Para achar o caminho precisamos de algo mais que luz; precisamos de visão também.
As Escrituras Sagradas são a fonte de luz moral e espiritual. "A revelação das tuas palavras esclarece", diz o salmista; e outra vez, "Lâmpada para os meus pés é a tua pala¬vra, e luz para os meus caminhos".
Creio na inspiração plenária das Escrituras como originalmente dadas, e posso cantar com o hinólogo:
"Louvamos-te pelo brilho
que da página sagrada, que é luz para os nossos passos,
através das eras fulge".
Entretanto, penso que não lanço nenhuma desonra à página sagrada quando digo que o brilho dela não basta. A luz, só, não é suficiente.
A luz é uma figura que a Bíblia e os mestres religiosos empregam com freqüência quando querem falar de conhecimento. Enquanto os homens não têm conhecimento, diz-se que estão nas trevas. A vida do conhecimento é como o surgir do sol. Mas o raiar do sol nada significa para os olhos que não vêem. Somente os dotados de visão se beneficiam com a luz do sol.
Entre a luz e a visão a diferença é grande. Uma pessoa pode ter luz sem ter visão; é cega. Outra pode ter visão sem ter luz; é temporariamente cega, mas a chegada da luz rapidamente a capacita a ver. O carcereiro de Filipos tinha bons olhos, mas pediu "uma luz" para ver Paulo na escuridão. Mas nem toda a luz do sol, da lua e das estrelas poderiam ajudar Sansão, pois os filisteus lhe tinham furado os olhos.
Ê sempre noite para o cego, e sempre é dia para o homem que leva consigo uma lâmpada — desde que possa ver. Um dístico do Livro Hindu do Bom Conselho assinala isto:
"Mesmo que o cego leve uma lanterna, seus passos se desviarão".
Que nos diz isso tudo? Simplesmente que a instrução religiosa, mesmo da boa, não é suficiente em si. Traz luz mas não dá visão. Sem a iluminação do Espírito, o texto não pode salvar o pecador. A salvação resulta de uma ação do Espírito no coração. Não pode haver salvação isolada da verdade, mas pode haver, e muitas vezes é o que se dá, verdade sem salvação. Quantos múltiplos milhares aprenderam de cor o catecismo, e ainda vagam nas trevas morais porque não houve a iluminação interior!
A suposição de que luz e visão são sinônimos tem trazido tragédia espiritual a milhões. O cego pode encarar um lindo panorama com os olhos bem abertos, e nada vê; e o coração cego pode ouvir a verdade salvadora, e nada entende. Os fariseus olharam diretamente a Luz do Mundo por três anos, mas nenhum raio de luz chegou ao interior do seu ser. A luz não basta.
Os discípulos de Jesus foram instruídos nas Escrituras. Cristo os instruiu pessoalmente na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos; todavia, foi preciso um específico ato de "abertura" interior para que pudessem captar a verdade. "Então lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras" (Lucas 24.45). Quando Paulo pregou em Filipos, certa mulher chamada Lídia ouviu, creu, foi batizada e imediatamente pôs a sua casa à disposição de Paulo. Mas uma pequena frase, altamente significativa, explica a coisa toda: "o Senhor lhe abriu o coração" (Atos 16.14). Lídia recebeu visão bem como luz.
O apóstolo aprendeu bem cedo no seu ministério que, como ele o coloca, "a fé não é de todos" E ele sabia por quê. "Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus" (2 Coríntios 4.3,4).
Satanás não teme a luz enquanto pode manter as suas vítimas sem visão. A mente incapaz de compreender não é afetada pela verdade. O intelecto do ouvinte pode captar a verdade salvadora, e apesar disso o coração não lhe dá resposta moral. Um exemplo clássico disto se vê na história de Benjamin Franklin e George Whitefield. Em sua autobio¬grafia, Franklin narra com alguns pormenores, como ouvira a poderosa pregação do grande evangelista. Chegou a dar uma volta ao redor da praça onde estava Whitefield para verificar pessoalmente a que distância ia aquela voz de ouro. "Whitefield falou pessoalmente com Franklin sobre a sua necessidade de Cristo e prometeu orar por ele. Anos mais tarde, Franklin escreveu com muita tristeza que as orações do evangelis¬ta não deviam ter feito bem nenhum, pois ainda não se con¬vertera.
Ninguém poria em dúvida o brilhantismo intelectual de Franklin, e certamente Whitefield pregava a verdade integralmente; contudo, aquilo deu em nada. Por quê? A única resposta é que Franklin tinha luz sem visão. Ele jamais viu a luz do Mundo. Fazê-lo requer um ato de iluminação interna operado pelo Espírito, coisa que aparentemente Franklin nunca recebeu.
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