A  adoração é um fim em si mesmo. Nós não nos banqueteamos com a adoração  como um meio para chegar a alguma outra coisa. Se o que transforma o  ritual externo em adoração autêntica é o despertamento dos afetos do  coração, então a verdadeira adoração não pode ser apresentada como um  meio para alguma outra experiência. Os sentimentos não funcionam assim.  Autênticos sentimentos do coração não podem ser fabricados como degraus  para alguma outra coisa.
Por  exemplo: meu cunhado fez-me um interurbano em 1974 para dizer-me que  minha mãe acabara de morrer. Lembro de sua voz entrecortada, quando  tomei o fone da minha esposa: "Johnny, meu amigo, aqui é Bob. Tenho más  notícias... Sua mãe e seu pai tiveram um sério acidente de ônibus. Sua  mãe não resistiu, e seu pai está muito ferido".
Uma  coisa é certa: quando recebo uma notícia como essa, eu não sento e  digo: "E agora, com que finalidade devo sentir tristeza?" Ao levantar  meu filhinho do colo e passá-lo à minha esposa, para andar até o quarto e  ficar sozinho, eu não digo: "Que bom propósito posso alcançar se eu  chorar pela próxima meia hora?" O sentimento de tristeza é um fim em si  mesmo no que concerne à minha motivação consciente.
Ele  surge espontaneamente. Não foi feito para chegar a alguma outra coisa.  Não é fruto da vontade consciente. Não segue a uma decisão. Ele vem lá  do fundo, de um lugar sob a vontade consciente. Sem dúvida ele terá  muitos subprodutos — bons, em sua maioria. Mas estes estão totalmente  fora de cogitação, quando eu me ajoelho ao lado da minha cama e choro. O  sentimento está ali, jorrando do meu coração. E ele tem um fim em si  mesmo.
A  tristeza não é o único exemplo. Se você está boiando em um bote  inflável já há três dias, sem água para beber, depois de um naufrágio no  mar, e aparece um ponto de terra no horizonte, você não diz: "Com que  finalidade devo sentir desejo por essa terra? Que bom propósito deve  levar-me a decidir sentir esperança?" Mesmo que o anseio em seu coração  lhe dê força renovada para chegar à terra, você não realiza o ato de  desejo, esperança e anseio para chegar lá.
O  anseio jorra do fundo do seu coração por causa do tremendo valor da  água (e da vida!) daquela terra. Não é planejado e realizado (como a  compra de uma passagem aérea) como meio de obter o que desejamos. Ele  brota espontaneamente no coração. Não é uma decisão tomada a fim de —  nada! Como sentimento genuíno do coração, ele é um fim em si mesmo.
Ou  pense no medo. Se você está acampando nas proximidades de um parque  nacional, e acorda no meio da noite com um rosnar lá fora, e vê à luz do  luar a silhueta de uma enorme onça vindo em direção à sua barraca, você  não diz: "Com que propósito devo sentir medo?" Você não avalia os bons  resultados que podem advir da adrenalina que o medo produz, e depois  decide que o medo pode ser uma emoção apropriada e proveitosa. Ele surge  e pronto!
Parado  à beira do Grand Canyon pela primeira vez, olhando o sol se pôr, a  enviar a escuridão para as camadas geológicas do tempo, você não diz:  "Com que propósito devo ficar impressionado e maravilhado com tanta  beleza?"
Quando  uma criança pequena, no dia de Natal, abre seu primeiro presente e  encontra seus patins "favoritos" que queria há meses, ela não pensa:  "Com que objetivo devo sentir-me feliz e agradecida?" Dizemos que alguém  é ingrato quando palavras de gratidão são ditas por obrigação em vez de  saírem espontaneamente do coração.
Uma  criança de cinco anos que vai pela primeira vez ao jardim de infância e  é cercada por alguns meninos do segundo ano, não "decide" sentir a  confiança e o amor brotar em seu pequeno coração com a aproximação do  seu irmão maior que está no quarto ano. Ela simplesmente sente.
Toda  emoção genuína é um fim em si mesma. Ela não é causada conscientemente  como meio de chegar a outra coisa. Isso não quer dizer que não possamos  nem devamos procurar ter certos sentimentos. Devemos e podemos. Podemos  nos colocar em situações em que os sentimentos podem ser cultivados mais  prontamente. Podemos até prezar alguns resultados desses sentimentos,  assim como os próprios sentimentos. Mas no momento da emoção autêntica,  todo cálculo desaparece. Somos transportados (talvez apenas por alguns  segundos) para acima do nível de raciocínio da mente, para experimentar o  sentimento sem referência a implicações lógicas ou práticas.
Isso  é o que impede a adoração de ser "em vão". A adoração é autêntica  quando surgem afetos por Deus no coração como um fim em si mesmos. Na  adoração, Deus é a voz temida no telefone. Deus é a o ponto de terra no  horizonte. Deus é a onça e o pôr-do-sol e os patins "favoritos" e a mãe  que os deu e o irmão grande e forte do quarto ano.
Quando  a realidade de Deus nos é apresentada em sua Palavra ou em seu mundo, e  nós não sentimos em nosso coração nenhuma tristeza, anseio, esperança,  medo, reverência, alegria, gratidão ou confiança, então podemos cantar,  orar, recitar e gesticular conforme o figurino o quanto quisermos, mas  isso não será adoração de verdade. Não podemos honrar a Deus se nosso  coração "está longe dele".
Adoração  é uma maneira de refletir alegremente de volta para Deus o brilho do  seu valor. Isso não pode ser feito por meros atos devidos. Pode ser  feito apenas quando afetos espontâneos brotam no coração.

Adorar é amar intensamente e de tal forma que os nossos interesses pessoais já não existam mais, somente as coisas de Deus importam!
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