A dureza natural do nosso coração nos torna indispostos e incapazes de deixar o pecado e confiar no Salvador. Por isso, a conversão envolve um milagre de novo nascimento. Assim, o novo nascimento vem antes e possibilita fé e arrependimento.
Mesmo assim, fé e arrependimento são ações nossas. Somos responsáveis por elas. Pelo milagre do novo nascimento, por pura graça, Deus nos concede a disposição que carecemos.
Ficamos com a impressão de que há algo temível por trás de arrependimento e fé quando vemos indicações no livro de Atos de que a conversão e dádiva de Deus. "Deus concedeu o arrependimento para vida" (At 11.18). "Deus exaltou [Cristo] a Príncipe e Salvador, a fim de conceder a Israel o arrependimento" (At 5.31). "Deus abriu aos gentios a porta da fé" (At 14.27). "O Senhor abriu o coração [de Lídia] para atender às coisas que Paulo dizia"(At 16.14).
Jamais entenderemos completamente que coisa profunda e terrível é a conversão enquanto não nos dermos conta de que ela é um milagre. É uma dádiva de Deus. Lembre-se mais uma vez de que não apenas pecamos, mas também somos pecadores. A Bíblia deixa claro que nosso coração é cego (2Co 4.4), duro (Ez 11.19; 36.26), está morto (Ef 2.1, 5) e é incapaz de submeter-se à lei de Deus (Rm 8.7,8). Por natureza, somos "filhos da ira" (Ef 2.3). Assim, ao ouvirmos o evangelho, de forma alguma responderemos de modo positivo, a não ser que Deus efetue o milagre da regeneração.
A fé é ação nossa, mas ela é possível por causa da ação de Deus
Arrependimento e fé são ações nossas. Todavia, não nos arrependeremos nem creremos enquanto Deus não fizer seu trabalho de vencer nosso coração duro e rebelde. Essa obra divina é chamada regeneração. Nossa obra é chamada conversão.
A conversão de fato inclui um ato da vontade, pelo qual renunciamos ao pecado, submetemo-nos à autoridade de Cristo e pomos nossa esperança e confiança nele. Nós somos responsáveis por isso e seremos condenados se não o fizermos. Mas, ao mesmo tempo que a Bíblia ensina isso com toda a clareza, ela também mostra que, devido ao nosso coração duro, cegueira intencional e insensibilidade espiritual, não o conseguimos.
Temos de experimentar primeiro a obra regeneradora do Espírito Santo. As Escrituras prometeram muito tempo atrás que Deus se dedicaria a esse trabalho, a fim de criar para si um povo fiel: O Senhor, teu Deus, cincuncidará o teu coração e o coração de tua
descendência, para amares o Senhor, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas (Dt 30.6).
Dar-lhes-ei coração para que me conheçam que eu sou o Senhor; porque se voltarão para mim de todo o seu coração (Jr 24.7).
Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne; para que andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os executem; eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus (Ez 11.19, 20).
Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedia e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis (Ez 36.26, 27).
Essas grandiosas promessas do Antigo Testamento descrevem uma obra de Deus que transforma um coração de pedra em um coração de carne e faz as pessoas "conhecerem", "amarem" e "obedecerem" a Deus. Sem esse transplante cardíaco espiritual, as pessoas não conhecerão nem amarão nem obedecerão a Deus. É essa obra anterior de Deus que chamamos de regeneração.
Somos "chamados" do mesmo modo que Jesus chamou Lázaro: da morte para a vida
No Novo Testamento, Deus está claramente em ação, criando um povo para si, chamando-o das trevas e capacitando-o a crer no evangelho e andar na luz. João é quem ensina mais claramente que a regeneração precede e possibilita a fé: Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo nasceu de Deus (1Jo 5.1, BJ).
Os tempos dos verbos deixam a intenção de João inconfundível: "Todo aquele que continua crendo [ação contínua no presente] que Jesus é o Cristo nasceu de Deus [perfeito, ação completa com efeitos permanentes]". A fé é a evidência do novo nascimento, não a causa dele. Isso está em sintonia com todo o livro (cf. Uo 2.29; 3.9; 4.2, 3, 7).
Como fé e arrependimento são possíveis apenas por causa da obra regeneradora de Deus, ambos são chamados dádivas de Deus: Estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo — pela graça sois salvos. Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isso13 não vem de vós; é dom de Deus (Ef 2.5, 8).
É necessário que o servo do Senhor não viva a contender e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente; disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele, para cumprirem a sua vontade (2Tm 2.24-26).
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