1. Métodos mágicos
Não devemos procurar um "método" ou um "sistema" de meditação, mas cultivar uma "atitude", uma "perspectiva": fé, franqueza, atenção, reverência, expectativa, súplica, confiança, alegria. Tudo isso, por fim, permeia nosso ser com amor na medida em que nossa fé viva nos diz que estamos na presença de Deus, que vivemos em Cristo, que no Espírito de Deus "enxergamos" a Deus, nosso Pai, sem no entanto "vê-lo". Conhecemos a Deus "sem perceber". A fé nos une a ele por meio do Espírito que nos ilumina e ama.
Alguns cristãos, sem dúvida, têm o dom espontâneo para a oração meditativa. Isso não é comum atualmente. A maioria precisa aprender a meditar. Há maneiras de meditar, mas não devemos esperar encontrar métodos mágicos, sistemas capazes que eliminar todas as dificuldades e obstáculos.
2. Dificuldades da oração
Às vezes, a meditação é bastante difícil. Se conseguirmos suportar as dificuldades da oração e aguardar com paciência o tempo da graça, descobriremos que a meditação e a oração são experiências muito prazerosas. Não devemos, porém, julgar o valor de nossa meditação pelo que "sentimos". Uma meditação difícil e aparentemente infrutífera poderá na verdade ser muito mais valiosa que a meditação tranquila, alegre, iluminadora e, a nosso ver, bem-sucedida.
Há um "movimento" da meditação que expressa o compasso "pascal" básico da vida cristã, a passagem da morte para vida em Cristo. Às vezes, a oração, a meditação e a contemplação significam "morte" — uma forma de descida à nossa insignificância, um reconhecimento de impotência, frustração, infidelidade, confusão e ignorância. Observe como esse tema é comum no Saltério (v. os salmos 39 e 56).
Deve haver todo esforço e sacrifício para ingressar no Reino de Deus, e os resultados compensam, ainda que não sejam tão evidentes para nós. Contudo, o esforço é necessário, iluminado, bem orientado e consistente.
3. Mera boa vontade
Deparamos logo de início com um dos problemas da vida de oração: saber quando nosso esforço é iluminado e bem orientado, ou quando é mero produto de nossas fantasias confusas e desejos imaturos. É um equívoco pensar que a mera boa vontade, por si só, seja a garantia de obter bons resultados por meio de esforço próprio. Graves erros podem ser cometidos, mesmo com boas intenções.
Certas tentações e desilusões devem ser consideradas normais na vida de oração, mas, quando achamos que atingimos certo grau de habilidade na contemplação, podemos descobrir que estamos tendo muitas idéias estranhas. Podemos até nos apegar a elas com ardente dedicação, convencidos de que são expressões da graça sobrenatural e sinais da bênção de Deus sobre nosso esforço, quando, na verdade, elas tão somente indicam que saímos do caminho e corremos sério perigo.
4. Orientação para iniciantes
Por esse motivo, na vida de oração é preciso ter humildade e dócil aceitação de sábios conselhos. Apesar de a orientação espiritual não ser tão necessária na vida cristã comum e de o monge poder viver sem ela, em certa medida (alguns até precisam!), torna-se uma necessidade moral para quem pretende aprofundar-se na vida de oração.
O guia espiritual é a pessoa capaz de orientar o iniciante nos modos de oração e de perceber qualquer sinal de zelo desorientado e esforço obstinado.
É preciso ouvir e obedecer ao guia, principalmente quando o diretor alerta contra o uso de certos métodos e práticas que ele entende estar fora de propósito ou que sejam danosos, ou quando o diretor se recusa a aceitar certas "experiências" como sinal de progresso espiritual.
5. Resistindo a Deus
O uso correto do esforço é determinado pelas manifestações da vontade e da graça de Deus. Quando alguém está de fato obedecendo, um pouco de esforço já é bastante eficaz, mas quando ele resiste a Deus (embora diga não ter outra intenção a não ser fazer a vontade dele), não importa quanto se esforce, não obterá grandes resultados.
Pelo contrário, a capacidade obstinada de resistir a Deus apesar das indicações cada vez mais claras de sua vontade é sinal de um perigo espiritual muito maior. Muitas vezes, somos incapazes de perceber isso em nós. Essa é outra razão da necessidade de um orientador espiritual.
O trabalho desse orientador consiste não tanto em ensinar um método secreto e infalível para alcançar experiências esotéricas, mas em mostrar como reconhecer a graça e a vontade de Deus, como ser humilde e pacien¬te, como perceber as próprias dificuldades e como eliminar os principais obstáculos que nos impedem de ser pessoas de oração.
Thomas Merton
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