- O bendito e único Soberano (1Tm 6.15,16). Esses títulos de honra são usados com o fim de exaltar o poder de Deus como Soberano, para que os nossos olhos não sejam ofuscados pelo esplendor dos príncipes deste mundo. Esta instrução era especialmente necessária naquele tempo em que a grandeza e o poder de todos os reinos tendiam a obscurecer a majestade e a glória de Deus. Porquanto, todos os homens poderosos eram não só mortais inimigos do reino de Deus, senão que também viviam arrogantemente atacando a Deus e pisoteando o seu santo Nome debaixo da planta de seus pés. E quanto mais orgulhosamente derramavam seu escárnio sobre a genuína religião, mais bem sucedidos imaginavam ser. Em tal circunstância, quem não ousaria chegar à conclusão de que Deus era miseravelmente vilipendiado e oprimido? Vemos emPro Flacco de Cícero a que píncaros de insolência ele atinge contra os judeus em virtude de seu miserável estado. Quando as pessoas de coração benevolente contemplam os ímpios tão entumecidos pela prosperidade, sentem-se às vezes sucumbidas; portanto, para que volvessem seus olhos desse fugaz esplendor, Paulo atribui unicamente a Deus a bem-aventurança, a soberania e o poder real. Ao chamá-lo, o único Soberano, o apóstolo não está destruindo o governo civil, como se não houvesse magistrados ou reis no mundo; sua intenção era que somente Deus é quem governa em seu direito e poder inerentes. Tal coisa se deduz da próxima frase que é adicionada à guisa de explicação.
Rei dos reis e Senhor e senhores. O apóstolo quer dizer que os poderes deste mundo estão sujeitos ao seu supremo domínio, dependem dele e ficam de pé ou caem ao sabor de seu arbítrio. A autoridade de Deus está além de toda e qualquer comparação, visto que tudo o mais é nulidade diante de sua glória; e enquanto murcham e subitamente perecem, a autoridade divina durará de eternidade a eternidade.
O único que possui a imortalidade. Paulo, aqui, está preocupado em demonstrar que à parte de Deus não há felicidade alguma, nem dignidade, nem excelência, nem vida. Ele agora afirma que Deus é o único imortal, que devemos saber que nós, bem como todas as criaturas, não possuímos vida inerente em nós mesmos, senão que a recebemos dele. Daqui se deduz que quando buscamos a Deus como a fonte da imortalidade, devemos mirar esta presente vida como algo de nenhum valor. No entanto, pode suscitar-se a seguinte objeção: a imortalidade pertence às almas humanas e aos anjos, e assim não se pode dizer que ela pertença exclusivamente a Deus. Minha resposta é que Paulo não está negando que Deus confira imortalidade a algumas de suas criaturas como lhe apraz; mas é ainda verdade que unicamente ele a possui. É como se o apóstolo dissesse que Deus não só é o único ser inerentemente e por sua própria natureza imortal, mas também que ele tem a imortalidade em seu poder, de modo que ela não pertence às criaturas, senão até ao ponto em ele lhes comunica energia e poder. Pois se o leitor afastar a energia divina que é instilada na alma humana, ela imediatamente se desvanecerá; e o mesmo se dá no tocante aos anjos. Portanto, estritamente falando, a imortalidade não tem sua sede nas almas, quer dos homens, quer dos anjos, senão que é procedente de outra fonte - a secreta inspiração de Deus, como se acha expressa em Atos 17.28: "Nele vivemos, nos movemos e existimos." Se alguém desejar unia abordagem mais completa e mais detalhada desse tema, recomendo que leia o décimo segundo capítulo de a Cidade de Deus, de Agostinho.
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