O apóstolo Paulo começa o livro de Romanos com uma declaração enfâtica: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê…” (Romanos 1:16). Ironicamente, porém, ele não continua a declarar a glória e a alegria das boas novas do evangelho. Ele precisava primeiramente explicar a triste notícia de que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Romanos 3:23).
“A ira de Deus se revela do céu” (1:18). Deus certamente tem todo direito em exercer a sua ira judicial sobre a criação que ele mesmo fez. Ele criou o homem para ser conhecedor e adorador da Natureza Divina. Porém, desde o início dos tempos, os homens rejeitaram o conhecimento de Deus e assim também recusaram lhe dar a adoração verdadeira. Rejeitar a verdade de Deus, portanto, tem trazido muitas consequências terríveis como resultado:
(1) Culpa em absoluto. Os homens são “indesculpáveis” diante de Deus por haverem o desconhecido, desde que ele claramente se manifestou por meio das coisas que ele criou (1:19-20). Qualquer pessoa que já viu, ouviu, ou de outro modo sentiu e experimentou a criação de Deus tem o que precisa para saber que Deus existe. No juízo, não haverá quem possa alegar ser ignorante, e ninguém será isento da pena fulminante da ira de Deus.
(2) Raciocínios nulos, corações insensatos. Ao rejeitar a fonte da sabedoria verdadeira, os homens aceitaram as suas próprias versões inventadas da verdade como substituto. Em nome da ciência “a glória do Deus incorruptível” tem sido “mudada” na imagem não gloriosa da própria criação, “em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis” (Romanos 1:23). A teoria da evolução, por exemplo, tenta remover Deus completamente da criação por alegar que a criação, em essência, se criou! Os homens se dizem sábios, mas as suas decisões e as suas ações declaram expressamente que há apenas futilidade e tolice em seus corações (1:21-23).
(3) “Deus os entregou”. Por muito, a consequência mais assustadora quando os homens rejeitam a Deus é que ele concede que estes homens continuem vivendo no estado de desonra total que é o resultado de não ter Deus em suas vidas. Isto é, as suas mentes reprováveis, apagadas de qualquer lembrança da verdade e da bondade de Deus, inventam toda forma de mal, o qual volta sobre eles e os amaldiçoa num ciclo interminável. Quando a criatura é posta acima do Criador, o único resultado possível é que os desejos “naturais da criatura” se tornam o impulso controlador da vida.
Em Romanos 1:24-32, Paulo descreve uma longa e desgostosa lista do mal com o qual os homens se contaminam quando removem Deus de suas consciências. Talvez nos surpreendamos ao lembrar que esta lista foi escrita há mais de dois mil anos, já que estas coisas poderiam ter sido achadas nas manchetes de qualquer jornal de hoje. Na verdade, estas são condições que existem desde o início dos tempos – desde o primeiro pecado no jardim de Éden, quando Adão e Eva decidiram que eles mesmos eram mais sábios que Deus, e comeram do fruto proibido (veja Gênesis 3). Tão cedo quanto aos dias de Noé, Deus já podia ver que “a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gênesis 6:5).
Como as coisas chegaram a ficar tão ruins? Os homens “mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador” (Romanos 1:25).
Repare que, quando os homens escolhem esquecer-se de Deus, isto não quer dizer que deixam de adorar. Paulo diz, simplesmente, que os homens começaram a adorar e servir “a criatura em lugar do Criador”. A Bíblia deixa bem claro que os homens, ao deixarem Deus, sempre procuram outra coisa para cultuar, seja esta coisa eles mesmos ou seja um outro “deus”.
Josué, ao oferecer seu ultimato célebre ao povo judeu em Siquém, disse, “se vos parece mal servir ao SENHOR, escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR” (Josué 24:15). Séculos mais tarde, Jesus disse à mesma nação judaica, “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mateus 6:24). E o apóstolo Paulo disse aos discípulos em Roma, “Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte ou da obediência para a justiça?” (Romanos 6:16). Em todos estes casos, há sempre um objeto de adoração (serviço). Há sempre uma escolha entre servir a Deus ou servir a algum outro, seja a si mesmo, a um deus falso, às riquezas ou ao pecado em geral. Nunca haverá a opção de não fazer nada – porque o homem é criatura, ele, por sua própria natureza, irá procurar a quem adorar.
Não podemos ressaltar suficientemente a importância do significado de tudo isto – qualquer desvio do caminho de Deus, não importa quão mínimo pareça, é um passo na direção da idolatria! A nossa tendência é de pensar que a idolatria é apenas o uso óbvio de objetos externos de adoração, como estátuas, artefatos, etc. Porém, na verdade, a idolatria é a raiz por trás de toda rebelião e pecado que desvia o homem do caminho de Deus! Quando pecamos, estamos simplesmente dizendo para Deus que temos escolhido fazer as coisas de outra maneira, e não da maneira que ele deseja. Assim fazendo, naturalmente removemos Deus do trono dos nossos corações e colocamos outra coisa no lugar que pertence somente a ele. Isto é idolatria!
Se dermos uma olhada sobre toda a história bíblica, veremos, de fato, que Deus sempre avisou o seu povo sobre os perigos da tentação de cair na idolatria. Quando Deus começou a dar os mandamentos ao seu povo Israel, ele disse, “Eu sou o Senhor, teu Deus… Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto…” (Êxodo 20:2-5). Mesmo com este aviso explícito, foi a idolatria que perturbou a nação de Israel desde a própria hora de sua formação – se curvaram diante do bezerro de ouro no mesmo instante que Moisés estava no Monte Sinai recebendo a lei de Deus para eles! (veja Êxodo 32). E a idolatria foi a raiz da apostasia tanto de Israel como de Judá, a qual levou os dois ao cativeiro séculos mais tarde.
Quando um intérprete da lei perguntou a Jesus sobre qual seria o grande mandamento, Ele respondeu com as palavras de Deuteronômio 6:5: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mateus 22:37). Esta resposta dele nos explica exatamente o que precisamos para combater o problema da idolatria. Como temos visto, os homens acabam caindo na idolatria porque rejeitam o conhecimento de Deus. Fazem isto mesmo depois de ele ter claramente se apresentado aos homens através da criação. Quando Deus é rejeitado na vida de uma pessoa, resta um lugar vazio – um vácuo – que precisa ser preenchido, e os homens irão preencher este vazio com seu novo “deus”, qualquer coisa que seja. Para evitar que isto aconteça, então, Deus tem que se tornar o foco em nossas vidas. Ele deve ser aquele a quem os nossos corações, almas e mentes estão direcionados, até mesmo quando estes se ocupam com as tarefas do dia-a-dia. Quando estamos em casa, devemos estar pensando em Deus e lhe servindo com as nossas famílias (veja Efésios 5:22 – 6:4; Colossenses 3:18-21). Quando estamos no trabalho, devemos estar trabalhando “de todo o coração, como para o Senhor e não para homens” e “fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” (Colossenses 3:22 – 4:1; Efésios 4:28; veja Efésios 6:5-9). Seja na escola, nas compras, no lazer ou na igreja, tudo deverá ser feito com o nosso foco no Senhor.
Em termos práticos, isto quer dizer que Deus tem que ser o Senhor (a autoridade!) das nossas vidas. Não devemos deixar que nem mesmo as bênçãos de Deus se tornem o foco central das nossas vidas. As nossas famílias, a nossa carreira e até mesmo as nossas vidas religiosas deveriam revolver ao redor dele como a figura central. Muitas vezes, porém, colocamos estas coisas acima de Deus, e assim já estamos tomando os passos na direção do caminho da idolatria.
Não devemos mudar a verdade de Deus em mentira! Antes, ele precisa ser a verdade suprema que é o centro das nossas vidas.
–por Carl D. Ballard
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