A alegria mútua de Cristo e a Igreja é semelhante à alegria do noivo e da noiva no ponto em que eles escolheram um ao outro e acima das outras pessoas para serem seus amigos e companheiros mais próximos, íntimos e eternos. A Igreja é a escolhida de Cris to: "A ti te escolhi e não te rejeitei" (Is 41.9); "Eis que te purifiquei; provei-te na fornalha da aflição" (Is 48.10). Os santos de Deus são chamados eleitos! Ele os chamou não para serem meros servos, mas para serem amigos: "Já vos não chamarei servos, mas tenho-vos chamado amigos" (Jo 15.15). Embora Cristo seja o Senhor da glória, infinitamente acima de homens e anjos, Ele escolheu os eleitos como amigos e tomou sobre si a natureza deles. Assim, de certo modo, nivelou-se com eles para que fossem seus irmãos e amigos. Cristo, como também Davi, chama seus irmãos e amigos de santos: "Por causa dos meus irmãos e amigos, direi: haja paz em ti!" (SI 122.8). No livro de Cantares de Salomão, ele chama a Igreja de sua irmã e esposa. Cristo amou e escolheu a Igreja como sua amiga peculiar acima das outras pessoas: "O Senhor escolheu para si a Jacó e a Israel, para seu tesouro peculiar" (SI 135.4). Como o noivo escolhe a noiva como amiga peculiar, acima de todas as outras pessoas do mundo, assim Cristo escolheu a Igreja para uma proximidade peculiar a Ele, como sua carne e seus ossos, e para a elevada honra e dignidade de noivado acima de todas as outras pessoas, em lugar dos anjos caídos, sim, em lugar dos anjos eleitos. Pois, sob esse aspecto, "ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão", como estão as palavras no original (Hb 2.16). Ele escolheu a Igreja acima do restante do gênero humano, acima de todas as nações pagas, acima daqueles que estão sem a Igreja visível e acima de todos os outros cristãos professos: "Mas uma é a minha pomba, a minha imaculada, a única de sua mãe e a mais querida daquela que a deu à luz" (Ct 6.9). Cristo se alegra com a Igreja por adquirir nela aquilo que Ele escolheu acima de todo o restante da criação e descansa docemente em sua escolha: "Porque o Senhor elegeu a Sião; desejou-a para sua habitação, dizendo: Este é o meu repouso para sempre; aqui habitarei, pois o desejei'5 (SI 132.13,14).
Por outro lado, a Igreja escolhe Cristo acima de todos os outros. Ele é aos olhos dela o príncipe entre dez milhares, o mais lindo dos filhos dos homens. Ela rejeita o galanteio de todos os rivais por Ele, seu coração renuncia o mundo inteiro. Ele é sua pérola de grande valor, pelo qual ela se separa de tudo, e ela se alegra nEle, como a escolha e descanso da alma.
Cristo e a Igreja, como o noivo e a noiva, alegram-se mutuamente por serem propriedade especial um do outro. Todas as coisas são de Cristo, mas Ele tem propriedade especial na Igreja. Não há nada no céu ou na terra, entre todas as criaturas, que não seja dEle da maneira sublime e excelente em que a Igreja é. Eles são chama dos sua porção e herança; eles são as "primícias para Deus e para o Cordeiro" (Ap 14.4). Como outrora, as primícias, ou primeiros frutos, eram a parte da colheita que pertencia a Deus e devia ser-Ihe oferecida, assim os santos são os primeiros frutos das criaturas de Deus, sendo parte que, de modo peculiar, é a porção de Cristo acima de todo o restante da criação: "Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas" (Tg 1.18). Cristo se alegra com a Igreja por ela ser peculiarmente sua: "E folgarei em Jerusalém e exultarei no meu povo" (Is 65.19). A Igreja também tem propriedade peculiar em Cristo, pois ainda que ela tenha outras coisas, contudo nada é dela da maneira que seu noivo espiritual é. Tão grande e glorioso como Ele é, não obstante, com toda sua dignidade e glória, é inteiramente dado a ela para ser totalmente possuído e desfrutado ao grau extremo do que ela é capaz. Por isso, muitas vezes a ouvimos dizer em linguagem de exultação e triunfo: "O meu amado é meu, e eu sou dele" (Ct 2.16; 6.3; 7.10).
Cristo e a Igreja, como o noivo e a noiva, se alegram mutuamente por serem objetos do amor mais afetuoso e ardente. O amor de Cristo por sua Igreja é sem paralelo: a altura, a profundidade, a extensão e a largura desse amor excedem o entendimento, porque Ele amou a Igreja e se deu por ela. Seu amor por ela provou ser mais forte que a morte. Por outro lado, ela o ama com um supre mo afeto. Não há rivalidade no coração dela em relação ao Noivo. Ela o ama de todo o coração. Toda sua alma é sacrificada a Ele na chama do amor. Cristo se alegra e tem descanso e doce encanto no seu amor pela Igreja: "O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, poderoso para te salvar; ele se deleitará em ti com alegria; calar-se-á por seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo" (Sf 3.17). A Igreja, no exercício do seu amor por Cristo, alegra-se com alegria indizível: "Jesus Cristo; ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso" (1 Pe 1.7,8).
Cristo e a Igreja se alegram com sua beleza mútua. A Igreja se alegra com a beleza e glória divinas de Cristo. Ela, de certo modo, se consola docemente na luz da glória do Sol da Justiça, e os santos dizem uns aos outros: "Vinde, ó casa de Jacó, e andemos na luz do Senhor" (Is 2.5). As perfeições e virtudes de Cristo são como óleo perfumado para a Igreja, que faz seu nome ser como ungüento derramado sobre ela: "Para cheirar são bons os teus ungüentos; como ungüento derramado é o teu nome; por isso, as virgens te amam" (Ct 1.3). Cristo se deleita e se alegra com a beleza da Igreja, a beleza que Ele pusera sobre ela. A graça cristã é ungüento de grande valor aos seus olhos (1 Pe 3.4). Está escrito que Ele se encanta grandemente com a beleza dela (SI 45.11). Ele mesmo diz que seu coração se extasia com a beleza dela: "Tiraste-me o coração, minha irmã, minha esposa; tiraste-me o coração com um dos teus olhos, com um colar do teu pescoço" (Ct 4.9)
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