Ao  tratar da Vontade de Deus alguns teólogos têm diferenciado entre Sua  vontade decretiva e Sua vontade permissiva, insistindo que há certas  coisas que Deus tem positivamente pré-ordenado, mas outras coisas que  Ele meramente tolera existir ou acontecer. Mas tal distinção não é uma  distinção de maneira alguma, na medida em que Deus somente permite o que  está de acordo com Sua vontade. Nenhuma distinção teria sido inventada,  tivesse esses teólogos discernido que Deus pode ter decretado a  existência e atividades do pecado sem Ele mesmo ser o Autor do pecado.  Pessoalmente, nós preferimos adotar a distinção feita pelos antigos  Calvinistas entre a vontade secreta e revelada de Deus, ou, para  expressar de uma outra forma, Sua vontade dispositiva e preceptiva.
A  vontade revelado de Deus é feita conhecida em Sua Palavra, mas Sua  vontade secreta são Seus próprios conselhos encobertos. A vontade  revelada de Deus é o definidor de nosso dever e o padrão de nossa  responsabilidade. A primária e básica razão pela qual eu devo seguir  certo curso ou fazer certa coisa é por causa da vontade de Deus, a Sua  vontade sendo claramente definida para mim em Sua Palavra. Que eu não  deveria seguir um certo curso, que eu devo me abster de fazer certas  coisas, é porque elas são contrárias à vontade revelada de Deus. Mas  suponha que eu desobedeça a Palavra de Deus, então, eu não contrario Sua  vontade? E se é assim, como pode ainda ser verdade que a vontade de  Deus sempre é feita e Seu conselho consumado todas as vezes? Tais  questões fazem evidente a necessidade de se defender uma distinção aqui.  A vontade revelada de Deus é freqüentemente contrariada, mas Sua  vontade secreta nunca é frustrada. Que é legítimo fazermos tal distinção  concernente à vontade de Deus, é clara a partir das Escrituras. Tome  esta duas passagens: "Porque esta é a vontade de Deus, a saber, a vossa  santificação: que vos abstenhais da prostituição" (1 Tessalonicenses  4:3); "Dir-me-ás então. Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste à  sua vontade?" (Romanos 9:19). Pode um leitor pensativo declara que a  "vontade" de Deus tem precisamente o mesmo significado em ambas dessas  passagens? Nós seguramente esperamos que não. A primeira passagem  refere-se à vontade revelada de Deus, a última à Sua vontade secreta. A  primeira passagem concerne a nosso dever, a última declara que o  propósito secreto de Deus é imutável e deve acontecer não obstante a  insubordinação das Suas criaturas. A vontade revelada de Deus nunca é  perfeitamente ou completamente realizada por alguém de nós, mas Sua  vontade secreta nunca falha na consumação até mesmo no mais minucioso  detalhe. Sua vontade secreta concerne principalmente a eventos futuros;  Sua vontade revelada, nosso dever presente: uma tem que ver com Seu  irresistível propósito, o outro com Seu agrado manifestado: uma é  elaborada sobre nós e realizada através de nós, a outra é para feita por  nós.
A  vontade secreta de Deus é Seu eterno, imutável propósito concernente a  todas as coisas que Ele fez, para produzir certos meios para seus fins  apontados: disto Deus declara explicitamente: "Meu conselho subsistirá, e  farei toda Minha vontade" (Isaías 46:10). Esta é a absoluta, eficaz  vontade de Deus, sempre efetuada, sempre realizada. A vontade revelada  de Deus contêm não Seu propósito e decreto, mas nosso dever, - não o que  Ele fará de acordo com Seu eterno conselho, mas o que nós deveríamos  faze se quiséssemos agradá-LO, e isto é expresso nos preceitos e  promessas de Sua Palavra. O que quer que Deus tenha determinado consigo  mesmo, seja para Ele próprio fazer, ou para fazer pelos outros, ou  tolerar que seja feito, enquanto isto está em Seu próprio seio, e não  foi feito conhecido por algum evento na providência, ou por preceito, ou  por profecia, é Sua vontade secreta. Tais são as coisas profundas de  Deus, os pensamentos de Seu coração, os conselhos de Sua mente, que são  impenetráveis para todas criaturas. Mas quando estas coisas são feitas  conhecidas, elas tornam-se Sua vontade revelada: tal é quase todo o  livro do Apocalipse, no qual Deus tem feito conhecido a nós "coisas que  brevemente devem acontecer" (Apocalipse 1:1 - "deve" porque Ele  eternamente propôs que deveriam acontecer).
Tem  sido objetado pelos teólogos Arminianos que a divisão da vontade de  Deus em secreta e revelada é insustentável, pois ela faz com que Deus  tenha duas vontades diferentes, uma oposta a outra. Mas isto é um  engano, devido a falha deles em ver que a vontade secreta e revelada de  Deus dizem respeito a objetos inteiramente diferentes. Se Deus  requeresse e proibisse a coisa, ou se Ele decretasse que a mesma coisa  aconteceria ou não, então Sua vontade secreta e revelada seria  contraditória e sem propósito. Se aqueles que objetam à vontade secreta e  revelada de Deus como sendo inconsistentes, fizessem a mesma distinção  neste caso que eles fazem em muitos outros casos, a aparente  inconsistência imediatamente desapareceria. Quão freqüentemente os  homens traçam uma astuta distinção entre o que é desejável em sua  própria natureza, e o que não é desejável considerando todas as coisas.  Por exemplo, o pai carinhoso não deseja simplesmente considerar punir  seu filho ofensivo, mas, considerando todas as coisas, ele sabe que este  é o seu dever obrigatório, e assim corrige seu filho. E embora ele  conte ao seu filho que ele não deseja castigá-lo, mas que ele está certo  que isto é o melhor ao fazer considerando todas as coisas, então um  filho inteligente verá que não há inconsistência entre o que o pai diz e  faz. Exatamente assim o Criador Todo-sábio pode consistentemente  decretar acontecer coisas que Ele odeia, proibir e condenar. Deus  escolhe que algumas coisas existem que Ele odeia completamente (na  intrínseca natureza delas), e Ele também escolhe que algumas coisas,  todavia não existam, as quais Ele ama perfeitamente (na intrínseca  natureza delas). Por exemplo: Ele ordenou que Faraó deixasse Seu povo  ir, porque isso era justo na natureza das coisas, todavia, Ele  secretamente havia declarado que Faraó não deveria deixar o Seu povo ir,  não porque era justo em Faraó recusar, mas porque era melhor  considerando todas as coisas que ele não os deixasse ir - isto é, melhor  porque favoreceu um propósito mais amplo de Deus.
Novamente;  Deus nos manda sermos perfeitamente santos nesta vida (Mateus 5:48),  porque isto é justo na natureza das coisas, mas Ele decretou que nenhum  homem será perfeitamente santo nesta vida, porque é melhor, considerando  todas as coisas, que ninguém seja perfeitamente santo  (experimentalmente) antes de deixar este mundo. Santidade é uma coisa, o  acontecimento da santidade é outra; assim, pecado é uma coisa, o  acontecimento do pecado é outra. Quando Deus requer santidade, Sua  vontade preceptiva ou revelada considera a natureza ou excelência moral  da santidade; mas quando Ele decreta que a santidade não ocorra  (completa e perfeitamente), Sua vontade secreta ou decretiva considera  somente o evento de que ela não ocorre. Assim, novamente, quando Deus  proíbe o pecado, Sua vontade preceptiva ou revelada considera somente a  natureza ou o mal moral do pecado; mas quando Ele decreta que o pecado  ocorrerá, Sua vontade secreta considera somente sua real ocorrência para  servir o Seu bom propósito. Portanto, a vontade secreta e revelada de  Deus considera objetos inteiramente diferentes.
A  vontade do decreto de Deus não é a Sua vontade no mesmo sentido como  Sua vontade de mandamento é. Portanto, não há dificuldade em supor que  uma possa ser contrária à outra. Sua vontade, em ambos sentidos, é Sua  inclinação. Tudo que concerne a Sua vontade revelada é perfeitamente de  acordo com Sua natureza, como quando Ele ordena amor, obediência, e  serviço de Suas criaturas. Mas o que concerne a Sua vontade secreta tem  em vista Seu fim supremo, para o qual todas as coisas estão agora  operando. Portanto, Ele decreta a entrada de pecado no Seu universo,  embora Sua própria natureza santa odeie todo pecado com infinita  repulsa, todavia, porque este é um dos meios pelos quais Ele apontou o  fim para ser alcançado, Ele tolera a entrada dele. A vontade revelada de  Deus é a medida de nossa responsabilidade e o determinante de nosso  dever. Com a vontade secreta de Deus nós não temos nada para fazer: esta  é de Sua incumbência. Mas Deus, sabendo que falharemos em fazer  perfeitamente Sua vontade revelada, ordenou Seus eternos conselhos  conseqüentemente, e estes eternos conselhos, que aconteça Sua vontade  secreta, embora desconhecida para nós, embora inconscientemente,  cumprida em e através de nós.
Se  o leitor está preparado ou não para aceitar a distinção acima na  vontade de Deus, ele deve reconhecer que os mandamentos das Escrituras  declaram a vontade revelada de Deus, e ele deve também aceitar que  algumas vezes Deus não quer impedir a quebra daqueles mandamentos,  porque Ele na realidade não o impede. Que Deus quer permitir o pecado é  evidente, porque Ele o permite. Certamente ninguém dirá que o próprio  Deus faz o que Ele não quer fazer.
Finalmente,  deixe-me dizer novamente que, minha responsabilidade em relação à  vontade de Deus é medida pelo que Ele fez conhecido na Sua Palavra. Ali  eu aprendo que é meu dever usar os meios de Sua providência, e  humildemente orar para que Ele possa Se agradar em abençoá-los para mim.  Recusar assim fazer sobre o fundamente de que eu sou ignorante do que  possa ou não possa ser Seus conselhos secretos concernentes a mim, não  somente é um absurdo, mas também o ápice da presunção. Nós repetimos: a  vontade secreta de Deus não nos diz respeito; é Sua vontade revelada que  mede nossa responsabilidade. Que não há conflito entre a vontade  secreta e revelada de Deus é claro a partir do fato que, a primeira é  realizada pelo meu uso dos meios registrados na última.
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