Depois  de remover a falsa confiança das pessoas na religião exterior, Pedro  positivamente estabelece o que realmente salva: "a indagação de uma boa  consciência para com Deus". O santo apóstolo poderia ter dito: "Pois, em  um só Espírito, todos nós fomos batizados em um só corpo" (ICo 12.13),  Ele poderia ter dito: "não removendo a imundícia da carne, mas removendo  a imundícia da alma". Em vez disso nomeia as obras da alma que  asseguram a salvação graciosa de Deus — "uma indagação de uma boa  consciência para com Deus". Naturalmente ele está falando de fé.
Deus  deve ser satisfeito antes da consciência. Deus está satisfeito com a  morte do mediador; então quando somos aspergidos pelo sangue de Cristo —  quando a morte de Cristo é aplicada a nós — nossa consciência é também  satisfeita. Assim é como "muito mais o sangue de Cristo, que, pelo  Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a  nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao Deus vivo!" (Hb  9.14).
A  "indagação de uma boa consciência para com Deus", então, é a mesma  coisa que a fé. Pedro está descrevendo a atitude daqueles que se  entregam para crer e viver como cristãos.
Quando  cremos, nossa consciência se torna boa. Se Satanás coloca alguma coisa  para nos acusar, podemos responder com uma consciência boa. "Quem  intentará acusação contra os eleitos de Deus? E Deus quem os justifica.  Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem  ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós"  (Rm 8.33,34). Podemos, com um coração aspergido com o sangue de Cristo,  responder a todas as objeções, e triunfar sobre os inimigos.
Podemos  "[nos achegar], confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de  recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião  oportuna" (Hb 4.16).
"Uma  consciência boa" no sentido em que Pedro emprega o termo, é uma  consciência limpa da corrupção do pecado, livre para servir a Deus.  Apenas os cristãos verdadeiros têm tal consciência. É uma consciência  que olha para Deus e sabe que no final das contas vai responder a ele.  Como podemos saber se estamos "em Cristo", se somos receptores da graça e  do favor salvadores de Deus? A consciência nos foi dada para esse  propósito, para nos dizer o que estamos fazendo, e por quais motivos  estamos fazendo isso, e qual é a nossa posição diante de Deus. Se você  quer testar sua saúde espiritual, simplesmente pergunte se sua  consciência está fundamentada em Deus.
Se  você é justo, honrado e bom porque sua consciência responde às ordens  de Deus, é uma consciência boa. Mas se você faz boas obras ou rituais  religiosos somente porque os outros verão, isso não vem de uma  consciência boa (Mt 6.5,6,16-18). Uma consciência boa nos mantêm justos  simplesmente por que Deus ordena. A consciência é a representante de  Deus no coração de um cristão.
Portanto,  o que nós fazemos que vem de uma consciência boa, fazemos de coração.  Quando fazemos alguma coisa com má vontade, não por amor e não de  coração, isso não vem de uma consciência boa. Uma consciência saudável  não olha meramente o que fazemos, mas ela examina a razão pela qual  fazemos — se é por amor a Deus e por um desejo de obediência, ou por um  sentimento de obrigação melindroso.
Uma  consciência boa renuncia a todos os pecados e os nega. Aqueles,  portanto que lutam para alimentar a sua corrupção enquanto pensam que  são cristãos, contradizem a sua profissão de fé. Aqueles que alimentam  seus olhos com vaidade, e seus ouvidos com um discurso obsceno; aqueles  que permitem que seus pés caminhem por lugares que infectam a alma,  aqueles que, em vez de renunciar ao pecado, os mantêm — o que devemos  pensar deles? Eles podem se considerar salvos por Cristo quando vivem  com uma consciência suja?
Davi  orou: "Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um  espírito voluntário" (SI 51.12). Ele havia perdido aquela alegria e  espontaneidade por causa do pecado. Pois, quando deliberadamente pecamos  contra a consciência, calamos a boca das nossas orações, e dessa  maneira não podemos ir a Deus. Calamos a boca da consciência e, então,  não podemos ir corajosamente a Deus. Trabalhemos para ser dóceis ao  Espírito. Subme-tamo-nos a Deus em tudo o que somos exortados a fazer.  Rendamo-nos à obediência de fé em todas as suas promessas. Isso é o que  significa ter uma consciência boa. Assim, decidamos tomar este curso se  queremos alcançar uma consciência boa.
Examinemo-nos  cuidadosamente a nós mesmos e assim nossa consciência pode nos  convencer do pecado que há em nós. Pergunte a si mesmo: Eu creio? Ou  meramente apaziguei meu coração sem satisfazer a Deus? Eu obedeço? Eu  quero moldar-me na forma da Palavra de Deus e obedecer a tudo que ouço  ou estou apenas me enganando? Coloque essas questões no seu coração.  "Deus é maior do que o nosso coração e conhece todas as cousas" (1Jo  3.20). Se respondermos a Deus com reservas (Vou obedecer a Deus nisto,  mas não naquilo; eu vou andar com Cristo desde que eu não tenha que  desistir do meu pecado predileto), isso não é resposta de uma  consciência boa. O que é feito para Deus deve ser feito por inteiro e  sem reservas. Se o nosso coração se recusa a fazer, não temos uma  consciência boa. Obediência parcial não é absolutamente obediência.  Escolher coisas fáceis que não se opõem à nossa concupiscência ou não  intimidam nosso orgulho não é a obediência para a qual Deus nos chama.  Nossa obediência deve ser total em relação a todos os seus mandamentos.  Assim, examinemos-nos e perguntemo-nos se cremos ou não, se obedecemos  ou não, e quais são os motivos que nos levam a agir assim.
A  vida de muitos nada mais é do que uma quebra de sua profissão de fé. O  que eles terão de procurar na hora da morte, e no dia do julgamento?  Será que poderão esperar que Deus mantenha suas promessas para dar-lhes a  vida eterna, quando eles nunca tiveram a graça de manter qualquer  compromisso com ele? Como poderão eles procurar a graça de Deus então,  quando rejeitaram aqui sua graça, e toda a sua vida foi uma satisfação  de suas paixões naturais? Se sua profissão de fé não tem sentido agora,  não terá também no dia do julgamento. Utilize esse argumento contra o  pecado, quando for tentado.
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