- Noite de Domingo, 02 de Outubro de 1887
"Respondeu o centurião: 'Senhor, não mereço receber-te debaixo
do meu teto. Mas dize apenas uma palavra, e o meu servo será curado.
Pois eu também sou homem sujeito à autoridade e com soldados sob o
meu comando. Digo a um: Vá, e ele vai; e a outro: Venha, e ele vem.
Digo a meu servo: Faço isto, e ele faz.'" (Mt 8.8, 9).
Sem  nenhuma introdução, pois acabamos de ler o registro feito por Mateus  desse milagre notável realizado pelo Senhor, passarei imediatamente ao  texto, e, em primeiro lugar,desenvolverei o próprio incidente, e então, farei uso das suas lições para nossos próprios propósitos práticos. Podemos aprender muitas coisas dessa narrativa para nossa orientação no tempo presente.
I. Em primeiro lugar, quero desenvolver o incidente propriamente dito. Um  centurião, comandante do destacamento das forças romanas então  colocadas em Cafarnaum, tinha um empregado muito enfermo. Era  paralítico, mas com um tipo de paralisia que ainda deixa espaço para  muitas dores. O enfermo estava sendo lastimavelmente atormentado e  continuava sem movimento. O homem de guerra era um bom patrão, tinha  consideração por seus empregados; e quando ouviu dizer que o grande  profeta, Jesus de Nazaré, chegara à cidade, o centurião fez o maior  empenho para chegar até Jesus, e rogou-lhe que curasse seu empregado. O  centurião não pediu que Jesus fosse até sua casa a fim de realizar a  cura, mas o Salvador respondeu imediatamente: "Eu irei curá-lo."  Isso foi mais do que o centurião pedira; implorara em favor da cura do  seu escravo, mas não estava esperando a presença pessoal do Mestre  glorioso.
Vocês se lembram de que, em outra ocasião, certo oficial do rei foi até Jesus e suplicou-lhe: "Senhor, vem, antes que o meu filho morra!" Jesus não foi visitar o filho do oficial, mas enviou sua palavra poderosa, e o curou.
No  caso do centurião, era um empregado, e não uma criança, que estava  sofrendo; e, como se o Salvador quisesse ser mais atencioso quando a  categoria social era mais baixa, ele demonstrou a condescendência do seu  espírito ao dizer, nesse caso, "Eu irei curá-lo. Eu mesmo comparecerei e  realizarei a cura que você pede da minha parte." Vejam como o Salvador  concede mais do que pedimos e também como ele trata com ternura e  consideração os pobres e os necessitados; e, portanto, ao passo que uma  palavra graciosa é enviada ao filho do oficial do rei, o Senhor oferece  uma visita graciosa ao servo do centurião: "Eu irei curá-lo." Jesus é  muito terno e compassivo. Ele sabe como o coração humano sofre na  pobreza e na enfermidade, e não quer lhes infligir qualquer ferida  desnecessária. Pelo contrário, ele, por assim dizer, dá-se ao trabalho,  por sua gentileza superior, de atender bem os que são da categoria  inferior a fim de mostrar que não faz distinção de parcialidade entre as  pessoas segundo o costume do mundo.
Agora,  vejam o que o centurião faz. Pedira que o Senhor curasse seu servo;  está muito grato pela bondade do Salvador que se ofereceu para ir  curá-lo; mas, sendo um verdadeiro cavalheiro, não quer provocar qualquer  inconveniência pessoal para o Salvador. Acha que não há a mínima  necessidade para o grande Médico fazer uma viagem para a sua casa e, por  isso, lhe diz: "Senhor, não mereço receber-te debaixo do meu teto. Mas dize apenas uma palavra, e o meu servo será curado."  É maravilhoso o poder refinador da fé sobre as boas maneiras dos  homens. Os centuriões eram, em geral, homens grosseiros e rudes que não  se importavam com ninguém. Em muitos campos de batalha, com lutas  renhidas, recebiam seu treinamento para serviços futuros, e foram  forçando caminho a partir das fileiras dos soldados rasos, e não por  concursos escritos competitivos, mas mediante golpes, socos, contusões e  feridas. Porém, esse oficial, sendo crente em Jesus Cristo, parece  claramente abrandado, mais ou menos civilizado, e cultivado, por esse  mesmo fato. Podemos observar, muitas vezes, que os homens mais  grosseiros, as menos cultas entre as mulheres, têm alguns dos traços  mais suaves e doces de caráter quando chegam a crer no Senhor Jesus  Cristo. Sendo assim, o centurião diz: "Meu Senhor, eu ficaria bastante  contente com uma visita da tua Majestade augusta; mas não mereço  receber-te debaixo do meu teto, e não é necessária a tua presença. Tu  podes curar meu servo com uma única palavra. Por isso, peço-te, dize  apenas uma palavra, e o meu servo será curado." Foi esse sentimento belo  de consideração e cavalheirismo, que o levou a falar dessa maneira; e o  que ele disse é notavelmente instrutivo.
Em primeiro lugar,  pois, vou desenvolver os pormenores do incidente. Notem, em primeiro  lugar, que o centurião traçou um paralelo entre ele mesmo e o Senhor  Jesus Cristo.O centurião disse: "Pois eu também sou homem sujeito à  autoridade e com soldados sob meu comando." Alguns têm procurado fazer  uma mudança da ênfase aqui, no sentido de ensinar que a intenção do  centurião era: "Estou sujeito à autoridade, mero oficial subalterno,  porém posso dar algumas ordens. Tu não estás sujeito à autoridade, mas  és grande e poderoso, e, por isso, tu podes fazer muito mais." Mas esse  não é o sentido, de modo algum. O centurião queria dizer que ele mesmo  era um homem sujeito à autoridade, não meramente um cidadão individual,  mas servo de César. O uniforme que usava demarcava-o como militar de uma  das legiões do Império Romano; a insígnia na sua farda denotava que ele  era um centurião, um comandante que derivava sua posição e poder do  grande Imperador em Roma. Era homem "sujeito a autoridade".
Não foi para desonrar nosso grande Mestre, muito pelo contrário, que esse centurião queria dizer: "Reconheço também em ti um homem sujeito à autoridade",  pois esse nosso bendito Cristo entrou no mundo comissionado por Deus.  Ele estava aqui, não meramente na sua capacidade particular, como o  Filho de Davi, ou como o Filho de Maria, ou até mesmo como o Filho de  Deus; mas ele estava aqui como Aquele a quem o Pai escolhera, ungira,  qualificara, e enviara para levar adiante uma comissão divina. Esse  oficial conseguia enxergar na pessoa de Cristo as marcas de ser  comissionado por Deus. Por algum meio (não sei como), ele chegara a essa  conclusão segura e verdadeira, que Jesus Cristo estava agindo sob a  autoridade do grande Deus que fez os céus e a Terra; e por isso o  centurião enxergava Cristo como devidamente comissionado para a sua  obra.
Agora, vamos dar um passo para a frente.  Aquele que é comissionado para realizar alguma tarefa também recebe, da  parte da autoridade superior, o poder para realizar essa tarefa. O  centurião, portanto, tem soldados para cumprirem as suas ordens - "Pois  eu também sou homem sujeito à autoridade e com soldados sob o meu  comando; homens colocados sob o meu comando para cumprirem as minhas  ordens, porque minhas ordens são autorizadas pela autoridade superior de  César." Assim, esse homem parece dizer a Cristo: "Acredito que a ti  está providenciada a devida assistência para o cumprimento de todos os  propósitos que vieste ao mundo para cumpri-los. Se eu quero transmitir  uma ordem", diz o centurião, "digo ao meu servo: 'Vá', e ele vai. E se  eu quiser que outro venha, digo: 'Venha', e ele vem. Se há alguma coisa  para ser feita, convoco um dos homens sob minha autoridade, e digo a  ele: 'Faça isso' e ele faz." Parece estar dizendo ao Salvador: "Tu,  também, comissionado e nomeado pelo grande Deus, decerto tens servidores  que foram destacados para te atender. Tu não foste enviado à guerra às  tuas próprias custas. Tu não foste deixado para realizar sozinho essa  obra. Devem forçosamente existir, em algum lugar, soldados e servos  sujeitos a ti, os quais, não percebidos por mim, aguardam para cumprir  tuas ordens." Vocês captam essa idéia, não é verdade? O paralelo fica  muito claro, e não acho estranho que o Salvador tenha admirado a fé  desse homem, que o capacitara a perceber essa grande verdade.
O centurião, portanto, foi um passo adiante no seu argumento. "Eu,  um homem devidamente comissionado, tenho servos, sujeitos a mim, para  cumprirem a minha vontade, e eu mantenho esses servos sob meu controle."  Vocês sabem que existem patrões que têm servos aos quais dizem "Vão" e  eles não vão, ou aos quais dizem "Venham", mas não vêm muito  rapidamente. Precisam falar "Venham" ou "Vão" várias vezes antes de os  servos realmente virem ou irem; e podem dizer, ainda, "Faça isso" e  outra vez, "Faça isso", mas não é feito. Mas esse centurião era um  oficial que sabia lidar com homens. Era um mandante, um verdadeiro  senhor; não somente no nome, mas também no fato. Não tolerava, dentro de  seus domínios, nada que se assemelhasse a um motim ou resistência à sua  vontade; tinha seus domésticos tão bem organizados, que, quando ele  dizia ao seu servo "Faça isso", ele fazia. Esse é o tipo certo de  patrão, e os servos, no final das contas, gostam de um senhor que faz  questão de ser obedecido. O centurião era um disciplinador desse tipo,  tão bondoso como a luz do sol, pois procurou a ajuda de Cristo para seu  servo enfermo, mas também tão verdadeiro e firme como o aço; de modo  que, o que ele dizia que era para ser feito, era para ser feito, e  imediatamente.
O  centurião transfere ao Salvador essa característica. Ele não  desacredita Cristo (nem pode fazer isso) com a suposição de que Cristo  não tem seus servos bem disciplinados, que ele tem servos que ousam não  levar a sério suas ordens, que existem agências que se rebelaram contra o  domínio e que agirão do modo que quiserem. "Não", diz ele, "Tu,  Salvador, comissionado pelo Pai, tens teus soldados e teus servos, e  creio que tu os tens sob controle e sujeitos a tamanha disciplina, que  basta que tu fales, e o ato por ti ordenado é cumprido, ou, quando é  mandado, e fica firme para sempre." Confio que ninguém entre nós  desejaria desonrar o Salvador, questionando a verdade desse paralelo que  o centurião traçou com tanta consideração.
De  novo, o centurião se adiantou um pouco mais, e deu a entender que, uma  vez que Cristo tinha o poder de cumprir a vontade divina, e que tinha  esse poder sob seu controle,acreditava que Cristo estivesse disposto a  dirigir todo esse poder ao único objetivo de curar o seu servo. O Senhor  Jesus Cristo é onipotente; ninguém duvida disso, mas a questão é: Ele é  onipotente para salvar você? Você não duvida que, se o Salvador assim  quiser, pode tornar são o seu espírito, ainda assim você pergunta: Ele  vai fazer isso? Ele vai dirigir esse poder na minha direção? Nem passa  pela cabeça do centurião que haverá alguma dificuldade no caso dele.  "Pelo contrário", ele parece dizer, "Rei dos reis, Mestre e Senhor  onipotente, tu podes imediatamente ordenar um anjo a voar até o meu  servo, ou podes mandar a enfermidade deixar o meu lar, ou podes falar à  paralisia, e a própria paralisia se tornará seu servo, e sairá voando  imediatamente, segundo o seu mandamento. É só estender o seu poder ao  seu servo, e ele será curado imediatamente." Quero que vocês creiam,  queridos, que nosso Senhor Jesus Cristo, já não presente na carne, mas  ressuscitado dentre os mortos, está revestido de poder igual ao que  tinha nos dias do centurião; ou mais, que ele está revestido com poder  ainda maior, já que depois da sua ressurreição, ele disse: "Foi-me dada  toda a autoridade nos céus e na terra." E, em seguida, quero que vocês  creiam que ele está disposto a redirecionar todo esse poder para vocês, a  fim de operar para livrá-los da morte espiritual, para salvá-los do  poder do pecado, para ajudá-los por meio de sua providência, para  orientá-los no caminho da sabedoria, e lidar com qualquer entre dez mil  coisas que possa, por acaso, ser a necessidade deste momento presente.  Quem dera que aquele que concedeu tamanha fé também concedesse  semelhante fé preciosa a muitos de vocês, para que também vocês  glorificassem e bendissessem seu glorioso nome!
Agora,  observem que havia só mais uma coisa que o centurião tinha em mente.  Ele considerava Cristo o senhor de todos os tipos de poderes, poderes  suficientes para todos os seus propósitos; ele considerava que Cristo os  mantinha sob controle total, de modo que pudesse mandar cumprir suas  ordens num único momento, e o centurião estava muito desejoso de se  manter em posição subalterna. Sabemos disso porque, quando o Salvador se  dispôs a descer até a casa do centurião, ele achou demais receber  semelhante honra; parecia ter certeza de que estava sendo colocado numa  posição errada. Ele mesmo não passava de um servidor e achava que, no  papel específico que desempenhava, não era digno de acolher seu Mestre  debaixo do seu teto; dessa maneira, ele disse: "Dize apenas uma palavra,  e meu servo será curado."
É  isso o que precisamos fazer. Quando pensamos no nosso Senhor Jesus  Cristo, não precisamos nos preocupar com o modo como realiza os seus  propósitos, como os propósitos de Deus serão realizados, ou como suas  promessas serão cumpridas. A coisa principal que devemos fazer é a  seguinte: sermos servos do Senhor e, quando ele diz a qualquer um entre  nós "Vá", que cuidemos de ir mesmo, e quando ele diz "Venha", que  realmente venhamos, e quando ele diz "Faça isso", que tenhamos certeza  de fazê-lo. Você quer governar os mares? Seria melhor governar a si  mesmo. Você quer purificar a igreja? Você quer reformar o mundo? O que  você tem a ver com a reforma do mundo antes de primeiro lavar suas  próprias mãos na inocência? Coloque-se na sua devida posição e realize  seu próprio trabalho, e tudo irá bem com você. Quem é você, afinal de  contas, a não ser um operário minúsculo num formigueiro pequeno? Você  precisa carregar só um grão de trigo, e isso basta para você; mas não se  preocupe com todos os problemas do formigueiro; e mesmo que se  preocupe, pelo menos não se aflija com o planeta inteiro, e muito menos a  respeito do sistema solar, pois o que você pode fazer com ele, mesmo se  você preocupar sua pobre condição de formiga até à morte? Procure  cumprir a sua parte no seu próprio formigueiro, carregue seu próprio  grão ao armazém geral, e assim você terá servido ao propósito do seu  ser. Que Deus, mesmo nosso Senhor Jesus Cristo, nos dê a graça de  enaltecê-lo muito como Senhor e Mestre, cheio de poder, misericórdia e  amor; e de nos colocar, então, bem para baixo, e pedir a nós, servos  dele, que possamos servi-lo fielmente todos os dias da nossa vida!
II. Agora, em segundo lugar, quero fazer uso das suas lições para os nossos próprios propósitos práticos.
Em primeiro lugar,  caros amigos, parece-me que essa pequena narrativa deve ser usada para  crer no poder do Senhor Jesus Cristo, mesmo que ele não venha em breve  na glória da Segunda Vinda. Estou falando com amigos cristãos a respeito  destes dias maus em que vivemos e a respeito da malignidade dos tempos  nos quais fomos colocados. Certamente, o assunto não é muito animador, e  descubro que meus amigos terminam o assunto com uma observação como  esta: "Pois bem, o consolo é que o Senhor Jesus Cristo virá muito em  breve. Os defeitos na igreja professa, as blasfêmias do mundo, não são  sinais especiais do tempo que está se esgotando rapidamente? Quando  nosso Senhor vier, então todos esses problemas serão solucionados, e  tudo quanto nos aflige chegará ao fim." Sim, sim, creio plenamente em  tudo isso e considero a gloriosa segunda vinda de nosso Senhor Jesus  Cristo como a esperança mais brilhante da sua igreja; mas, apesar de  tudo isso, você não acha que uma fé mais prática e honrosa a Deus diria,  sem deixar de lado a bendita esperança da segunda vinda: "No entanto, o  Senhor Jesus Cristo pode lidar com os males atuais da igreja e do  mundo, sem literalmente comparecer no nosso meio." Jesus pode falar uma  palavra enquanto ainda permanece nos altos céus, entre os esplendores do  culto sagrado na Nova Jerusalém; ele pode falar uma palavra a partir de  lá, e assim levar a efeito seu propósito aqui. A verdade não parece  fluir naturalmente a partir da fé desse centurião? Nosso bendito Senhor,  não há necessidade que tu rompas os céus no momento presente, para  descer em majestade; não há necessidade de tu literalmente tocar nas  colinas, e deixá-las fumegantes, e que a glória da tua presença divina  consuma teus adversários. Se assim te agradar, podes fazer cumprir as  tuas ordens a partir de onde estás, sem perturbar essa presente aliança,  sem sequer operar um milagre, permitindo que as coisas sigam seu  caminho normal, mas sem deixar de cumprir teus propósitos supremos.
Quero,  irmãos, que vocês exercitem continuamente essa fé. Você está, talvez,  numa igreja pequena, e, quando ela desanda, vocês dizem: "Não há jeito  de torná-la melhor! Precisamos esperar a segunda vinda do Senhor." Nada  disso! Comecem a acordar a força dele agora mesmo, pois ele pode operar  antes daquela segunda vinda, e operar gloriosamente também. Você folheia  o jornal e diz: "Estou cansado e quase enojado até à morte por causa de  toda essa iniquidade." Sim, e eu também; mas é daí? Você responde: "Oh,  vamos subir até o nosso quarto e dormir, e esperar a vinda do Senhor."  Nada disso! Vamos afiar as nossas espadas e atacar os inimigos de nosso  Senhor com mais zelo do que nunca. Ainda teremos algumas batalhas antes  de ele vir. Quem sabe quanto tempo ele pode ainda demorar? Mas, se ele  demorar ou se vier logo, não nos inquietemos, como se o seu poder não  pudesse ser visto à parte da sua segunda vinda. Todo o poder lhe é dado  no céu e na Terra. Mesmo agora, o nome de Jesus está "acima de todos".  Ele é agora a grande atração para os homens, e o grande destruidor de  Satanás. Não comecemos, portanto, a menosprezar o poder presente do  Senhor ausente, e a fazer todas as nossas esperanças depender da sua  presença literal entre nós. Repito que não estou menosprezando a  gloriosa vinda de Cristo; que Deus permita que eu faça assim! Essa vinda  continua sendo nossa mais grandiosa esperança; mas não vamos deslocá-la  de seu devido lugar ao ponto de nos ficarmos desanimados ou  desconfiados a respeito daquilo que nosso Senhor pode fazer por nós  mesmo agora. Ele continua sendo "capaz de fazer infinitamente mais do  que tudo o que pedimos ou pensamos" (Ef 3.20).
Quero  ainda, meus caros amigos, que creiam nos servos invisíveis do Senhor  Jesus Cristo. Olhe á sua volta ou olhe para mais longe, e procure  descobrir homens que proclamarão o evangelho vigorosamente durante os  próximos anos, e vocês dizem que nem os percebem; não, e nem eu os  percebo. Mas pense por um momento; quando o centurião viu Jesus de  Nazaré em pé no meio dos seus discípulos, o que enxergou? Viu um homem  de aparência humilde, de aparência muito semelhante à dos outros homens,  mas certamente não atendido por alguma corte, nem guardado por  soldados; mesmo assim, o centurião acreditava, a respeito desse homem,  que era cercado por destacamentos militares invisíveis, que num só  momento cumpririam as suas ordens. Quero que vocês pensem assim a  respeito do seu Senhor. No dia de hoje, o Cristo de Deus na Terra está  acompanhado por todos os servos dos quais necessita para sua grande  causa. Os zombadores dizem: "Ah, a velha verdade está ficando extinta!  Onde poderão achar homens com capacidade para pregá-la?" Mas nossos  olhos, iluminados pela fé, conseguem ver uma grande multidão que  divulgará a mesma velha verdade até Cristo vir. O monte está cheio de  cavalos e carros de fogo ao redor de Eliseu; ainda serão achadas  miríades de espíritos ardentes para proclamarem o evangelho de Jesus  Cristo até ele vir de novo. Gosto das seguintes linhas poéticas:
Lembre-se que a Onipotência tem
Servos em todos os lugares mantém.
Você  não pode vê-los, mas estão aguardando as ordens do Senhor, e ele pode  vê-los. Ele sabe onde os colocou e quando os convocará para mandá-los  fazer serviço para ele. Portanto, que não fiquemos desanimados ou  desencorajados por causa daquilo que vemos ou não vemos. Confiemos no  invisível; esperemos no inesperado; até mais, eu iria dizer: esperemos  no inesperável. Coisas nas quais nem sequer sonhar como possível ou  provável, podemos crer, mesmo assim, que serão feitas; pois Deus é  verdadeiro, Cristo não pode ser derrotado, o Calvário nunca se tornará,  nem poderá se tornar, derrota, em qualquer medida. A morte de Jesus  Cristo, o Filho de Deus, forçosamente cumprirá o propósito em favor do  qual ela foi elaborada. Tenhamos certeza, portanto, que ele tem seus  servos à espera para cumprir as suas ordens.
Agora, aplique esse assunto com um pouco mais de exatidão.  Eu gostaria que alguma pobre alma, agora mesmo, cresse que o Senhor  Jesus Cristo pudesse salvá-la de imediato, com uma única palavra. Sei  que vocês tendem a pensar que a conversão dos homens deve ser levada a  efeito de alguma maneira muito notável e especial. Relatos pitorescos e  descritivos de conversões têm sido repetidos sempre que muitas pessoas  ficam com a idéia de que o cenário é necessário para o efeito; mas eu  quero que vocês afastem dos seus pensamentos todas as idéias desse tipo.  Se precisassem de um cenário, está aqui diante dos seus olhos; mas  vocês não o querem. Senão, a presença de um pregador, em pé nesse calor  denso, em meio a seis mil almas imortais, deve ser cenário suficiente  para qualquer pessoa que deseje alguma coisa marcante. E se o Senhor  vier até você, e num momento salvar você, haverá bem bastante do  especial e do particular apenas no fato de você ser objeto da operação  poderosa do Senhor. Mas quero que vocês creiam que essa obra da graça  divina na alma não tem nada que ver com qualquer posição específica na  qual um homem se acha. O Senhor Jesus Cristo pode salvar um homem quando  este está na cama, quando está vestindo suas roupas, quando está  andando pela rua, quando está no seu emprego, quando ele não está no seu  emprego, mas permitindo-se a prática do pecado. Eu poderia oferecer  muitos exemplos para demonstrar que nada é necessário no tocante à  peculiaridade da posição a fim de Cristo salvar.
Em  casa, você diz à sua empregada "Maria, vá até tal loja" e Maria vai. Ou  você diz "Sara, vem cá" e Sara vem. Se há algo para ser feito, você  diz, "Jane, faça isso" e ela faz; mas você não coloca um parágrafo no  jornal, dizendo: "Aqui, no dia 2 de outubro de 1887, Jane de Tal fez uma  taça de chá para sua senhora." É coisa tão comum ligada aos deveres do  lar, não é verdade? Pois bem, a obra da conversão é exatamente assim em  conexão com a igreja de Cristo. Basta ele mesmo falar a palavra, e a  grande obra é imediatamente realizada. A situação circunstancial do  pecador não significa absolutamente nada para ele. Ele pode, agora, sob  as circunstâncias nas quais você está nesse momento chegar até você, e  tirá-lo da morte para a vida, das trevas para a luz. Ele pode tirar você  de todas as suas peregrinações e trazer imediatamente para casa. Se  você crê verdadeiramente no Senhor Jesus Cristo, você nasceu de Deus. Se  você, neste exato minuto, confiar em Cristo com sua alma, você passou  da morte para a vida. Se, neste instante, você quiser abrir mão de  qualquer outra esperança e apenas vir descansar na obra completada de  Jesus Cristo, o Salvador, então você, João, Tomás, Maria, Jane, Sara,  seja quem você for, você está salvo. Foi deliberado o meu uso de  linguagem doméstica, pois quero reduzir o argumento a esta questão: que,  exatamente como disse o centurião, "A mim basta dizer ao meu servo:  'Faça isso' e ele o faz", assim também, basta a Cristo falar a palavra  eficaz da sua graça, e a alma será salva. Que grande misericórdia é  esta!
A vocês que são o povo de Deus,  eu aplicaria esse assunto da seguinte maneira. Se a situação for como  eu disse, a respeito do pecador, que ele deve confiar em Cristo se é  para ser salvo, é também verdade que você deve crer em favor dos seus  servos, dos seus amigos e dos seus conhecidos. Seus filhos ainda não  estão convertidos; você já orou por eles, com fé no poder de Jesus  Cristo para convertê-los? Um dia desses, uma pessoa disse: "Parece que  não vale a pena orar por uma pessoa assim." É lógico que não valeria  orar da maneira que você provavelmente orasse, se tiver a atitude  mencionada. Depois de você ter considerado determinada pessoa como perda  total e de não ter mais esperança a respeito dela, que tipo de oração  pode oferecer em favor dela? Quero que você, meu irmão, minha irmã,  creia em favor do seu filho, do seu irmão, do seu vizinho não  convertido, assim como esse centurião o fez a respeito do seu servo  doente: que Jesus só precisava falar a palavra, e seu servo doente seria  curado. Oh, mas o médico diz que se trata de paralisia! Diz que o  paciente nunca se recuperará; que é impossível ele ser curado; a  enfermidade se complicou de modo tão peculiar que devemos perder toda a  esperança! Ah, mas esse centurião olha para o paciente! Ele olha para o  Médico; e ele diz, com toda a razão: "Jesus pode tão facilmente mandar  essa enfermidade sair, assim como posso mandar meu servo sair a meu  serviço para cumprir uma tarefa." Não pense no pecador, nem na gravidade  do pecado dele, mas pense na grandeza do Salvador. Tenho certeza de  que, se pregássemos com mais fé em Cristo, veríamos mais resultados. É  possível que vocês não vejam conversões na sua obra, porque mantêm os  olhos fitos nos pecadores; olhando para a dureza dos corações deles. Que  relação tudo isso tem com o poder de Cristo para salvar? Se esse homem,  além de ser paralítico, tivesse tido paralisia, lepra, hidropisia e  todas as demais enfermidades de uma vez, não teria importado para o  grande Médico, pois quando Cristo aparece em cena, se você está  enfrentando uma só impossibilidade, ele pode vencê-la, e se você tiver  cinquenta impossibilidades, ele pode solucioná-las com a mesma  facilidade. Tendo um Salvador onipotente, que espaço sobra para dúvidas a  respeito do que ele pode fazer?
Eu  gostaria de poder fazer essa verdade penetrar em alguns que têm orado  pelo próximo, mas que nunca oram a oração da fé. É a oração da fé que  salva os enfermos; é a oração da fé que salva os pecadores; é a oração  da fé que dá o devido valor a Cristo, e o valoriza corretamente como  Senhor de todas as situações. É isso que você deve fazer; faça de Jesus  Cristo o mestre da situação, e pleiteie com ele como mestre, e você não  pleiteará em vão, e seu filho, seu amigo, seu servo, todos serão salvos.
Que  o encerramento prático desta meditação seja que cremos em Jesus bem  mais do que já cremos antes. Se já cremos em Jesus, tenhamos ainda mais  confiança nele. Acho que é uma grande pena quando um homem prega o  evangelho com uma dúvida no fundo da alma. Que proveito pode provir da  sua pregação? As pessoas, às vezes, nos acusam de dogmatismo. Seríamos  ainda mais dogmáticos se pudéssemos, pois falamos o que sabemos, e  testificamos o que temos visto; e se as pessoas não acolhem o nosso  testemunho, a culpa não é nossa. Não podemos mudar nosso testemunho  porque as pessoas não desejam acolhê-lo. Saia à obra, ministro de Deus, e  pregue o evangelho como uma certeza, e você vai ver como ele é uma  certeza. Se você pregar o evangelho como uma coisa que pode ser a  verdade, ou não, você ficará paralítico na pregação, a qual não será  proveitosa para os ouvintes. Em nome de Jesus Cristo de Nazaré, exijo de  cada pessoa a quem prego que creia em Cristo, aceite a sua grande  salvação e se curve diante dele. Se vocês assim fizerem, caros amigos,  serão salvos; mas se não quiserem crer, a escolha não será uma opção  aberta para vocês, mas o Senhor Jesus declarou pessoalmente: "Aquele que  não crer, será condenado." Ele não nos permite que o tratemos  levianamente. Ele é Soberano, ele é Rei dos reis, e Senhor dos senhores,  e ele nos conclama a beijar seus pés, a curvar-nos diante dele, e a  reconhecê-lo como nosso Senhor e Deus.
Nossa  tarefa principal neste exato momento não é tanto pensar naquilo que  Cristo pode fazer na grande batalha do presente, nem naquilo que ele  fará no conflito temido do futuro; mas naquilo que nós mesmos precisamos  fazer: crer de tal maneira em Cristo a ponto de sermos seus servos  obedientes. Se ele disser "Vá", então vamos. Se disser "Venham a mim,  todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso"  (Mt 11.28), que venhamos a ele. Se ele disser, a respeito de qualquer  serviço: "Faça isso", que o façamos; e se, em vez de nos mandar fazer  coisa alguma, ele nos manda crer nele, venhamos e creiamos nele, pois  isso será a nossa sabedoria, essa será a nossa felicidade, esse será o  nosso céu - sermos servos obedientes de quem é governante de tudo. Deus  decretou que esta seja a glória de Cristo: Deus o colocou no seu trono,  esperando até que seus inimigos sejam feitos estrado dos seus pés. Se  vocês optarem por ser inimigos dele, essa opção levará à sua própria  destruição; mas se vierem e se curvarem diante dele, e forem servos  dele, descobrirão que o céu e a Terra estão esperando para abençoá-los, e  vocês progredirão de força em força sob seu cuidado amoroso e  infalível.
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