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26 de mar. de 2011

A Misericódia De Deus - Paulo Junior



[DEVOCIONAL] John Piper – As Misericórdias de Hoje para os Problemas de Hoje


Uma parte da fé salvadora é a segurança de que amanhã teremos fé. Confiar em Cristo hoje inclui o crer que Ele lhe dará a confiança de amanhã, quando o amanhã chegar. Com freqüência, sentimos que nossa reserva de forças não será suficiente para mais um dia. E, de fato, não será. Os recursos de hoje são para hoje; e uma parte desses recursos é a confiança de que novos recursos nos serão dados amanhã.


O alicerce desta segurança é o maravilhoso ensino bíblico de que Deus determina para cada dia apenas a quantidade de problemas que este dia é capaz de suportar. Em nenhum dia, Deus permitirá que seus filhos sejam provados além do que a sua misericórdia para aquele dia suportará. Isso foi o que Paulo quis dizer em 1 Coríntios 10.13: “Nenhuma prova lhes tem sobrevindo, que não seja comum ao homem. Deus é fiel, e não permitirá que sejam provados além do que são capazes de agüentar, mas, com a prova, Ele também dará o meio de escape, para que possam suportá-la” (tradução do autor).


O antigo hino sueco “Dia a Dia” é baseado em Deuteronômio 33.25: “A tua força será como os teus dias” (ARC). O hino nos dá a mesma segurança:

Dia a dia e a cada momento que passa,

Acho forças para enfrentar minha provação;
Confiando na sábia outorga de meu Pai,
Não tenho motivo para temor ou inquietação.
A “sábia outorga de meu Pai” é equivalente à quantidade de problemas que podemos suportar a cada dia — e nenhum problema a mais:
Ele, cujo coração é imensuravelmente bom,

Com amor, dá a sua parte de prazer e dor,
E, a cada dia, o que julga o melhor dom
Mesclando com paz e descanso o intenso labor


Juntamente com a medida de dor para cada dia, Ele nos dá novas misericórdias. Este é o argumento de Lamentações 3.22-23: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade”.

As misericórdias de Deus são novas cada manhã, porque existem misericórdias suficientes para cada dia. É por isso que tendemos a entrar em desespero, quando pensamos que talvez possamos ou tenhamos de levar os fardos de amanhã com os recursos de hoje. Deus deseja que estejamos cientes de que não podemos. As misericórdias de hoje são para os problemas de hoje; as de amanhã, para os problemas de amanhã.


Às vezes, nos perguntamos se teremos misericórdia para permanecermos firmes em provas terríveis. Sim, teremos. Pedro disse: “Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (1 Pe 4.14). Quando a injúria nos sobrevém, o Espírito da glória se manifesta. Aconteceu com Estêvão, quando ele estava sendo apedrejado (At 7.55-60). Acontecerá com você. Quando o Espírito e a glória são necessários, eles surgem.

O maná no deserto foi dado uma vez por dia. Não havia armazenagem de maná. Essa é a maneira como temos de depender da misericórdia de Deus. Você não recebe hoje a força para levar os fardos de amanhã. Recebe misericórdias hoje para os problemas de hoje. Amanhã, as misericórdias serão renovadas. “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à comunhão de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1 Co 1.9). “Fiel é o que vos chama, e Ele também agirá!” (1 Ts 5.24 — tradução do autor.)



Extraído do livro: Uma Vida Voltada para Deus, de John Piper.

Copyright: © Editora FIEL
O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.

[AGNOSTO THEO] John Piper - O Senhor; Um Deus Cheio de Graça e Misericórdia

Êxodo 34:1-10
Então, disse o SENHOR a Moisés: Lavra duas tábuas de pedra, como as primeiras; e eu escreverei nelas as mesmas palavras que estavam nas primeiras tábuas, que quebraste. E prepara-te para amanhã, para que subas, pela manhã, ao monte Sinai e ali te apresentes a mim no cimo do monte. Ninguém suba contigo, ninguém apareça em todo o monte; nem ainda ovelhas nem gado se apascentem defronte dele. Lavrou, pois, Moisés duas tábuas de pedra, como as primeiras; e, levantando-se pela manhã de madrugada, subiu ao monte Sinai, como o SENHOR lhe ordenara, levando nas mãos as duas tábuas de pedra.

Tendo o SENHOR descido na nuvem, ali esteve junto dele e proclamou o nome do SENHOR. E, passando o SENHOR por diante dele, clamou: SENHOR, SENHOR Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniqüidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração! E, imediatamente, curvando-se Moisés para a terra, o adorou; e disse: Senhor, se, agora, achei graça aos teus olhos, segue em nosso meio conosco; porque este povo é de dura cerviz. Perdoa a nossa iniqüidade e o nosso pecado e toma-nos por tua herança.

Então, disse: Eis que faço uma aliança; diante de todo o teu povo farei maravilhas que nunca se fizeram em toda a terra, nem entre nação alguma, de maneira que todo este povo, em cujo meio tu estás, veja a obra do SENHOR; porque coisa terrível é o que faço contigo.

ÊXODO 34 É PROVA DA MISERICÓRDIA DE DEUS

O simples fato de Êxodo 34 existir é prova de que Deus é um Deus de misericórdia. Esta é a segunda vez que Deus encontra Moisés no monte para fazer uma aliança com o povo de Israel. Quando Moisés desceu do monte na primeira vez, o povo tinha se corrompido pelo amor às obras de suas próprias mãos. Estavam adorando um bezerro de ouro.

A aliança que Deus fez com o povo na montanha pela primeira vez, foi assim: "Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa" (Êx. 19:5-6). Mas ao invés de descansar na estima de Deus, o povo se tornou inquieto e desejou a estima de sua própria feitura. Então trocaram a glória do Deus invisível pela imagem de sua própria glória — uma vaca de ouro.

Eles foram descrentes no Mar Vermelho. Eles murmuraram contra Deus no deserto. Então sua rebelião com o bezerro de ouro deveria ter acabado com a paciência de Deus. Já chega desse povo de dura cerviz!

Mas cá estamos novamente no monte, aguardando a revelação de Deus. O povo não foi destruído. O simples fato desse encontro é prova de que Deus é misericordioso.

Deus Proclama Seu Nome a Moisés

Mas há algo ainda mais incrível que o simples fato de que Deus está disposto a encontrar Moisés novamente e renovar a aliança; a saber, o conteúdo do que Ele revela. Êxodo 34:5 diz: Tendo o SENHOR descido na nuvem, ali esteve junto dele e proclamou o nome do SENHOR.

Deus clama no versículo 6: “Javé! Javé!” E então ele decifra o significado daquele nome em palavras cuja doçura nunca foi superada, nem mesmo no Novo Testamento: "Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado."

DOIS PROBLEMAS NA AUTO DESCRIÇÃO DE DEUS

Deus é JAVÉ — o Deus que é, o Deus que é livre, o Deus que é todo-poderoso, e o Deus que é misericordioso. Há uma conexão entre sua absoluta existência, sua soberana liberdade, sua onipotência e sua transbordante misericórdia. Mas antes de mirarmos nisso, há dois problemas para lidar nesse texto:


1- Quem Deus perdoa e quem não perdoa

Primeiro, depois de declarar o fato de que Deus "perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado" (versículo 7), o texto prossegue e diz: "Ainda que não inocenta o culpado." Então o problema é: Como pode Ele perdoar o culpado e não inocentar o culpado? Ou: quem são os culpados que ele perdoa e quem são os culpados que ele se recusa a perdoar?

A forma mais frutífera que encontrei para responder isso é vendo como os outros escritores do Velho Testamento usaram essa passagem. Tome Joel e Jonas por exemplo.


O uso de Joel desta passagem

Em Joel 2:12-13, Deus diz ao povo rebelde:  "Ainda assim, agora mesmo, diz o SENHOR: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto. Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes." E Joel prossegue em encorajar o povo: "E convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal."

Em outras palavras, Joel usa Êxodo 34:6 para estimular o povo dizendo que se eles se converterem ao Senhor, Ele afastará o mal que está prestes a trazer sobre eles. Então, a hipótese é que o povo que o Senhor não irá perdoar é o povo que não se arrependerá e não se converterá a Deus de todo seu coração. Foi assim que Joel entendeu Êxodo 34:5-7. Perdão para os arrependidos. Recusa de perdão para os não arrependidos.

O uso de Jonas desta passagem

Jonas vê as coisas da mesma maneira. Após ter pregado aos Ninivitas, eles se arrependem,

Deus os poupa, e Jonas está irritado por Deus ser tão misericordioso. Em Jonas 3:10 até 4:2 diz:Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez. Com isso, desgostou-se Jonas extremamente e ficou irado. E orou ao SENHOR e disse: Ah! SENHOR! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e que te arrependes do mal.
Aqui, Jonas cita Êxodo 34:6 para explicar por que Deus afastou sua ira de um povo pecador que se arrependeu de seus maus caminhos. Essa é a natureza de Deus. Este é Seu nome. Mas note que Jonas concorda com Joel que, quer Deus perdoe os ninivitas ou não, depende se os ninivitas se arrependem ou não de seus maus caminhos.

Deus perdoa o povo culpado que se arrepende

Agora vamos voltar às palavras de Deus no Monte Sinai em Êxodo 34:6-7. Em uma mão o Senhor diz que "perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado." Na outra mão, diz que não "inocenta o culpado." Ainda assim, todos os pecadores são culpados. Então qual culpado é aquele que Ele perdoa? E qual o culpado que Ele não perdoa?

A resposta de Joel e Jonas é que ele perdoará o culpado que se converter de seu pecado e se voltar para Deus de todo seu coração. E o culpado que desprezar sua oferta de misericórdia, não será inocentado.

Este é o primeiro problema e a solução de Jonas e Joel.


2 - Os pecados do pai e os pecados dos filhos

O segundo problema neste texto vem das palavras seguintes no versículo 7. Diz que Deus "visita a iniqüidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até à terceira e quarta geração." Mas Ezequiel 18:20 diz: "A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai, a iniqüidade do filho." Como esses dois textos podem não contradizer um ao outro?


O que Ezequiel tem em vista

O mais crucial a observar é que Ezequiel tem em vista um filho que não segue os passos pecaminosos de seu pai, mas Êxodo tem em vista filhos que continuam nos passos pecaminosos de seus pais.

Ezequiel 18:19 diz: "Porque o filho fez o que era reto e justo, e guardou todos os meus estatutos, e os praticou, por isso, certamente, viverá." Em outras palavras, ele não morrerá pelos pecados de seu pai porque ele não está seguindo os passos de seu pai.


O que Êxodo tem em vista

Mas o paralelo a Êxodo 34:7, em Êxodo 20:5 diz que Deus visita "a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem." Em outras palavras, os filhos compartilham a punição do pai porque compartilham os pecados do pai.

Então Ezequiel ensina que qualquer filho que se converte dos caminhos pecaminosos de seu pai e obedece a Deus, não será punido pelos pecados de seu pai. E Êxodo ensina que qualquer filho que prossegue em pecar como seu pai, irá compartilhar da punição de seu pai.

Quando Deus visita os pecados dos pais nos filhos, ele não pune filhos sem pecado pelos pecados de seus pais. Ele simplesmente deixa os efeitos dos pecados do pai tomar seu curso natural, infectando e corrompendo os corações dos filhos. Para pais que amam seus filhos, esse é um dos mais sóbrios textos em toda a Bíblia.

Quanto mais deixamos o pecado falar mais alto em nossas vidas, mais nossos filhos vão sofrer por isso. O pecado é uma doença contagiosa. Meus filhos não sofrem porque eu tenho pecado. Eles pegam de mim e sofrem porque eles têm pecado.
 



ESPERANÇA PARA O ABATIMENTO NA AUTO DESCRIÇÃO DE DEUS

Agora, passados esses problemas, espero que possamos ouvir a mensagem com pura simpatia. Vamos voltar ao versículo 6 e a declaração do nome de Deus. O Senhor desce e proclama Seu nome: "Javé! Javé! Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado."

Há dois tipos de pessoas que são difíceis de ajudar em aconselhamento pastoral. Um pensa que foi longe demais para ser perdoado. Outro pensa que perdão é um estalar de dedos. Um pensa que é completamente desqualificado para o reino. O outro pensa que já está lá dentro. Um pensa que Deus é rigidamente irado. O outro pensa que é fácil lidar com Deus. Um é cego para o esplendor da misericórdia de Deus. O outro é cego para a magnitude de sua própria angústia.

Eu sei que encaro pessoas em ambas as categorias todo domingo de manhã. E o desafio de pregar é como falar esperançosamente para a primeira pessoa sem dar golpes na segunda. Quando se prega numa congregação grande e variada, deve haver ira e misericórdia, ameaça e promessa, aviso e conforto. E então, deve haver oração e o trabalho do Espírito Santo para que a Palavra seja ouvida na aplicação mais apropriada para a necessidade de cada pessoa.

Mas eu quero deixar explícito que o que tenho a dizer agora é para os abatidos, os humilhados, os débeis, os desesperados, os desencorajados — aqueles que podem sentir que estão além do alcance do perdão de Deus.

Cinco Expressões da Natureza de Deus

Se eu quisesse deixar claro para meus filhos que eu pretendia ser seu pai, cuidar deles e tratá-los com misericórdia, eu poderia usar duas ou três diferentes expressões e, talvez, repetiria para enfatizar a verdade daquilo que eu estava dizendo. Da mesma forma, Deus se condescende a usar nossos meios e deixa sua misericórdia clara como cristal. Ele amontoa frase sobre frase para expor seu coração de amor.

São cinco expressões:
1. um Deus compassivo e clemente;
2. longânimo;
3. grande em misericórdia e fidelidade;
4. que guarda a misericórdia em mil gerações;
5. que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado.

Quanto mais eu pondero em como essas cinco descrições de Deus são ligadas, mais elas parecem se entrelaçar.

O TRIÂNGULO DA MISERICÓRDIA DE DEUS

Mas deixe-me descrever uma maneira de ver como elas se relacionam entre si.

Imagine um triângulo; em cada ponta da base, estão a primeira e a última afirmação de Deus, a saber: compassivo e clemente (na ponta esquerda da base), e que ele perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado (na ponta direita da base).

Então, em direção ao topo, na metade do caminho, em cada lado do triângulo, imagine a segunda e a quarta afirmação de Deus, a saber, que ele é longânimo (no lado esquerdo), e que guarda a misericórdia em mil gerações (no lado direito do triângulo).

Finalmente, imagine no topo do triângulo a terceira afirmação de Deus, a saber, que ele é grande em misericórdia e fidelidade.

Agora, o objetivo desse quadro é sugerir que a primeira e a segunda afirmação estão juntas; a segunda e a quarta estão juntas; e a terceira é central para todas as cinco. Vamos começar com o principal: O topo do triângulo.

Grande em Misericórdia e Fidelidade

Deus é grande em misericórdia e fidelidade. Duas imagens me vêm à mente. O coração de Deus é uma fonte inesgotável de água que borbulha misericórdia e fidelidade no topo da montanha. Ou o coração de Deus é como um vulcão que arde tão fervorosamente de amor que explode o topo da montanha e derrama ano após ano a lava da misericórdia e fidelidade.

Quando Deus usa a palavra "grande", Ele quer que entendamos que os recursos de sua misericórdia não são limitados. De certa forma, ele é como o governo federal: Onde quer que haja necessidade, ele pode só imprimir mais dinheiro para cobri-la. Mas a diferença é que Deus tem um tesouro infinito de misericórdia de ouro para cobrir toda a moeda que Ele imprime. O governo dos Estados Unidos está em um mundo de sonhos. Deus acumula de forma muito real com os recursos infinitos de Sua deidade.

Eu disse há pouco que há uma conexão entre os três primeiros sermões dessa série e este aqui. "Deus é quem Ele é", "Deus é livre", "Deus é todo poderoso", e agora, "Deus é misericordioso". A conexão é que a absoluta existência, a soberana liberdade, e a onipotência de Deus são a plenitude vulcânica que explode em uma superabundância de misericórdia.

A absoluta magnificência de Deus significa que Ele não precisa de nós para preencher qualquer deficiência nele mesmo. Ao invés disso, Sua infinita auto suficiência transborda misericórdia sobre nós que precisamos dele. Podemos nos proteger em Sua misericórdia precisamente porque cremos na íntegra independência de Sua existência, a soberania de sua liberdade, e em seu poder ilimitado.

Então, no topo do triângulo, fica a infinita abundância da misericórdia de Deus, jorrando abaixo em cada lado para o bem de seu povo arrependido.


Longânimo, que Guarda Misericórdia

Na metade de cada lado do triângulo, estão a segunda e a terceira afirmação sobre Deus em Êxodo 34:6-7. Ele é longânimo e guarda a misericórdia em mil gerações. Quando Deus diz que guardamisericórdia, o foco é na durabilidade de sua misericórdia. Ela dura. Ela persevera. Ela continua fluindo.

E eu vejo uma conexão entre essa perseverança da misericórdia de Deus e a afirmação de que Deus é longânimo. A misericórdia não pode durar onde a ira está prestes a disparar. Se a ira de Deus está prestes a disparar, sua misericórdia não duraria um dia em minha vida. Se foguetes de ira fossem lançados dos olhos de Deus toda vez que eu pecasse, eu seria explodido em pedaços antes mesmo de eu sair da cama pela manhã.

Mas ele brada no monte Sinai: “Eu sou longânimo!” Ele retém sua ira em favor da superioridade de sua misericórdia. Ele é longânimo. Ele é extraordinariamente paciente. Por isso ele guarda misericórdia. Eleguarda e preserva sendo longânimo.


Compassivo e que Perdoa

Isso nos leva ao último par de afirmações sobre Deus na base do triângulo. Se Deus é longânimo mesmo que demos a ele amplas razões para que ele ficasse irado conosco por causa de nosso pecado, então ele deve ser muito compassivo e deve perdoar — “compassivo e clemente—perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado.” A razão pela qual Deus é longânimo, não é porque ele não nota nosso pecado, mas porque ele perdoa o nosso pecado.

E não somente alguns tipos de pecado. Para vocês, que sentem que há uma categoria de pecado que está além do perdão de Deus, por favor, submeta sua própria opinião e sentimento à Palavra de Deus. A razão pela qual Deus usou todas as três palavras hebraicas para “pecado” aqui, é para mostrar que toda sorte de e todos os graus de pecado são perdoáveis. Ele perdoa a iniquidade, a transgressão, e opecado. Ele empilha essas palavras para deixar claro o que ele quer dizer. O único pecado que é imperdoável é aquele para o qual não houve arrependimento. Se você pode se arrepender e se desviar de seu pecado, você pode ser perdoado.

JESUS CRISTO CONFIRMA A NATUREZA MISERICORDIOSA DE DEUS

Eu fecho com este lembrete e convite: Jesus Cristo veio ao mundo para confirmar que Deus é exatamente quem ele disse ser no monte Sinai—“Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado.” Se converta de seus pecados hoje, confie em Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor, e você encontrará uma vastidão na misericórdia de Deus como a vastidão do mar.

Se alguém perguntar para você (ou talvez você pergunte a você mesmo): “Como você sabe que é assim que Deus é?” Você pode responder: “Porque Jesus Cristo viveu isso e selou isto com Seu sangue."


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Por John Piper. © Desiring God. Website:desiringGod.org
Tradução e Legenda: voltemosaoevangelho.com
Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que adicione as informações supracitadas, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.


A Misericórdia perdoadora de Deus  e a nossa Responsabilidade  (Mt 5.7)

  “Os homens jamais encontrarão um 
antídoto para suas misérias, enquanto, 
esquecendo-se de seus próprios méritos, 
diante do fato de que são os únicos a 
enganar a si próprios, não aprenderem 
a recorrer à misericórdia gratuita de 
Deus”  – João Calvino.
2
  
INTRODUÇÃO: 
 A misericórdia de Deus é um de Seus atributos mais evidentes em Sua relação 
conosco, homens pecadores. “Os homens se acham num deplorável estado a 
menos que Deus os trate misericordiosamente, não debitando seus pecados 
em sua conta”.
3
 Deus propõe aos Seus filhos, ainda que em sua finitude, uma semelhança com 
Ele; daí o desafio de conhecer a Deus para a partir daí termos uma dimensão mais 
clara do que Ele deseja que sejamos. A vida cristã não é um manual de atitudes desejáveis, antes consiste em aprender a viver conforme a nossa nova natureza, gerada pelo Espírito (Tt 3.5);
4
somos novas criaturas (2Co 5.17):
5
“O Evangelho cristão 
põe toda a sua ênfase sobre a questão do ser, e não sobre a questão do fazer”.
6
 No texto que vamos estudar Jesus Cristo diz ser bem-aventurado aquele que exerce misericórdia (Mt 5.7).
7
 Em outro momento, ensina:  “Sede misericordiosos
(oi)kti/rmwn),
8
 como também é misericordioso  (oi)kti/rmwn) vosso Pai” (Lc 6.36). 
                                           
1
 Estudo ministrado na Escola Dominical da Igreja Presbiteriana em São Bernardo do Campo, SP., no 
dia 16 de maio de 2010. 
2
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 1, (Sl 6.4), p. 128-129. 
3
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 32.1), p. 39. “A benevolência divina se estende a todos os homens. E se não há um sequer sem a experiência de 
participar da benevolência divina, quanto mais aquela benevolência que os piedosos experimentarão e que esperam nela!” (João Calvino,  As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 
4.10), p. 120-121).
4
“.... segundo sua misericórdia (e)/leoj), ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do 
Espírito Santo” (Tt 3.5). 
5
“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17). 
6
 David M. Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, São Paulo: Editora Fiel, 1984, p. 88. 
7
“Bem-aventurados os misericordiosos (e)leh/mwn), porque alcançarão misericórdia (e)lee/w)”  (Mt 
5.7). 
8
 O verbo tem o sentido de ser compassivo, ter piedade ou misericórdia. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 2/14
 Analisemos primeiramente alguns aspectos da misericórdia de Deus: 
  
1. A MISERICÓRDIA PACTUAL: 
  O Antigo Testamento emprega duas palavras que mais especificamente se adé-
quam aos conceitos de “graça” e “misericórdia  expressos no Novo Testamento. As 
palavras são: desex (hesedh) e }"x (hen). Nos ateremos aqui à primeira palavra.
 Hesedh cuja etimologia é obscura,
9
 pode ser traduzida por “bondade”, “graça”, 
“benevolência”, “benignidade”, “clemência”, “beneficência”, “humanidade” (ARA. 2Sm 
2.5),  “fidelidade” (ARA. 2Sm 16.17) e “misericórdia”. Ocorre cerca de 250 vezes no 
Antigo Testamento, principalmente nos Salmos (127 vezes). 
 Figuradamente, Deus é chamado de “Misericórdia” por Davi: “Minha misericórdia
(חסד) (hesedh) e fortaleza minha, meu alto refúgio e meu libertador, meu escudo, aquele em quem confio e quem me submete o meu povo” (Sl 144.2). 
 Hesedh pode ser empregada acerca de Deus e acerca do homem. Quando a palavra se refere ao homem, reflete o seu amor para com o seu próximo e para com 
Deus; quando a palavra é aplicada a Deus, denota a Sua graça, envolvendo dois elementos importantes: 
A. A Auto-Entrega de Deus a Israel na Relação de um Pacto:
10
   A idéia principal é a de que Deus manifesta o Seu amor ativamente na forma 
de uma relação de um pacto; Hesedh é um “amor de Pacto” (Dt 7.9,12; Jr 31.3);
11
“Hesedh da aliança”;
12
“comportamento correto segundo a aliança”.
13
O Pacto de Deus é unilateral no que concerne às suas demandas e provisões; compete ao 
homem aceitá-lo ou não, porém, não pode modificar os seus termos. O Hesedh é a 
causa e o efeito do Pacto; Deus fez o Pacto por misericórdia; Ele revela a Sua mise-
                                           
9
 H.J. Stoebe, desex: In: Ernst Jenni & Claus Westermann, eds. Diccionario Teologico Manual del Antiguo Testamento, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1978, Vol. I, p. 832.  
10
 Veja-se: W. Zimmerli, et. al. X/arij: In: G. Friedrich & G. Kittel, eds. Theological Dictionary of the 
New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982, Vol. IX, p. 383ss.; Walther Eichrodt, Teologia del Antiguo Testamento, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1975, Vol. I, p. 213ss.  
11
 Van Groningen, comentando o Salmo 111.1, chama a expressão de  “fidelidade pactual”; no 
Salmo 118.1, designa de “amor pactual” (Gerard Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho 
Testamento, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1995, p. 351, 363). Packer, a traduz por  “Amor 
constante” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 88); Eichrodt, 
chama de “amor solícito” (Walther Eichrodt, Teologia del Antiguo Testamento, Vol. I, p. 213). Harris 
seguindo a versão King James, crê que uma boa tradução é “bondade amorosa” (R. Laird Harris, 
hsd: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São 
Paulo: Vida Nova, 1998, p. 503). 
12
 R. Laird Harris, i
i ihsd: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo 
Testamento, p. 501.  
13
 H.H. Esser, Misericórdia: In: : Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do 
Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, Vol. III, p. 177. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 3/14
ricórdia de acordo com o Pacto (1Rs 8.23
14
 [2Cr 6.14]; Ne 1.5; 9.32; Is 55.3; Dn 9.4). 
Devido ao Seu Hesedh, Deus voluntariamente elege o Seu povo, mantendo-Se 
fiel nesta relação independentemente da fidelidade circunstancial dos  Seus eleitos 
(Dt 7.6-11;
15
 2Sm 2.6; Sl 36.5; 57.3; 89.49; Is 54.10; 55.3). 
  
 B. Está ligada com a Idéia de Justiça de Deus:  
   O Hesedh de Deus não é barato; Deus não age movido por um sentimento 
incontrolável e incoerente; antes, Deus encontra um justo caminho para estabelecer 
uma relação sólida com o homem pecador. O fundamento desta nova relação é o 
próprio Cristo.  
  
2. O AMOR SANTO, JUSTO E MISERICORDIOSO DE DEUS E A
CONSCIÊNCIA DE SEUS SERVOS: 
A. Deus Santo, Justo e Misericordioso: 
     No grego a misericórdia é um sentimento provocado  pela dor dos demais, se 
manifestando em atos de bondade.  “Misericórdia é  atender as necessidades, 
não apenas senti-las”.
16
“Misericórdia é amor demonstrado em favor de 
quem vive em desgraça, e um espírito perdoador para com o pecador. Ela 
abrange tanto um sentimento de bondade quanto um ato bondoso”.
17
  
O amor independe da misericórdia, contudo, esta pressupõe aquele. As relações 
de amor não necessitam de se expressar em misericórdia, mas, a misericórdia é 
uma expressão do amor quando há alguma necessidade de socorro.  “O amor é 
constante; a misericórdia está reservada para os momentos de dificuldade. 
                                           
14
22
 Pôs-se Salomão diante do altar do SENHOR, na presença de toda a congregação de Israel; e 
estendeu as mãos para os céus  
23
 e disse: Ó SENHOR, Deus de Israel, não há Deus como tu, em 
cima nos céus nem embaixo na terra, como tu que guardas a aliança e a misericórdia  (חסד) (hesedh) 
a teus servos que de todo o coração andam diante de ti” (1Rs 8.22-23). 
15
6
 Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus; o SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhe 
fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra.  
7
 Não vos teve o SENHOR afei-
ção, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de 
todos os povos,  
8
 mas porque o SENHOR vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o SENHOR vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de 
Faraó, rei do Egito.  
9
 Saberás, pois, que o SENHOR, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia (חסד) (hesedh) até mil gerações aos que o amam e cumprem os seus mandamentos;  
10
 e dá o pago diretamente aos que o odeiam, fazendo-os perecer; não será demorado para 
com o que o odeia; prontamente, lho retribuirá. 
11
 Guarda, pois, os mandamentos, e os estatutos, e os
juízos que hoje te mando cumprir” (Dt 7.6-11). 
16
 John MacArthur Jr.,  O Caminho da Felicidade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 120. 
17
 William Hendriksen, Mateus, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, Vol. 1, p. 385.A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 4/14
Não há misericórdia sem amor”.
18
 Uma forma natural de pensar sobre a misericórdia é colocá-la em oposição à justiça. No entanto, este conceito está totalmente distante do ensino bíblico. João saú-
da os seus destinatários relacionando a misericórdia a verdade e o amor: “A graça, a 
misericórdia  (e)/leoj) e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, 
serão conosco em verdade e amor” (2Jo 3). 
 Deus não quebra a Sua justiça por amor; antes, cumpre a justiça em amor; a gra-
ça reina pela justiça (Rm 5.21).
19
"De fato a graça reina, mas uma graça reinante à parte da justiça não é apenas inverossímil, mas também inconcebí-
vel".
20
 Este tipo de raciocínio é-nos naturalmente estranho porque temos costumeiramente nossa hierarquia de valores com as suas prioridades próprias que tendem a 
ser voláteis conforme determinadas circunstâncias. Assim sendo, ao mesmo tempo 
em que sustentamos com razão a necessidade de justiça, em outras circunstâncias, 
quando, por exemplo, nosso filho ou amigo esteja envolvido, é possível, que com a 
mesma sinceridade anterior sustentemos a necessidade de sermos misericordiosos 
e acusarmos uma postura diferente de “legalista”. Somos pecadores e finitos. A finitude não é pecado, no entanto, revela a nossa limitação como criaturas. Esta limita-
ção agravada pelo nosso pecado se expressa em nossas contradições  e incoerências. No entanto, somente Deus é perfeito e, por isso, o Seu agir se harmoniza de 
forma perfeita com todos os Seus atributos; Deus é perfeito em suas perfeições não 
havendo hierarquia em Seu ser. Obviamente a compreensão adequada desta realidade escapa à nossa compreensão, no entanto, podemos ter a certeza de que Deus 
é perfeitamente santo e que a santidade permeia todas as suas ações e obras. 
 Deste modo, somente Jesus Cristo – o Deus encarnando –, por meio da Sua justiça obtida na Sua encarnação, morte e ressurreição, poderia satisfazer as exigências de Deus para a nossa salvação. Paulo escreve: “Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção (a)polu/trwsij) que há em Cristo Jesus”  (Rm 3.24).   Portanto, “Quando Deus justifica pecadores à base da obediência e da morte de Cristo, está agindo com toda equidade. Dessa maneira, longe de comprometer Sua retidão judicial, esse método de justificação 
em realidade a exibe”.
21
 A santidade de Deus se revela na cruz, onde o seu amor misericordioso e a sua 
                                           
18
 John MacArthur Jr.,  O Caminho da Felicidade, p. 122. 
19
“A fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para 
a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 5.21). 
20
 John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 19. 
“Deus se paga a Si mesmo por Sua misericórdia manifestada em Seu Filho, nosso Salvador 
Jesus Cristo, que uma vez por todas se ofereceu ao Pai para ser Ele próprio a satisfação que 
Lhe deveríamos prestar” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas 
para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, Vol. 3, (III.9), p. 129). 
21
 J.I. Packer, Justificação: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: Junta 
Editorial Cristã, 1966, Vol. II, p. 899b. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 5/14
justiça se evidenciam de forma eloquente e perfeita.
22
 A cruz não fez Deus nos amar, antes, o Seu amor por nós a produziu e se revelou ali.
23
   
Enquanto para nós as circunstâncias servem de pretexto para os nossos atos pecaminosos e os posteriores atenuantes, para Deus tais circunstâncias – sobre as 
quais tem total domínio: Ele também é o Senhor das circunstâncias – oportunizam a 
manifestação do que Ele é em Sua essência. O pecado não tornou Deus misericordioso, santo ou justo; Ele é eternamente misericordioso, santo e justo. No entanto, o 
pecado propiciou a Deus, por sua livre graça, revelar-se desta forma para conosco.  
Na cruz vemos a manifestação gloriosa dos atributos de Deus.  “A justiça e o 
amor se encontraram e se abraçaram. Os santos atributos de Deus são glorificados juntamente na morte do Filho de Deus na cruz”.
 24
 Não haveria para 
nenhum de nós salvação de nossos pecados sem a justificação. Da mesma forma,  
existe a  justificação porque Jesus Cristo é a nossa justiça;  é Ele mesmo quem nos 
redime (1Co 1.30).
25
  Como escreveu Lloyd-Jones (1899-1981): “Se lhes fosse solicitado responder onde a Bíblia ensina a santidade de Deus mais poderosamente teriam de ir ao Calvário. Deus é tão santo, tão plenamente santo, que 
nada senão aquela morte terrível poderia tornar possível que Ele nos perdoasse. A cruz é a suprema e a mais sublime declaração e revelação da santidade de Deus”.
26
 Na cruz temos a reconciliação do santo com o pecador, do perfeitamente justo com o totalmente injusto, do infinito com o finito; do Deus eterno 
com o homem temporal: “A cruz é o centro da história e a reconciliação de todas as antíteses”.
27
 Isaías diz que “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele [Jesus 
Cristo] a iniqüidade de nós todos” (Is 53.6).  
                                           
22
“A cruz e a coroa revelam não apenas as virtudes do Filho, mas também do Pai. Todos os 
atributos divinos alcançam plena expressão aqui. Dentre todas elas,  uma sobressai: a justiça 
do Pai. Se Ele não tivesse sido justo, certamente não teria entregue Seu Filho Unigênito. E 
também, se não fosse justo, Ele não teria recompensado o Filho por Seu sofrimento. Mais, por 
meio dos louvores da multidão salva, o Pai (bem como o Filho) é glorificado” [William Hendriksen, O Evangelho de João, São Paulo: Cultura Cristã, 2004  (Jo 17.1), p. 754]. 
23
Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1997 (Grandes Doutrinas Bíblicas, Vol. 1), p. 426. 
24
David Martyn Lloyd-Jones, Uma Nação sob a Ira de Deus: estudos em Isaías 5, 2ª ed. Rio de Janeiro: Textus, 2004, p. 222.  
25
Ver: John  Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 
19. 
26
D. M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 
1997, p. 97. “A santidade e a retidão do Seu ser eterno e do Seu caráter significam que Ele 
não pode ignorar o pecado. O pecado é uma realidade, um problema (...) até para Deus. É 
uma coisa que Ele vê e da qual tem que tratar, e assim manifesta a glória do Seu ser em Sua 
santidade e justiça” (D.M Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: Vol. 1), p. 51).
27
Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 48. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 6/14
 Deus é o  “Pai de misericórdias”  (2Co 1.3).
28
 As Escrituras declaram que Deus é 
benigno e misericordioso para com todos; até para com os  ingratos e maus, aos 
quais Deus manifesta a Sua bondade por meio da concessão de bênçãos temporais 
(Lc 6.35,36). 
A fonte de toda misericórdia está em Deus. Por isso Paulo pode saudar a Timóteo 
deste modo: “.... verdadeiro filho na fé, graça, misericórdia (e)/leoj = “compaixão”) e 
paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor” (1Tm 1.2).
29
  Do mesmo 
modo João: “A graça, a misericórdia (e)/leoj) e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e amor” (2Jo 3). 
 B. A Misericórdia que nos assiste: 
   Deus Se relaciona conosco em misericórdia. Ele é pleno de Seus atributos; 
portanto, rico em misericórdia por causa do seu grande amor:
30
“Eis que temos por 
felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e vistes que 
fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia  (oi)kti/rmwn) e 
compassivo” (Tg 5.11). 
 O salmista atento à obra de Deus, conclama: “Rendei graças ao Senhor, porque 
Ele é bom, porque a Sua misericórdia (חסד) (hesedh) dura para sempre” (Sl 118.1 = 
Sl 106.1; 107.1, etc.). Aqui há a compreensão de que toda a nossa relação com 
Deus baseia-se em Sua misericórdia.  
 Após a destruição de Jerusalém, Jeremias escreve:  “As misericórdias (חסד) 
(hesedh)  do Senhor são a causa de não sermos consumidos porque as suas 
misericórdias não têm fim” (Lm 3.22). Tudo que somos e temos pode ser resumido 
na “misericórdia eterna de Deus”, que se compadece de nós e propicia a nossa salvação. 
 No Salmo 130 encontramos o salmista numa situação extrema; ele não se ilude 
com soluções humanas; nenhuma metodologia de auto-ajuda o pode socorrer; por 
isso, pode dizer, do mais profundo de seu coração; das “profundezas” de sua situa-
ção: “....Clamo a Ti, Senhor” (Sl 130.1). Ele sabe perfeitamente a Quem se dirige. A 
sua experiência compartilhada é de esperar em Deus visto que Ele é o Deus misericordioso:  “
6
 A minha alma anseia pelo Senhor mais do que os guardas pelo romper 
da manhã. Mais do que os guardas pelo romper da manhã,  
7
 espere Israel no SENHOR, pois no SENHOR há misericórdia (חסד) (hesedh); nele, copiosa redenção” (Sl 
130.6-7). 
  
 Os servos de Deus sempre tiveram um conceito claro e abrangente da necessidade e realidade da misericórdia de Deus. Vejamos alguns testemunhos:  
                                           
28
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias (oi)ktimo/j) e 
Deus de toda consolação!” (2Co 1.3). 
29
Igualmente: “Ao amado filho Timóteo, graça, misericórdia (e)/leoj) e paz, da parte de Deus Pai e de 
Cristo Jesus, nosso Senhor” (2Tm 1.2). 
30
“Mas Deus, sendo rico em misericórdia (e)/leoj), por causa do grande amor com que nos amou” (Ef 
2.4). A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 7/14
a) A Bondade do Senhor está espalhada por toda Terra: “Ele ama a justiça e o direito; a terra está cheia da bondade (חסד) (hesed) do SENHOR” (Sl 33.5). (Do mesmo 
modo: Sl 119.64). 
b) A Misericórdia de Deus é eterna. O salmista pede a Deus  que em sua lembrança olhe para Ele com misericórdia:  “Lembra-te, SENHOR, das tuas misericórdias e das tuas bondades   (חסד) (hesed), que são desde a eternidade.  Não te lembres dos meus pecados da mocidade, nem das minhas transgressões. Lembra-te de 
mim, segundo a tua misericórdia (חסד) (hesed), por causa da tua bondade, ó SENHOR” (Sl 25.6-7). 
c) Davi pede a Deus que o livre, o salve pela sua misericórdia: “.... salva-me por 
tua graça (חסד) (hesed)” (Sl 6.4). (Do mesmo modo: Sl 31.16). 
d) O salmista reconhece como a misericórdia de Deus nos acompanha e, por isso, expressa o desejo de que assim seja: “Eis que os olhos do SENHOR estão sobre 
os que o temem, sobre os que esperam na sua misericórdia   (חסד) (hesed), para livrar-lhes a alma da morte, e, no tempo da fome, conservar-lhes a vida. Nossa alma 
espera no SENHOR, nosso auxílio e escudo. Nele, o nosso coração se alegra, pois 
confiamos no seu santo nome. Seja sobre nós, SENHOR, a  tua misericórdia (חסד) 
(hesed), como de ti esperamos” (Sl 33.18,22). “Bondade e misericórdia (חסד) (hesed) 
certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do SENHOR para todo o sempre” (Sl 23.6). 
  
e) A Misericórdia de Deus é preciosa e, aqueles que a reconhecem, refugiam-se 
em Deus: “Como é preciosa, ó Deus, a tua benignidade! (חסד) (hesed) Por isso, os 
filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas” (Sl 36.7). 
f) Davi sabe que o seu culto a Deus é resultante da riqueza da misericórdia de 
Deus:  “.... eu, pela riqueza da tua misericórdia (חסד) (hesed), entrarei na tua casa e 
me prostrarei diante do teu santo templo, no teu temor” (Sl  5.7).  
g) Deus responde as nossas orações devido à Sua misericórdia: “Quanto a mim, 
porém, SENHOR, faço a ti, em tempo favorável, a minha oração. Responde-me, ó 
Deus, pela riqueza da tua graça (חסד) (hesed); pela tua fidelidade em socorrer (...). 
Responde-me, SENHOR, pois compassiva é a tua graça (חסד) (hesed); volta-te para 
mim segundo a riqueza das tuas misericórdias” (Sl 69.13,16). 
h) Deus nos guarda e protege com a Sua misericórdia.  Davi escreve: “Muito sofrimento terá de curtir o ímpio, mas o que confia no SENHOR, a misericórdia (חסד) 
(hesed) o assistirá (סבב) (sabab)” (Sl 32.10). A palavra  assistir, que tem um amplo 
sentido literal e figurado, significa envolver, cercar,  contornar. Apenas para ilustrar, 
mencionamos que esta é a palavra usada para descrever as voltas que o exército de 
Israel deu sobre Jericó durante sete dias (Js 6.3,4,7,11,14,15). A idéia expressa é a 
de que Deus nos cerca, nos envolve por todos os lados com a Sua misericórdia. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 8/14
3. A MISERICÓRDIA DE DEUS E A NOSSA SALVAÇÃO: 
  
 A encarnação do Verbo de Deus é uma manifestação de Sua misericórdia para 
com os pecadores a fim de poder representá-los e socorrê-los:  “Por isso mesmo, 
convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso (e)leh/mwn) e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para 
fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hb 2.17). 
 Por isso em nossa proximidade de Cristo mais temos noção de Sua misericórdia: 
“Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia (e)/leoj) e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna”
(Hb 4.16). 
Como vimos, a misericórdia de Deus nunca anula a Sua justiça. A nossa justiça 
pode ser motivada por questões muitas vezes nobres, no entanto, circunscritas à 
nossa própria situação limitada de conhecimento da realidade. Portanto, devemos 
aprender a subordinar o nosso ardor de justiça à justiça de Deus, a qual é sempre 
santa e perfeita. Deus é soberano na manifestação de Sua misericórdia:  “
14
Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! 
15
 Pois ele diz a 
Moisés: Terei misericórdia de (e)lee/w  =  “mostrar misericórdia”, “compadecer-se”)
quem me aprouver ter misericórdia (e)lee/w) e compadecer-me-ei (oi) kti/zw) de quem 
me aprouver ter compaixão (oi)kti/zw).  
16
 Assim, pois, não depende de quem quer 
ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia (e)lee/w ou e)lea/w).
31
  (...) 
18
 Logo, tem ele misericórdia de (e)lee/w) quem quer e também endurece a quem lhe 
apraz” (Rm 9.14-16,18). 
 A nossa salvação é uma eloquente demonstração do amor misericordioso de 
Deus. Por isso a salvação é atribuída inteiramente à Sua misericórdia  que vem ao 
nosso encontro nos atraindo para Si em Cristo, nos dando vida, nos transformando e 
nos concedendo uma viva esperança fundamentada na obra de Seu Filho. Neste 
sentido, Paulo escreve a Tito falando do amor de Deus, acentuando que a nossa 
salvação não foi por causa de algum suposto valor inerente a nós ou a alguma obra 
meritória: “Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia (e)/leoj), ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito 
Santo” (Tt 3.5).  
Paulo, recordando envergonhado qual fora o seu comportamento antes de conhecer a Cristo, como implacável e arrogante perseguidor da Igreja, realça a misericórdia de Deus em atraí-lo:  “
12
 Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo 
Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério,  
13
 a 
mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia (e)lee/w), pois o fiz na ignorância, na incredulidade.  
14
 Transbordou, porém, a 
graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus.  
15
 Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.  
16
 Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia (e)lee/w), para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a 
                                           
31
 Há aqui uma variante textual. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 9/14
sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele 
para a vida eterna” (1Tm 1.12-16).
  
  Na Epístola aos Coríntios, Paulo bendiz a Deus considerando o fato de que é Ele 
quem nos conforta em toda a nossa tribulação, fazendo o  que Lhe é próprio, visto 
que é o “Pai de misericórdias”: “Bendito seja (Eu)loghto\j)
32
o Deus e Pai de nosso 
Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias (oi)ktimo/j) e Deus de toda consolação!”
(2Co 1.3). 
  
 Do mesmo modo Pedro bendiz a Deus considerando a nossa regeneração efetuada pela “muita misericórdia” de Deus, para que tenhamos uma viva esperança por 
intermédio da ressurreição de Cristo: “Bendito (Eu)loghto\j) o Deus e Pai de nosso 
Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia (e)/leoj), nos regenerou 
para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos”
(1Pe 1.3).  
 Pedro dirigindo-se às igrejas da Dispersão, enfatiza a misericórdia de Deus que 
os alcançou conferindo-lhes a condição de povo de Deus: “Vós, sim, que, antes, não 
éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia
(e)lee/w), mas, agora, alcançastes misericórdia (e)lee/w)” (1Pe 2.10).  
 A nossa salvação futura está depositada totalmente na misericórdia de Deus: 
“Guardai-vos no amor de Deus, esperando a misericórdia (e)/leoj) de nosso Senhor 
Jesus Cristo, para a vida eterna” (Tg 1.21). 
4. OS MISERICORDIOSOS: A MISERICÓRDIA COMPARTILHADA: 
 A misericórdia de Deus não é estéril, antes, deve estimular-nos ao serviço obediente. Paulo considerando a ação misericordiosa de Deus em prover a salvação (Rm 
11), roga
33
 aos romanos, “pelas misericórdias  (oi)ktirmo/j) de Deus” (Rm 12.1), que 
O cultuem com integridade.  
 O apelo de Paulo era frequentemente fundamentado numa questão teológica;
34
não se amparava simplesmente em sua idoneidade ou autoridade, antes em Deus 
mesmo. Aqui ele roga pelas misericórdias de Deus (Rm 12.1/1Ts 2.12).   
                                           
32
A palavra bendito, (Eu)loghto\j = “louvado”, “bem-aventurado”) (Hebraico: Baruk; Latim: Benedictus) ocorre 8 vezes no Novo Testamento e é sempre usada para Deus (Mc 14.61; Lc 1.68; Rm 1.25; 
9.5; 2Co 1.3; 11.31; Ef 1.3; 1Pe 1.3). Somente Deus é Bendito, Aquele que deve ser louvado. 
33
O verbo  rogar (parakale/ w) tem o sentido de:  implorar (Mt 8.5; 18.29), suplicar (Mt 18.32); exortar (Lc 3.18; At 2.40; 11.23); conciliar (Lc 15.28); consolar (Lc 16.25; 15.32; 1Ts 5.11; 2Ts 2.17); confortar  (At 16.40; 2Co 1.4; 7.6);  contemplar  (2Co 1.4);   convidar  (At 8.31);  pedir  (At 9.38; 1Co 4.13; 
16.15);  pedir desculpas  (At 16.39);  fortalecer (At 20.2,12);  solicitar  (At 25.2; Fm 9,10);  chamar  (At 
28.20); admoestar (1Co 4.16; Hb 10.25); recomendar (1Co 16.12; 2Co 8.6; 9.5; 1Tm 6.2). 
34
 Assim ele o faz  pelas misericórdias de Deus (Rm 12.1/1Ts 2.12) e pelo Senhor Jesus (Rm 15.30; 
1Co 1.10; Fp 4.2). Como cooperador de Deus exorta a que os coríntios não recebam em vão a graça 
de Deus (2Co 6.1); roga também pela mansidão e benignidade de Cristo (2Co 10.1). A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 10/14
 Como novas criaturas que somos em Cristo Jesus (Cl 3.10),
35
 a misericórdia deve ser um dos ingredientes fundamentais em todas as nossas relações; deve ser a 
nossa vestimenta:  “Revesti-vos (e)ndu/w),
36
 pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia (oi) ktirmo/j), de bondade, de humildade, de 
mansidão, de longanimidade” (Cl 3.12).  
Vejamos exemplos e princípios: 
 A. Misericórdia e Intercessão:  
  A misericórdia é uma concessão de Deus; ninguém pode reivindicar misericórdia; ela não é merecida, senão não seria misericórdia.
37
 Podemos e devemos  esperar e suplicar a misericórdia de Deus inclusive em nossas intercessões. Paulo intercede pelo seu leal amigo, Onesíforo, bem como pela sua família:   “Conceda o Senhor misericórdia (e)/leoj) à casa de Onesíforo, porque, muitas vezes, me deu ânimo 
e nunca se envergonhou das minhas algemas 
17
 antes, tendo ele chegado a Roma, 
me procurou solicitamente até me encontrar. 
18
 O Senhor lhe conceda, naquele Dia, 
achar misericórdia (e)/leoj) da parte do Senhor. E tu sabes, melhor do que eu, quantos serviços me prestou ele em Éfeso” (2Tm 1.16-18). 
 B. Misericórdia Prática e Agregadora: 
    
   O Senhor deseja que não apenas sintamos misericórdia, mas que a exercitemos para com o nosso próximo; tenhamos atos de misericórdia. É isto o que Ele diz 
aos fariseus que se indignaram do Senhor comer com “publicanos e pecadores”: “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia (e)/leoj) quero e não holocaustos; 
pois não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento” (Mt 9.13).
38
 A prática da misericórdia não pode ser substituída por outros gestos ou atitudes. 
Ela não é um ingrediente optativo da vida cristã. É desta forma que Jesus recrimina 
e instrui  a alguns dos religiosos de seu tempo:  “Ai de vós, escribas e fariseus, hipó-
critas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia (e)/leoj) e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mt 23.23). 
                                           
35
“E vos revestistes do novo homem que se refaz para  o pleno conhecimento, segundo a imagem 
daquele que o criou” (Cl 3.10).
36
e)ndu/w tem o sentido literal de “vestir-se” (Mt 6.25; 27.31; Mc 1.6; Lc 15.22; At 12.21) e, quase que 
exclusivamente em Paulo: a aplicação figurada de “revestir-se”: a) De poder (Lc 24.49); b) Das armas 
da luz (Rm 13.12); c) Do Senhor Jesus (Rm 13.14; Gl 3.27); d) Do novo homem (Ef 4.24; Cl 3.10); e) 
De toda armadura de Deus (Ef 6.11,14); f) De ternos afetos (Cl 3.12); g) Da couraça da fé e amor 
(1Ts 5.8). A palavra descreve também a nossa ressurreição como um revestimento de imortalidade e 
incorruptibilidade (1Co 15.53-54). 
37
“Falar sobre misericórdia merecida é uma contradição de termos”  (A.W. Pink, Deus é Soberano, Atibaia, SP.: FIEL, 1977, p. 23). 
38
 Do mesmo modo, veja-se: Mt 12.7. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 11/14
 Para com aqueles que titubeiam em sua fé devemos usar de misericórdia para 
poder ajudá-los em sua fraqueza. Parece-nos ser isto o que recomenda Judas:  “E 
compadecei-vos de   (e)lee/w   ou   e)lea/w)
39
alguns que estão na dúvida” (Jd 22/Gl 
6.1).
40
 C. Misericórdia Aprendida em lugares insuspeitos: 
  Atos de misericórdia devem ser aprendidos com todos. Aos judeus tão confiantes de sua superioridade étnica e religiosa,  por meio do diálogo com um mestre da 
lei que queria tentá-lo (Lc 10.25), Jesus os ensina a procederem conforme o samaritano da parábola, fazendo uma pergunta ao seu interlocutor: “Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?” (Lc 10.36). 
Obtendo a resposta: “O que usou de misericórdia  (e)/leoj) para com ele” (Lc 10.37). 
A partir da identificação dos atos de socorro do samaritano para com aquele homem 
ferido, como misericórdia, Jesus arremata: “Vai e procede tu de igual modo” (Lc 
10.37). Em outras palavras, podemos aprender até mesmo  com os samaritanos o 
significado da misericórdia. 
 D. Misericórdia como motivo de alegria compartilhada: 
    1) Quando a piedosa Isabel, estéril e já idosa (Lc 1.7),
41
 por intervenção divina concebeu o seu filho, João Batista, seus vizinhos e parentes se alegraram com 
ela reconhecendo a misericórdia de Deus: “Ouviram os seus vizinhos e parentes que 
o Senhor usara de grande misericórdia (e)/leoj) para com ela e participaram do seu 
regozijo”  (Lc 1.58). Deus é bom; devemos nos alegrar com a alegria de nossos irmãos. 
2) A misericórdia de Deus deve ser anunciada. Ao homem que estivera endemoniado e fôra liberto por Jesus, desejando permanecer com o Senhor, este não o permitindo, lhe diz:  “Vai para tua casa, para os teus. Anuncia-lhes tudo o que o Senhor 
te fez e como teve compaixão  de  (e)lee/w) ti” (Mc 5.19).
3) A misericórdia de Deus da qual somos alvo, deve ser socializada em nossas 
relações. Na parábola do “credor incompassivo”, o Senhor recrimina aquele servo 
que sendo perdoado em sua grande dívida pela misericórdia de seu credor, não usou de critério semelhante para com aquele que lhe devia bem menos, antes o lan-
çou na prisão. Deste modo, arremata: “Não devias tu, igualmente, compadecer-te do
(e)lee/w) teu conservo, como também eu me compadeci de (e)lee/w) ti?” (Mt 18.33). A 
misericórdia é mãe do perdão. Evidenciamos que fomos perdoados aprendendo a 
perdoar, a manifestar misericórdia. 
  
                                           
39
 Aqui há uma variante textual. 
40
“Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito 
de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado” (Gl 6.1). 
41
“E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, sendo eles avançados em dias” (Lc 1.7). A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 12/14
4) A misericórdia deve ser exercida não com tristeza ou espírito de superioridade, 
antes, com alegria, “prontidão de mente”: “.... o que exorta faça-o com dedicação; o 
que contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia (e)lee/w), com alegria” (Rm 12.8). 
 Todavia, Calvino  (1509-1564) constata com tristeza: 
“Quase ninguém é capaz de dar uma miserável esmola sem uma atitude de arrogância ou desdém. (...) Ao praticar uma caridade,  os cristãos 
deveriam ter mais do que um rosto sorridente, uma expressão amável, 
uma linguagem educada.  
 “Em primeiro lugar, deveriam se colocar no lugar daquela pessoa que 
necessita de ajuda, e simpatizarem-se com ela como se fossem eles mesmos que estivessem sofrendo. Seu dever é mostrar uma verdadeira humanidade e misericórdia, oferecendo sua ajuda com espontaneidade e rapidez como se fosse para si mesmos. 
“A piedade que surge do coração fará com que se desvaneça a arrogância e o orgulho, e nos prevenirá de termos uma atitude de reprovação 
ou desdém para com o pobre e o necessitado”.
42
 Em nossa beneficência, nada devemos esperar em troca, ainda que esta seja 
uma prática comum. Aliás, “quando damos nossas esmolas, nossa mão esquerda deve ignorar o que a mão direita fez”.
43
  Comentando o Salmo 68 enfatiza 
que o Deus da glória é também o Deus misericordioso; em seguida observa a atitude 
pecaminosa comum aos homens:  “Geralmente distribuímos nossas atenções 
onde esperamos nos sejam elas retribuídas. Damos preferência a posição e 
esplendor, e desprezamos ou negligenciamos os pobres”.
44
 E quanto à ingratidão tão comum ao gênero humano? Bem, em nossa ajuda aos nossos irmãos não 
devemos nos preocupar com isso, visto que “ainda que os homens sejam ingratos, de modo que pareça termos perdido o que lhes damos, devemos perseverar em fazer o bem”.
45
 E mais: “.... não dependemos da gratidão humana, 
e, sim, de Deus que Se coloca no lugar do pobre como devedor, para que 
um dia venha restituir-nos cheio de solicitude, tudo quanto distribuímos....”.
46
                                           
42
João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo: Novo Século, 2000, p. 39. 
43
John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan:  Baker Book House Company, 1996 
(Reprinted), Vol. XVIII, (At 5.1), p. 196.
44
João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 68.4-6), p. 645. 
45
 João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 8.10), p. 173. “É realmente verdade que não há nada que fira tanto os que possuem uma disposição mental ingênua que quando os perversos e ímpios os recompensam de forma um tanto desonrosa e 
injusta. Mas quando ponderam sobre esta consoladora consideração, de que Deus não é 
menos ofendido com tal ingratidão do que aqueles a quem se faz a injúria, eles não têm 
nenhuma justificativa de se magoarem com tanto excesso” (João Calvino, O Livro dos Salmos,
Vol. 2, (Sl 38.19-20), p. 192). 
46
 João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996,  (1Co 16.2), p. 500. A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 13/14
5) A sabedoria cristã se revela em atos de misericórdia. Paulo escreve aos Romanos falando de seu desejo quanto àqueles irmãos: “.... quero que sejais sábios
(sofo/j) para o bem e símplices para o mal” (Rm 16.19). Tiago, descrevendo a sabedoria concedida por Deus, diz que ela é plena de misericórdia:  “A sabedoria  (sofi/a), porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, 
plena de misericórdia (e)/leoj) e de bons frutos, imparcial, sem fingimento” (Tg 3.17).  
6) Os diáconos devem ser vistos como braços da misericórdia de Deus em favor 
do Seu povo carente; eles exercem, em parte, o “socorro” de Deus para com o Seu 
povo (1Co 12.28):
47
“Os diáconos representam a Cristo em seu ofício de misericórdia, e o exercício da misericórdia está vinculado com o consolo dos aflitos”.
48
“Nisto consiste o ofício dos diáconos: Devem demonstrar solicitude 
pelos pobres e  atender às suas necessidades”.
49
  
CONSIDERAÇÕES FINAIS:  
1) Deus nos perdoa não porque seja obrigado, mas, porque Ele é misericordioso;
50
 Ele olha para o nossa estado de miséria espiritual e livremente se compadece de nós e nos alivia, nos perdoando os pecados, apagando toda a nossa iniquidade. O salmista escreve: "Ele, porém, que é misericordioso, perdoa a 
iniqüidade, e não destrói; antes muitas vezes desvia a sua ira, e não dá largas 
a toda a sua indignação" (Sl 78.38). Daniel em sua oração tem a mesma percepção: "Inclina, ó Deus meu, os teus ouvidos, e ouve; abre os teus olhos, e 
olha para a nossa desolação, e para a cidade que é chamada pelo teu nome, 
porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas 
justiças, mas em tuas muitas misericórdias" (Dn 9.18). 
2) A misericórdia de Deus deve servir de medida para a nossa misericórdia. Daí o 
ensino de Jesus Cristo: “
35
 Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo. Pois ele é benigno até para com os ingratos e maus.  
36
 Sede 
misericordiosos (oi(kti/ rmwn), como também é misericordioso (oi(kti/rmwn) vosso Pai” (Lc 6.35-36). No exercício da misericórdia aprendida de Cristo, nos beneficiamos, crescemos:  “O homem bondoso   (חסד) (hesedh) faz bem a si 
mesmo, mas o cruel a si mesmo se fere” (Pv 11.17). 
3) Nas bem-aventuranças somos desafiados a aprender a ser humildes, a chorar, 
sermos mansos e a buscar intensamente a justiça. Quando isso se concretiza 
                                           
47
“A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” (1Co 12.28). 
48
R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan:  SLC., 1985, p. 141. 
49
João Calvino, As Institutas, (1541), IV.13. 
50
“A misericórdia não é um direito ao qual o homem faz jus. A misericórdia é aquele atributo 
adorável de Deus, pelo qual tem dó dos miseráveis e os alivia.” (A.W. Pink, Deus é Soberano,
p. 23).A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 14/14
em nós, podemos naturalmente sentir e exercitar a misericórdia.
51
4) Uma das características do homem entregue a si mesmo, é a falta de misericórdia:  “insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia”
(a)/neleh/mwn)(Rm 1.31). 
5) A ausência de misericórdia reflete a pequena ou total ausência de consciência 
da misericórdia de Deus para conosco, pecadores condenados. Aqueles que 
não exercem misericórdia, não esperem também a misericórdia de Deus.  
“Porque o juízo é sem misericórdia (a)ne/leoj) para com aquele que não usou 
de misericórdia (e)/leoj). A misericórdia  (e)/leoj) triunfa sobre o juízo” (Tg 2.13). 
“Nada nos impulsiona mais ao perdão do que o maravilhoso conhecimento de que nós mesmos fomos perdoados. Nada prova mais claramente que formos perdoados do que a nossa própria prontidão  em 
perdoar”.
52
  
       São Paulo, 16 de maio de 2010.  
       Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa 
  
                                           
51
 Ver: John MacArthur Jr., O Caminho da Felicidade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 115. 
52
 John R.W. Stott,  A Mensagem do Sermão do Monte, 3ª ed. São Paulo: ABU, 1985, p. 38




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"A conversão tira o cristão do mundo; a santificação tira o mundo do cristão." JOHN WESLEY"

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Alimentar-se da Palavra "Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração." (Hebreus 4 : 12).Erram por não conhecer as Escrituras, e nem o poder de Deus (Mateus 22.29)Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo. Apocalipse 1:3

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