John Owen escreveu: "Aquele, que foi designado para matar um inimigo, se deixar um sobrevivente, o trabalho ficará incompleto". É necessário que sempre cumpramos a tarefa de mortificar o pecado. Podemos matar uma tribo inteira de amalequitas, mas se deliberadamente permitimos que um Agague escape, Deus não se agradará do nosso esforço.
A carne é muito sutil e enganosa, como bem sabemos. Um pecado específico nos deixa em paz por um tempo para fazer-nos pensar que nos livramos dele. Mas ele pode voltar com uma fúria infernal se não estivermos vigiando. O pecado está perpetuamente à espreita para nos atacar; continuamente devemos mortificá-lo. Esse é um dever do qual não descansaremos até descansarmos na glória.
Dê-lhe a mão, e ele vai querer o braço. Se ele ganhar espaço em nossa vida, suas raízes irão adiante e crescerão como uma árvore frondosa. Ele nos usará, abusará de nós e nos punirá com tantas desgraças quanto possível. Owen escreveu:
Cada pensamento ou olhar impuro seria um adultério, se pudesse. Todo desejo cobiçoso seria uma opressão. Todo pensamento de descrença, ateísmo. Eles se encaminham para seu ápice por etapas, aplainando o terreno onde se instalaram pelo entorpecimento... A esta altura nada poderia impedir isso, a não ser a mortificação, que seca a raiz e acerta a cabeça do pecado em qualquer momento, de modo que, qualquer que seja o alvo proposto, é aniquilado. Se o homem mais santo que há no mundo parasse de cuidar de seus deveres, cairia em tantos pecados amaldiçoados como sempre caiu qualquer um da sua espécie.
Adiante, ele acrescentou: "O próprio pecado se coloca contra qualquer ato de santidade e contra qualquer etapa que alcancemos. Que esse homem não pense que progride em santidade enquanto não esmagar sua concupis-cencia . '
Não somos ignorantes quanto aos desígnios de Satanás, declara o apóstolo (2Co 2.11). Nem deveríamos ser ingênuos quanto às sutilezas da nossa carne. Quando Agague aparece alegremente dizendo: "Certamente, já se foi a amargura da morte" (1 Sm 15.32); quando quer ser amigo e declarar fim às hostilidades — é nessa hora é que devemos ser mais imperativos ainda, e atacá-lo, e despedaçá-lo cruelmente diante do Senhor. O pecado não é mortificado quando é simplesmente encoberto, interior, trocado por outro ou reprimido. Ele não é mortificado até que a consciência se tranqüilize.
O pecado não é mortificado quando é meramente encoberto. Você pode ocultar o pecado da vista dos outros, mas isso não é o mesmo que mortificação. Se o pecado foi simplesmente embrulhado com hipocrisia, que vantagem há nisso? Se a consciência somente encobriu erros, estamos num estado muito mais perigoso que antes. "O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia" (Pv 28.13). Em relação ao pecado, você não fará a tarefa completa enquanto não o confessar e o deixar.
O pecado não é mortificado quando é somente interior. Se você deixa a prática aparente de algum pecado e ainda continua a ruminar seus prazeres, cuidado. Você pode ter removido seu pecado para a privacidade da sua imaginação, onde ele se torna conhecido apenas de Deus e você. Porém o pecado não foi mortificado. Jesus censurou os fariseus exatamente por isso. Eles odiavam o assassinato mas toleravam o ódio. Abstinham-se da fornicação, mas perdiam-se em pensamentos sensuais. Jesus declarou que eram merecedores do inferno (Mt 5.22-28).
O pecado não é mortificado quando é trocado por outro. Qual é a vantagem em trocar a concupiscência da carne pela concupiscência dos olhos? A concupiscência não foi mortificada, apenas mudou de forma. O puritano Thomas Fuller disse: "Alguns pensam que se tornaram mais piedo¬sos porque trocaram a abundância e o prazer pela avareza". Se você ceder a essa tática, seu coração corre o perigo de ser endurecido pelo engano do pecado (Hb 3.13).
O pecado não é mortificado até que a consciência seja tranqüilizada.
O alvo é: "o amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia" (lTm 1.5). Enquanto a consciência permanecer suja, ela afetará nosso testemunho. "Santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo" (IPe 3.15, 16; ênfase acrescentada).
Parte do processo da mortificação atua na questão da nossa culpa. Aqueles que tentam fugir da culpa não confessam adequadamente o seu pecado; portanto, não podem ser limpos e totalmente perdoados.
Para quem quer mortificar o pecado, John Owen escreveu: "Encha a consciência da culpa do pecado". Ao contrário da sabedoria popular de nossos dias, ele acreditava que a angústia da culpa era uma conseqüência natural e saudável do mau procedimento. "Envergonhe-se", ele escreveu,12 porque ele via a vergonha como uma vantagem na mortificação do pecado. Ele corretamente entendeu o que Paulo queria dizer em 2 Coríntios 7.10: "A tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar".
Aqueles que dão liberdade à culpa, reivindicam a promessa de perdão, rapidamente se tranqüilizam, e então, não pensam mais que seus maus procedimentos estão sujeitos aos enganos do pecado que endurecem o coração — especialmente quando o pecado ameaça se tornar um hábito. Deixe a tristeza fazer o trabalho completo em seu coração para produzir um arrependimento profundo e honesto, e aqueles pecados serão completa-mente enfraquecidos.
O pecado não é mortificado quando é meramente reprimido.
Algumas pessoas usam as diversões para evitar de tratar o seu pecado.Tentam mergulhar sua consciência no álcool ou abafar sua culpa com entretenimento e outras distrações. Quando a tentação surge, eles não dão uma resposta bíblica, como fez Jesus (Mt 4.4,7,10). Em vez disso, buscam uma saída carnal. Martyn Lloyd disse o seguinte sobre essa tendência:
Se tão-somente você reprime uma tentação ou o primeiro impulso de pecado no seu interior, provavelmente ele irá surgir com mais força • ainda. Nesse aspecto eu concordo com a psicologia moderna. A repres¬são é sempre ruim. "Bem, o que você faz?", alguém pergunta. Eu respondo: "Quando sentir o primeiro impulso do pecado, repreenda-se e diga: "É claro que eu não tenho absolutamente nada que ver com isso". Desmascare a coisa e diga: "Isso é demoníaco e mesquinho, foi o que tirou o primeiro homem do paraíso". Expulse-o, olhe para ele, denuncie-o, odeie-o pelo que ele é; então na verdade você tratou dele. Você não deve, simplesmente empurrá-lo para baixo com espírito de medo, de uma maneira tímida. Coloque-o em cena, exponha-o, analise-o; e então o denuncie pelo que ele é até odiá-lo.
Esse é um bom conselho. Deveríamos trabalhar com nosso pecado corajosamente, acertando-o em cheio. Subjugá-lo um pouquinho não é suficiente. Precisamos exterminá-lo, despedaçá-lo — busque os meios da graça e do poder do Espírito para extirpar a vida venenosa dele.
Essa é uma tarefa para toda a vida, na qual nosso progresso será sempre apenas gradual. Isso faz com que a luta pareça desanimadora num primeiro momento. Mas, logo que nos dispusermos a trabalhar, descobriremos que aquele pecado não será senhor sobre nós, pois estamos debaixo da graça (Rm 6.14). Isso significa que é Deus quem realiza em nós tanto o querer quanto o realizar segundo a sua boa vontade (Fp 2.13). E tendo começado sua boa obra em nós, "há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus" (1.6).
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