O Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber - João 14.17 - Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo - João 17.14
O Pluralismo do Pós-Modernismo
por
Héber Carlos de Campos
As últimas décadas do século XX têm sido caracterizadas por movimentos filosófico-teológicos que romperam com tudo o que, historicamente, tem sido crido como verdade fundamental, da qual não se poderia abrir mão. Esses movimentos têm tomado vários nomes como: secularismo, relativismo, pós-modernismo e pluralismo.1 Eles são movimentos que caminham juntos, cada um com as suas próprias características, mas há alguns sentidos em que eles se confundem e se sobrepõem. Nenhum deles é ofensivo ao outro. "O secularismo é o guarda-chuvas sob o qual todos convergem."2 O curioso é quetodos esses ismos estão de alguma forma amarrados à esfera temporal, sem qualquer noção de verdades eternas e sobrenaturais. Não há a ênfase às verdades transcendentais. As coisas estudadas nesses movimentos não ultrapassam a esfera das coisas mensuráveis e verificáveis cientificamente. Embora o modernismo já esteja quase fora de cena, ainda a filosofia Kantiana deixa os rastros do seu ensino de que o Eterno não tem envolvimento no temporal. As coisas da metafísica não têm vez num mundo dominado por um secularismo disfarçado com vários nomes.
Neste ensaio, poderemos ver como o pós-modernismo e o pluralismo se entrelaçam de várias formas. A abordagem deste ensaio será do pluralismo como um movimento ético, religioso e teológico.
Estamos vivendo num tempo de muitas mudanças fundamentais. Portanto, precisamos obedecer a recomendação da Palavra de Deus de conhecer os tempos, que "já é hora de vos despertardes do sono..." (Rm 13.11).
I. As Origens do Pluralismo Pós-Modernista
A cultura ocidental tem passado por muitas mudanças. Uma cosmovisão depois da outra tem aparecido. A cosmovisão bíblica, isto é, a idéia de mundo, de criação, de Deus, de homem, etc., através das lentes da Escritura, tem atravessado todos os períodos da civilização ocidental. Contudo, depois da entrada do período moderno essa cosmovisão sofreu sérios embates e, com as lentes do racionalismo, fez com que a cosmovisão bíblica viesse quase a desaparecer em alguns segmentos e regiões. Com o advento dos tempos modernos, a cultura ocidental foi invadida pela cosmovisão romântica e de um cientificismo materialista, do século XIX. No século XX, ela foi invadida pelo marxismo, fascismo, positivismo e existencialismo.3 Contudo, na segunda metade deste século, o espírito do tempo "moderno" veio a cair de moda. Entramos nos tempos pós-modernos. Esse tempo, segundo alguns, foi iniciado com a falência do comunismo, com a derrocada do muro de Berlim, em 1989, e com o insucesso absoluto da economia do sistema materialista. O modernismo foi substituído pelo pós-modernismo. Houve a queda dos padrões morais anteriormente estabelecidos e começou a questionar-se de maneira muito mais clara a necessidade de haver uma verdade objetiva.
Contudo, o pluralismo não nasceu no período pós-moderno. Ele tem suas raízes já no período moderno. No começo do século XIX Schleiermacher começou a questionar a exclusivismo do cristianismo que dizia ser Jesus Cristo o único caminho para a vida. O problema da diversidade religiosa estava levantado. O cristianismo começou a ser questionado como a única saída para os problemas humanos. Schleiermacher argumentava que Deus "está salvificamente disponível, em algum grau, a todas as religiões, mas o evangelho de Jesus Cristo é o cumprimento e a mais alta manifestação da consciência religiosa universal."4 O cristianismo do liberalismo teológico do século passado começou a sustentar que o Deus imanente do cristianismo não pertencia somente ao cristianismo, mas pertencia a todas as culturas religiosas do mundo. Jesus Cristo era o exemplo máximo desse Deus imanente, mas não era a única forma dele expressar-se. Mais tarde, já no final do século XIX, o cristianismo liberal começou a questionar que Jesus Cristo era o cumprimento da religião, ou a expressão máxima do Deus imanente. Ernst Troeltsch "esposou o pluralismo." Mesmo confessando que o cristianismo possui "uma verdade e poder espiritual" e até a "manifestação da vida divina em si mesma," Troeltsch concluiu que esse julgamento tem "validade somente para nós." Outras civilizações também possuem seu próprio acesso salvífico à vida divina, independentemente do cristianismo.5 Por isso, no final do século passado e no começo deste século, começou a haver o diálogo com as outras religiões e, até, uma tentativa de ecumenismo entre as várias religiões do mundo, incluindo as não-cristãs.
Contudo, embora o pluralismo não tenha nascido no período pós-moderno, ele floresceu e desenvolveu-se de maneira impressionante no período pós-moderno, porque este é o período das contestações, do abandono e da rejeição dos padrões e das crenças anteriores. O pluralismo teve as suas portas destravadas no período moderno, e elas foram escancaradas no período pós-moderno. Com essas coisas em mente, fica mais fácil entender porque o pluralismo cresceu assustadoramente, mesmo em alguns círculos chamados "cristãos," como veremos mais adiante. Foi no período pós-moderno, portanto, que a cultura ocidental assimilou bem a idéia de outras alternativas aceitáveis além do cristianismo.
II. As Diversas Formas do Pluralismo Pós-Modernista
A. Pluralismo Intelectual
As fontes do pluralismo intelectual estão claramente relacionadas com o pós-modernismo, que se evidencia numa cultura sem os seus absolutos. O modernismo capitulou diante do pós-modernismo. Com este último, houve um colapso geral da confiança no Iluminismo, no poder da razão para proporcionar os fundamentos para um conhecimento universalmente válido do mundo, incluindo Deus. A razão falha em libertar a moralidade correspondente ao mundo real no qual vivemos. E com este colapso da confiança nos critérios universais e necessários da verdade, têm florescido o relativismo e o pluralismo.6
Uma das ilustrações do pluralismo intelectual pode ser vista na abordagem dos textos e de sua linguagem. Trata-se de um método crítico do texto chamado Desconstrucionismo, que virtualmente declara que a identidade e as intenções do autor de um texto são irrelevantes para a interpretação do texto, antes de insistir que em qualquer caso, nenhum significado pode ser encontrado nele. Todas as interpretações são igualmente válidas ou igualmente destituídas de significado (dependendo do ponto-de-vista de quem o analisa).7
Todas as pessoas podem ter as suas próprias idéias com respeito ao texto lido. Ninguém pode reivindicar exclusividade de verdade na sua interpretação.
O pós-modernismo afirma que a linguagem não pode expressar verdades a respeito do mundo de um modo objetivo. "A linguagem, por sua própria natureza, dá forma ao que pensamos. Visto que a linguagem é uma criação cultural, o significado é, em última análise, uma construção social."8 Os valores do pós-modernismo não são pessoais, mas sociais, da cultura. O verdadeiro significado das palavras é parte de um sistema fechado de uma cultura, que não faz sentido para uma outra cultura.
Como seres humanos, não podemos escapar da linguagem. Nossa linguagem está presa à nossa cultura, e não podemos pensar por nós mesmos. As palavras pensam por nós. Portanto, para os desconstrucionistas todos nós vivemos encarcerados na "prisão da linguagem."9 A linguagem humana não contém qualquer verdade absoluta. Então, tirando vantagem desse conceito, os pós-modernistas procuram minar os muros dessa prisão, a fim de poder derrubá-los. Como fazem isso? A única forma é tornar as palavras destituídas de sentido absoluto, dizendo que elas expressam idéias escorregadias e mutáveis. Por essa razão, um texto não pode conter uma verdade absoluta, pois o sentido que o autor quis dar a ele não é importante. O importante é como quem lê o entende. Pessoas podem ter as mais diferentes interpretações do mesmo texto, sem que isso constitua uma contradição. A contradição existe se há a verdade absoluta, mas como não há, não há contradição.
Os desconstrucionistas do pós-modernismo procuram desenvolver uma "hermenêutica de suspeição" quando lêem um texto. Eles abordam o texto não para encontrar a verdade absoluta nele, uma verdade objetivamente descrita, mas para desmascarar o texto procurando descobrir o que está escondido nele. Entendendo que a linguagem é detentora de todo o poder, os desconstrucionistas procuram a libertação desse poder por romper a autoridade da linguagem. "A hermenêutica da suspeição, referida acima, vê cada texto como uma criação política usualmente designada para funcionar como propaganda para o status quo."10 A idéia dos desconstrucionistas é tirar o poder das palavras que formaram a civilização ocidental criando os preconceitos de racismo, sexismo, patriarcalismo, homofobia, imperialismo e a opressão econômica. A fim de quebrar com essa sociedade doentia, o desconstrucionismo procurar retirar das palavras o seu significado objetivo, dando-lhes uma interpretação subjetiva, dependendo do entendimento de quem as lê.
Dá para imaginar o caos teológico quando se aplica este método desconstrucionista aos textos da Escritura. Os desconstrucionistas podem fazer o que quiserem para destruir o sentido que o autor sacro quis dar às suas palavras, e, assim, acabam por desautorizá-las, tirando-lhes o sentido de uma verdade objetiva. Cada leitor dos textos bíblicos dá a sua própria interpretação, já que as palavras não possuem o significado que o autor quis dar, uma vez que este, no pensamento dos desconstrucionistas, é irrelevante. A interpretação está sujeita ao entendimento que o leitor tem das palavras, de acordo com a sua própria formação cultural, já que palavras são matéria de formação cultural.
B. Pluralismo Religioso
O pluralismo religioso vigente na sociedade contemporânea ocidental teve a sua origem em outros ismosfilosófico-teológicos nestas últimas décadas. Ele tem a ver intimamente com o relativismo e com um pós-racionalismo do Iluminismo, que é o chamado pós-modernismo, além das influências do orientalismo religioso.
Os pluralistas cristãos têm recebido profundas influências das religiões orientais, especialmente do Budismo. Para justificar suas idéias, os pluralistas cristãos usam uma parábola contada pelos budistas sobre seis homens cegos e um elefante. Cada um desses homens cegos apalpou o elefante vindo a conceber uma idéia diferente dele. O primeiro cego, após apalpar o lado musculoso do elefante, chegou à conclusão de que ele era como um muro. O segundo cego, após apalpar as pernas grossas e roliças do elefante, protestou, dizendo: "Não, o elefante tem uma forma diferente. Ele se parece com uma coluna. O terceiro abordou o elefante de uma forma diferente. Após apalpar a tromba, disse: "Vocês dois estão enganados. O elefante se parece com uma grande cobra." E, assim, cada um dos seis teve uma concepção diferente do mesmo elefante. Todos falavam coisas bem diferentes, mas todos estavam falando do mesmo elefante.
Os pluralistas cristãos têm usado esse tipo de parábola para ilustrar a relação que tem havido entre o cristianismo e as outras religiões não-cristãs. Todas elas têm abordagens diferentes a respeito de Deus, mas todas estão falando da mesma coisa, sob perspectivas diferentes. Todas têm óticas diferentes, mas estão falando do mesmo Deus. Se um cristão afirmar que somente a forma do cristianismo oferecer a salvação é correta, e não a das outras religiões, ele está se portando como um dos cegos da estória que diz que somente a visão dele é correta e não a dos outros.
Portanto, a voz pluralista dentro de alguns círculos cristãos é esta: nós devemos afirmar que Jesus Cristo é Salvador, mas não podemos afirmar que Ele é a única forma de o homem alcançar salvação. Ele é uma entre as muitas outras formas de o Deus infinito revelar-se. Todas as tradições religiosas do mundo possuem aspectos reveladores de Deus, que tomam vários nomes e conceitos nos mais variados recantos do mundo. A Realidade Infinita (que é Deus) tem recebido várias conotações: entre muitos do oriente ela é chamada de o grande Brahma, que é mediado através de escrituras sacras; para os budistas, Nirvana, é o caminho ensinado por Buda; para os muçulmanos, Allah é a realidade final ensinada pelo grande e autoritativo Maomé; a Realidade Infinita para os judeus é Yahweh, que se revelou maravilhosamente na Torá; para os cristãos, é Deus, que se revelou em Jesus Cristo. E a lista não termina por aqui. Muitas outras formas da realidade infinita poderiam ser mostradas nas demais religiões orientais.
Como no pluralismo não existe a verdade absoluta, nem existe uma religião verdadeira, o pluralismo religioso cristão vigente em nossos dias manifesta-se de várias maneiras práticas com relação às religiões não-cristãs.
Um pastor evangélico e professor de um seminário protestante no sul da Índia, participando do funeral de um seu amigo hindu, que ele chamou de "um funeral cristão-hindu," disse: "Em meu breve discurso, eu referi-me à sua vida (do amigo morto) como um marido, pai, avô, e amigo, mencionando que, embora tenha vivido na companhia de uma família cristã, ele permaneceu fiel à sua herança hindu. Eu mencionei que, assim como nós cristãos estamos comprometidos com a nossa fé, assim nossos vizinhos hindus estão comprometidos com a deles, e que, portanto, deveríamos respeitar as crenças e convicções uns dos outros."11 Nessa cerimônia os hindus participaram lendo as suas convicções religiosas, totalmente opostas às do cristianismo; mas num ambiente pluralista ninguém pode reivindicar que está com a verdade absoluta. Todos têm as verdades, mesmo que elas se contradigam. Assim é o pluralismo.
C. Pluralismo Teológico
Em virtude da "mega-mudança" havida no pós-modernismo em relação ao cristianismo pré-moderno, vários pressupostos teológicos foram modificados no cristianismo pluralista. Eles são evidentes nos vários ramos da teologia cristã, mas especialmente na cristologia e na soteriologia (doutrina da salvação):
1. Na Soteriologia
O Deus do cristianismo, na soteriologia pluralista, é um Deus de amor, e não poderia excluir da salvação os não-cristãos pelo simples fato de eles não serem cristãos. O particularismo soteriológico dos cristãos durante séculos tem sido questionado, porque agora tem sido ensinado que a graça de Deus está disponível em todas as culturas que não foram evangelizadas à moda antiga. A salvação vem através de outras formas reveladoras de Deus, além daquela que veio em Cristo. As perguntas que os pluralistas fazem são: Se a salvação está disponível apenas através de um conhecimento de Jesus Cristo, isso implica que alguns povos possuem mais privilégios que outros? É este o tipo de Deus misericordioso e amoroso que vemos em Cristo Jesus? Não deveríamos nós ser mais otimistas a respeito da graça salvífica de Deus, mesmo fora da proclamação da igreja?12
Com essas asserções, o grande axioma de Cipriano, extra ecclesiam nulla salus ("fora da igreja não há salvação"), defendido historicamente por católicos e protestantes, fica destituído de significado, e a fé em Cristo deixa de ser o único meio para o homem ser salvo.
2. Na Cristologia
Dentro da teologia dos pluralistas, a cristologia fica na dependência da soteriologia. O grande pressuposto é que a salvação tem outros caminhos, além do proposto pelo cristianismo tradicional. Ora, se Jesus Cristo é apenas um caminho no processo da salvação da humanidade, o elemento preponderante é a soteriologia, e a cristologia vem cumprir apenas um dos propósitos redentores de Deus.
Jesus Cristo não pode ser a revelação especial de Deus no sentido de a salvação depender dele unicamente. Há outras revelações de Deus que são igualmente soteriológicas. Há outras formas de salvação que não são concentradas em Jesus Cristo, segundo o ensino da cristologia pluralista.
Esta segunda idéia está enraizada na primeira, porque um Deus de amor não poderia deixar de fora outras nações não evangelizadas. Por essa razão, outras formas de salvação são possíveis, conforme o argumento pluralista.
D. Pluralismo Ético-Moral
Este aspecto do pluralismo é o resultado de todos os outros. A ética é a prática da teologia. E o pluralismo do pós-modernismo não evita os tropeços dos anteriores. As últimas conseqüências do pluralismo recaem sobre a ética.
Um dos maiores expoentes do pós-modernismo intelectual de nossos tempos é Michel Foucault. Seu pós-modernismo é refletido nas suas concepções éticas. Para Michel Foucault a "verdade" do pré-modernismo e do modernismo sempre vem em favor do poderoso. A "verdade" dá suporte aos sistemas de repressão por identificar os padrões aos quais as pessoas podem ser forçadas a se conformar.
As coisas que são más ou criminosas não dependem de um critério objetivo, mas dos padrões e interesses daqueles que estão em autoridade, diz Foucault. Segundo o seu pensamento "cada sociedade tem a sua ‘política geral de verdade’ que serve a seus interesses pessoais. A ‘verdade’, dessa forma, serve os interesses da sociedade em perpetuar a sua ideologia e em proporcionar uma justificação racional para a prisão ou eliminação daqueles que vem a contradizer sua perspectiva geral."13 Foucault se insurge contra esse tipo de moralidade porque, segundo pensa, foi essa moralidade que governou o mundo até há pouco. E o resultado é o caos moral em que vivemos. No mundo pré-moderno e no moderno essa foi a ética, segundo Foucault. Por causa desses fatores Foucault crê que a idéia da verdade objetiva ou moralidade deve ser desafiada. Não pode mais haver uma verdade objetiva.
Contudo, como podemos saber o que é certo, dentro do conceito pós-modernista? Obviamente, a verdade não pode ser deduzida de um conjunto de crenças definidas a respeito do que é certo ou do que é errado. Os pós-modernistas possuem uma aversão aos padrões normativos gerais de comportamento. A raiz do pensamento ético do pós-modernista se evidencia nestas palavras de Rorty:
Os pós-modernistas rejeitam não somente as leis objetivas de moral, como as leis morais interiores gravadas por Deus em nossos corações, conforme Paulo menciona em Romanos 2.11-15. Nessa concepção pós-modernista, o homem acaba sendo amoral. Não existe nada nele que o leve a reconhecer o certo ou o errado. As leis da "segunda tábua" não são conhecidas do homem. Tudo o que ele faz em termos morais tem nascedouro no meio em que ele vive e nas decisões morais que faz. Contudo, essas decisões não têm nada a ver com o que ele é, e, sim, com o que ele deseja e resolve ser.
Não há nada bem profundo dentro de nós, a menos que nós mesmos o tenhamos colocado; não há nenhum critério que nós mesmos não tenhamos criado no curso de formar uma prática; não há nenhum padrão de racionalidade que não seja um apelo a tal critério; não há nenhuma argumentação rigorosa que não seja a obediência às nossas próprias convenções.14
A ausência dos padrões objetivos que determinam o que é certo ou errado tem causado um enorme caos moral nesta nossa sociedade. Por causa da ausência de paradigma objetivo, as mudanças éticas têm sido mega-mudanças:
1. Ética Sexual
A homossexualidade não tem sido mais concebida como um problema psicológico-moral; a homofobia, sim.15 Convencidos de que não há uma verdade objetiva, os pós-modernistas ensinam que os valores devem ser criados pelas próprias pessoas. Dessa forma, os princípios éticos pós-modernistas passam a seguir a "norma" estabelecida pelo líder do conjunto de Rock "Sex Pistols," Johnny Rotten: "Se nada é verdadeiro, tudo é possível."16 Onde não há as leis básicas de Deus, os homens entram numa situação anárquica ética e moralmente. Por essa razão, Dostoievsky disse: "Se Deus está morto, tudo é permitido."17
Com isso, o sexo praticado fora do casamento e nas formas mais deturpadas tem sido estimulado como uma aventura a ser experimentada, uma espécie de variação daquilo que tradicionalmente é feito. Desde a década de 60, com a revolução sexual, a permissividade tomou conta da juventude, e veio a tornar-se um "direito" aquilo que antes era considerado uma transgressão moral.
A inversão dos padrões morais têm acontecido não somente no mundo secular, mas também dentro das igrejas evangélicas de linha conservadora. Muitos cristãos solteiros têm praticado sexo fora do casamento e antes do casamento. Em recente pesquisa feita entre "fundamentalistas" e "liberais" verificou-se que a prática de sexo fora e antes do casamento era de 56% entre os primeiros e 57% entre os últimos.18 Fica claro que as convicções religiosas não alteraram muito o resultado da pesquisa. O que importa aqui é o espírito do pós-modernismo de tolerância ética que tem invadido o mundo evangélico.
2. Aborto
Nos tempos pré-modernos e na modernidade, o aborto era uma questão praticamente fechada. A provocação da morte de uma criança no ventre materno era considerada uma coisa horrível, um mal simplesmente inadmissível. Com o advento do pós-modernismo, onde a verdade absoluta está ausente, o aborto se tornou, não somente legal em muitos países, como também uma prática aceitável, como um direito constitucional que a mulher tem sobre o seu corpo. Ela é quem decide abortar ou não. É o direito individual, sem a preocupação com qualquer verdade moral pré-estabelecida. A verdade de Deus não é levada em conta. Essa é a ética que tem sido assimilada. Cerca de 49% de protestantes e 47% dos católicos nos Estados Unidos aceitam a prática do aborto.19 No Brasil a lei ainda impede o aborto (exceto em casos onde a saúde da mãe está em jogo e em caso de estupro), mas a prática tem mostrado que nosso país tem sido campeão no número de abortos.
Os programas de entrevistas mais assistidos de nossa televisão refletem exatamente essa ética permissiva. Cada um pensa o que quer eticamente porque não há padrões estabelecidos. O "correto" eticamente depende do seu ponto-de-vista que deve ser respeitado. Ninguém tem o direito de dizer o que é ética ou moralmente correto.
III. As Pressuposições Gerais do Pluralismo Pós-Modernista
O pluralismo tem várias grandes pressuposições que controlam todo um conjunto de idéias inclusivistas:
A. O Abandono da Arrogância Cultural e Teológica
A primeira grande pressuposição é que, segundo a abordagem pluralista, todas as religiões têm que abandonar a sua arrogância teológica. Nenhum grupo religioso pode jactar-se de ser superior ao outro em termos de verdade, porque a religião está associada à cultura. E não existe uma cultura superior à outra. Todas são igualmente boas.
Segundo posso perceber, o cristianismo é altamente relevante na sociedade contemporânea, não para levantar novamente a bandeira do intelectualismo, mas para mostrar a racionalidade da fé cristã, para trazer de volta os fundamentos da sociedade e da moralidade, e para responder a questões que só o cristianismo pode responder. Contudo, convicções como a minha têm sido continuamente questionadas hoje. Num contexto pluralista em que vivemos, ninguém pode dizer uma coisa dessas da sua própria religião. Tudo é relativizado. A crença básica do pluralismo está expressa nestas palavras de McGrath:
A grande dificuldade que a fé cristã enfrenta é na área da apologética, que é o departamento da teologia que reivindica a verdade do cristianismo. O cristianismo certamente reconhece que é a única religião verdadeira, pois crê numa religião revelada pelo único Deus. Mas num mundo de pós-modernismo, não há lugar para a apologética. McGrath faz algumas observações cruciais: Como podem as reivindicações de verdade do cristianismo ser tomadas seriamente, quando há muitas alternativas rivais e quando a "verdade" em si mesma tem se tornado uma noção esvaziada? Ninguém pode reivindicar a posse da verdade. É tudo uma questão de perspectiva. Todas as reivindicações da verdade são igualmente válidas. Não há nenhum ponto de vantagem privilegiado que permita alguém decidir o que é certo e o que é errado.21
Todos os sistemas de crença devem ser considerados como igualmente plausíveis. Alguma coisa é verdadeira se ela é verdadeira para mim. O cristianismo tem se tornado aceitável porque é crido ser verdadeiro por alguns, não porque ele é verdadeiro.20
Segundo o princípio pluralista, a fé cristã tem que se contentar em ser apenas mais uma entre as muitas alternativas religiosas neste mundo pós-modernista. A fé cristã não pode jactar-se de ser a única detentora da verdade. O orgulho teológico do cristianismo deve ser combatido.
B. A Ausência da Verdade Absoluta
A segunda grande pressuposição do pluralismo religioso é a ausência da verdade absoluta. Não existe a verdade, mas verdades. A verdade é alguma coisa subjetiva, na mente de quem interpreta um texto, mas não no texto propriamente. A verdade está na forma como eu a vejo, mas não objetivamente. O que é verdade para mim pode não ser verdade para outra pessoa. Por essa razão, ninguém pode reivindicar estar com a verdade objetivamente. Ela não está em nenhum lugar que não seja na mente do indivíduo. O pós-modernismo tem sido caracterizado por "uma aversão endêmica pelas questões da verdade."22
A verdade pode estar em dois sistemas políticos e econômicos totalmente opostos. Algumas pessoas podem aceitar a democracia e outros o totalitarismo. Ambos podem estar com a verdade porque a verdade é reconhecida quando ela é aceita por um grupo, mas não existe verdade absoluta ou objetiva. O fato é que estamos convivendo nesta nossa geração com "verdades" antitéticas; convivendo com concepções opostas igualmente "verdadeiras."
Assim, na concepção pluralista, nenhuma religião, inclusive o cristianismo, é a depositária da verdade. Não existe a idéia de definição: este versus aquele. Não deve haver, em hipótese alguma, a definição de estar num lado ou no outro, como se somente um dos lados estivesse com a verdade. A verdade está com todas as religiões, e não é propriedade de uma só. Há uma relativização histórica das verdades do cristianismo.
Para os pluralistas, são altamente criticáveis aqueles que postulam um só padrão de verdade. Todos aqueles que se insurgem contra a crença pós-modernista de que "não há absolutos" ficam fora dos cânones da tolerância. O erro dos cristãos, por exemplo, segundo os pós-modernistas neste mundo pluralista, é crer na verdade absoluta.
C. A Autoridade da Experiência Religiosa
A terceira grande pressuposição embutida no pluralismo pós-modernista é a de que a experiência religiosa de todas as tradições deve ser fonte de autoridade.
O pós-modernismo tem sido caracterizado pela ausência da verdade objetiva, como já foi mencionado acima, e isto leva a um paradigma altamente subjetivo. O pós-modernista Steven Connor, diz que "desde a música ao turismo, à TV e mesmo à educação, todas estas coisas são imperativos da propaganda, e que o consumidor não quer mais aquilo que é bom, mas ele quer experiências."23 Essa força da experiência como algo de suprema importância tem atravessado as barreiras do mundo chamado "secular." Ela tem entrado no terreno da teologia prática. Muitos segmentos do cristianismo pós-moderno têm mudado o paradigma básico da busca da verdade objetiva da Palavra de Deus para a "verdade" da experiência. Se o paradigma da verdade de Deus não é levado em conta, e aceitamos o paradigma da experiência, não poderemos negar as experiências de outros grupos religiosos não-cristãos como válidas e como fonte autoritativa.
O cristianismo moderno tem enfatizado a experiência com Cristo Jesus como base de sua fé. Se a experiência dos cristãos é fundamento para a sua fé, não se pode negar às outras tradições o mesmo critério. Uma das coisas mais profundas nas religiões não-cristãs é a experiência religiosa como um fenômeno indiscutível. Às experiências de outras religiões também deveria ser permitido o mesmo statuspelos pluralistas cristãos, para poderem ser coerentes. Muitíssimos religiosos muçulmanos e budistas têm reivindicado experiências salvadoras, confortadoras e que lhes têm trazido paz, e estas experiências deveriam ser levadas em conta pelos "experiencialistas" evangélicos, ao mesmo nível das experiências cristãs.
O pluralismo pós-modernista apoia totalmente esta mega-mudança nos círculos cristãos. O objetivo do pós-modernismo tem sido alcançado, porque essa mudança anula o princípio básico da verdade ensinada objetivamente.
D. A Presença de uma Nova Teoria Missiológica
A quarta grande pressuposição do pluralismo religioso é a necessidade de uma nova forma de "missão."
A missiologia do pluralismo rompe totalmente com o conceito missiológico vigente, até então, dentro da esfera do cristianismo. Ninguém pode tentar convencer outras pessoas a se tornarem cristãs, porque o caminho para a salvação pode ser encontrado dentro de todas elas. Os missiólogos do pluralismo parecem aceitar a tese de Ghandi, que disse: "Na esfera da política, do social e da economia, podemos estar suficientemente certos de converter pessoas, mas no reino da religião não há certeza suficiente de se converter ninguém e, portanto, não pode haver conversão nas religiões."24 A ênfase não é mais à obra perdoadora singular de Jesus Cristo, porque temos que respeitar as tradições religiosas em nossa obra missionária, sem tocar nos pontos onde diferimos. Todas as tradições religiosas culturais têm os seus valores salvíficos. Portanto, não há mais necessidade de conversões!
A nova forma missionária é uma espécie de colaboração internacional de um povo para com outro, na esfera social, econômica e educacional, mas sem interferir nos costumes, hábitos e moral dos povos onde se faz a obra missionária. Não se deve alterar as crenças dos povos. Esse pressuposição missiológica do pluralismo é, de certa forma, relacionada com a pressuposição que vem a seguir.
E. A Religião é determinada pelo lugar de nascimento
A quinta grande pressuposição do pluralismo religioso é que a religião de uma pessoa deverá ser a religião dominante do lugar onde ela nasceu. Em outras palavras, se alguém nasce em terras onde o islamismo prevalece, essa pessoa tem que ser muçulmana. Gavin D’Costa relaciona essa idéia com o que ele chama de "paroquialismo cultural."25 É a cultura religiosa de um lugar que determina a religião dos que ali nascem. A conseqüência de se aceitar esse pressuposto é a noção de que a verdade é uma matéria simplesmente de nascimento.26 Essa pressuposição também esvazia o conceito de missão em terras estrangeiras ou transculturais.
IV. Os Perigos do Pluralismo Pós-Modernista
A. Perigo da Inconsistência de Princípios
A tentativa dos pós-modernistas é de desmantelar todos os sistemas construídos anteriormente. Todos os paradigmas do passado têm que ser destruídos. Aquilo que era central tem que ir para a periferia e as coisas periféricas do passado têm que estar no centro. No pós-modernismo as minorias têm tido a prioridade. Agora é o tempo dos direitos de todos os marginalizados pelo pré-modernismo teológico e ético. Agora é a vez daqueles que têm sido vítimas da opressão, isto é, os terceiro-mundistas, os negros, os "gays," as feministas, etc. Agora é a vez deles mostrarem o seu poder, que até agora esteve nas mãos daqueles que controlaram a ética e a moral. Em outras palavras: os cristãos da ortodoxia estão sendo questionados na sua verdade. Agora, outras "verdades" do "cristianismo marginalizado" anteriormente (oprimidos, negros, mulheres e outras minorias) estão aparecendo.
As coisas que os pós-modernistas criticam no pré-modernismo e no modernismo eles acabam fazendo. Aqueles que construíram a sociedade ocidental, são chamados de "Eurocentristas." A civilização ocidental está sendo destroçada pelo pós-modernistas. Mas o que eles estão construindo? Agora, a atenção é para um "Afrocentrismo," que tem exaltado a África como sendo o pináculo da civilização.27 Se o Eurocentrismo é condenável, o Afrocentrismo, também. A fim de descrever a inconsistência crítica do pós-modernismo uso aqui um linguajar mais popular: É como desvestir um santo para vestir outro, ou sair do mato para entrar na capoeira. Acabam fazendo aquilo que criticam.
A mesma inconsistência ocorre na teologia. O feminismo tem lutado contra a sociedade masculinamente orientada, e a tem substituído por uma sociedade feministicamente orientada. As religiões patriarcais como judaísmo e cristianismo têm sido questionadas, e a tendência é substitui-las por religiões matriarcais. Ao invés de adorarem Ele, estão adorando Ela. Não é Deus, mas deusa. Se o sistema patriarcal é errôneo, porque o matriarcal seria certo? É apenas uma troca de poder, nada mais.
Dá para perceber que não é simplesmente a verdade que está em jogo, mas também o poder. Esses novos modelos apenas dão poder aos que foram marginalizados pelo sistema anterior. Os pós-modernistas acabam tropeçando naquilo que criticam.
B. Perigo da Inconsistência Teológica
Há muitos pastores evangélicos que não estão percebendo o grande perigo da inconsistência teológica, que é produto direto do pluralismo em que vivemos. Como não podemos dizer que existe uma verdade absoluta, temos que conviver com várias "verdades" na mesma comunidade. Cada um se adapta àquela que lhe convém. Não é difícil encontrar pastores e membros de igrejas em geral que aceitam princípios contraditórios em sua teologia. Eu já encontrei pessoas que afirmavam crer na inerrância da Escritura, em algumas doutrinas eminentemente reformadas e, ao mesmo tempo, tinham simpatia pela doutrina da reencarnação. Pessoas assim não conseguem perceber a inconsistência desse tipo de crença.
Não é difícil encontrar pastores que ensinam a doutrina calvinista em suas igrejas e, ao mesmo tempo, ensinam ou não fazem nenhuma objeção que se ensine nas mesmas igrejas os princípios do arminianismo. Eles não vêem nenhum problema com isso. É uma inconsistência produzida pelo pluralismo vigente em nossos dias. Não existe uma verdade absoluta. Tudo pode ser relativizado. Na presente geração de pastores, muitos não possuem solidez e consistência teológica.
Alguns pastores mostram essa mesma inconsistência inclusive nas suas crenças cúlticas. Eu conheço pastores que, para satisfazer os mais variados gostos, dirigem cultos em horários diferentes com os mais diversos sabores para as diferentes faixas etárias e teológicas. Eles são os protagonistas das duas posições extremadas, sem que isso os perturbe. Eles dirigem ambos os cultos com a mesma naturalidade. Amoldam-se aos mais variados gostos teológicos e cúlticos, sem ver qualquer inconsistência em seu comportamento. A minha finalidade não é condenar esta ou aquela forma, mas mostrar a inconsistência desses pastores. São capazes de fazer coisas diametralmente opostas sem qualquer noção de inconsistência.
Uma parte da nova geração de pastores que está sendo formada em muitos seminários vem sendo atacada pelo pós-modernismo, e ela não percebe isto. Esses ministros não conseguem mais pensar sistematicamente. Eles perderam a capacidade de ser consistentes nos seus pensamentos. Eles gostam da Bíblia, mas ao mesmo tempo são capazes de ter simpatia pelos pensamentos de Paulo Coelho.
Temos que evitar o perigo da inconsistência teológica. Temos que assumir a nossa identidade doutrinária com as devidas cores. Não podemos ser camaleões, assumindo a cor do ambiente onde estamos. Temos que lutar contra as inconsistências teológicas em nosso mundo pluralista.
C. Perigo da Inconsistência Ética
Esta é o resultado da primeira. Alguns pós-modernistas mais honestos conseguem perceber uma inconsistência ética no seu comportamento. É comum vermos pós-modernistas negando a verdade absoluta e, ao mesmo tempo, lutando pelos "direitos humanos" ou pelo estabelecimento da "justiça," especialmente nos países do terceiro mundo.
Os pós-modernistas acabam caindo na inconsistência de aceitar verdades universais para resolver situações específicas. Eles aceitam regras gerais de coletividade ética, mas afirmam não existir padrão de verdades. No fundo, o ser humano não consegue negar as verdades fundamentais da vida, porque elas estão impressas em seu coração, mesmo naquele que ainda não é regenerado. Essa talvez seja uma explicação para a sua inconsistência ética.
D. Perigo do Pragmatismo
Quando os pós-modernistas se insurgem contra os modelos existentes, eles os derrubam e tentam construir outros, mesmo que inconsistentemente. Por que eles fazem assim? Seria simplesmente pelo poder que as classes anteriormente marginalizadas vem a possuir? Não. Um pesquisador pós-modernista muito conceituado reconheceu que o alvo da erudição pós-modernista é:
Enquanto que nas academias do pré-modernismo e do modernismo buscou-se a verdade objetiva através da pesquisa, nas academias do pós-modernismo procura-se "o que funciona." Enquanto o mundo acadêmico tradicional primava pela busca da verdade através da pesquisa, a academia pós-modernista procura fazer o que é politicamente correto, não se importando se o politicamente correto tem a ver com a verdade.
Não mais verdade, mas realização — não mais aquela pesquisa que conduz à descoberta de fatos verificáveis, mas aquela espécie de pesquisa que funciona melhor, onde o funcionamento melhor significa produzir mais... A universidade ou a instituição de ensino não pode nestas circunstâncias estar preocupada em transmitir conhecimento em si mesmo, mas ela deve estar presa sempre mais estreitamente ao princípio da realização — de forma que a questão levantada pelo professor, pelo estudante ou pelo governo, não deva ser mais esta:Isto é verdadeiro?, mas Funciona? ou Qual é o proveito disso?28
Este pragmatismo do pós-modernismo ensinado nas universidades é refletido nas questões teológicas e práticas da Igreja. As pessoas não estão preocupadas com a verdade na Igreja, mas se os resultados aparecem; muitos ministros têm sacrificado a verdade em nome da performance, em benefício dos resultados. Funciona? Então, o método é aplicado.
O pragmatismo vem estreitamente ligado à experiência que funciona. O perigo do pragmatismo é que a experiência funciona para os outros também. Geralmente, em jantares de homens de negócios ou em chás promovidos por mulheres cristãs, sempre alguém é convidado para testificar de como Jesus funciona para nós e como tem sido muito gostoso ter uma experiência com Jesus. A testemunha diz: "Jesus foi uma experiência muito boa para mim. Funcionou para mim." Uma pessoa não cristã presente no auditório, pode perfeitamente afirmar: "As experiências da Nova Era para mim foram extraordinárias. Funcionaram para mim." Quando isto acontece, ninguém poderá contestar, porque o paradigma é a experiência que funciona. Nenhum cristão pode convencer alguém de que a experiência com Cristo é melhor do que a da Nova Era, ou de outra religião qualquer. É esse perigo que podemos enfrentar quando revertemos o paradigma do conhecimento da verdade objetivamente revelada para o da experiência que funciona. Se você tentar explicar que a sua experiência que funciona está baseada na Bíblia, as pessoas retrucarão que não crêem num paradigma objetivo. Este é o grande perigo que o pós-modernismo traz.
A igreja que evangeliza deve ter os olhos abertos para esse perigo. Os que testificam de Cristo têm que encontrar um ponto comum de referência, a fim de que as pessoas de mentalidade pós-modernista possam ouvi-lo. É muito difícil testificar para pessoas que crêem que a verdade é relativa, pois o que funciona para uns, não funciona para outros e vice-versa.
Um outro grande perigo do pragmatismo é que ele só vê os resultados. É uma espécie de marketingcristão. Neste barco muitos ministros e igrejas cristãs têm entrado. Por essa razão, o planejamento deles é o de resultados, não o de trabalho. Esse é um perigo do pós-modernismo para o qual precisamos estar atentos. Na perspectiva cristã a primeira coisa a ser levantada é a verdade, é o parâmetro objetivo. Depois, os resultados aparecem. E os resultados não têm muito a ver conosco, mas com a obra do Espírito. Deus mandou que trabalhássemos, plantando, regando e colhendo, mas o fruto do crescimento vem dele.29
E. Perigo do "Sentimentismo"
A mudança do modernismo para o pós-modernismo trouxe uma mudança de ênfase na faculdade da alma que controla o ser humano. No modernismo, houve grande ênfase na supremacia da razão. Aliás, em vários períodos da história humana houve uma oscilação do pêndulo entre a razão e a vontade como elementos dominantes na personalidade humana. Curiosamente, neste período pós-modernista a ênfase tem caído no sentimento. Como a razão foi a medida de todas as coisas no modernismo, o sentimento tem sido a medida neste nosso tempo pós-moderno. O sentimento das pessoas tem sido o parâmetro para as resoluções a serem tomadas. Não há mais a ênfase no juízo da razão. O "sentir" é a força que tem impulsionado a tomada de decisões na vida.
Com o abandono das verdades absolutas, não há parâmetros objetivos a serem seguidos. Contudo, o ser humano tem sempre que possuir um paradigma, porque ele é dependente de algo a que seguir. O parâmetro passa a ser o sentimento. Daí começou a surgir a teologia do "sentir-se bem." Então, oferece-se aquilo com que as pessoas sentem-se bem e gostam. Este espírito é evidenciado na frase comum ouvida de muitas pessoas: "Eu não gostei daquele tipo de culto," ou "eu não me senti bem naquela igreja." As pessoas são governadas pelo "sentir" antes do que pela orientação de uma verdade objetiva. Este sentimentismo gera um outro perigo: o do consumismo teológico e litúrgico.
F. Perigo do Consumismo Teológico
O pluralismo pós-modernista traz conseqüências imperceptíveis a muitos paladares. Uma delas é o consumismo em que vivemos em todas as áreas. Tudo tem a ver com a falta de verdade objetiva, absoluta. Todas as áreas são tratadas na esfera do comercialismo. O que se vende tem que ser de acordo com os mais variados paladares dos consumidores. "O pós-modernismo encoraja uma mentalidade de consumismo, fornecendo às pessoas o que elas gostam e querem."30 Esta mentalidade tem atingido a esfera da teologia e da liturgia. Quando a verdade objetiva e absoluta não existe mais, as teologias e liturgias passam a refletir o gosto do tempo presente. A teologia acompanha as filosofias vigentes. É curioso notar que, após a entrada do período pós-moderno, muitas teologias e liturgias têm surgido no cenário religioso, uma após outra, como os produtos de um supermercado. Elas fazem sucesso por algum tempo e, depois, outra surge para substituir o produto anterior. Há uma sede de novidade quase incontrolável. Não há nada que dura para sempre. Por que? Porque não há verdade absoluta.
Charles Colson adverte sobre o consumismo na igreja porque ele dilui a mensagem, muda o caráter da igreja, perverte o evangelho e nega a autoridade da igreja.31
G. Perigo da Mudança da Pregação
O perigo do consumismo teológico trouxe este outro. As palavras na teologia vêm perdendo o seu significado, justamente por causa da mudança constante das teologias. Cada uma delas dá uma conotação diferente aos termos teológicos tradicionais, ou usam novos termos para expressar os seus conceitos.
Colson conta-nos de uma igreja evangélica que decidiu crescer em número de membros. Então, o pastor fez uma espécie de pesquisa de mercado. Descobriu que muitas pessoas tinham resistência ao termo "Batistas." A igreja resolveu mudar de nome. A pesquisa mostrou que as pessoas estavam procurando uma igreja de acesso fácil. Então, eles mudaram o local de reunião, construindo um novo templo. A pesquisa também mostrou que as pessoas estavam procurando conforto e comodidade. Então, eles construíram o templo com todas as coisas apontando para o conforto. Também a pesquisa mostrou que as pessoas não queriam símbolos religiosos no templo. Então, tirou a cruz e os outros símbolos cristãos que pudessem fazer as pessoas desconfortáveis. Afinal de contas, as pessoas é que escolhem o tipo de igreja que querem.
Por essa razão, o pastor veio a descobrir que tinha que mudar o uso da linguagem teológica. Ele resolveu mudar o vocabulário comum da teologia. Esse pastor disse: "Se eu usar as palavras redenção ouconversão, as pessoas vão pensar que estamos falando a respeito de prisão." Ele parou de pregar sobre o inferno e sobre a condenação divina, resolvendo falar sobre tópicos mais amenos e positivos, compatíveis com o espírito do tempo presente. "As pessoas não mais gostam de doutrina nos dias de hoje," raciocinam esses pastores. Nem as pessoas do tempo presente gostam de "faça isto" ou "não faça aquilo."32 Quando as pessoas desprezam o verdadeiro sentido das palavras, não fazendo caso da doutrina, certamente a sua ética também será alterada. Este é o grande postulado do pós-modernismo: mudar os conceitos mudando as palavras. Ao invés de pregar a redenção que há em Cristo Jesus levando as pessoas ao arrependimento de seus pecados e à fé em Cristo, os pregadores entregam mensagens cujo objetivo é fazer com que seus ouvintes sintam-se bem, expressando a religião de uma cultura terapêutica. A tônica do nosso tempo é fazer com que as pessoas sintam-se psicologicamente bem, satisfeitas consigo mesmas. O importante é o bem-estar, não a verdade. Esta não é levada em conta, porque tudo é relativo. Não existe verdade absoluta. Este é o valor controlador do pluralismo do pós-modernismo. A maioria dos líderes religiosos que aceitam o pluralismo pensa assim. Líderes cristãos estão embarcando neste perigo do pós-modernismo.
Não é raro encontrar líderes evangélicos no Brasil desviando os crentes da verdadeira mensagem de redenção, convertendo-a numa redenção para o aqui e o agora. Muitos ouvintes de pregações modernas não mais são dirigidos para um interesse genuíno no céu, ou na nova terra (como prescreve a Santa Escritura), mas são direcionados para ter o céu aqui neste tempo presente. Por isso a pregação que eles ouvem diz respeito a milagres, a promessas de prosperidade, de libertação da opressão, de sucesso ou de crescimento numérico, uma espécie de teologia da glória neste presente mundo. Esses pregadores se esquecem de que antes da glória, eles têm que pregar a teologia da cruz, da negação de nós mesmos, lutando contra os nossos próprios pecados. É dessa redenção que a Escritura fala, a qual precisamos pregar.
H. Perigo da Mudança de Modelo Teológico
Essa mudança no foco da pregação tem sido o resultado de uma mudança ainda maior chamada de "mega-mudança" devido à sua enorme influência no pós-modernismo.33 É a mudança da pregação do protestantismo clássico do pré-modernismo para a pregação do pós-modernismo, dando origem a um entendimento totalmente diferente do que realmente significa o evangelho de Cristo. Michael Horton explica essa mega-mudança através de uma série de contrastes nos dois cristianismos: o pré-moderno e o pós-moderno:34
1. Deus 35
Enquanto o cristianismo pré-moderno enfatiza a transcendência de Deus e sua imutabilidade, onipotência e onisciência, o modelo do cristianismo pós-modernista enfatiza a imanência de Deus, que é dinâmica, capaz de mudança, e em parceria com a sua criação.
2. Pecado 36
Enquanto o cristianismo pré-moderno vê o problema do homem como tendo origem na queda de Adão, tendo como resultado a culpa e a conseqüente corrupção, e o pecado como sendo uma condição, o cristianismo pós-modernista nega a queda universal. Os homens não são culpados por causa da queda de Adão. O pecado não é uma condição, mas um ato simplesmente.
3. Cristo
Enquanto o cristianismo pré-moderno ensina que a morte expiatória de Cristo é uma morte substitutiva para mostrar como Deus nos ama, enviando alguém de si próprio para morrer em nosso lugar, o cristianismo pós-modernista ensina que a morte de Cristo não foi um sacrifício substitutivo, mas um exemplo para nós. Morrendo, Jesus mostrou como devemos amar uns aos outros. Quanto mais percebemos o seu sofrimento na cruz, mas podemos sentir o amor de Deus por nós. Isto muda as nossas vidas e nos faz amar uns aos outros, segundo o pensamento pluralista.
4. Salvação
Enquanto o cristianismo pré-moderno ensina que não há salvação à parte da obra expiatória de Cristo e sua conseqüente fé nele, o cristianismo pós-modernista postula que muitos serão salvos à parte de Cristo, e que o Espírito Santo poderá trazer salvação mesmo aos que não conhecem a Cristo.
5. Escatologia
Enquanto o cristianismo pré-moderno crê no ensino bíblico sobre a condenação final dos homens, que serão lançados na segunda morte, estando para sempre debaixo da ira divina, o cristianismo pós-moderno ensina que Deus não pode lançar o homem na condenação, pois é um Deus de amor, e não lançará na condenação aqueles que são ignorantes da fé cristã. O cristianismo pré-moderno ensina que o eterno estado dos homens é no céu ou no inferno. O pós-modernista ensina que todos vão para o céu ou que, no mínimo, os ímpios serão aniquilados.
Essa mega-mudança é plenamente aceitável porque combina com os pressupostos do pluralismo vigente em nossos dias. O cristianismo pré-moderno é exclusivista, enquanto que o cristianismo pós-moderno é inclusivista. A fim de estar alinhado com o pluralismo, o cristianismo pós-modernista tem que estabelecer essa mega-mudança. Do contrário, seria excluído do grande guarda-chuvas do pluralismo.
Essa mega-mudança reflete todos os princípios pós-modernistas: a rejeição dos absolutos; a desconfiança na transcendência; a preferência pela "mudança dinâmica" em vez da "verdade estática"; o desejo pelo pluralismo religioso de modo que as pessoas de outras culturas e religiões sejam salvas; a rejeição da autoridade divina sobre nós; o tom de tolerância, sentimentos aquecidos e psicologia popular.37
V. Os Desafios da Igreja no Pluralismo Pós-Modernista
Há três saídas para o cristianismo do século XXI: continuar no pós-modernismo relativista; voltar aofundamentalismo racionalista; ou voltar mais atrás ainda, ao fundamentalismo religioso.38
Há os que têm tentado voltar ao fundamentalismo racionalista, que é o modernismo. Esses têm percebido a nefasta influência do pós-modernismo, e querem os princípios do Iluminismo de volta ao século XXI, reinstalando o modernismo. Na esfera da religião, o domínio da razão já acabou. Em termos religiosos, essa volta seria a reimplantação da teologia liberal, que é fruto do modernismo. Seria uma tolice voltar a esse tempo, pois é a negação de toda a sobrenaturalidade e intervenção de Deus.
Há ainda aqueles que querem continuar com o status quo do pós-modernismo, tendo as mais variadas opções que o pluralismo conseqüente traz, sobre as quais já estudamos. A igreja vive inquestionavelmente num mundo pós-moderno e ela deve aceitar essa verdade. Há um sentido em que devemos nos alegrar pelo fato do pós-modernismo ter criticado o modernismo, pois este foi extremamente prejudicial para a vida da igreja, mas o pós-modernismo traz consigo vários perigos contra os quais devemos estar avisados.
Contudo, deve haver, o quanto antes possível, a volta aos princípios do cristianismo pré-moderno. Não é uma volta ao tempo, mas aos princípios originais que nortearam a vida da Igreja antiga, por séculos. Não é um retrocesso, mas um progresso para o que é santo, justo e verdadeiro.
O cristianismo não deve somente voltar aos princípios da religião pré-moderna, com suas crenças, mas ele deve ser a melhor opção para as pessoas de nossa sociedade. A fim de que o cristianismo seja essa opção, ele tem que colocar as coisas em ordem. Para que o cristianismo seja essa opção, ele não precisa sucumbir ao liberalismo teológico do modernismo, porque ele mostrou-se ineficiente para resolver os problemas mais fundamentais do homem; nem precisa o cristianismo atender às reivindicações do pluralismo do pós-modernismo. Alguns setores evangélicos sucumbiram aos apelos da mega-mudança da cultura de nosso século. Foram engolidos pelo encanto do pós-modernismo. Hoje não sabem como safar-se dessa situação. O pós-modernismo tem colocado as pessoas num beco sem saída. Não há uma mensagem redentora, porque não há uma verdade objetiva. As pessoas não têm um norte para seguir, porque não existe paradigma confiável.
Qual é a saída para o cristianismo pós-moderno? O que fazer? Há vários desafios a serem aceitos:
A. O desafio da volta à verdade objetiva
Por verdade objetiva, estou querendo dizer um código de leis sob o qual o ser humano tem que pautar a sua vida. Todavia, que não seja um código de leis nascido nos próprios interesses ou na subjetividade do ser humano. Esse código tem que ser o de Alguém que possui supremacia sobre o homem — o Criador-Redentor-Rei.
Esta é a primeira grande coisa que foi perdida nesta nossa sociedade pluralista. Ela tem que ser recuperada a qualquer custo, ou nunca o cristianismo será aquilo que o seu Redentor é: Verdade.
O mundo pré-moderno e o moderno possuíam uma verdade objetiva. O primeiro cria em verdades transcendentais, enquanto que o segundo não; mas ambos criam em padrões, mesmo que diferentes. O pós-modernismo luta contra a verdade objetiva. Para ele não existe padrão absoluto de verdades.
A nota triste é que muitas comunidades cristãs estão aceitando alguns princípios pós-modernistas, rejeitando a objetividade da verdade. Leith Anderson, disse que "temos uma geração que está menos interessada em argumentos cerebrais, pensamento linear, sistema teológico, e mais interessada em encontrar o sobrenatural."39 O resultado dessa nova tendência é que muitos ministros de igrejas cristãs vêm operando com um novo paradigma de espiritualidade. As verdades objetivas e logicamente formuladas não têm mais lugar no pensamento deles.
O que vale agora é a experiência com o sobrenatural, sem o controle da verdade objetivamente examinada. Havia um antigo princípio no cristianismo pré-moderno: "Se você tem o ensino correto, certamente terá experiência com Deus." É o ensino correto a respeito de Deus que o levará a um relacionamento correto com Ele. Mas a ordem foi invertida. O novo princípio do cristianismo pós-modernista é: "Se você experimenta Deus, você terá o ensino correto." Em outras palavras, é a experiência que você teve com o sobrenatural que lhe dará as diretrizes que deve seguir. Não há qualquer padrão de verdades estabelecidas que você deva seguir. Elas virão dependendo de sua experiência. Ao invés da verdade objetivamente revelada determinar a validade da experiência, é a experiência que determina a doutrina.
Temos que restaurar o princípio da verdade objetiva que vigorou no tempo do cristianismo pré-moderno. Do contrário, a igreja cristã perderá totalmente a sua identidade.
B. O desafio de não ter medo da verdade
Muitos dos nossos jovens cristãos estão sendo acuados pelo caos teológico em que vivem, ao ponto de não terem coragem de assumir a verdade do cristianismo em face das pressões que sofrem em nossa sociedade pluralista. É muito difícil para eles assumirem a verdade de Deus e serem íntegros. A vida moderna tende a levar todos nós a um comportamento hipócrita e de padrões duplos. Não somente os estudantes, mas todos nós enfrentamos situações muito difíceis, porque a sociedade contemporânea não aceita que haja um padrão de verdade e ninguém pode sair por aí pregando e vivendo a verdade. É assim o ambiente em que os nossos filhos estão crescendo. Em tal ambiente é extremamente difícil ser o povo da verdade.
Precisamos educar os nosso filhos e o povo de Deus a não terem medo de expressar a sua fé na verdade da Palavra de Deus. É exatamente para esse fim que o povo de Deus tem sido convocado: para falar da verdade e para vivê-la. Como um povo da verdade, os cristãos devem resistir à tentação de ficarem em silêncio e de terem que assumir uma vida de padrões duplos. O silêncio e a hipocrisia podem minar a verdade, e o cristianismo pode vir a cair no descrédito. Além disso, estaremos minando o conceito de verdade se "todas as verdades são igualmente verdadeiras." O protesto dos cristãos diante desse status quo é urgente e absolutamente necessário, a fim de que Deus seja honrado através de nosso testemunho da verdade e vida na verdade.
C. O desafio para não sermos um gueto
Devido ao pluralismo religioso admitido em nossa sociedade pós-moderna, alguns grupos religiosos têm a tendência de se isolarem em suas verdades. O cristianismo não tem fugido à regra. Muitas comunidades cristãs genuínas se isolam em seu casulo com medo de serem invadidas. Quando questionadas em seus padrões, as igrejas e denominações têm a tendência de se isolar em um refúgio para permanecerem num lugar de segurança, que Veith chama de "gueto cristão."40
A bem da verdade, ninguém escolhe viver num gueto, pois os que vivem nele, vivem por causa da discriminação.41 O cristão, num certo sentido, é discriminado em todas as sociedades, mesmo onde ele é a maioria nominal. Quem vive num gueto é porque está excluído do ambiente geral.
A Igreja cristã não deve se isolar, embora deva proteger a verdade. Se ela se acovarda emburacando-se em uma caverna, como Elias fez diante das investidas de Jezabel, a igreja vai perder a sua verdadeira identidade.
Ela deve aceitar o desafio de contrariar o espírito do tempo presente como uma espécie de "contracultura," saindo para minar os campos alheios. Ela não deve ensimesmar-se (ou isolar-se), porque se o fizer, estará negando a sua missão de ser proclamadora do reino, de ser sal no meio desta geração pervertida e corrupta. Ela não deve temer a crítica ou o desprezo. Ela tem que sair do gueto para ser luz! Se ela sair, não será destruída, porque o Senhor dela, na sua fidelidade, se encarregará de abençoá-la. O Senhor haverá de protegê-la enquanto ela lutar contra as outras "verdades" do pluralismo religioso e teológico.
Sair do gueto significa entrar na ofensiva da proclamação e da mostra prática da verdade teórica. Diogenes Allen, professor de Princeton, alerta que a era pós-moderna é uma grande oportunidade para o cristianismo sair da defensiva, posição que tem ocupado desde a implantação do Iluminismo: "Não pode o cristianismo ser colocado da defensiva, como tem sido nos últimos 300 anos ou coisa que o valha, por causa da visão estreita da razão e da confiança na ciência clássica, que são as características da mentalidade moderna."42
Se o cristianismo quer ser uma alternativa para este mundo pós-modernista, ele tem que confessar a sua fé e prová-la com atitudes. Isso implica num conhecimento intelectual e experiencial da fé, que tem faltado a tantos chamados cristãos. Pela falta dessa confissão e pela falta da genuinidade da experiência, é que o cristianismo tem permanecido acuado pelo modernismo, dentro do seu próprio gueto. Sair dele é um imperativo para a sobrevivência e para a expansão do reino de Deus. Essa saída do gueto tem que ser vitoriosa, não pela derrota do modernismo, mas pelo retorno à vida, pelo conhecimento advindo do real estudo da Escritura e pela experiência genuína com o Senhor Jesus. Somente quando isto acontecer, é que a igreja terá coragem de entrar na ofensiva contra as hostes espirituais do mal, que estão entrincheiradas nas filosofias pós-modernistas.
D. O desafio da volta à confessionalidade
O modernista Ernest Gellner, lutando contra o espírito pós-modernista, presta um tributo de respeito aos que ele chama de fundamentalistas religiosos, dizendo: "Os fundamentalistas merecem o nosso respeito, tanto como reconhecedores da singularidade da verdade que evitam a superficial auto-ilusão do relativismo universal (e merecem nosso respeito), quanto como nossos ancestrais intelectuais. Sem provocar uma excessiva adoração de nossos ancestrais, nós lhes devemos uma medida de reverência..."43 Embora ele não concorde com os fundamentalistas religiosos, certamente Gellner entende que o fundamentalismo é uma grande opção para a sociedade contemporânea.
É importante observar que o fundamentalismo religioso aqui descrito não tem nada a ver com o fundamentalismo de outras religiões, como o fundamentalismo islâmico, por exemplo. O que Gellner tem em mente é a religião pré-moderna, especialmente o cristianismo revivido na Reforma e pós-reforma.
Se o cristianismo quer ser a melhor opção para o homem pós-moderno, ele tem que voltar às suas origens históricas. Primeiramente, às Escrituras e, conseqüentemente, à Reforma do século XVI. Muitos teólogos estão redescobrindo a Escritura, voltando a ela, e redescobrindo a história (os pais da igreja e a espiritualidade que os caracterizou). É curioso que, para satisfazer as necessidades espirituais do homem pós-moderno, tenhamos que voltar à mensagem do homem pré-moderno.
Portanto, o desafio da igreja é a volta aos princípios da Reforma do século XVI. Os luteranos que voltem aos seus credos, os calvinistas aos seus, e os outros que não possuem credos, que voltem às raízes do movimento, conquanto estas combinem com o verdadeiro ensino da Palavra, e que todos tenham a verdade restaurada objetivamente, sem, contudo, cair num confessionalismo frio e árido, que caracterizou a segunda metade do século XVII e o século XVIII. É necessário que as igrejas cristãs históricas voltem a ter uma fé ortodoxa, viva e piedosa; uma fé que dê lugar ao intelecto e aos sentimentos: uma fé racional, mas não racionalista, com emoções, mas não emocionalista; uma fé baseada na verdade de Deus como revelada nas Santas Escrituras.
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Notas
1 Sobre este assunto verificar o excelente artigo de Ricardo Quadros Gouvêa, "A Morte e a Morte da Modernidade: Quão Pós-moderno é o Posmodernismo?" em Fides Reformata, 1/2 (Julho-Dezembro 1996) 59-70.
2 R.C. Sproul, Classical Apologetics (Grand Rapids: Academie Books, 1984) 7.
3 Gene Edward Veith, Jr., Postmodern Times (Illinois: Crossway Books, 1994) 19.
4 Dennis L. Okholm, ed., Four Views on Salvation in a Pluralistic World (Grand Rapids: Zondervan, 1996) 8.
5 Ibid., 9.
6 Alister McGrath, "The Challenge of Pluralism for the Contemporary Christian Church," em Journal of the Evangelical Theological Society, 35/3 (1992) 364.
7 Ibid.
8 Veith, Postmodern Times, 51.
9 Ibid., 53.
10 Ibid., 54.
11 Stanley J. Samartha, "Church in the World: A Hindu-Christian Funeral," em Theology Today (Janeiro 1988) 481. Este artigo mostra o resultado das crenças pluralísticas, sem mencionar uma vez sequer a palavra "pluralismo."
12 Okholm, Four Views, 12.
13 McGrath, "The Challenge of Pluralism," 367.
14 R. Rorty, Consequences of Pragmatism (Minneapolis: University of Minneapolis, 1982), xlii; (citado por McGrath, "The Challenge of Pluralism," 368).
15 A palavra homofobia quer dizer a aversão pelo igual. Em outras palavras, os homófobos são aqueles que não possuem preferência por pessoas do mesmo sexo. Portanto, em alguns setores da ética pluralista, os doentes são aqueles que possuem aversão pelo mesmo sexo.
16 Citado por Veith, Postmodern Times, 59.
17 Citado por Veith, Postmodern Times, 238, nota 21.
18 Informações retiradas de Veith, Postmodern Times, 17.
19 Ibid.
20 McGrath, "The Challenge of Pluralism," 366.
21 Ibid., 365.
22 Ibid., 366.
23 Steven Connor, Postmodernist Culture: An Introduction to Theories of the Contemporary (Oxford: Basil Blackwell, 1989) 154 (citado por Veith, Postmodern Times, 58).
24 Citado em H. A. Evan Hopkins, "Christianity — Supreme and Unique," em H. A. Evan Hopkins, ed.,The Inadequacy of Non-Christian Religion: A Symposium (London: Inter-Varsity Fellowship of Evangelical Unions, 1944) 67.
25 Gavin D’Costa, "The Pluralism Paradigm in the Christian Theology of Religions," em Scottish Journal of Theology, 39 (1986) 220.
26 Ibid.
27 Veith, Postmodern Times, 57.
28 Connor, Postmodernist Culture, 32-33 (grifos meus).
29 Ver o penetrante artigo de F. Solano Portela sobre a influência do pragmatismo no moderno movimento de crescimento de igrejas, intitulado "Planejando os Rumos da Igreja: Pontos Positivos e Crítica de Posições Contemporâneas," em Fides Reformata 1/2 (1996) 79-98.
30 Veith, Postmodern Times, 212.
31 Charles Colson, The Body: Being Light in Darkness (Dallas, Texas: Word, 1992) 44-47.
32 Ibid., 43-44.
33 Veith, Postmodern Times, 214.
34 Michael Horton, "Theology at a Glance," em Modern Reformation (Janeiro-Fevereiro 1993) 33.
35 A parte da teologia sistemática onde se estuda o ser de Deus é chamada de teontologia. Também nessa parte são comumente estudadas as obras de Deus.
36 A área da teologia sistemática que estuda a doutrina do homem em relação ao pecado é denominadahamartiologia.
37 Veith, Postmodern Times, 214.
38 Estes três nomes italicizados foram cunhados pelo antropólogo inglês Ernest Gellner em seu livroPostmodernism, Reason and Religion (London: Routledge, 1992).
39 Leith Anderson, A Church for the Twenty-First Century (Minneapolis: Bethany House, 1992) 20.
40 Veith, Postmodern Times, 210
41 Exemplos de guetos podem ser vistos na África do Sul, onde os negros ainda vivem em lugares isolados feitos especialmente para eles; há, ainda, exemplos de algumas comunidades de negros norte-americanos, onde eles vivem quase que exclusivamente para si próprios, sem contato maior com a comunidade dos brancos. Eles criam seu próprio estilo de vida e linguagem. Houve, também, o exemplo clássico dos guetos dos judeus no tempo da guerra na Polônia, Alemanha e outros lugares da Europa.
42 Diogenes Allen, Christian Belief in a Postmodern World (Louisville, KY: Westminster/John Knox Press, 1989) 2.
43 Ernest Gellner, Postmodernism, Reason and Religion (London: Routledge, 1992) 95-96 (citado por Veith, Postmodern Times, 217).
O Deus do Movimento de Crescimento de Igreja
por
Martin Murphy
“Às vezes me sinto tão violentamente acossado pelos pensamentos mundanos que chego a pensar que somente a morte me poderia aliviar, tantas as deprimentes circunstâncias que me envolvem”. A pressão do secularismo parecia premer a alma de Jonathan Edwards [1] muito antes que sociólogos e historiadores da igreja investigassem o assunto. Entretanto, o relacionamento entre o secular e o sagrado tem uma longa história de discussão. Durante o tempo em que vivia Jonathan Edwards o termo “mundano” era popular, mas tinha o mesmo significado de secularismo. “Muitos têm interpretado a Aliança de Meio-Termo (Half-way Covenant) como uma degeneração do Puritanismo estrito na medida em que os negócios na Nova Inglaterra começaram a gerar prosperidade, em decorrência do maiorsecularismo”.[2]
Muito pode ser dito acerca das causas responsáveis pelos problemas que assolam a igreja evangélica hoje em dia. No entanto, o acúmulo de problemas começou com o nascimento da igreja evangélica no Século XVI.
O termo “igreja evangélica” será utilizado neste trabalho para descrever o “evangelicalismo” ou “evangelismo” clássico. Os distintivos teológicos da Reforma Protestante, sola scriptura, sola fide e sola gratia, são as marcas da igreja evangélica. A igreja evangélica no Século XVI podia ser chamada de Igreja Protestante ou de Igreja Reformada. A igreja das boas novas do Século XVI interessava-se pela verdade do Evangelho. Por exemplo, a Igreja Católica Romana ensinava a “justificação pela fé” mas havia perdido a compreensão bíblica da justificação. Os reformadores corrigiram o problema ao aduzir a palavra “somente” à declaração. A igreja evangélica “tem-se chafurdado dentro de um impressionante analfabetismo teológico”, [3] deixando para trás o “somente” que a fazia distintivamente evangélica. De fato, a igreja evangélica tem uma definição tacanha do mundo eclesiástico de hoje. Isso no tocante aos distintivos da Reforma que na maioria das vezes têm sido abandonados pelos evangélicos.
O colapso da igreja evangélica pode ser atribuído a uma série de fatores. Não seria o propósito deste trabalho demarcar a decadência da igreja evangélica. Mas a igreja evangélica tem sido certamente afetada pelo seguinte tema: modernidade e movimento de crescimento da igreja. O argumento deste trabalho consiste em dizer que embora a modernidade tenha modelado o caráter da igreja evangélica, omovimento de crescimento da igreja é o catalisador da utilização das ferramentas da modernidade pela igreja evangélica.
A modernidade tem sido descrita como “o caráter e sistema do mundo produzido pelas forças de modernização e desenvolvimento”.[4] “A modernização é o processo que requer que nossa sociedade seja organizada em torno das cidades para atender ao propósito da industrialização e do comércio”.[5] A modernização e a modernidade estão relacionadas, mas são diferentes. David Wells explica que a modernização é “o processo direcionado ao capitalismo e alimentado pela inovação tecnológica. Essas forças têm reformulado nosso pano de fundo social e por conseqüência as nossas próprias vidas interiores, forçando o surgimento de um turbilhão dentro de nós. É a este turbilhão que chamo modernidade”.[6]
O círculo das ideologias define a modernidade, mas, além disso, estabelece uma progênie. A prole emerge das ideologias para produzir ainda mais descendentes. O projeto do Iluminismo deu à luz a modernidade e a modernidade tem servido de agente de expansão da influência do secularismo. O foco do secularismo como visão de mundo e de vida está no “tempo presente”. Então se a atenção está colocado no tempo presente, por que se interessar por algo além desta vida? O descuido em relação a esse “por que” é o assassino silencioso da cristandade evangélica. Infelizmente o foco no secular direciona os cristãos a tornarem-se parte dessa progênie da filosofia secular. O dilema nos conduz ao fato triste de que há “cristãos secularizados ao invés de humanistas seculares…o que representa a desintegração da vitalidade religiosa” [7] da igreja evangélica.
O relacionamento entre a modernidade e o projeto do Iluminismo tem mais a ver com a expressão de idéias do que com a filosofia dogmática. Nesse sentido, Alasdair MacIntyre, filósofo moral contemporâneo, entende que o “projeto do Iluminismo… falhou em seus próprios padrões”, [8] e segue descrevendo a massa de destruição que esse projeto deixou em seu rastro. O Iluminismo foi o cérebro do desenvolvimento pejado de modernidade. A progênie da modernidade que emerge do projeto do Iluminismo será a força poderosa, ainda que devastadora para a igreja evangélica.
No começo deste século, quando o liberalismo ameaçava a igreja, J. Gresham Machen respondeu por meio de um escrito apologético para defender o mandato cultural aos cristãos. Machen disse que “de todo ponto de vista, portanto, o problema em questão é a mais séria preocupação da igreja. Qual a relação entre a Cristandade e a cultura moderna que pode manter a cristandade em uma era científica?”.[9] Por todo o livro de Machen, faz-se referência, ao menos implicitamente, ao mandato cultural no período da modernidade. Os cristãos têm toda razão de se sentirem culpados de permitir que a cultura seja controlada pelos filhos da modernidade. Esses filhos da modernidade são essa progênie da modernidade a que se alude.
As guerras culturais, no contexto do pensamento teológico e filosófico, são também filhas da modernidade. James Davison Hunter ensina que “a presente guerra cultural tem sido desenvolvida, ... como a luta com vistas a estabelecer novos consensos acerca do caráter e do conteúdo da cultura pública da América”.[10] Essas guerras culturais refletem a falha dos cristãos em se empenharem no mandato cultural dado por Deus.
A tragédia dos efeitos do fundamentalismo aparece nas sub-culturas cristãs de evangelicalismo. A música cristã, a rádio e televisão cristãs, a literatura cristã e a estética cristã são somente uns poucos exemplos de como os cristãos, por causa do fundamentalismo, têm recusado a cultura. As guerras culturais estão sendo travadas nos campos da educação, da lei, da política e da ética. As guerras culturais não estão somente dividindo cristãos dos não-cristãos, estão criando barreiras entre os cristãos. Por exemplo, os cristãos não estão de acordo quanto à questão de aborto. Os cristãos estão divididos sobre educação. Guerras culturais nasceram na modernidade, adotadas pelo fundamentalismo na igreja, e tem se multiplicado, em detrimento mais do povo de Deus.
Outra filha da modernidade é a revolução terapêutica. O professor de psicologia da Universidade de Nova Iorque, Dr. Paul Vitz, descreve os EUA como uma “sociedade psicológica em que se verifica o triunfo da terapêutica”.[11] A terapia tem-se tornado palavra de ordem para os americanos que crêem que são vítimas do poder e da persuasão de outras pessoas. Essa filha da modernidade repercute e afeta a igreja. Por causa disso, alguns filhos de Deus ainda se sentem propensos para cometer algum tipo de pecado que inclusive chega a fazer parte da vida deles. As tentações e as experiências de vida orientam essas pessoas a esperar respostas assim que sentem ameaçados e vitimados. Então eles vão ao terapeuta para ajuda e o ciclo vicioso continua.
De todos os filhos (ou filhas) que a modernidade tem produzido o furor gerencial é uma das produções que certamente tende a modificar o formato da igreja. Na avaliação de Maclntyre, em se tratando de filosofia moral do mundo ocidental, “o administrador burocrático ... pode moldar, influenciar e controlar o ambiente social”.[12] Sua estimativa é exata “porque parece que a administração positiva é essencial para o sucesso de qualquer organização"[13] segundo a teoria gerencial. A administração ou gerência impacta o conceito bíblico de liderança. A Administração não é um conceito novo, mas a modernidade o tem explorado e fez dele uma ferramenta que vai de encontro ao conceito bíblico de liderança.
A progênie da modernidade continuará a influenciar a igreja evangélica, a menos que aprendamos a controlar os filhos da modernidade. Esses filhos da modernidade embora não intrinsecamente maus, podem se tornar instrumentos do inimigo para fazer mal. Os cristãos evangélicos deveriam compreender os perigos dessa descendência. Os Guinness cita Peter Berger para nos chamar atenção sobre o uso dos filhos da modernidade. “Ele adverte que quem quer jantar com o diabo da modernidade tem que ter talhares de cabos bem cumpridos”.[14] Algo poderia ser dito acerca desse sobreaviso. “O crente 'vai comendo e vai descobrindo que os seus talhares vão ficando mais e mais curtos – até que a última colherada vai encontra-lo sozinho à mesa, com nenhum talher e com os pratos vazios'. Nosso desafio, então, é participar do banquete da modernidade - mas com talhares bem compridos”.[15]
Com este bom aviso a igreja evangélica deveria ser informada dos perigos, mas usar os benefícios da modernidade. Ainda na qualidade de pagão sempre pensava que tinha mais autoridade que poder. Como cristão compreendo que tenho mais poder que autoridade. Tenho o poder de pecar, mas não a autoridade para tanto. Tenho o poder de ser teologicamente errado, mas não tenho autoridade para ser teologicamente errado. Há o senso de poder fluindo dos filhos da modernidade. David Wells argumenta que “o que molda o mundo moderno não são as mentes poderosas mas forças poderosas, não a filosofia mas a urbanização, o capitalismo e a tecnologia”.[16] A mente moderna não é necessariamente vazia, mas não é estimulada por uma agenda intelectual. Steven Conner escreveu um livro para introduzir as teorias do pensamento contemporâneo. Poderia ser considerada uma obra significativa do pensamento pós-moderno. Trata-se um trabalho erudito, mas é vago em termos de argúcia intelectual. Os tópicos que dominam o livro são hermenêutica, análise literária e estética. Conner diz que “o mundo reclama por textos literários que são fundamentados simplesmente em seus próprios recursos textuais”.[17]
O desconstrucionismo pode ser no futuro a tônica da análise literária, mas isso não faz necessariamente dele uma escolha correta. Outra voz ilustrativa do pensamento pós-moderno diz “Uma coisa tenho aprendido em hermenêutica que tem efetuado mudança em todos os aspectos e é o que devo chamar apenas de ‘obediência aos textos’ – escutar o texto em si mesmo ao invés dos intérpretes modernos dele”.[18] Conner, um liberal deconstrucionista, não pode fazer qualquer declaração de verdade por que a verdade não pode ser definida exceto pela desconstrução do texto. Thomas Oden corrige este erro usando as forças intelectuais para definir os absolutos. O poder da modernidade está arraigado pelo relativismo que dele decorre. “Este é um tempo em que as características principais [da modernidade] (o relativismo moral, narcisista, hedonista, naturalista e reducionista e o individualismo autônomo) têm sido bem descritas pelos historiadores intelectuais modernos...”.[19]O relativismo como filosofia tem se mantido na dianteira em toda parte na nossa sociedade incluindo na religião e filosofia. O relativismo é poderoso, porque não pode ser confinado em qualquer corpo de pensamento. Os filhos e filhas da modernidade estão combinados para usar a relativização para avançar com sua causa e isso é uma ferramenta poderosa. O relativismo é inerentemente perigoso no pensamento moderno.A relativização tem seus próprios perigos especiais, e distinções importantes devem ser preservadas. A rejeição dos assuntos transcendentais do historicismo e dos seus seguidores e mesmo a estonteante perda da estabilidade que a física einsteiniana criou para as categorias de tempo e espaço...Tudo é relativo por que não há nada transcendente ao fluxo que pode prover a estabilidade necessária para posicionar tudo o mais ... A espécie de relativização que poderia ser afirmada, em contraste seria a que colocasse os valores humanos sob o julgamento do Deus transcendente. ...Uma sociedade que não pode tolerar um juiz além da história achará que pode aprender a tolerar tudo o mais [20].
Eu faço distinção entre eruditos e intelectuais. Um erudito é aquele que é capaz e pratica determinada escola de pensamento. Por exemplo, há muitos eruditos carregados com volumes de propaganda e que são bem equipados para a defesa de uma causa. Somente tem olhos para o que pode ser considerado politicamente correto. Eles tem sido muito bem especializados, mas os seus argumentos morrem na mesa de debate. Intelectuais, por outro lado, lida com o mundo de idéias. Eles perseguem linhas de pensamento usando processos lógicos que levam a determinadas conclusões.
Portanto, os eruditos são propensos à relativização, mas os intelectuais são ligados aos processos analíticos e lógicos que os conduzem a alguns absolutos. O impacto da relativização da igreja evangélica reflete a força da modernidade. É certo que “muitos tem em mente que [a] fé Cristã é a única relativamente verdadeira. ...” [21] O desaparecimento da verdade absoluta no circulo cristão foi um golpe devastador à missão da igreja. A visão correta da missão da igreja será evidente quando a igreja resgatar a verdade absoluta. A modernidade oferece variedade e mudança para quem que devote a isso. O segredo do sucesso da expansão da modernidade é o racionalismo. Refere-se ao racionalismo aqui no sentido de que o apelo à razão, à parte da experiência, é o único caminho para resolver os problemas. Há distinção entre o racionalidade daquele que usa a razão numa tentativa de interpretar a realidade e o racionalismo como ora se tem descrito. O racionalismo não responde a todas as perguntas da vida. Jacques Barzun tem pontuado que o Liberalismo do Século XVIII (o culto ao eu) e o Racionalismo do Século XVIII (o culto à razão) exerceram impacto no sentido de tornar a religião supérflua. Se homem é o seu próprio senhor, e a razão seu único juiz, o que é o homem faz com o persistente senso de que na vida há mais o que a razão e o mundo material pode conter? [22] O racionalismo termina por conduzir ao mundo da subjetividade. A busca para compreender a realidade nunca completa o ciclo, assim o próximo passo sempre é tentar o novo ou o diferente. Os estudiosos da modernidade têm dominado este conceito. É triste mas verdadeiro que a igreja evangélica tem sido persuadida por esses discípulos a se torna veículo para espalhar a mensagem de modernidade.
A modernidade tem elementos persuasivos poderosos que indicam que "a modernidade não é exatamente uma série de paixões, esperanças e idéias, trata-se de uma mentalidade que prevalece em alguns círculos mais do que em outros, e em nenhum lugar mais do que na universidade, o agente primário da ideologia de modernidade".[23] A universidade é o lugar em que nossos teólogos vão para se educar. Muitos seminários têm professores formados na universidade. A questão é: até que ponto eles têm sido persuadidos pela modernidade e o quanto essa persuasão será transferida para as próximas gerações? A igreja evangélica está diante de um precipício que poderá mergulhá-la numa nova idade média. Deveríamos ficar atemorizados diante da possibilidade de que a modernidade possa nos empurrar para além do limite determinado?
A ameaça potencial da modernidade à igreja evangélica é provavelmente maior do sempre foi, mas a oportunidade para a reforma é também maior do que a de qualquer tempo da história recente. Os filhos e filhas da modernidade têm tentado secularizar o cristianismo. Por diferentes modos podemos vê-lo variado, mas primeiramente como “o pastor procura incorporar o que modernidade estima e ao redefini-lo, o ministério do pastoral aparece como os dois mais admirados tipos culturais vigentes, o administrador e o psicólogo”. [24] David Wells atribui o problema ao desaparecimento da teologia. Algo precisa substituir a teologia. Note bem, “o abismo entre o evangelismo centrado na verdade de Edwards e Whitefield e a variedade da religião industrializada centrada na técnica ... ilustrada por Charles Finney [25] ... é um dos muitos exemplos de como modernidade ameaça a boa saúde da igreja evangélica”. A modernidade tem produzido uma progênie por seu poder e persuasão e agora se posta como uma ameaça à igreja. O que podemos fazer? Podemos rejeitar os “mitos de poder [e] popularidade, [que] tem nos conduzido à uma preocupação doentia com o sucesso superficial, métodos acima da mensagem, técnica acima da verdade, quantidade acima da qualidade?”.[26] A maior questão é como podemos fazer isso? Michael Horton responde à pergunta nos lembrando o nossa visão de mundo e de vida.“A Bíblia ordena, ' não vos conformeis nem um pouquinho com o padrão deste mundo mas transformai-vos pela renovação de vossa mente' (Rom. 12:2). Enquanto muito combustível tem sido gasto para conseguir que as pessoas ajam como cristãos, a Bíblia insiste que devemos primeiro pensar como cristãos. A transformação de nossas mentes se dá não por intermédio de mágica, técnicas supersticiosas ou devoções superficiais, mas através de sério e às vezes difícil estudo. Isso requer que saibamos alguma coisa sobre a Bíblia e sobre as pessoas para quem é endereçada, e que saibamos alguma coisa sobre nós mesmos e a cultura em que vivemos. É perigoso fingir que não é mundano quando há a recusa do exame critico dos caminhos em que se têm sido influenciados mais pelo espírito deste século mais do que pelo Espírito de Cristo”.[27]Assim como jorro de água de um poço artesiano, a visão cristã de mundo e de vida não jorra afastado da base. Ela decorre do esforço laborioso de quem age pelo poder do Espírito Santo. Os cristãos não dedicam tempo e esforços suficientes perguntando o “por que” da fé Cristã. A pergunta que devemos fazer é por quedevemos usar as ferramentas da modernidade. Mas muito freqüentemente os cristãos perguntam como posso utilizar as ferramentas de modernidade. A questão do “como” tem levado o cristão a ponto de desespero. O cristão começa a usar as ferramentas da modernidade, o relativismo o arrasta sorrateiramente para que logo a metodologia se torne o seu deus. Em 1926, os Cruzados Bíblicos da América formaram uma missão especial para “dar combate ao Modernismo, Evolução, Agnosticismo e o Ateísmo”.[28] Hoje, os evangélicos nem de longe estão lutando contra o Modernismo, eles estão o abraçando. O mais notável exemplo disso pode ser encontrado no movimento de crescimento da igreja.O movimento de crescimento da igreja é uma livre confederação de ministros e leigos cujo inicio pode ser traçado com Donald McGavran. Ele foi missionário na Índia, professor no Seminário Fuller e fundador do Instituto de Crescimento da Igreja.
O movimento de crescimento da igreja não pode ter o privilégio de contar em suas fileiras qualquer importante teólogo. Quando Martinho Lutero e João Calvino sucederam-se nos primeiros movimentos da Reforma, não poderia ser impróprio referir-se a pontos em que ambos se distanciavam. Embora alguns homens-chave da Reforma tivessem esses pontos de discordância, eles eram unidos uns aos outros por teologia e filosofia comuns. O movimento de crescimento da igreja é desprovido de qualquer centro teológico, podendo ser encontrado indiferentemente em igreja liberal, conservadora, fundamentalista ou evangélica. Qual a liga que as mantém juntas?
Os líderes do movimento de crescimento da igreja se cercam de discípulos comprometidos de forma que beira ao culto da personalidade. Win Am, um famoso discípulo de Donald McGavran, disse “treinandos que saem de igrejas vitoriosas e têm sido treinados por homens que são eles próprios multiplicadores de igrejas, são geralmente eficazes”.[29] A idéia é que o sucesso gera sucesso.
Tem-se sugerido que o conceito de que uma “igreja líder” deve tomada como modelo. Deve ser enfatizado que o termo 'Igreja Líder' se refere a uma definição funcional. Da mesma forma que conforme a mais simples definição líder é 'uma pessoa que o povo segue,' igreja líder é a designação funcional de uma igreja que tem o ministério considerado frutífero dentro de uma determinada área metropolitana..[30]
Esses não são casos isolados dentro desse conceito de liderança Alguns dos defensores do movimento de crescimento da igreja entendem que a Escritura defendem o conceito deles de liderança Num caso, Neemias e Paulo foram citados como exemplos utilizados pelos aderentes do movimento de crescimento da igreja. Este livro continuou descrevendo João Calvino como “um homem de grande capacidade organizacional e de liderança”. [31]
Sim, esses homens são exemplos de grandes líderes, mas eles não tentaram juntar outros líderes da igreja dentro de um plano “seguemista” [de “seguem me” ou “follow me”]. Esses homens tentaram e tiveram algum sucesso em reformar a igreja. O conceito popular entre os líderes do movimento de crescimento da igreja é o plano do "siga o líder bem sucedido”. Um líder do movimento de crescimento da igreja “patrocina uma conferência [três vezes por ano] em que 500 líderes da igreja se juntam para ver como as coisas devem ser feitas”.[32]
O melhor guia para se saber como Deus deseja crescer Sua igreja é a Bíblia. O conceito bíblico de expansão do Reino de Deus é: um planta, outro rega, e outro colhe, mas somente Deus é quem opera na igreja para que esta cresça. O erro fundamental do movimento de crescimento da igreja é quando aos pastores é dito que podem esperar que suas igrejas cresçam, desde que “necessariamente desejem seguir os passos de um líder de crescimento”.[33]
Do pastor se espera que assuma a posição de diretor geral de uma empresa. George Barna, especialista em metodologia de crescimento da igreja, de forma ousada, critica a igreja ao dizer, “muitas pessoas julgam o pastor não pela sua capacidade de pregar, ensinar ou aconselhar, mas pela sua capacidade de fazer a igreja funcionar tranqüila e eficientemente. Na essência ele é julgado como um homem de negócios...”[34]. A evidência é irrefutável. O movimento de crescimento da igreja é uma aliança de líderes cristãos declaradamente comprometidos com um mesmo objetivo. E qual é esse objetivo?
Crescimento da Igreja é a meta! Defensores do movimento de crescimento da Igreja definem crescimento da igreja como “a ciência que investiga a plantação, multiplicação, funcionamento e saúde das igrejas cristãs como elas se relacionam especificamente com a implementação efetiva de comissão de Deus...”. [35] Outro guru do movimento de crescimento da igreja declarou sua filosofia de forma diferente.Uma das premissas básicas do movimento de crescimento da igreja é que os esforços em evangelismo podem ser medidos e que a eficácia dos métodos podem ser avaliados e as respostas das pessoas e dos campos podem também ser medidos. Talvez a premissa mais básica é que Deus pretende para a Sua igreja o crescimento e esse crescimento da igreja deve ser perseguido em obediência a Jesus Cristo.[36]O método científico é útil para medir, avaliar, e induzir a elaboração de teorias com vistas a chegada a alguma conclusão. Não serve para ser utilizado como indutor de cumprimento de mandamentos contidos na Escritura. Não consigo encontrar uma alusão na Escritura de que deveríamos medir a eficácia de método evangelístico de Deus. O que está claro é o mandamento para que todos os cristãos estejam envolvidos na Grande Comissão. O problema do movimento de crescimento da igreja não reside no desejo deles de se envolverem com o evangelismo, mas de encontrarem o melhor método para ser utilizado no evangelismo. A metodologia é a responsável por tudo. O método utilizado pelo movimento de crescimento da igreja lembra o esquema de marketing multi-nível. Um líder dinâmico, carismático e convincente busca outras pessoas que sejam dinâmicas, carismáticas e convincentes. A essas personalidades, somam-se conceitos transferíveis e então o crescimento da igreja seguirá. Donald McGavran usa palavras diferentes para dizer a mesma coisa: “Que tipo de treinamento de líderes marca o trabalho do Pastor Kennedy em Coral Ridge. Ele pegou pessoas uma por uma e as treinou para apresentar o evangelho efetivamente. Os resultados em sua igreja têm-se destacado”.[37] Isso soa bem, mas é o método bíblico? Essa metodologia é bíblica?Eles podem argumentar que o crescimento da igreja é bíblico. Uma vez que o crescimento da igreja é de fato bíblico, declaram oferecer provas da Sagrada Escritura para a sustentação de sua posição. A falácia é que não há crente que possa negar que o crescimento da igreja não seja bíblico. Robertson McQuilkin, ex-presidente da Columbia Bible College and Seminary, escreveu um artigo, “De que Modo é Bíblico o Movimento de Crescimento da Igreja” (“How Biblical Is The Church Growth Movement”) que mais tarde foi publicado em forma de livro. O livro, Mensurando o Movimento de Crescimento da Igreja, (Measuring the Church Growth Movement) foi publicado primeira vez em 1973. Ele argumentava fortemente que o movimento de crescimento da igreja seguia princípios bíblicos. McQuilkin disse “os pressupostos subjacentes do movimento de crescimento da igreja descansam nos sólidos fundamentos teológicos contidos na Palavra de Deus”.[38] Ele segue dizendo “o princípio de que a igreja é a forma que Deus utiliza para cumprir seus propósitos de evangelização do mundo é por demais óbvio”.[39] O problema dessa declaração está na interpretação das palavras. O que para McQuilkin significa a palavra igreja? Enquanto foi Presidente do Columbia Bible College and Seminary ele promoveu ativamente os ministérios para-eclesiásticos com apaixonada devoção. Sua paixão por ministérios para-eclesiásticos diluía o seu trabalho na igreja local. Ele era simpático ao movimento carismático, além de ser dispensacionalista e arminiano. É bastante arrojada a sua visão de igreja. Ele disse “em termos de responsabilidade evangelística, em relação à Igreja, a Pacific Broadcasting Association, [isto é, a Associação de Radiodifusão do Pacifico] deve ter essa responsabilidade, enquanto a responsabilidade especial para proclamação pode tê-la Billy Graham, em termos de persuasão...”.[40] Ora, a Associação de Radiodifusão do Pacifico não é uma igreja. Além disso, Billy Graham, em muitos aspectos um bom homem, que têm assumido uma posição de liderança, não está numa igreja. A Associação Evangelística Billy Graham é um ministério para-eclesiástico. Como não poderia ser diferente a um arminiano declarado, a estratégia de crescimento de igreja de McQuilkin é também arminiana. No seu livro ele faz uma declaração explícita com respeito a isso. “Pretendo proclamar o caminho para a vida em Cristo de tal forma a propiciar que aos homens a clara compreensão das boas novas de modo a fim de que possamescolhe a se tornarem (ênfase do autor) Seus discípulos e fazerem parte de Sua igreja. ... Pretendo persuadir os homens, reconciliando com Deus aqueles que foram alienados d’Ele... .”.[41] C. Peter Wagner concorda com McQuilkin. Wagner crê que “o objetivo do evangelismo é persuadir homens e mulheres para se tornarem discípulos de Jesus Cristo e para servir-Lo em comunhão com a sua igreja”.[42] A vontade do homem é a ênfase e esses não são exemplos isolados. Há muitos que no contexto do movimento de crescimento da igreja usam "As Quatro Leis Espirituais"[43] como método de evangelização. Sabe-se de pessoas que não gostariam que fossem reconhecidas como arminianas e podem até não ser arminianas, mas seus métodos de evangelização são arminianos. A meta do movimento de crescimento da igreja é o crescimento da igreja que é realizado por métodos de evangelismo. Parecem se esquecer que o evangelismo é unicamente um dos vários deveres que Deus requer dos cristãos. Evangelismo é a prioridade principal em sua agenda e eles esquecem da necessidade de uma confissão comum. “Como os deístas, em 1776, os evangélicos hoje são suspeitosos quanto aos credos, confissões e sistemas doutrinais”.[44] Esta afirmação de Horton parece encaixar-se como luva ao movimento de crescimento da igreja. Eles não têm nenhum sistema teológico comum e nenhuma declaração doutrinal comum, somente uma filosofia comum básica baseada na meta comum de crescimento da igreja. As filosofias básicas são filhos da modernidade e até mesmo essas perfilam com a filosofia do movimento de crescimento da igreja.
J. Randall Petersen... está envolvido na plantação da Hope United Methodist Church...Para formar sua congregação, Hope Church, utiliza uma campanha de telemarketing para convidar os membros da comunidade para seus cultos. ...Ele se sente ainda desconfortável com algumas idéias de crescimento da igreja...Mas nesse trabalho, admite-se...Petersen não está sozinho no abraço ao pensamento pragmático de crescimento da igreja.”[45]
O pragmatismo é uma das filosofias básicas do movimento de crescimento da igreja. "'Se isso funciona, usa-o para se capturar o espírito do pragmatismo”. [46] O pragmatismo é demonstrado pelo intenso esforço em encontrar as “necessidades pungentes" pelos cristãos professos. Uma necessidade pungente é descrita como “a consciência dos anseios e desejos da pessoa”.[47] A visão pragmática entende que os "sermões são simples, curtos, edificantes e pessoalmente inspirados, Tópicos são cuidadosamente selecionados para acentuar os assuntos pessoais acima dos doutrinais e o relacional acima do abstrato”.[48] A revista americana Christianity Today relata que durante o período de desenvolvimento do movimento “o crescimento da igreja foi logo marcado por forte pragmatismo” [49]. Em se tratando de evangelismo bíblico com os cristãos que usam métodos arminianos, na maioria do tempo eles defenderão seu método dizendo “mas isso funciona”. O pragmatismo não é o critério pelo qual nos empenhamos no trabalho do Reino do Deus. O pragmatismo tem sido colocado no lugar das Escrituras como autoridade final para dirigir acerca de como podemos servir a Deus. O pragmatismo toma muitas formas dentro do movimento de crescimento da igreja. Uma idéia é a que tem por alvo formar grupos que executarão o crescimento da igreja. O que se tem dito: “a PCA [Presbyterian Church in America] como igreja tem-se esforçado para plantar igrejas não somente entre os brancos americanos mas também tem tentado formar, nos Estados Unidos, igrejas étnicas entre os coreanos, japoneses, hispânicos e negros”.[50] Mas, ai se pergunta quantas igrejas negras têm sido iniciadas, ou mesmo tentado iniciar-se em Jackson, Mississipi ou Montgomery, Alabama? A filosofia multi-étnica soa boa, mas não seria pragmático tentar isso em cidades como as que justamente tenho mencionado. É plausível esse princípio da unidade-homogênea, “mas praticamente, os marqueteiros da igreja visam exclusivamente à classe média, branca, educada em universidade e fruto da geração dos “baby boomers”, nascidos entre 1946 e 1964. Outros grupos são raramente mencionados”.[51]
A estratégia pragmática do movimento de crescimento da igreja é adotar o sistema gerencial da modernidade. Uma citação mais longa é necessária para explicar como isso é feito.“Definição de metas e objetivos, fazendo-os compreensíveis para cada membro da igreja é a tarefa mais importante da liderança que temos diante de nós. Isso é difícil e exige disciplina. Robert Townsend em A Organização Para Cima (Up The Organization) descreve o longo e difícil processo de ajustamento da Avis aos seus objetivos. 'Um das funções importantes de um líder é fazer a organização se concentrar em seus objetivos. No caso da Avis, foram tomados de nós seis meses para definir um objetivo – para depois ser lançado: Desejamos nos tornar a mais lucrativa das empresas de locação e aluguel de veículos sem condutores”..[52]
O objetivo da Avis Rent a Car e o da igreja são inteiramente diferentes. A Avis tem um propósito que é fazer dinheiro correspondente ao investido pelos seus acionistas e permanecer no negócio. O propósito da igreja é glorificar ao Senhor Deus Onipotente, não acumular o todo-poderoso dinheiro. Então por que esses líderes de igreja tentam construir analogia entre a Avis e a igreja? A Bíblia nos ensina a ser bons mordomos de tudo o que Deus nos tem dado, mas a nossa teologia deve ditar os métodos de mordomia. É indevido o uso de anúncios ou de telemarketing? Não há nada de errado com essas ferramentas, a menos que elas se tornam deuses. Convidar pessoas à igreja é correto, mas quando eles vêem, devem escutar a lei e o evangelho.
O pragmatismo não compreende a lei de Deus, nem a graça de Deus. A lei e o evangelho estão na lista de espécimes em perigo de extinção, por causa do terrível abuso nos anos recentes. Os teonomistas deturpam a lei de um lado e os neo-evangélicos têm deturpado o evangelho de outro. Martinho Lutero disse, “a diferença entre a Lei e o Evangelho é a altura de conhecimento da Cristandade”.[53] Os reformadores não tentaram substituir a lei e o evangelho por outra coisa, porque tudo na Bíblia estão ou sob a lei ou sob o evangelho. “Dividimos esta Palavra em duas partes ou categorias principais: uma é chamada de 'Lei,' a outra de 'Evangelho.' Tudo o resto pode ser juntado sob um ou outro destes dois títulos”.[54] O pragmatismo pode realizar o que se percebe como crescimento da igreja, mas as pessoas podem ser enganadas quando alguma coisa é colocada no lugar da pregação da lei de Deus. Sem a lei de Deus como pode alguém compreender o amor do Deus? A lei do Deus não pode ser ignorada. Somente porque o pragmatismo dá causa ao crescimento de uma igreja não se lhe confere a aprovação à vista de Deus.
Segundo a interpretação pragmática da fé evangélica, o cristianismo deve competir com outros programas de auto-ajuda. Deve prometer saúde, riqueza e felicidade. Mas o que acontece quando alguma coisa funciona melhor?[55] A agenda pragmática funciona tão bem para as testemunhas de Jeová e mórmons como para a igreja evangélica.
A história do homem de Deus de Judá em I Reis 13 é um bom exemplo de como Deus lida com o deus de pragmatismo. O homem de Deus foi instruído por Deus para ir para determinado lugar, executar uma certa tarefa, e voltar para casa sem comer pão ou beber água. Um profeta seduziu o homem de Deus para comer e beber, o que ele fez, mas Deus o puniu por sua desobediência. Sem dúvida, era questão de prudência e pragmatismo ser restabelecido antes completar a viagem. A estrutura da aliança de Deus não é feita de comprometimento ou pragmatismo. Há bênçãos para quem guarda a aliança, e maldito é o homem que quebra a aliança.
Caso devêssemos tomar refeição com o deus de pragmatismo, devemos “ter talheres bem compridos”. As tentações da modernidade são tremendas. A utilidade pragmática não é necessariamente pecaminosa, mas o pragmatismo pode tornar-se pecaminoso se aceito sem senso crítico. O movimento de crescimento da igreja tem adotado o deus do pragmatismo pelo “uso não crítico das visões e ferramentas da modernidade assim como o faz a gerência e o markentig”.[56] A igreja estará sob o juízo de Deus se utilizar uma pesquisa para determinar a verdade. “Por causa dos 'caçadores de sensitividade', a pregação permanece superficial, com milhares crentes professos tendo que se contentar com a dieta semanal de evangelismo de nível primário”.[57]
Outra filosofia básica do movimento de crescimento da igreja é o consumismo. Essa visão de mundo e de vida não é uma ilusão, embora esteja conectado com o uso do imaginário moderno. O consumismo tem sido moldado pelo aparato da modernidade. O movimento de crescimento da igreja tem endeusado o consumismo em vez de tratá-lo como presságio da modernidade. Um consumidor é alguém que usa uma comodidade ou um serviço. O consumidor integra pragmatismo e o utilitarismo para produzir o consumismo. Os cristãos, especialmente nesta época presente, são consumidores, mas Deus não é um produto. Para colocar em termos evangélicos: “Não estamos vendendo um produto para um consumidor, mas proclamando um Salvador para o pecador”.[58]
O movimento de crescimento da igreja ensina que o marketing é necessário para o crescimento de igreja. “Considere essas colocações e repare na progressão das seguintes sentenças da perspectiva de crescimento da igreja: ‘Igreja é um negócio.'/'O marketing é essencial para um negócio bem sucedido em seu funcionamento.'/'A Bíblia é um livro que contém os melhores textos de marketing do mundo.'/'Entretanto, o ponto é indisputável: a Bíblia não avisa contra os males dos negócios.'/'Assim não é necessário gastar nosso tempo e outra coisa senão em discussão de técnicas e processos.'/'Pense de sua igreja não como um lugar de encontro religioso, mas como uma agência de serviço – uma entidade que existe para satisfazer as necessidades das pessoas...”.[59]
O silogismo soa razoável, exceto no fato de que “ir de encontro às necessidades nem sempre satisfeitas freqüentemente aguça mais essas necessidades e tende a trazer desilusão futura. Como Immanuel Kant disse ao historiador russo, Karamzin, 'Dê a um homem tudo o que ele deseja e ainda neste exato momento ele sentirá que tudo não é mais tudo'. O resultado é um intenso movimento na direção duma patológica era consumista”. [60] “Coisas” nunca satisfarão os anseios mais profundos da alma. Através das páginas da história o hedonismo e narcisismo eram mais do que visões de mundo e de vida, se tornaram deuses aos olhos de pagãos e cristãos. Até mesmo na igreja, Tetzel vendia indulgências e muitos pregadores televisivos são como ele nos dias de hoje. Igualmente, o movimento de crescimento da igreja tem se curvado ante a pressão da modernidade.
O objetivo fundamental da maioria dos crentes é ser “feliz”. Tudo na vida é formado pelo desejo de ser uma pessoa plena e feliz. A Revolução Francesa certamente teve uma profunda influencia no conceito de “felicidade”. Liberdade, igualdade e fraternidade foram palavras de ordem que poderiam trazer a felicidade desejada para todas as gerações vindouras. O mundo vê o que chamamos de consumismo como “a felicidade que vem da gratificação instantânea”.
Vender Jesus é uma arte dos especialistas em crescimento da igreja. O evangelismo nem de longe é centrado em Deus, mas antes, no consumidor. Cantores tentam entreter a platéia com música que toca o sentimento. Pregadores pregam para “ir de encontro às necessidades” usam aforismos populares, raramente expõe a Palavra de Deus inerrante ou usa de maneira correta as ferramentas da exegese e da hermenêutica.
A estratégia de marketing aplicável à igreja pode até ser um anjo de morte disfarçado. Um pastor respondeu a um artigo escrito em Christianity Today, edição de 24 de junho de 1991 sobre o movimento de crescimento da igreja. “Minha preocupação com o movimento é que suscita a pergunta, 'Qual é a diferença entre a igreja cristã e qualquer outro negócio em que se usa telemarketing, demografia e outros semelhantes recursos?' É tudo isso mesmo para dizer que a igreja é um negócio como outro qualquer – e somente a nossa mensagem é diferente? Se for assim, é possível que o treinamento pastoral deve ser mais dirigido ao marketing, negócios e habilidades publicitárias e menos à teologia, estudos bíblicos e aulas de aconselhamento pastoral”.[61]
David Coffin não é defensor do movimento de crescimento da igreja e está atento ao fato de que muitos seminários já terem tomado essa direção. Seminários há que estão preparando os seus estudantes de teologia a responderem às “necessidades pungentes”, aos anseios da comunidade. Mas, o que é que se deseja? “Ontem o McDonalds estava vendendo somente hambúrgueres e peixe; hoje você pode comer seu café da manhã lá! Em suas ocupações, nosso pessoal [líderes da Igreja Batista de Bear Valley, Denver, Colo.] tem sido instado a pensar, Como podemos nos incrementar, expandir nossos mercados, fazer melhor nosso trabalho?”.[62] A implicação disso consiste na idéia de que, a exemplo do McDonalds, a igreja deve descobrir o que as pessoas querem, o que as fazem felizes, e oferecer-lhes isso sem considerar quaisquer conseqüências teológicas. O movimento de crescimento da igreja tem-se comprometido e se rendido a isso em detrimento de padrões teológicos essenciais, a ponto de seus discípulos terem virado as contas para as marcas da igreja.
Os reformadores identificaram a “pregação da Palavra de Deus” [63] como uma das marcas da igreja verdadeira. Os aderentes do movimento de crescimento da igreja podem reconhecer essas marcas da igreja durante a licenciatura e exames de ordenação, mas falham na prática deles com qualquer consistência.
Dos ministros do movimento de crescimento da igreja podem-se dizer que pregam sermão, mas não no estilo tradicional. Então vem a dificuldade de se determinar o que constitui a “pregação de um sermão”. Em primeiro lugar, devemos olhar para os exemplos bíblicos. Há alguns excelentes sermões em muitos livros de Antigo Testamento. Depois, Jesus e os Apóstolos têm um número de sermões que também podem ser analisados. Por toda a história da igreja, há volumosos sermões registrados para assim podermos determinar a natureza e o caráter da “pregação de sermão”.
A pregação de um sermão deve compreender todo o conselho de Deus. Inclui pecado, inferno, julgamento e santidade de um lado; graça, perdão e paraíso do outro. Este projeto de pesquisa incluiu o exame de livros relacionados diretamente ao movimento de crescimento da igreja e muitos outros campos do pensamento filosófico contemporâneo. Entretanto, pouco foi dito sobre a pregação. Isso serve para notar que através dos tempos a pregação tem sido matéria desprezada pelos que freqüentam a igreja. Já no inicio deste século nos lembramos que havia “a ausência ensino e pregação doutrinária… na igreja”.[64] A pregação tem sido descrita como a “exposição cuidadosa das Sagrada Escritura com aplicação íntima e relevante, temperada com arrojo e humildade...”.[65] A tarefa do pregador pode ser corretamente descrita como (instrumentalmente) formar a imagem de Cristo nas almas dos homens”.[66] Os sermões de Lutero, Calvino, Edwards e Whitefield são todos exemplos pregação teocêntrica comparada às animadas conversas vindo dos púlpitos do movimento de crescimento de igreja.
Mensagens são propositalmente feitas para serem lights, simples, humorísticas e de estilo de depoimento pessoal, para que prenda a platéia. A platéia nunca se torna uma congregação. O sermão semanal é elaborado para ser “não igrejístico”. Nunca se faz a transição da performance para a proclamação. Pode-se sentir melhor, mas se permanece espiritualmente inalterado.[67]
O movimento de crescimento da igreja é exatamente que é – um movimento. O militante da igreja tem-se confrontado com movimentos por toda a sua história. Esse movimento não é muito diferente dos outros. Seu fundador, Donald McGavran, trabalhou num seminário liberal, pertencia a uma denominação liberal (Discípulos de Cristo) e por isso não será possível pensar que a sua epistemologia não tivesse sido afetada pelas pessoas que o cercava. McGavran e o seu movimento são produto da modernidade. Seus discípulos têm seguido os seus passos e bebem profundamente das correntes de modernidade. Eles não estão comprometidos com a cristandade clássica mas antes “a liderança religiosa retém sua herança e a corrompe em cada estágio sucessivo da prodigalidade da modernidade”.[68] O perigo do movimento de crescimento da igreja é encontrado em seu deus – a modernidade. Não se tem feito sequer alguma nenhuma tentativa no sentido de identificar sua teologia ou doutrina esposada. De fato, os aderentes desse movimento têm “tentado impedir o crescimento na igreja do ensino com vistas a identificar por si próprio qualquer paradigma particular de teologia sistemática. Os princípios de crescimento da Igreja têm se mantido intencionalmente, tanto quanto possível, não-teológicos...”.[69] Michael Horton apontou o perigo por lembrar que para a igreja uma rejeição de teologia é uma rejeição da Sagrada Escritura, uma vez que a Bíblia esta cheia de declarações preposicionais sobre o caráter de Deus”.[70]
Os defensores do movimento de crescimento da igreja não parecem compreender o conceito de crescimento de igreja. Se a metodologia do movimento não for trazida sob revisão crítica dos padrões bíblicos, a resposta vai ser algo semelhante a isso: “Quando o crescimento da igreja é atacado hoje, isso é feito comumente por aquelas pessoas que não tiveram a oportunidade de ver o seu método como o charco que é, estão se autoconfortando com as velhas racionalizações da derrota”.[71] Reitero, não é o crescimento de igreja que está sob ataque, é a afinidade do movimento de crescimento da igreja com o “deus da modernidade” ao invés do Deus da Bíblia.
Uma avaliação do movimento de crescimento da igreja revelará a preponderância da modernidade em seu esquema. “A questão colocada no movimento de crescimento da igreja é que as idéias servem tanto a ideais como a interesses”.[72] Caso os ideais e interesses estivessem dentro da direção do Deus vivo e verdadeiro, então o movimento de crescimento da igreja poderia ser uma benção. Entretanto, o peso da evidência indica que o movimento de crescimento da igreja tem-se feito a sua própria orientação dos ideais e interesses adotados.
O movimento de crescimento da igreja tem empunhado a bandeira de modernidade e não há indicação de que o movimento de crescimento da igreja questionará os perigos da modernidade e os contornará. Há uma antítese a ser considerada: A mente cristã tem procurado e encontrado um meio de compreender os dogmas à luz da revelação; a mente moderna rejeita a luz e, ao invés disso, volta-se para a experiência particular de iluminação. A mente cristã aceita as declarações oficiais de Deus contidas nos dogmas como a única medida verdadeira; a mente moderna rejeita tal revelação como ficção da imaginação religiosa.[73]
Quanto mais damos espaço à modernidade, damos menos espaço ao Deus vivo e verdadeiro. O movimento de crescimento da igreja abertamente adota os filhos e as filhas da modernidade, e se afastam da doutrina e da teologia. Nosso Senhor ensina que “ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom”.[74]
O movimento de crescimento da igreja poderia contribuir à saúde da igreja se os seus aderentes assumissem o controle da modernidade e definisse bíblica e teologicamente a natureza e o propósito do movimento. “Sem qualquer definição autorizada dos ensinos do movimento, não se justifica a sua transposição às gerações vindouras ou até mesmo avaliar o potencial de suas más-interpretações”.[75] “Faremos bem em recordar as tensões com as quais nos confrontaremos em relação ao conceito de crescimento de igreja. O senso de abandono que prevalece entre nosso povo … é uma indicação séria da crise em que nos encontramos. Portanto, quando falamos da necessidade de crescimento reflexivo da igreja, estamos falando de algo de suma importância, que afeta o futuro do cosmo”.[76]
Uma das maiores mentes do mundo ocidental dos tempos modernos foi Jonathan Edwards e até ele lutou com as prementes forças da modernidade. Desejo que Deus do movimento de crescimento da igreja possa dirigir o movimento de modo a que os seus aderentes possam agradá-Lo.
NOTAS:[1] Jonathan Edwards. The Works of Jonathan Edwards. V 01. 1: Memoirs of Jonathan Edwards. Carlisle. Penn.: The Banner of Truth Trust. 1974. p. xxxi.
[2] John G. Gerstner, The Rational Biblical Theology of Jonathan Edwards, vol. 2, (Berea Publications: Powhatan, Virginia and Ligonier Ministries: Orlando, FIa, 1992), p. 125.
[3] David Wells, No Place for Truth, (William B. Eerdmans Publishing Co., 1993), p. 4.
[4] Os Guinness, The American Hour, (New York: The Free Press, 1993) p. 26.
[5] David Wells, No Place For Truth, p. 72.
[6] Ibid, p. 7
[7] Michael Horton, Made in America, (Grand Rapids: Baker Book House, 1991). p. 16.
[8] Alasdair Maclntyre, After Virtue, (Notre Dame: University of Notre Dame Press - 1981)~ p. 77.
[9] J. Gresham Machen, Christianity and Liberalism, (Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Company, 1923). p. 5,6.
[10] James Davison Hunter, Culture Wars, (n.p.. Basic Books, A Division of HarperCollins Publishers, 1991). p. 63.
[11] Os Guinness and John Seel, No God But God, (Chicago: Moody Press, 1992), p. 95
[12] Alasdair Maclntyre, After Virtue, p. 77.
[13] Guinness and Seel, No God But God, p. 148.
[14] Os Guinness, Dining With the Devil, (Grand Rapids: Baker Book House, 1993), p. 31. Em português: “não devemos cutucar onça com vara curta”. Nota do tradutor.
[15] Ibid., p. 31.
[16] David Wells, No Place for Truth, p. 61
[17] Steven Conner, Postmodernist Culture, (Cambridge, Mass.: Basil Blackwell Inc., 1990), p. 125
[18] Thomas C. Oden, After Modernity. ..What?, (Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1990), p. 80.
[19] Ibid., p. 46.
[20] Herbert Schlossberg, Idols For Destruction, (Washington D. C.: Regnery Gateway, 1990), p. 36, 37.
[21] 2 1 David Wells, No Place for Truth, p. 104.
[22] Kenneth A. Myers, All God's Children and Blue Suede Shoes, (Wheaton, Ill.: Crossway Books, 1989), p. 108.
[23] Thomas Oden, After Modernity...What?, p. 52.
[24] David Wells, No Place for Truth, p. 101
[25] Michael Scott Horton, Made in America, p. 44.
[26] Ibid, p. 12
[27] Ibid.
[28] James Davison Hunter, Culture Wars, p. 138
[29] Donald A. McGavran, How to Grow a Church, (Glendale, Calif.: Regal Books Division, GIL Publications, 1973), p. 79
[30] Lee Roy Taylor, Jr., A Flagship Church Planting Strategy for the Presbyterian Church in America, (Ann Arbor, Mich.: V.M.I. Dissertation Information Service, 1991), p. 33.
[31] Terry L. Gyger, Dave B. Calhoun, and E. Walford Thompson, Handbook for Church Growth, (Coral Gables, Fla.: Ministries In Action, 1983), p. 223-225.
[32] Michael G. Maudlin and Edward Gilbreath, “Selling Out the House of God”, Christianity, June 18, 1994, p.23.
[33] Win Arn, The Pastor’s Church Growth Handiboo, (Pasadena, Calif, Church Growth Press, 1982, p. 87.
[34] George Barna, Marketing The Church, (Colorado Springs, Colo,: Navpress, 1998) p.14.
[35] C. Wayne Zunkel, A Church Growth Under Fire, (Scottdale, Penn.: Herald Press, 1987) p. 218.
[36] Foster H. Shannon, A The Growth Crisis of the American Church, (South Pasadena, Calif.:Wil1iam Carey Library, 1977) p. 3.
[37] Donald A. MacGravan, How to Grow a Church, p.79.
[38] J. Robertson McQuilkin, Measuring the Church Growth Movement, (Chicago: Moody Press, 1973), p. 76.
[39] Ibid., p. 12
[40] Ibid., p. 13.
[41] Ibid., p. 24
[42] C. Peter Wagner, Church Growth and the Whole Gospel, (San Francisco: Harper and Row Publishers, 1981) p. 57.
[43] Lee Roy Taylor, Jr., A Flagship church Planting Strategy for the Presbyterian Church in America, p.111.
[44] Michael Horton, Beyond Culture Wars, (Chicago: Moody Press, 1994) p. 63
[45] Ken Sidey, “Church Growth Fine Tunes Its Formulas”, Christianity Today, June 25, 1991, p.44.
[46] R.C. Sproul, Lifeviews, (Old Tappan, New Jersey; Fleming H. Revell Co., 1986) p.77
[47] C. Peter Wagner, Church Growth State of the Art, (Wheaton: Tyndale House, 1986) p. 290.
[48] Douglas Webster, Selling Jesus, (Downers Grove, Ill.: Intervarsity Press, 1992) p. 75
[49] Ken Sidney, “Church Growth Fine Tunes Its Formulas”, p. 45.
[50] Lee Roy Taylor, Jr., A Flagship church Planting Strategy for the Presbyterian Church in America, p. 111.
[51] Douglas Webster, Selling Jesus, p. 58
[52] Terry L. Gyger, Dave B. Calhoun, and E. Walford Thompson, Handbook For Church Growth, p.271.
[53] Michael Horton, Beyond Culture Wars, p. 109.
[54] Ibid.
[55] Michael Scott Horton, Made In America, p. 49.
[56] Os Guinness, Dining With The Devil, p. 25
[57] Douglas Webster, Selling Jesus, p. 111
[58] Michael Scott Horton, Made in America, p. 71
[59] Os Guinness: Dining With The Devil, p. 58
[60] Ibid., p. 65
[61] Rev. David Coffin, “Letters to the Editor”, Christianity Today, August 19, 1991, p. 5
[62] Frank R. Tillapaugh, Unleashing the Church, (Ventura, Calif.: Regal Books, 1982), p. 32.
[63] John Calvin, Institutes of the Christian Religion, ed. John T. McNeill vol. 2 {Philadelphia: The Westminster Press, 1960, p. 1024.
[64] J. Gresham Machen, Education. Christianity and the State, (Jefferson, Maryland: The Trinity Foundation, 1987), p. 8.
[65] Brian A. Bernal, “The Power of the Word Preached”, The Banner of Truth, March 1994, p. 22.
[66] Robert L. Dabney, Sacred Rhetoric, (Carlisle, Penn.: The Banner of Truth Trust, 1979) p. 37,
[67] Douglas Webster, Selling Jesus, p. 107.
[68] Thomas C. Oden, After Modernity. ..What?, p. 31
[69] C. Peter Wagner, Church Growth and the Whole Gospel, p 83. c.
[70] Michael Horton, Beyond Culture Wars, p. 67,
[71] Donald McGavran and George G. Hunter III, Church Growth Strategies that Work, (Nashville: Abingdon, 1980) p. 19
[72] Os Guinness, Dining With the Devil, p. 75,
[73] David Wells, No Place For Truth, p. 280.
[74] Mateus 6:24 (New American Standard Version).
[75] Thomas Oden, After Modernity...What?, p. 151.
[76] Jitsuo Moridawa, Biblical Dimensions of Church Growth, (Valley Forge, Pa.: Judson Press, 1979), p. 46
Traduzido por: Anamim Lopes da Silva
A mentira do relativismo – E. W. Lutzer
"Vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal" (Gn 3.5).
Satanás prometeu a Adão e Eva um conhecimento do "bem e do mal" pela experiência. Com essa bagagem, o homem, então deixado por sua própria conta, seria capaz de distinguir o bem e o mal por si mesmo — pelo menos foi o que a serpente deixou subentendido. Desde que o homem é seu próprio deus, ele é livre para escrever suas próprias leis.
Nós já temos aprendido que a serpente estava certa nesse aspecto: a desobediência deu a Adão e Eva um novo conhecimento do mal. Passaram a conhecer o mal não como um mero conceito abstrato, mas como a descoberta de uma consciência pesada e sem descanso. A partir desse ponto, a percepção moral deles estava obscurecida, enquanto lutavam com a necessidade de reconciliar seu estilo de vida com a imagem de Deus, que fora desfigurada, mas não apagada de suas mentes e seus corações.
O problema é fácil de se entender: em seu estado decaído, eles nunca mais discerniriam o bem e o mal do mesmo ponto de vista de Deus. Se fosse deixado por conta deles, teriam de construir seu próprio sistema de conduta, com o conhecimento fragmentado de seu próprio discernimento pecaminoso e uma consciência corrompida. Além disso, descobririam que não podiam viver de acordo com o que intuitivamente sabiam que era certo. Resumindo, eles teriam que se tornar relativistas, desistindo de toda esperança de encontrar um sistema unificado de moral e de verdade.
Relativismo é a palavra que usamos para descrever a crença popular de que "o que é verdade para mim, pode não ser verdade para você". O filósofo e professor John Dewey é reconhecido por ter dado respeitabilidade ao relativismo na América. Ele acreditava que a moralidade, como acontece com a linguagem, varia de uma cultu¬ra para outra e que, portanto, nenhuma convicção moral é superior a outra.
O relativismo floresce em nossa cultura. Ao assistir a uma entrevista na televisão, ouvi uma senhora admitir que tinha um caso amoroso com o marido de outra mulher. Ao perceber que essa conduta ainda poderia ser considerada imprópria por alguns membros do auditório, ela se sentiu constrangida ao acrescentar: "O que estou fazendo pode não ser certo para todos, mas é o melhor para mim".
As religiões orientais acreditam no relativismo por diversas razões. Se é verdade que Deus é tudo, segue-se que Deus é também o mal. Por isso o hinduísmo ensina que bem e mal são apenas ilusão e só parecem ser diferentes um do outro. Allan Watts, que tem o crédito de ter tornado o Zen Budismo aceitável para os americanos, explica dessa maneira: "A vida é como uma peça teatral, na qual você vê homens bons e maus em conflito no palco, mas que atrás das cortinas são todos amigos. Deus e Satanás andam de mãos dadas nos bastidores".
Registro também as palavras de Yen-Men, um dos maiores mestres orientais: "Se você busca a verdade plena, não se preocupe com o certo e o errado. O conflito entre o certo e o errado é a doença da mente".
Desde que o mal não existe, conclui-se que o problema do homem não é o pecado, mas sim a ignorância. Tudo o que precisamos é de iluminação. O resultado é que eu nunca tenho de me sentir culpado pela maneira como trato você. Mesmo traição, roubo ou injúria pessoal não precisam me encher de arrependimento. Agarrar-se a um padrão objetivo de conduta é algo arcaico e desnecessário, pela simples razão de que tal padrão não existe.
Em qualquer uma das maneiras como o relativismo se apresenta, seja vestido de acordo com as culturas orientais ou por perspectivas reconhecidamente irracionais do Ocidente, o resultado é o mesmo. Sem um padrão objetivo de moralidade, o mais hediondo dos crimes pode ser justificado. Além do mais, ninguém vive coerentemente com o relativismo que defende. Se um relativista tem seu carro roubado, ou sua esposa estuprada, ele imediatamente apela para um padrão objetivo de moralidade!
O relativismo também é contrário à consciência que ainda reside em nós, como seres caídos, embora ela possa ser imperfeita. Sabemos que existem certas coisas que sempre são erradas, não importa as circunstâncias ou a cultura. Nosso problema é que não podemos, por nós mesmos, defender nossas crenças racionalmente. Assim, cada pessoa se torna uma lei para si mesma.
Realmente, Adão e Eva chegaram a conhecer "o bem e o mal". Só que esse"conhecimento" foi uma maldição e não uma bênção. O homem teria de gastar muita energia para aplacar sua consciência e lidar com a culpa por ter quebrado o padrão que ele intuitivamente sabia que estava certo. Na maioria das vezes, ele tentaria eliminar os limites e fazer o que lhe agradasse.
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