Paulo argumenta da seguinte forma: visto que Deus não poupou o seu próprio filho, então certamente ele precisa e vai nos dar livremente todas as coisas com ele. O que é isso? Como funciona essa lógica importantíssima? Há um termo técnico para esse tipo de argumentação. Ela é chamada "a majori ad minus” Significa argumentar "do maior para o menor". Suponha que duas tarefas sejam motivadas pelo mesmo desejo, mas uma é muito improvável porque exige esforços muito altos e outra é mais provável porque exige esforços menores. Se tiver o desejo por am¬bas as tarefas, e de alguma forma conseguir realizar a mais difícil, então está praticamente certo que conseguirei realizar a outra. Vencer os obstáculos maiores nos dá a segurança de que venceremos os menores.
Ê a lógica que Jesus usou quando disse: "Se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanha é lançada ao fogo, não vestirá muito mais a vocês, homens de pequena fé?" (Mateus 6.30). Tome cuidado aqui. Não salte precipitadamente para a conclusão de que Jesus está argumentando "do menor para o maior". Sim, ervas valem menos que pessoas. Mas vestir ervas é mais improvável que vestir discípulos. Na verdade, Jesus está argumentando do maior para o menor. Deus quer vestir tanto as flores quanto os discípulos. Os discípu¬los estão em dúvida se ele realmente vai vesti-los. Como Jesus lhes fortalece a fé na graça futura da promessa de vesti-los?
Ele diz: é altamente improvável que o Deus Altíssimo desperdice seu tempo vestindo as flores do campo que duram somente um dia. Essa alta improbabilidade é a "coisa maior" do argumento do maior para o menor. Por outro lado, há uma pequena parcela de improbabilidade de Deus negligenciar os discípulos do seu Filho e não os vestir. Essa pequena improbabilidade é a "coisa menor" do argumento. Assim quando Deus supera a alta improbabilidade e veste as flores do campo, ele prova que pode e irá superar a pequena improbabilidade de vestir seus discípulos.
Assim Paulo está argumentando em Romanos 8.32, do mais difícil para o mais fácil, ou do maior para o menor. Se Deus não poupou o próprio Filho, mas o entregou por nós — essa é a coisa difícil, a coisa maior. A razão de ser a coisa maior é que Deus amou infinitamente seu Filho. O Filho não mereceu ser morto. O Filho era digno de adoração de todas as criaturas, não de ser cuspido e chicoteado e escarnecido e torturado. Entregar seu Filho (Colossenses 1.13) foi a coisa incomparavelmente grande. A razão disso é a imensidão do amor de Deus pelo Filho. Foi isso que tornou tão improvável o fato de Deus o entregar. Mas Deus o fez. E ao fazê-lo mostrou que certamente faria todas as coisas — todas fáceis em comparação — para dar todas as coisas às pessoas por quem entregou seu Filho.
E por isso que eu disse que a promessa de Romanos 8.32 é tão certa quanto o amor de Deus pelo Filho. Deus desejava duas coisas: não ver seu Filho ser transformado em objeto de zombaria; e não ver seu povo ser privado da infinita graça futura. Certamente era mais provável poupar o Filho que poupar a nós. Mas não. Ele não poupou o Filho. E por isso era impossível que ele nos privasse da promessa pela qual seu Filho morreu — com ele nos dará gratuitamente todas as coisas.
Que verdade! Dar-nos todas as coisas é o aspecto fácil! Pense nisso todas as vezes que você temer que lhe seja negado algo bom. Você acha que isso é algo difícil. Você enxerga muitos obstáculos. Parece impossível. Nesse momento desanimador, pense na lógica celestial. Dar-lhe o que você precisa é a parte fácil. E a parte difícil já foi dada. Criar o mundo e administrá-lo para o bem do povo é algo relativamente fácil para Deus se comparado à entrega do Filho à ridicularização e tortura. Mas ele o fez. E agora toda a graça futura não é somente certa; é fácil e natural.
Nenhum comentário:
Postar um comentário