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13 de jan. de 2011

Somos Noiva, Esposa ou um Caso de Cristo?


Os capítulos 18 e 19 de Apocalipse expressão grandes contrastes entre si.

Se Apocalipse 18 é o capítulo dos “ais”, Apocalipse 19 é o capítulo dos “aleluias”. Depois de anunciar a queda da Babilônia, chegara a hora de exultar, pois a prostituta cedera lugar à virgem noiva do Cordeiro, a Nova Jerusalém.

A exemplo do que aconteceu à rainha Vasti, que fora destituída por não atender ao chamado do Rei Assuero, e substituída por Ester, Deus divorciou-se de Israel, para contrair novas núpcias com Seu novo povo, a Igreja.

Tal divórcio já havia sido predito: “Dei carta de divórcio à infiel Israel e a despedi, por causa dos seus adultérios” (Jer.3:8a). Talvez seja este um dos motivos porque Deus odeia o divórcio. Ele passou por um, e sabe o quanto dói.

Mas, uma vez divorciado, Ele estava livre para casar-Se novamente. A Nova Aliança nada mais é do que novas núpcias entre Deus e o Seu povo.

Jerusalém, a esposa infiel de Yahweh, fora finalmente julgada, recebendo a sentença prescrita na Lei.[1] Agora, o caminho estava plenamente aberto para que Deus acolhesse àquela que seria Seu novo Israel, Sua nova Jerusalém.

Embora o juízo de Deus sobre Jerusalém tenha tardado cerca de 40 anos após a Cruz, seu divórcio se deu no momento em que Cristo expirou. De acordo com a Lei, somente a morte de um dos cônjuges seria capaz de dissolver os laços do matrimônio. Com a morte de Cristo, Jerusalém ficou viúva. Apocalipse 19:7 diz que a Grande Babilônia dizia em seu coração: “Estou assentada como rainha, e não viúva, e de modo algum verei o pranto”. Pobre cidade! Cumpriu-se cabalmente nela o que fora profetizado em forma de lamentação pelo profeta Jeremias:

“Como jaz solitária a cidade, outrora tão populosa! Tornou-se como viúva, a que foi grande entre as nações! A princesa entre as províncias tornou-se escrava!” (Lm.1:1).

Viúva e escrava! Não foi em vão que Paulo chama a Jerusalém de seus dias de“escrava juntamente com seus filhos” (Gl.4:25).

Antes de ser anunciada as bodas do Cordeiro, encontramos a expressão “aleluia”por quatro vezes.

O primeiro “aleluia” parte de uma numerosa multidão, e é porque “a salvação e a glória e a honra e o poder pertencem ao nosso Deus, pois verdadeiros e justos são os seus juízos”. Portanto, trata-se da celebração da justiça de Deus. Enquanto o motivo da celebração é explicado, um segundo aleluia, como que espontâneo, é ouvido. Afinal, a causa dos mártires, profetas e apóstolos, era vindicada. A grande prostituta havia sido julgada. O terceiro “aleluia” vem precedido por um sonoro “amém”, e é proferido pelos lábios de seres celestiais. O que indica uma perfeita harmonia entre o céu e a terra. Como dissera Jesus, o que fosse concordado na terra, teria sido concordado no céu. Esse terceiro “aleluia” vem acompanhado de uma exortação:“Louvai o nosso Deus, vós, todos os seus servos, e vós que o temeis, assim pequenos como grandes” (v.5). Agora, o coral estava a postos, e reunia vozes oriundas de todos os cantos do Universo, grandes e pequenos, visíveis e invisíveis, celestiais e terrenos.

O último “aleluia” parece ser dito em uníssono pelos habitantes da terra e do céu, pois a voz que o pronunciava era “como a de uma grande multidão, como a voz de muitas águas, e como a voz de fortes trovões” (v.6). Tudo isso pra dizer: “Aleluia! Pois já reina o Senhor nosso Deus, o Todo-poderoso. Regozijemo-nos, e exultemos, e demos-lhe a glória! Pois são chegadas as bodas do Cordeiro, e já a sua noiva se aprontou. Foi-lhe dado que se vestisse de linho fino, resplandecente e puro. O linho fino são os atos de justiça dos santos” (vv.6-7).

Para muitos intérpretes, as Bodas do Cordeiro são um evento futuro, que se concretizará quando Cristo vier em glória para encontrar-Se com a Sua Noiva. Temos, porém, fortes razões para acreditarmos que o casamento entre Cristo e a Sua Igreja já ocorreu.

Para entendermos melhor esta questão, precisamos compreender alguns costumes judaicos que remontam o tempo dos patriarcas. Segundo as tradições, o enlace matrimonial se dava em três estágios, conhecidos por Shiduchin, Erusin e Nissuin. 

O Shiduchin era o primeiro passo no processo do casamento, sendo os arranjos preliminares legais. Geralmente, cabia ao pai do noivo escolher uma noiva para se filho. O casamento era visto como um ato de ligação de famílias, tendo, às vezes um objetivo político. Às vezes o pai do noivo delegava essa função a um Shadkhan (uma espécie de agente casamenteiro).[2] Tão logo a noiva era encontrada, o próximo passo do Shiduchin era a apresentação da proposta do Ketubah (“escrito” ou “recibo”, ou ainda, “testamento” ou “contrato”). A Ketubah incluía as provisões, promessas e condições propostas para o casamento. Era um tipo de acordo pré-nupcial, ou um contrato de casamento. Nesse momento, o noivo promete sustentar sua futura esposa, e o pai da noiva estipula o valor de seu dote. O processo só prossegue depois que o noivo assume o compromisso de pagar o preço estipulado.

O pagamento do dote, e assinatura do Ketubah inaugurava o segundo estágio, o Erusin (desposar), também chamado de Kidushin (santificar). Antes, porém, da cerimônia do Erusin, realizada sob uma tenda (huppah), era comum a noiva e o noivo participarem de um ritual separado de imersão na água (mikveh/batismo), que representava uma limpeza espiritual. O compromisso era assumido e celebrado em uma refeição memorial com pão e vinho.

O Erusin/Kidushin equivaleria a um tipo de noivado, mas que não podia ser rompido, só mediante um divórcio. A seguir a noiva recebia um presente do noivo que selava o compromisso entre os dois. O noivo então partia para construir uma casa para a noiva, enquanto ela preparava um lindo vestido de casamento como um símbolo de santidade e dedicação ao esposo. Após algum tempo então, quando a casa estivesse pronta, o noivo voltava no meio da noite, ao grito "Eis o noivo!"[3] e também ao toque do shofar (trombeta), e levava a noiva para a câmara nupcial (cheder) onde então o casamento era consumado. No erusin, os nubentes já estavam plenamente comprometidos mutuamente, mas a consumação só se daria tempos depois, no terceiro estágio do casamento, chamado de Nissuin, quando a noiva seria tirada da casa dos pais, para coabitar com o seu marido.[4] A lua de mel no Cheder durava um período de sete dias. Após estes sete dias o casal deixava o Cheder e celebrava as bodas com os convidados, em uma grande festa com banquete, dança e celebração, que durava sete dias.

A celebração do Nissuin tem seu ápice quando os noivos compartilham de uma taça de vinho em um brinde chamado de sheva b’rakhot, que significa “Sete bênçãos”, ou “Plenitude da Bênção”. Essa taça difere da que é tomada no Erusin.

Entre Deus e Israel, o Shiduchin aconteceu quando Deus chamou a Abraão. Ali Ele fez as promessas, comprometendo-Se com a descendência do patriarca. Séculos mais tarde, Yahweh enviou Moisés ao encontro de Sua amada, como um Shadkhan.

O Erusin/Kidushin se deu quando o Cordeiro Pascal foi imolado, e os hebreus foram retirados do Egito, sendo “batizados” na atravessia do Mar Vermelho. Cinqüenta dias depois, aos pés do Monte Sinai, ocorreu o Nissuin, com a outorga da Lei por intermédio de Moisés.

Entre Cristo e a Igreja não foi diferente. Podemos identificar o Shiduchin com o momento em que Cristo desceu às águas batismais. João Batista foi o Shadkhan, o amigo do noivo, aquele que introduziu a noiva ao noivo. E isso ele fez quando exclamou: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.

O Erusin/Kidushin se deu na Cruz, quando Cristo pagou o dote por Sua noiva. Paulo diz que Cristo amou a sua igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, a fim de apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”(Ef.5:25b-27). Lembre-se que “Kidushin” significa “santificar”. Na noite anterior à Cruz, Ele assumiu o compromisso, e tomando o cálice e o pão, firmou os termos do Novo Testamento, a Ketubah. E prometeu aos Seus discípulos, que o próximo cálice que eles tomariam, seria no Reino de Deus. Por isso, Paulo identifica o cálice tomado pelos crentes na Ceia do Senhor como o “cálice da bênção” (1 Co.10:16). Eis mais uma forte evidência de que estamos vivendo no Reino de Deus. Fomos transportados do império das trevas, para o Reino do Filho do Seu Amor. Por isso, o cálice de que hoje bebemos, é o cálice, não do Erusin, mas do Nissuin. É o cálice das “sete bênçãos”, ou simplesmente, da “plenitude da bênção”. Era essa a certeza de Paulo ao avisar que chegaria a Roma “com a plenitude da bênção de Cristo” (Rm.15:29). Fomos abençoados com “toda a sorte de bênçãos”, e não apenas algumas.

Nosso Nissuin se deu em Pentecostes. Ali nosso casamento com Cristo foi consumado.
Se nosso casamento com Cristo ainda não alcançara esse estágio, teremos que concluir que Ele ultrapassou o sinal vermelho, cometendo fornicação com a Sua noiva. Por que afirmo isso? Porque em Pentecostes, o Espírito de Cristo foi profusamente derramado sobre a Sua Esposa. Houve uma junção espiritual entre Cristo e a Igreja, análoga à junção carnal entre marido e mulher, quando usufruem da plenitude dos direitos conjugais.

A partir de Pentecostes, todo aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele, assim como marido e mulher se tornam uma só carne ao se unirem conjugalmente (1 Co.6:17).
Portanto, as Bodas do Cordeiro não são um evento futuro, mas já realizado.

Alguém poderá argumentar, dizendo que, se as Bodas já aconteceram, então, já deveríamos ter sido tirados daqui, e levados para o céu. Afinal, Cristo foi preparar lugar para a Sua noiva, porém, não voltou ainda para buscá-la para seu novo lar. Defendemos, porém, que isso também já ocorreu. Ele voltou para nós, quando enviou-nos o Seu Espírito, para que onde Ele estivesse, estivéssemos também. Ao derramar do Seu Espírito, Ele nos fez assentar nas regiões celestiais, e é nessas regiões (céu), que somos abençoados com toda sorte de bênçãos. Por isso, Paulo testifica que agora mesmo, estamos assentados nas regiões celestiais em Cristo Jesus (Ef.2:6).

Lembremo-nos que nosso “novo lar” é a Nova Jerusalém, e de acordo com Hebreus 12:22, já adentramos os seus portões, tendo chegado “a Jesus, o Mediador de uma nova aliança”(v.24). Ele nos desarraigou desse mundo.

Trata-se de algo espiritual, que foge aos sentidos carnais. Nossa lua-de-mel começou em Pentecostes, e só vai terminar quando Cristo vier em glória, para revelar Sua Esposa ao Mundo. Sairemos de nossa câmara nupcial, para nos revelar ao Mundo. Dar-se-á início ao Banquete das Bodas do Cordeiro.

O que ainda está por vir não é o casamento entre Cristo e Sua Igreja, e sim o Banquete das Bodas do Cordeiro.


[1] Pela lei, uma mulher adúltera deveria ser apedrejada e queimada.
[2] Encontramos um exemplo disso no episódio em que Abraão envia seu servo Eliesér em busca de uma noiva para seu filho Isaque (Gn.24:1-4).
[3] Na cerimônia tradicional judaica, o rabino fica no meio da tenda (huppah), e antes do noivo começar sua marcha, ele diz: “Baruch Habah B’shem Adonai”, que significa “Bendito é aquele que vem em nome do Senhor”.
[4] Foi por causa desse costume, que José não havia tido relações com Maria ainda, mesmo sendo “casados”. Era necessário que José esperasse o tempo certo, para o nissuin.

Hermes C. Fernandes

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