Um comentário a respeito de Karl Marx me deixou a pensar sobre como as idéias moldam a vida. "Marx causou mais impacto nos eventos atuais, bem como na mente de homens e mulheres, do que qualquer outro intelectual nos tempos modernos. A razão para isso não é principalmente a atração de seus conceitos e metodologia, e sim o fato de que a filosofia dele tem sido institucionalizada em dois dos maiores países do mundo: Rússia e China". Em outras palavras, um dos fatores que preservam e prolongam a influência de idéias é o serem elas institucionalizadas.
Um exemplo espiritual deste fato é a teologia de Princeton (a visão reformada, calvinista, centralizada em Deus, fundamentada nas Escrituras e ensinada por homens como B. B. Warfield e Charles Hodge). Mark Noll destaca que "a teologia de Princeton fluiu da mente de seus representantes, mas jorrou para outros lugares por meio de instituições que transcenderam amplamente tais indivíduos". As instituições que Mark Noli tinha em mente era o próprio Seminário de Princeton (por mais de cem anos), a Universidade de Princeton (por grande parte do século dezenove), vários jornais estudantis de Princeton e a Igreja Presbiteriana. Durante quase cem anos (antes das influências da moderna falta de confiança nas Escrituras), essas instituições incorporavam e propagavam a visão teocêntrica e bíblica dos fundadores.
Surge a pergunta: o avanço da influência da verdade bíblica por meio de instituições humanas faz parte da vontade de Deus revelada nas Escrituras? Ou seja, falo de instituições como seminários, facul¬dades, escolas evangélicas, agências missionárias, editoras, compa¬nhias de teatro, boletins, hospitais, instituições de amparo, grupos musicais, centros de aconselhamento, conferências, acampamentos, jornais, associações evangelísticas, rádio e televisão.
A razão da urgência desta pergunta é que as instituições desenvolvem, por natureza, um poder auto-sustentável, oposto ao poder sustentador por parte de Deus. Existem expectativas humanas, empregados humanos, procedimentos, tradições, dinheiro, poder intelectual, propriedades, facilidades, reputação e uma clientela. Tudo isso pode fazer com que uma instituição continue funcionando, mesmo quando o Espírito Santo já se retirou. Deste modo, as instituições evangélicas podem se tornar contradições e artificialidades do poder divino que havia antes.
A Bíblia adverte repetidas vezes contra o confiar em poderes residentes na cultura humana (poder institucional). Por exemplo, Salmos 33.17: "O cavalo não garante vitória; a despeito de sua grande força, a ninguém pode livrar". Não podemos confiar no poder da instituição militar para dar livramento.
Por outro lado, a Bíblia não afirma que as instituições são, por esse motivo, más ou inúteis. Provérbios 21.31 declara: "O cavalo prepara-se para o dia da batalha, mas a vitória vem do SENHOR". Reconhecer que as instituições não constituem a força decisiva para o triunfo não significa que elas não são forças.
Deus nunca mandou Israel abolir seu exército, mas advertiu constantemente o povo a não confiar no exército, quando saíam à batalha. "Ai dos que descem ao Egito em busca de socorro e se estribam em cavalos; que confiam em carros, porque são muitos, e em cavaleiros, porque são mui fortes, mas não atentam para o Santo de Israel, nem buscam ao SENHOR!" (IS 31.1).
Parece-me que, neste mundo caído, as instituições são inevitáveis não somente onde as pessoas se estabelecem confortavelmente com estruturas autoconfiantes; elas são muito mais inevitáveis onde os crentes fervorosos sonham com novas maneiras de proclamar a glória de Cristo entre as nações. Por isso, espero que até à volta de Jesus sempre haja tensões entre os crentes a respeito de onde foram ultrapassados os limites entre a vida institucional ordenada por Deus, sustenta pelo Espírito, e o institucionalismo criado e sustentado pelo homem.
Portanto, estejamos alerta às possibilidades e às armadilhas das instituições. Se você faz parte de uma instituição, pondere estas coisas. Trabalhemos a fim de permear todas as nossas estruturas humanas com oração e sincera confiança em Deus, que "a todos dá vida, respiração e tudo mais" (At 17.25).
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