O fato de o fim supremo da bondade ou justiça moral ser cumprido quando Deus é glorificado encontra-se pressuposto na objeção que o apóstolo faz ou que imagina que alguns farão. Romanos 3.7: "E, se por causa da minha mentira, fica em relevo a verdade de Deus para a sua glória, por que sou eu ainda condenado como pecador?", ou seja, uma vez que o grande fim da justiça é cumprido pelo meu pecado, quando Deus é glorificado, por que o meu pecado é condenado e castigado? E por que a minha perversidade não é considerada virtude?
As Escrituras também falam da glória de Deus como aquilo que constitui o valor e o fim de determinadas graças, como é o caso da é (Romanos 4.20: "Não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus"). Filipenses 2.11: "E toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai"); do arrependimento (Josué 7.19: "Dá glória ao SENHOR, Deus de Israel, e a ele rende louvores; e declara-me, agora, o que fizeste; não mo ocultes"); da caridade (2 Coríntios 8.19: "no desempenho desta graça ministrada por nós, para a glória do próprio Senhor e para mostrar a nossa boa vontade"); das ações de graça e louvor (Lucas 17.18: "Não houve, porventura, quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?"; Salmo 50.23: "O que me oferece sacrifício de ações de graças, esse me glorificará; e ao que prepara o seu caminho, dar-lhe-ei que veja a salvação de Deus").
No tocante à última passagem, pode-se observar que Deus parece estar se referindo desse modo às atividades religiosas de seu povo, indicando que o fim da religião como um todo é glorificar a Deus. O povo supunha estar fazendo isso da melhor maneira possível ao oferecer um grande número de sacrifícios, mas Deus corrige esse erro e informa a ele que o fim maravilhoso da religião não é cumprido desse modo, mas sim na oferta dos sacrifícios mais espirituais do louvor e da santa conversão [estilo de vida].
Por fim, convém observar em particular as palavras do apóstolo em 1 Coríntios 6.19,20: "Acaso não sabeis... que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo".
Aqui, a glorificação de Deus não é apenas aquilo que compreende, em síntese, o fim da religião e o de Cristo ao nos redimir; o apóstolo também ressalta que, tendo em vista não sermos de nós mesmos, não devemos agir como se o fôssemos, mas sim como sendo de Deus; e não devemos usar os membros do nosso corpo ou as faculdades da nossa alma para nós mesmos, mas sim para Deus, fazendo dele o nosso fim. Expressa, ainda, a maneira como devemos fazer de Deus o nosso fim, ou seja, fazendo da sua glória o nosso fim. "Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo."
Não se pode supor, com isso, que, embora os cristãos sejam ordenados a fazer da glória de Deus o seu fim, este pode ser subordinado, subserviente apropria felicidade, pois, desse modo, ao agir antes e acima de tudo visando ao benefício próprio, usariam seu corpo, alma e espírito como se pertencessem a eles mesmos, e não como sendo de Deus, o que é diametralmente oposto ao objetivo da exortação do apóstolo e dos argumentos que ele apresenta, segundo os quais devemos nos entregar a Deus, usar a nós mesmos como sendo dele, e não de nós mesmos, e agir visando ao benefício dele, e não ao nosso.
Assim, fica evidente, que a glória de Deus é o fim último para o qual ele criou o mundo.
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