, como o SENHOR lhe ordenara, levando nas mãos as duas tábuas de pedra.
Tendo o SENHOR descido na nuvem, ali esteve junto dele e proclamou o nome do SENHOR. E, passando o SENHOR por diante dele, clamou: SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniqüidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração! E, imediatamente, curvando-se Moisés para a terra, o adorou; e disse: Senhor, se, agora, achei graça aos teus olhos, segue em nosso meio conosco; porque este povo é de dura cerviz. Perdoa a nossa iniqüidade e o nosso pecado e toma-nos por tua herança.
Então, disse: Eis que faço uma aliança; diante de todo o teu povo farei maravilhas que nunca se fizeram em toda a terra, nem entre nação alguma, de maneira que todo este povo, em cujo meio tu estás, veja a obra do SENHOR; porque coisa terrível é o que faço contigo.
O simples fato de Êxodo 34 existir é prova de que Deus é um Deus de misericórdia. Esta é a segunda vez que Deus encontra Moisés no monte para fazer uma aliança com o povo de Israel. Quando Moisés desceu do monte na primeira vez, o povo tinha se corrompido pelo amor às obras de suas próprias mãos. Estavam adorando um bezerro de ouro.
A aliança que Deus fez com o povo na montanha pela primeira vez, foi assim: "Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa" (Êx. 19:5-6). Mas ao invés de descansar na estima de Deus, o povo se tornou inquieto e desejou a estima de sua própria feitura. Então trocaram a glória do Deus invisível pela imagem de sua própria glória — uma vaca de ouro.
Eles foram descrentes no Mar Vermelho. Eles murmuraram contra Deus no deserto. Então sua rebelião com o bezerro de ouro deveria ter acabado com a paciência de Deus. Já chega desse povo de dura cerviz!
Mas cá estamos novamente no monte, aguardando a revelação de Deus. O povo não foi destruído. O simples fato desse encontro é prova de que Deus é misericordioso.
Deus Proclama Seu Nome a Moisés
Mas há algo ainda mais incrível que o simples fato de que Deus está disposto a encontrar Moisés novamente e renovar a aliança; a saber, o conteúdo do que Ele revela. Êxodo 34:5 diz: Tendo o SENHOR descido na nuvem, ali esteve junto dele e proclamou o nome do SENHOR.
Deus clama no versículo 6: “Javé! Javé!” E então ele decifra o significado daquele nome em palavras cuja doçura nunca foi superada, nem mesmo no Novo Testamento: "Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado."
DOIS PROBLEMAS NA AUTO DESCRIÇÃO DE DEUS
Deus é JAVÉ — o Deus que é, o Deus que é livre, o Deus que é todo-poderoso, e o Deus que é misericordioso. Há uma conexão entre sua absoluta existência, sua soberana liberdade, sua onipotência e sua transbordante misericórdia. Mas antes de mirarmos nisso, há dois problemas para lidar nesse texto:
1- Quem Deus perdoa e quem não perdoa
Primeiro, depois de declarar o fato de que Deus "perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado" (versículo 7), o texto prossegue e diz: "Ainda que não inocenta o culpado." Então o problema é: Como pode Ele perdoar o culpado e não inocentar o culpado? Ou: quem são os culpados que ele perdoa e quem são os culpados que ele se recusa a perdoar?
A forma mais frutífera que encontrei para responder isso é vendo como os outros escritores do Velho Testamento usaram essa passagem. Tome Joel e Jonas por exemplo.
O uso de Joel desta passagem
Em Joel 2:12-13, Deus diz ao povo rebelde: "Ainda assim, agora mesmo, diz o SENHOR: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto. Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes." E Joel prossegue em encorajar o povo: "E convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal."
Em outras palavras, Joel usa Êxodo 34:6 para estimular o povo dizendo que se eles se converterem ao Senhor, Ele afastará o mal que está prestes a trazer sobre eles. Então, a hipótese é que o povo que o Senhor não irá perdoar é o povo que não se arrependerá e não se converterá a Deus de todo seu coração. Foi assim que Joel entendeu Êxodo 34:5-7. Perdão para os arrependidos. Recusa de perdão para os não arrependidos.
O uso de Jonas desta passagem
Jonas vê as coisas da mesma maneira. Após ter pregado aos Ninivitas, eles se arrependem,
Deus os poupa, e Jonas está irritado por Deus ser tão misericordioso. Em Jonas 3:10 até 4:2 diz:Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez. Com isso, desgostou-se Jonas extremamente e ficou irado. E orou ao SENHOR e disse: Ah! SENHOR! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e que te arrependes do mal.Aqui, Jonas cita Êxodo 34:6 para explicar por que Deus afastou sua ira de um povo pecador que se arrependeu de seus maus caminhos. Essa é a natureza de Deus. Este é Seu nome. Mas note que Jonas concorda com Joel que, quer Deus perdoe os ninivitas ou não, depende se os ninivitas se arrependem ou não de seus maus caminhos.
Deus perdoa o povo culpado que se arrepende
Agora vamos voltar às palavras de Deus no Monte Sinai em Êxodo 34:6-7. Em uma mão o Senhor diz que "perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado." Na outra mão, diz que não "inocenta o culpado." Ainda assim, todos os pecadores são culpados. Então qual culpado é aquele que Ele perdoa? E qual o culpado que Ele não perdoa?
A resposta de Joel e Jonas é que ele perdoará o culpado que se converter de seu pecado e se voltar para Deus de todo seu coração. E o culpado que desprezar sua oferta de misericórdia, não será inocentado.
Este é o primeiro problema e a solução de Jonas e Joel.
2 - Os pecados do pai e os pecados dos filhos
O segundo problema neste texto vem das palavras seguintes no versículo 7. Diz que Deus "visita a iniqüidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração." Mas Ezequiel 18:20 diz: "A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai, a iniqüidade do filho." Como esses dois textos podem não contradizer um ao outro?
O que Ezequiel tem em vista
O mais crucial a observar é que Ezequiel tem em vista um filho que não segue os passos pecaminosos de seu pai, mas Êxodo tem em vista filhos que continuam nos passos pecaminosos de seus pais.
Ezequiel 18:19 diz: "Porque o filho fez o que era reto e justo, e guardou todos os meus estatutos, e os praticou, por isso, certamente, viverá." Em outras palavras, ele não morrerá pelos pecados de seu pai porque ele não está seguindo os passos de seu pai.
O que Êxodo tem em vista
Mas o paralelo a Êxodo 34:7, em Êxodo 20:5 diz que Deus visita "a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem." Em outras palavras, os filhos compartilham a punição do pai porque compartilham os pecados do pai.
Então Ezequiel ensina que qualquer filho que se converte dos caminhos pecaminosos de seu pai e obedece a Deus, não será punido pelos pecados de seu pai. E Êxodo ensina que qualquer filho que prossegue em pecar como seu pai, irá compartilhar da punição de seu pai.
Quando Deus visita os pecados dos pais nos filhos, ele não pune filhos sem pecado pelos pecados de seus pais. Ele simplesmente deixa os efeitos dos pecados do pai tomar seu curso natural, infectando e corrompendo os corações dos filhos. Para pais que amam seus filhos, esse é um dos mais sóbrios textos em toda a Bíblia.
Quanto mais deixamos o pecado falar mais alto em nossas vidas, mais nossos filhos vão sofrer por isso. O pecado é uma doença contagiosa. Meus filhos não sofrem porque eu tenho pecado. Eles pegam de mim e sofrem porque eles têm pecado.
ESPERANÇA PARA O ABATIMENTO NA AUTO DESCRIÇÃO DE DEUS
Agora, passados esses problemas, espero que possamos ouvir a mensagem com pura simpatia. Vamos voltar ao versículo 6 e a declaração do nome de Deus. O Senhor desce e proclama Seu nome: "Javé! Javé! Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado."
Há dois tipos de pessoas que são difíceis de ajudar em aconselhamento pastoral. Um pensa que foi longe demais para ser perdoado. Outro pensa que perdão é um estalar de dedos. Um pensa que é completamente desqualificado para o reino. O outro pensa que já está lá dentro. Um pensa que Deus é rigidamente irado. O outro pensa que é fácil lidar com Deus. Um é cego para o esplendor da misericórdia de Deus. O outro é cego para a magnitude de sua própria angústia.
Eu sei que encaro pessoas em ambas as categorias todo domingo de manhã. E o desafio de pregar é como falar esperançosamente para a primeira pessoa sem dar golpes na segunda. Quando se prega numa congregação grande e variada, deve haver ira e misericórdia, ameaça e promessa, aviso e conforto. E então, deve haver oração e o trabalho do Espírito Santo para que a Palavra seja ouvida na aplicação mais apropriada para a necessidade de cada pessoa.
Mas eu quero deixar explícito que o que tenho a dizer agora é para os abatidos, os humilhados, os débeis, os desesperados, os desencorajados — aqueles que podem sentir que estão além do alcance do perdão de Deus.
Se eu quisesse deixar claro para meus filhos que eu pretendia ser seu pai, cuidar deles e tratá-los com misericórdia, eu poderia usar duas ou três diferentes expressões e, talvez, repetiria para enfatizar a verdade daquilo que eu estava dizendo. Da mesma forma, Deus se condescende a usar nossos meios e deixa sua misericórdia clara como cristal. Ele amontoa frase sobre frase para expor seu coração de amor.
São cinco expressões:
1. um Deus compassivo e clemente;
2. longânimo;
3. grande em misericórdia e fidelidade;
4. que guarda a misericórdia em mil gerações;
5. que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado.
O TRIÂNGULO DA MISERICÓRDIA DE DEUS
Mas deixe-me descrever uma maneira de ver como elas se relacionam entre si.
Imagine um triângulo; em cada ponta da base, estão a primeira e a última afirmação de Deus, a saber: compassivo e clemente (na ponta esquerda da base), e que ele perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado (na ponta direita da base).
Então, em direção ao topo, na metade do caminho, em cada lado do triângulo, imagine a segunda e a quarta afirmação de Deus, a saber, que ele é longânimo (no lado esquerdo), e que guarda a misericórdia em mil gerações (no lado direito do triângulo).
Finalmente, imagine no topo do triângulo a terceira afirmação de Deus, a saber, que ele é grande em misericórdia e fidelidade.
Agora, o objetivo desse quadro é sugerir que a primeira e a segunda afirmação estão juntas; a segunda e a quarta estão juntas; e a terceira é central para todas as cinco. Vamos começar com o principal: O topo do triângulo.
Grande em Misericórdia e Fidelidade
Deus é grande em misericórdia e fidelidade. Duas imagens me vêm à mente. O coração de Deus é uma fonte inesgotável de água que borbulha misericórdia e fidelidade no topo da montanha. Ou o coração de Deus é como um vulcão que arde tão fervorosamente de amor que explode o topo da montanha e derrama ano após ano a lava da misericórdia e fidelidade.
Quando Deus usa a palavra "grande", Ele quer que entendamos que os recursos de sua misericórdia não são limitados. De certa forma, ele é como o governo federal: Onde quer que haja necessidade, ele pode só imprimir mais dinheiro para cobri-la. Mas a diferença é que Deus tem um tesouro infinito de misericórdia de ouro para cobrir toda a moeda que Ele imprime. O governo dos Estados Unidos está em um mundo de sonhos. Deus acumula de forma muito real com os recursos infinitos de Sua deidade.
Eu disse há pouco que há uma conexão entre os três primeiros sermões dessa série e este aqui. "Deus é quem Ele é", "Deus é livre", "Deus é todo poderoso", e agora, "Deus é misericordioso". A conexão é que a absoluta existência, a soberana liberdade, e a onipotência de Deus são a plenitude vulcânica que explode em uma superabundância de misericórdia.
A absoluta magnificência de Deus significa que Ele não precisa de nós para preencher qualquer deficiência nele mesmo. Ao invés disso, Sua infinita auto suficiência transborda misericórdia sobre nós que precisamos dele. Podemos nos proteger em Sua misericórdia precisamente porque cremos na íntegra independência de Sua existência, a soberania de sua liberdade, e em seu poder ilimitado.
Então, no topo do triângulo, fica a infinita abundância da misericórdia de Deus, jorrando abaixo em cada lado para o bem de seu povo arrependido.
Longânimo, que Guarda Misericórdia
Na metade de cada lado do triângulo, estão a segunda e a terceira afirmação sobre Deus em Êxodo 34:6-7. Ele é longânimo e guarda a misericórdia em mil gerações. Quando Deus diz que guardamisericórdia, o foco é na durabilidade de sua misericórdia. Ela dura. Ela persevera. Ela continua fluindo.
E eu vejo uma conexão entre essa perseverança da misericórdia de Deus e a afirmação de que Deus é longânimo. A misericórdia não pode durar onde a ira está prestes a disparar. Se a ira de Deus está prestes a disparar, sua misericórdia não duraria um dia em minha vida. Se foguetes de ira fossem lançados dos olhos de Deus toda vez que eu pecasse, eu seria explodido em pedaços antes mesmo de eu sair da cama pela manhã.
Mas ele brada no monte Sinai: “Eu sou longânimo!” Ele retém sua ira em favor da superioridade de sua misericórdia. Ele é longânimo. Ele é extraordinariamente paciente. Por isso ele guarda misericórdia. Eleguarda e preserva sendo longânimo.
Compassivo e que Perdoa
Isso nos leva ao último par de afirmações sobre Deus na base do triângulo. Se Deus é longânimo mesmo que demos a ele amplas razões para que ele ficasse irado conosco por causa de nosso pecado, então ele deve ser muito compassivo e deve perdoar — “compassivo e clemente—perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado.” A razão pela qual Deus é longânimo, não é porque ele não nota nosso pecado, mas porque ele perdoa o nosso pecado.
E não somente alguns tipos de pecado. Para vocês, que sentem que há uma categoria de pecado que está além do perdão de Deus, por favor, submeta sua própria opinião e sentimento à Palavra de Deus. A razão pela qual Deus usou todas as três palavras hebraicas para “pecado” aqui, é para mostrar que toda sorte de e todos os graus de pecado são perdoáveis. Ele perdoa a iniquidade, a transgressão, e opecado. Ele empilha essas palavras para deixar claro o que ele quer dizer. O único pecado que é imperdoável é aquele para o qual não houve arrependimento. Se você pode se arrepender e se desviar de seu pecado, você pode ser perdoado.
Eu fecho com este lembrete e convite: Jesus Cristo veio ao mundo para confirmar que Deus é exatamente quem ele disse ser no monte Sinai—“Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado.” Se converta de seus pecados hoje, confie em Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor, e você encontrará uma vastidão na misericórdia de Deus como a vastidão do mar.
Se alguém perguntar para você (ou talvez você pergunte a você mesmo): “Como você sabe que é assim que Deus é?” Você pode responder: “Porque Jesus Cristo viveu isso e selou isto com Seu sangue."
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Por John Piper. © Desiring God. Website:desiringGod.org
Tradução e Legenda: voltemosaoevangelho.com
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A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade (Mt 5.7)
“Os homens jamais encontrarão umantídoto para suas misérias, enquanto,esquecendo-se de seus próprios méritos,diante do fato de que são os únicos aenganar a si próprios, não aprenderema recorrer à misericórdia gratuita deDeus” – João Calvino.2INTRODUÇÃO:A misericórdia de Deus é um de Seus atributos mais evidentes em Sua relaçãoconosco, homens pecadores. “Os homens se acham num deplorável estado amenos que Deus os trate misericordiosamente, não debitando seus pecadosem sua conta”.3Deus propõe aos Seus filhos, ainda que em sua finitude, uma semelhança comEle; daí o desafio de conhecer a Deus para a partir daí termos uma dimensão maisclara do que Ele deseja que sejamos. A vida cristã não é um manual de atitudes desejáveis, antes consiste em aprender a viver conforme a nossa nova natureza, gerada pelo Espírito (Tt 3.5);4somos novas criaturas (2Co 5.17):5“O Evangelho cristãopõe toda a sua ênfase sobre a questão do ser, e não sobre a questão do fazer”.6No texto que vamos estudar Jesus Cristo diz ser bem-aventurado aquele que exerce misericórdia (Mt 5.7).7Em outro momento, ensina: “Sede misericordiosos(oi)kti/rmwn),8como também é misericordioso (oi)kti/rmwn) vosso Pai” (Lc 6.36).1Estudo ministrado na Escola Dominical da Igreja Presbiteriana em São Bernardo do Campo, SP., nodia 16 de maio de 2010.2João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 1, (Sl 6.4), p. 128-129.3João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 32.1), p. 39. “A benevolência divina se estende a todos os homens. E se não há um sequer sem a experiência departicipar da benevolência divina, quanto mais aquela benevolência que os piedosos experimentarão e que esperam nela!” (João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm4.10), p. 120-121).4“.... segundo sua misericórdia (e)/leoj), ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador doEspírito Santo” (Tt 3.5).5“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17).6David M. Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, São Paulo: Editora Fiel, 1984, p. 88.7“Bem-aventurados os misericordiosos (e)leh/mwn), porque alcançarão misericórdia (e)lee/w)” (Mt5.7).8O verbo tem o sentido de ser compassivo, ter piedade ou misericórdia. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 2/14Analisemos primeiramente alguns aspectos da misericórdia de Deus:1. A MISERICÓRDIA PACTUAL:O Antigo Testamento emprega duas palavras que mais especificamente se adé-quam aos conceitos de “graça” e “misericórdia expressos no Novo Testamento. Aspalavras são: desex (hesedh) e }"x (hen). Nos ateremos aqui à primeira palavra.Hesedh cuja etimologia é obscura,9pode ser traduzida por “bondade”, “graça”,“benevolência”, “benignidade”, “clemência”, “beneficência”, “humanidade” (ARA. 2Sm2.5), “fidelidade” (ARA. 2Sm 16.17) e “misericórdia”. Ocorre cerca de 250 vezes noAntigo Testamento, principalmente nos Salmos (127 vezes).Figuradamente, Deus é chamado de “Misericórdia” por Davi: “Minha misericórdia(חסד) (hesedh) e fortaleza minha, meu alto refúgio e meu libertador, meu escudo, aquele em quem confio e quem me submete o meu povo” (Sl 144.2).Hesedh pode ser empregada acerca de Deus e acerca do homem. Quando a palavra se refere ao homem, reflete o seu amor para com o seu próximo e para comDeus; quando a palavra é aplicada a Deus, denota a Sua graça, envolvendo dois elementos importantes:A. A Auto-Entrega de Deus a Israel na Relação de um Pacto:10A idéia principal é a de que Deus manifesta o Seu amor ativamente na formade uma relação de um pacto; Hesedh é um “amor de Pacto” (Dt 7.9,12; Jr 31.3);11“Hesedh da aliança”;12“comportamento correto segundo a aliança”.13O Pacto de Deus é unilateral no que concerne às suas demandas e provisões; compete aohomem aceitá-lo ou não, porém, não pode modificar os seus termos. O Hesedh é acausa e o efeito do Pacto; Deus fez o Pacto por misericórdia; Ele revela a Sua mise-9H.J. Stoebe, desex: In: Ernst Jenni & Claus Westermann, eds. Diccionario Teologico Manual del Antiguo Testamento, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1978, Vol. I, p. 832.10Veja-se: W. Zimmerli, et. al. X/arij: In: G. Friedrich & G. Kittel, eds. Theological Dictionary of theNew Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982, Vol. IX, p. 383ss.; Walther Eichrodt, Teologia del Antiguo Testamento, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1975, Vol. I, p. 213ss.11Van Groningen, comentando o Salmo 111.1, chama a expressão de “fidelidade pactual”; noSalmo 118.1, designa de “amor pactual” (Gerard Van Groningen, Revelação Messiânica no VelhoTestamento, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1995, p. 351, 363). Packer, a traduz por “Amorconstante” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 88); Eichrodt,chama de “amor solícito” (Walther Eichrodt, Teologia del Antiguo Testamento, Vol. I, p. 213). Harrisseguindo a versão King James, crê que uma boa tradução é “bondade amorosa” (R. Laird Harris,hsd: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, SãoPaulo: Vida Nova, 1998, p. 503).12R. Laird Harris, ii ihsd: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do AntigoTestamento, p. 501.13H.H. Esser, Misericórdia: In: : Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia doNovo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, Vol. III, p. 177. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 3/14ricórdia de acordo com o Pacto (1Rs 8.2314[2Cr 6.14]; Ne 1.5; 9.32; Is 55.3; Dn 9.4).Devido ao Seu Hesedh, Deus voluntariamente elege o Seu povo, mantendo-Sefiel nesta relação independentemente da fidelidade circunstancial dos Seus eleitos(Dt 7.6-11;152Sm 2.6; Sl 36.5; 57.3; 89.49; Is 54.10; 55.3).B. Está ligada com a Idéia de Justiça de Deus:O Hesedh de Deus não é barato; Deus não age movido por um sentimentoincontrolável e incoerente; antes, Deus encontra um justo caminho para estabeleceruma relação sólida com o homem pecador. O fundamento desta nova relação é opróprio Cristo.2. O AMOR SANTO, JUSTO E MISERICORDIOSO DE DEUS E ACONSCIÊNCIA DE SEUS SERVOS:A. Deus Santo, Justo e Misericordioso:No grego a misericórdia é um sentimento provocado pela dor dos demais, semanifestando em atos de bondade. “Misericórdia é atender as necessidades,não apenas senti-las”.16“Misericórdia é amor demonstrado em favor dequem vive em desgraça, e um espírito perdoador para com o pecador. Elaabrange tanto um sentimento de bondade quanto um ato bondoso”.17O amor independe da misericórdia, contudo, esta pressupõe aquele. As relaçõesde amor não necessitam de se expressar em misericórdia, mas, a misericórdia éuma expressão do amor quando há alguma necessidade de socorro. “O amor éconstante; a misericórdia está reservada para os momentos de dificuldade.14”22Pôs-se Salomão diante do altar do SENHOR, na presença de toda a congregação de Israel; eestendeu as mãos para os céus23e disse: Ó SENHOR, Deus de Israel, não há Deus como tu, emcima nos céus nem embaixo na terra, como tu que guardas a aliança e a misericórdia (חסד) (hesedh)a teus servos que de todo o coração andam diante de ti” (1Rs 8.22-23).15”6Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus; o SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhefosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra.7Não vos teve o SENHOR afei-ção, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor detodos os povos,8mas porque o SENHOR vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder deFaraó, rei do Egito.9Saberás, pois, que o SENHOR, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia (חסד) (hesedh) até mil gerações aos que o amam e cumprem os seus mandamentos;10e dá o pago diretamente aos que o odeiam, fazendo-os perecer; não será demorado paracom o que o odeia; prontamente, lho retribuirá.11Guarda, pois, os mandamentos, e os estatutos, e osjuízos que hoje te mando cumprir” (Dt 7.6-11).16John MacArthur Jr., O Caminho da Felicidade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 120.17William Hendriksen, Mateus, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, Vol. 1, p. 385.A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 4/14Não há misericórdia sem amor”.18Uma forma natural de pensar sobre a misericórdia é colocá-la em oposição à justiça. No entanto, este conceito está totalmente distante do ensino bíblico. João saú-da os seus destinatários relacionando a misericórdia a verdade e o amor: “A graça, amisericórdia (e)/leoj) e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai,serão conosco em verdade e amor” (2Jo 3).Deus não quebra a Sua justiça por amor; antes, cumpre a justiça em amor; a gra-ça reina pela justiça (Rm 5.21).19"De fato a graça reina, mas uma graça reinante à parte da justiça não é apenas inverossímil, mas também inconcebí-vel".20Este tipo de raciocínio é-nos naturalmente estranho porque temos costumeiramente nossa hierarquia de valores com as suas prioridades próprias que tendem aser voláteis conforme determinadas circunstâncias. Assim sendo, ao mesmo tempoem que sustentamos com razão a necessidade de justiça, em outras circunstâncias,quando, por exemplo, nosso filho ou amigo esteja envolvido, é possível, que com amesma sinceridade anterior sustentemos a necessidade de sermos misericordiosose acusarmos uma postura diferente de “legalista”. Somos pecadores e finitos. A finitude não é pecado, no entanto, revela a nossa limitação como criaturas. Esta limita-ção agravada pelo nosso pecado se expressa em nossas contradições e incoerências. No entanto, somente Deus é perfeito e, por isso, o Seu agir se harmoniza deforma perfeita com todos os Seus atributos; Deus é perfeito em suas perfeições nãohavendo hierarquia em Seu ser. Obviamente a compreensão adequada desta realidade escapa à nossa compreensão, no entanto, podemos ter a certeza de que Deusé perfeitamente santo e que a santidade permeia todas as suas ações e obras.Deste modo, somente Jesus Cristo – o Deus encarnando –, por meio da Sua justiça obtida na Sua encarnação, morte e ressurreição, poderia satisfazer as exigências de Deus para a nossa salvação. Paulo escreve: “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção (a)polu/trwsij) que há em Cristo Jesus” (Rm 3.24). Portanto, “Quando Deus justifica pecadores à base da obediência e da morte de Cristo, está agindo com toda equidade. Dessa maneira, longe de comprometer Sua retidão judicial, esse método de justificaçãoem realidade a exibe”.21A santidade de Deus se revela na cruz, onde o seu amor misericordioso e a sua18John MacArthur Jr., O Caminho da Felicidade, p. 122.19“A fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça paraa vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 5.21).20John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 19.“Deus se paga a Si mesmo por Sua misericórdia manifestada em Seu Filho, nosso SalvadorJesus Cristo, que uma vez por todas se ofereceu ao Pai para ser Ele próprio a satisfação queLhe deveríamos prestar” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notaspara estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, Vol. 3, (III.9), p. 129).21J.I. Packer, Justificação: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: JuntaEditorial Cristã, 1966, Vol. II, p. 899b. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 5/14justiça se evidenciam de forma eloquente e perfeita.22A cruz não fez Deus nos amar, antes, o Seu amor por nós a produziu e se revelou ali.23Enquanto para nós as circunstâncias servem de pretexto para os nossos atos pecaminosos e os posteriores atenuantes, para Deus tais circunstâncias – sobre asquais tem total domínio: Ele também é o Senhor das circunstâncias – oportunizam amanifestação do que Ele é em Sua essência. O pecado não tornou Deus misericordioso, santo ou justo; Ele é eternamente misericordioso, santo e justo. No entanto, opecado propiciou a Deus, por sua livre graça, revelar-se desta forma para conosco.Na cruz vemos a manifestação gloriosa dos atributos de Deus. “A justiça e oamor se encontraram e se abraçaram. Os santos atributos de Deus são glorificados juntamente na morte do Filho de Deus na cruz”.24Não haveria paranenhum de nós salvação de nossos pecados sem a justificação. Da mesma forma,existe a justificação porque Jesus Cristo é a nossa justiça; é Ele mesmo quem nosredime (1Co 1.30).25Como escreveu Lloyd-Jones (1899-1981): “Se lhes fosse solicitado responder onde a Bíblia ensina a santidade de Deus mais poderosamente teriam de ir ao Calvário. Deus é tão santo, tão plenamente santo, quenada senão aquela morte terrível poderia tornar possível que Ele nos perdoasse. A cruz é a suprema e a mais sublime declaração e revelação da santidade de Deus”.26Na cruz temos a reconciliação do santo com o pecador, do perfeitamente justo com o totalmente injusto, do infinito com o finito; do Deus eternocom o homem temporal: “A cruz é o centro da história e a reconciliação de todas as antíteses”.27Isaías diz que “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele [JesusCristo] a iniqüidade de nós todos” (Is 53.6).22“A cruz e a coroa revelam não apenas as virtudes do Filho, mas também do Pai. Todos osatributos divinos alcançam plena expressão aqui. Dentre todas elas, uma sobressai: a justiçado Pai. Se Ele não tivesse sido justo, certamente não teria entregue Seu Filho Unigênito. Etambém, se não fosse justo, Ele não teria recompensado o Filho por Seu sofrimento. Mais, pormeio dos louvores da multidão salva, o Pai (bem como o Filho) é glorificado” [William Hendriksen, O Evangelho de João, São Paulo: Cultura Cristã, 2004 (Jo 17.1), p. 754].23Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1997 (Grandes Doutrinas Bíblicas, Vol. 1), p. 426.24David Martyn Lloyd-Jones, Uma Nação sob a Ira de Deus: estudos em Isaías 5, 2ª ed. Rio de Janeiro: Textus, 2004, p. 222.25Ver: John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p.19.26D. M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas,1997, p. 97. “A santidade e a retidão do Seu ser eterno e do Seu caráter significam que Elenão pode ignorar o pecado. O pecado é uma realidade, um problema (...) até para Deus. Éuma coisa que Ele vê e da qual tem que tratar, e assim manifesta a glória do Seu ser em Suasantidade e justiça” (D.M Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: Vol. 1), p. 51).27Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 48. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 6/14Deus é o “Pai de misericórdias” (2Co 1.3).28As Escrituras declaram que Deus ébenigno e misericordioso para com todos; até para com os ingratos e maus, aosquais Deus manifesta a Sua bondade por meio da concessão de bênçãos temporais(Lc 6.35,36).A fonte de toda misericórdia está em Deus. Por isso Paulo pode saudar a Timóteodeste modo: “.... verdadeiro filho na fé, graça, misericórdia (e)/leoj = “compaixão”) epaz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor” (1Tm 1.2).29Do mesmomodo João: “A graça, a misericórdia (e)/leoj) e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e amor” (2Jo 3).B. A Misericórdia que nos assiste:Deus Se relaciona conosco em misericórdia. Ele é pleno de Seus atributos;portanto, rico em misericórdia por causa do seu grande amor:30“Eis que temos porfelizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes quefim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia (oi)kti/rmwn) ecompassivo” (Tg 5.11).O salmista atento à obra de Deus, conclama: “Rendei graças ao Senhor, porqueEle é bom, porque a Sua misericórdia (חסד) (hesedh) dura para sempre” (Sl 118.1 =Sl 106.1; 107.1, etc.). Aqui há a compreensão de que toda a nossa relação comDeus baseia-se em Sua misericórdia.Após a destruição de Jerusalém, Jeremias escreve: “As misericórdias (חסד)(hesedh) do Senhor são a causa de não sermos consumidos porque as suasmisericórdias não têm fim” (Lm 3.22). Tudo que somos e temos pode ser resumidona “misericórdia eterna de Deus”, que se compadece de nós e propicia a nossa salvação.No Salmo 130 encontramos o salmista numa situação extrema; ele não se iludecom soluções humanas; nenhuma metodologia de auto-ajuda o pode socorrer; porisso, pode dizer, do mais profundo de seu coração; das “profundezas” de sua situa-ção: “....Clamo a Ti, Senhor” (Sl 130.1). Ele sabe perfeitamente a Quem se dirige. Asua experiência compartilhada é de esperar em Deus visto que Ele é o Deus misericordioso: “6A minha alma anseia pelo Senhor mais do que os guardas pelo romperda manhã. Mais do que os guardas pelo romper da manhã,7espere Israel no SENHOR, pois no SENHOR há misericórdia (חסד) (hesedh); nele, copiosa redenção” (Sl130.6-7).Os servos de Deus sempre tiveram um conceito claro e abrangente da necessidade e realidade da misericórdia de Deus. Vejamos alguns testemunhos:28“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias (oi)ktimo/j) eDeus de toda consolação!” (2Co 1.3).29Igualmente: “Ao amado filho Timóteo, graça, misericórdia (e)/leoj) e paz, da parte de Deus Pai e deCristo Jesus, nosso Senhor” (2Tm 1.2).30“Mas Deus, sendo rico em misericórdia (e)/leoj), por causa do grande amor com que nos amou” (Ef2.4). A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 7/14a) A Bondade do Senhor está espalhada por toda Terra: “Ele ama a justiça e o direito; a terra está cheia da bondade (חסד) (hesed) do SENHOR” (Sl 33.5). (Do mesmomodo: Sl 119.64).b) A Misericórdia de Deus é eterna. O salmista pede a Deus que em sua lembrança olhe para Ele com misericórdia: “Lembra-te, SENHOR, das tuas misericórdias e das tuas bondades (חסד) (hesed), que são desde a eternidade. Não te lembres dos meus pecados da mocidade, nem das minhas transgressões. Lembra-te demim, segundo a tua misericórdia (חסד) (hesed), por causa da tua bondade, ó SENHOR” (Sl 25.6-7).c) Davi pede a Deus que o livre, o salve pela sua misericórdia: “.... salva-me portua graça (חסד) (hesed)” (Sl 6.4). (Do mesmo modo: Sl 31.16).d) O salmista reconhece como a misericórdia de Deus nos acompanha e, por isso, expressa o desejo de que assim seja: “Eis que os olhos do SENHOR estão sobreos que o temem, sobre os que esperam na sua misericórdia (חסד) (hesed), para livrar-lhes a alma da morte, e, no tempo da fome, conservar-lhes a vida. Nossa almaespera no SENHOR, nosso auxílio e escudo. Nele, o nosso coração se alegra, poisconfiamos no seu santo nome. Seja sobre nós, SENHOR, a tua misericórdia (חסד)(hesed), como de ti esperamos” (Sl 33.18,22). “Bondade e misericórdia (חסד) (hesed)certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do SENHOR para todo o sempre” (Sl 23.6).e) A Misericórdia de Deus é preciosa e, aqueles que a reconhecem, refugiam-seem Deus: “Como é preciosa, ó Deus, a tua benignidade! (חסד) (hesed) Por isso, osfilhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas” (Sl 36.7).f) Davi sabe que o seu culto a Deus é resultante da riqueza da misericórdia deDeus: “.... eu, pela riqueza da tua misericórdia (חסד) (hesed), entrarei na tua casa eme prostrarei diante do teu santo templo, no teu temor” (Sl 5.7).g) Deus responde as nossas orações devido à Sua misericórdia: “Quanto a mim,porém, SENHOR, faço a ti, em tempo favorável, a minha oração. Responde-me, óDeus, pela riqueza da tua graça (חסד) (hesed); pela tua fidelidade em socorrer (...).Responde-me, SENHOR, pois compassiva é a tua graça (חסד) (hesed); volta-te paramim segundo a riqueza das tuas misericórdias” (Sl 69.13,16).h) Deus nos guarda e protege com a Sua misericórdia. Davi escreve: “Muito sofrimento terá de curtir o ímpio, mas o que confia no SENHOR, a misericórdia (חסד)(hesed) o assistirá (סבב) (sabab)” (Sl 32.10). A palavra assistir, que tem um amplosentido literal e figurado, significa envolver, cercar, contornar. Apenas para ilustrar,mencionamos que esta é a palavra usada para descrever as voltas que o exército deIsrael deu sobre Jericó durante sete dias (Js 6.3,4,7,11,14,15). A idéia expressa é ade que Deus nos cerca, nos envolve por todos os lados com a Sua misericórdia. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 8/143. A MISERICÓRDIA DE DEUS E A NOSSA SALVAÇÃO:A encarnação do Verbo de Deus é uma manifestação de Sua misericórdia paracom os pecadores a fim de poder representá-los e socorrê-los: “Por isso mesmo,convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso (e)leh/mwn) e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e parafazer propiciação pelos pecados do povo” (Hb 2.17).Por isso em nossa proximidade de Cristo mais temos noção de Sua misericórdia:“Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia (e)/leoj) e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna”(Hb 4.16).Como vimos, a misericórdia de Deus nunca anula a Sua justiça. A nossa justiçapode ser motivada por questões muitas vezes nobres, no entanto, circunscritas ànossa própria situação limitada de conhecimento da realidade. Portanto, devemosaprender a subordinar o nosso ardor de justiça à justiça de Deus, a qual é sempresanta e perfeita. Deus é soberano na manifestação de Sua misericórdia: “14Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum!15Pois ele diz aMoisés: Terei misericórdia de (e)lee/w = “mostrar misericórdia”, “compadecer-se”)quem me aprouver ter misericórdia (e)lee/w) e compadecer-me-ei (oi) kti/zw) de quemme aprouver ter compaixão (oi)kti/zw).16Assim, pois, não depende de quem querou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia (e)lee/w ou e)lea/w).31(...)18Logo, tem ele misericórdia de (e)lee/w) quem quer e também endurece a quem lheapraz” (Rm 9.14-16,18).A nossa salvação é uma eloquente demonstração do amor misericordioso deDeus. Por isso a salvação é atribuída inteiramente à Sua misericórdia que vem aonosso encontro nos atraindo para Si em Cristo, nos dando vida, nos transformando enos concedendo uma viva esperança fundamentada na obra de Seu Filho. Nestesentido, Paulo escreve a Tito falando do amor de Deus, acentuando que a nossasalvação não foi por causa de algum suposto valor inerente a nós ou a alguma obrameritória: “Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia (e)/leoj), ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do EspíritoSanto” (Tt 3.5).Paulo, recordando envergonhado qual fora o seu comportamento antes de conhecer a Cristo, como implacável e arrogante perseguidor da Igreja, realça a misericórdia de Deus em atraí-lo: “12Sou grato para com aquele que me fortaleceu, CristoJesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério,13amim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia (e)lee/w), pois o fiz na ignorância, na incredulidade.14Transbordou, porém, agraça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus.15Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.16Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia (e)lee/w), para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a31Há aqui uma variante textual. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 9/14sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nelepara a vida eterna” (1Tm 1.12-16).Na Epístola aos Coríntios, Paulo bendiz a Deus considerando o fato de que é Elequem nos conforta em toda a nossa tribulação, fazendo o que Lhe é próprio, vistoque é o “Pai de misericórdias”: “Bendito seja (Eu)loghto\j)32o Deus e Pai de nossoSenhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias (oi)ktimo/j) e Deus de toda consolação!”(2Co 1.3).Do mesmo modo Pedro bendiz a Deus considerando a nossa regeneração efetuada pela “muita misericórdia” de Deus, para que tenhamos uma viva esperança porintermédio da ressurreição de Cristo: “Bendito (Eu)loghto\j) o Deus e Pai de nossoSenhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia (e)/leoj), nos regeneroupara uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos”(1Pe 1.3).Pedro dirigindo-se às igrejas da Dispersão, enfatiza a misericórdia de Deus queos alcançou conferindo-lhes a condição de povo de Deus: “Vós, sim, que, antes, nãoéreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia(e)lee/w), mas, agora, alcançastes misericórdia (e)lee/w)” (1Pe 2.10).A nossa salvação futura está depositada totalmente na misericórdia de Deus:“Guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia (e)/leoj) de nosso SenhorJesus Cristo, para a vida eterna” (Tg 1.21).4. OS MISERICORDIOSOS: A MISERICÓRDIA COMPARTILHADA:A misericórdia de Deus não é estéril, antes, deve estimular-nos ao serviço obediente. Paulo considerando a ação misericordiosa de Deus em prover a salvação (Rm11), roga33aos romanos, “pelas misericórdias (oi)ktirmo/j) de Deus” (Rm 12.1), queO cultuem com integridade.O apelo de Paulo era frequentemente fundamentado numa questão teológica;34não se amparava simplesmente em sua idoneidade ou autoridade, antes em Deusmesmo. Aqui ele roga pelas misericórdias de Deus (Rm 12.1/1Ts 2.12).32A palavra bendito, (Eu)loghto\j = “louvado”, “bem-aventurado”) (Hebraico: Baruk; Latim: Benedictus) ocorre 8 vezes no Novo Testamento e é sempre usada para Deus (Mc 14.61; Lc 1.68; Rm 1.25;9.5; 2Co 1.3; 11.31; Ef 1.3; 1Pe 1.3). Somente Deus é Bendito, Aquele que deve ser louvado.33O verbo rogar (parakale/ w) tem o sentido de: implorar (Mt 8.5; 18.29), suplicar (Mt 18.32); exortar (Lc 3.18; At 2.40; 11.23); conciliar (Lc 15.28); consolar (Lc 16.25; 15.32; 1Ts 5.11; 2Ts 2.17); confortar (At 16.40; 2Co 1.4; 7.6); contemplar (2Co 1.4); convidar (At 8.31); pedir (At 9.38; 1Co 4.13;16.15); pedir desculpas (At 16.39); fortalecer (At 20.2,12); solicitar (At 25.2; Fm 9,10); chamar (At28.20); admoestar (1Co 4.16; Hb 10.25); recomendar (1Co 16.12; 2Co 8.6; 9.5; 1Tm 6.2).34Assim ele o faz pelas misericórdias de Deus (Rm 12.1/1Ts 2.12) e pelo Senhor Jesus (Rm 15.30;1Co 1.10; Fp 4.2). Como cooperador de Deus exorta a que os coríntios não recebam em vão a graçade Deus (2Co 6.1); roga também pela mansidão e benignidade de Cristo (2Co 10.1). A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 10/14Como novas criaturas que somos em Cristo Jesus (Cl 3.10),35a misericórdia deve ser um dos ingredientes fundamentais em todas as nossas relações; deve ser anossa vestimenta: “Revesti-vos (e)ndu/w),36pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia (oi) ktirmo/j), de bondade, de humildade, demansidão, de longanimidade” (Cl 3.12).Vejamos exemplos e princípios:A. Misericórdia e Intercessão:A misericórdia é uma concessão de Deus; ninguém pode reivindicar misericórdia; ela não é merecida, senão não seria misericórdia.37Podemos e devemos esperar e suplicar a misericórdia de Deus inclusive em nossas intercessões. Paulo intercede pelo seu leal amigo, Onesíforo, bem como pela sua família: “Conceda o Senhor misericórdia (e)/leoj) à casa de Onesíforo, porque, muitas vezes, me deu ânimoe nunca se envergonhou das minhas algemas17antes, tendo ele chegado a Roma,me procurou solicitamente até me encontrar.18O Senhor lhe conceda, naquele Dia,achar misericórdia (e)/leoj) da parte do Senhor. E tu sabes, melhor do que eu, quantos serviços me prestou ele em Éfeso” (2Tm 1.16-18).B. Misericórdia Prática e Agregadora:O Senhor deseja que não apenas sintamos misericórdia, mas que a exercitemos para com o nosso próximo; tenhamos atos de misericórdia. É isto o que Ele dizaos fariseus que se indignaram do Senhor comer com “publicanos e pecadores”: “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia (e)/leoj) quero e não holocaustos;pois não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento” (Mt 9.13).38A prática da misericórdia não pode ser substituída por outros gestos ou atitudes.Ela não é um ingrediente optativo da vida cristã. É desta forma que Jesus recriminae instrui a alguns dos religiosos de seu tempo: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipó-critas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia (e)/leoj) e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mt 23.23).35“E vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagemdaquele que o criou” (Cl 3.10).36e)ndu/w tem o sentido literal de “vestir-se” (Mt 6.25; 27.31; Mc 1.6; Lc 15.22; At 12.21) e, quase queexclusivamente em Paulo: a aplicação figurada de “revestir-se”: a) De poder (Lc 24.49); b) Das armasda luz (Rm 13.12); c) Do Senhor Jesus (Rm 13.14; Gl 3.27); d) Do novo homem (Ef 4.24; Cl 3.10); e)De toda armadura de Deus (Ef 6.11,14); f) De ternos afetos (Cl 3.12); g) Da couraça da fé e amor(1Ts 5.8). A palavra descreve também a nossa ressurreição como um revestimento de imortalidade eincorruptibilidade (1Co 15.53-54).37“Falar sobre misericórdia merecida é uma contradição de termos” (A.W. Pink, Deus é Soberano, Atibaia, SP.: FIEL, 1977, p. 23).38Do mesmo modo, veja-se: Mt 12.7. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 11/14Para com aqueles que titubeiam em sua fé devemos usar de misericórdia parapoder ajudá-los em sua fraqueza. Parece-nos ser isto o que recomenda Judas: “Ecompadecei-vos de (e)lee/w ou e)lea/w)39alguns que estão na dúvida” (Jd 22/Gl6.1).40C. Misericórdia Aprendida em lugares insuspeitos:Atos de misericórdia devem ser aprendidos com todos. Aos judeus tão confiantes de sua superioridade étnica e religiosa, por meio do diálogo com um mestre dalei que queria tentá-lo (Lc 10.25), Jesus os ensina a procederem conforme o samaritano da parábola, fazendo uma pergunta ao seu interlocutor: “Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?” (Lc 10.36).Obtendo a resposta: “O que usou de misericórdia (e)/leoj) para com ele” (Lc 10.37).A partir da identificação dos atos de socorro do samaritano para com aquele homemferido, como misericórdia, Jesus arremata: “Vai e procede tu de igual modo” (Lc10.37). Em outras palavras, podemos aprender até mesmo com os samaritanos osignificado da misericórdia.D. Misericórdia como motivo de alegria compartilhada:1) Quando a piedosa Isabel, estéril e já idosa (Lc 1.7),41por intervenção divina concebeu o seu filho, João Batista, seus vizinhos e parentes se alegraram comela reconhecendo a misericórdia de Deus: “Ouviram os seus vizinhos e parentes queo Senhor usara de grande misericórdia (e)/leoj) para com ela e participaram do seuregozijo” (Lc 1.58). Deus é bom; devemos nos alegrar com a alegria de nossos irmãos.2) A misericórdia de Deus deve ser anunciada. Ao homem que estivera endemoniado e fôra liberto por Jesus, desejando permanecer com o Senhor, este não o permitindo, lhe diz: “Vai para tua casa, para os teus. Anuncia-lhes tudo o que o Senhorte fez e como teve compaixão de (e)lee/w) ti” (Mc 5.19).3) A misericórdia de Deus da qual somos alvo, deve ser socializada em nossasrelações. Na parábola do “credor incompassivo”, o Senhor recrimina aquele servoque sendo perdoado em sua grande dívida pela misericórdia de seu credor, não usou de critério semelhante para com aquele que lhe devia bem menos, antes o lan-çou na prisão. Deste modo, arremata: “Não devias tu, igualmente, compadecer-te do(e)lee/w) teu conservo, como também eu me compadeci de (e)lee/w) ti?” (Mt 18.33). Amisericórdia é mãe do perdão. Evidenciamos que fomos perdoados aprendendo aperdoar, a manifestar misericórdia.39Aqui há uma variante textual.40“Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espíritode brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado” (Gl 6.1).41“E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, sendo eles avançados em dias” (Lc 1.7). A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 12/144) A misericórdia deve ser exercida não com tristeza ou espírito de superioridade,antes, com alegria, “prontidão de mente”: “.... o que exorta faça-o com dedicação; oque contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia (e)lee/w), com alegria” (Rm 12.8).Todavia, Calvino (1509-1564) constata com tristeza:“Quase ninguém é capaz de dar uma miserável esmola sem uma atitude de arrogância ou desdém. (...) Ao praticar uma caridade, os cristãosdeveriam ter mais do que um rosto sorridente, uma expressão amável,uma linguagem educada.“Em primeiro lugar, deveriam se colocar no lugar daquela pessoa quenecessita de ajuda, e simpatizarem-se com ela como se fossem eles mesmos que estivessem sofrendo. Seu dever é mostrar uma verdadeira humanidade e misericórdia, oferecendo sua ajuda com espontaneidade e rapidez como se fosse para si mesmos.“A piedade que surge do coração fará com que se desvaneça a arrogância e o orgulho, e nos prevenirá de termos uma atitude de reprovaçãoou desdém para com o pobre e o necessitado”.42Em nossa beneficência, nada devemos esperar em troca, ainda que esta sejauma prática comum. Aliás, “quando damos nossas esmolas, nossa mão esquerda deve ignorar o que a mão direita fez”.43Comentando o Salmo 68 enfatizaque o Deus da glória é também o Deus misericordioso; em seguida observa a atitudepecaminosa comum aos homens: “Geralmente distribuímos nossas atençõesonde esperamos nos sejam elas retribuídas. Damos preferência a posição eesplendor, e desprezamos ou negligenciamos os pobres”.44E quanto à ingratidão tão comum ao gênero humano? Bem, em nossa ajuda aos nossos irmãos nãodevemos nos preocupar com isso, visto que “ainda que os homens sejam ingratos, de modo que pareça termos perdido o que lhes damos, devemos perseverar em fazer o bem”.45E mais: “.... não dependemos da gratidão humana,e, sim, de Deus que Se coloca no lugar do pobre como devedor, para queum dia venha restituir-nos cheio de solicitude, tudo quanto distribuímos....”.4642João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo: Novo Século, 2000, p. 39.43John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996(Reprinted), Vol. XVIII, (At 5.1), p. 196.44João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 68.4-6), p. 645.45João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 8.10), p. 173. “É realmente verdade que não há nada que fira tanto os que possuem uma disposição mental ingênua que quando os perversos e ímpios os recompensam de forma um tanto desonrosa einjusta. Mas quando ponderam sobre esta consoladora consideração, de que Deus não émenos ofendido com tal ingratidão do que aqueles a quem se faz a injúria, eles não têmnenhuma justificativa de se magoarem com tanto excesso” (João Calvino, O Livro dos Salmos,Vol. 2, (Sl 38.19-20), p. 192).46João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 16.2), p. 500. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 13/145) A sabedoria cristã se revela em atos de misericórdia. Paulo escreve aos Romanos falando de seu desejo quanto àqueles irmãos: “.... quero que sejais sábios(sofo/j) para o bem e símplices para o mal” (Rm 16.19). Tiago, descrevendo a sabedoria concedida por Deus, diz que ela é plena de misericórdia: “A sabedoria (sofi/a), porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável,plena de misericórdia (e)/leoj) e de bons frutos, imparcial, sem fingimento” (Tg 3.17).6) Os diáconos devem ser vistos como braços da misericórdia de Deus em favordo Seu povo carente; eles exercem, em parte, o “socorro” de Deus para com o Seupovo (1Co 12.28):47“Os diáconos representam a Cristo em seu ofício de misericórdia, e o exercício da misericórdia está vinculado com o consolo dos aflitos”.48“Nisto consiste o ofício dos diáconos: Devem demonstrar solicitudepelos pobres e atender às suas necessidades”.49CONSIDERAÇÕES FINAIS:1) Deus nos perdoa não porque seja obrigado, mas, porque Ele é misericordioso;50Ele olha para o nossa estado de miséria espiritual e livremente se compadece de nós e nos alivia, nos perdoando os pecados, apagando toda a nossa iniquidade. O salmista escreve: "Ele, porém, que é misericordioso, perdoa ainiqüidade, e não destrói; antes muitas vezes desvia a sua ira, e não dá largasa toda a sua indignação" (Sl 78.38). Daniel em sua oração tem a mesma percepção: "Inclina, ó Deus meu, os teus ouvidos, e ouve; abre os teus olhos, eolha para a nossa desolação, e para a cidade que é chamada pelo teu nome,porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossasjustiças, mas em tuas muitas misericórdias" (Dn 9.18).2) A misericórdia de Deus deve servir de medida para a nossa misericórdia. Daí oensino de Jesus Cristo: “35Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus.36Sedemisericordiosos (oi(kti/ rmwn), como também é misericordioso (oi(kti/rmwn) vosso Pai” (Lc 6.35-36). No exercício da misericórdia aprendida de Cristo, nos beneficiamos, crescemos: “O homem bondoso (חסד) (hesedh) faz bem a simesmo, mas o cruel a si mesmo se fere” (Pv 11.17).3) Nas bem-aventuranças somos desafiados a aprender a ser humildes, a chorar,sermos mansos e a buscar intensamente a justiça. Quando isso se concretiza47“A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1Co 12.28).48R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan: SLC., 1985, p. 141.49João Calvino, As Institutas, (1541), IV.13.50“A misericórdia não é um direito ao qual o homem faz jus. A misericórdia é aquele atributoadorável de Deus, pelo qual tem dó dos miseráveis e os alivia.” (A.W. Pink, Deus é Soberano,p. 23).A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 14/14em nós, podemos naturalmente sentir e exercitar a misericórdia.514) Uma das características do homem entregue a si mesmo, é a falta de misericórdia: “insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia”(a)/neleh/mwn)(Rm 1.31).5) A ausência de misericórdia reflete a pequena ou total ausência de consciênciada misericórdia de Deus para conosco, pecadores condenados. Aqueles quenão exercem misericórdia, não esperem também a misericórdia de Deus.“Porque o juízo é sem misericórdia (a)ne/leoj) para com aquele que não usoude misericórdia (e)/leoj). A misericórdia (e)/leoj) triunfa sobre o juízo” (Tg 2.13).“Nada nos impulsiona mais ao perdão do que o maravilhoso conhecimento de que nós mesmos fomos perdoados. Nada prova mais claramente que formos perdoados do que a nossa própria prontidão emperdoar”.52São Paulo, 16 de maio de 2010.Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa51Ver: John MacArthur Jr., O Caminho da Felicidade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 115.52John R.W. Stott, A Mensagem do Sermão do Monte, 3ª ed. São Paulo: ABU, 1985, p. 38
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