O exemplo mais claro de que até o mal moral se enquadra nos planos de Deus é a crucificação de Cristo. Quem negaria que a traição de Jesus por Judas foi um ato moralmente mau? Contudo, em Atos 2.23, Pedro diz: "Esse Jesus, sendo entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos". A traição foi pecado, mas fez parte do plano determinado por Deus. O pecado não frustrou seu plano nem deteve sua mão.
Ou quem poderia dizer que o desdém de Herodes (Lc23.11) ou a atitude covarde de Pilatos (Lc 23.24) ou o grito dos judeus: "Crucifica-o! Crucifica-o!" (Lc 23.21) ou a zombaria dos soldados gentios (Lc 23.26) — quem diria que essas atitudes não eram pecados? Todavia, Atos 4.27,28 registra a oração dos santos:
Verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazer tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram.
As pessoas erguem a mão para rebelar-se contra o Altíssimo, apenas para descobrir que sua rebeldia está, contra a sua vontade, a serviço dos maravilhosos desígnios de Deus. Nem mesmo o pecado pode frustrar os propósitos do Todo-poderoso. Ele não comete pecado, mas decretou que houvesse atos que são pecado — pois os atos de Pilatos e Herodes foram predestinados pelo plano de Deus.
Deus muda a situação como lhe apraz
De modo semelhante, quando chegamos ao fim do Novo Testamento e da história no Apocalipse de João, encontramos Deus no controle completo de todos os reis maus que fazem a guerra. No capítulo 17, João fala de uma meretriz sentada sobre um monstro com dez chifres. A meretriz é Roma, bêbada com o sangue dos santos; o monstro é o anticristo, e os chifres são dez reis, os quais "oferecem à besta o poder e a autoridade que possuem, [e] pelejarão contra o Cordeiro" [v. 13, 14].
Será que esses reis maus estão fora do controle de Deus? Será que estão frustrando os planos de Deus? Longe disso. Sem saber, estão fazendo sua vontade. "Porque em seu coração incutiu Deus que realizem o seu pensamento, o executem à uma e dêem à besta o reino que possuem, até que se cumpram as palavras de Deus" (Ap 17.17). Ninguém na terra pode escapar ao controle soberano de Deus: "Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do Senhor; este, segundo o seu querer, o inclina" (Pv 21.1; cf. Ed 6.22).
As intenções malignas das pessoas não podem frustrar as determinações de Deus. Essa é a lição da história da humilhação e exaltação de José no Egito. Seus irmãos o venderam como escravo. A esposa de Potifar fez que fosse encarcerado. O copeiro do faraó esqueceu-o na prisão por dois anos. Onde estava Deus em todo esse pecado e desgraça? José responde em Gênesis 50.20. Ele diz aos seus irmãos culpados: "Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer, como vedes agora, que se conserve muita gente em vida".
A desobediência teimosa do coração das pessoas não leva ao fracasso dos planos de Deus, mas à sua concretização.
Pense na dureza de coração em Romanos 11.25,26: "Não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo". Quem governa a ida e a vinda dessa dureza de coração, de modo que tenha um limite estabelecido e, na hora prevista, dê lugar à salvação garantida de "todo o Israel"?
Ou pense na desobediência em Romanos 11.31. Paulo fala aos seus leitores gentios sobre a desobediência de Israel ao rejeitarem o Messias: "Estes [Israel] foram desobedientes, para que, igualmente, eles [os gentios] alcancem misericórdia". Quando Paulo diz que Israel foi desobediente para que os gentios pudessem receber os benefícios do evangelho, os planos de quem ele tem em mente?
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