Manhã de Domingo, 14 de Agosto de 1887
"'Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.' Tendo dito isso,
cuspiu no chão, misturou terra com saliva e aplicou aos olhos do
homem. Então lhe disse: 'Vá lavar-se no tanque de Siloé' (que significa
'enviado'). O homem foi, lavou-se e voltou vendo" (João 9.5, 6, 7).
Nosso  Salvador estivera lidando com os judeus e os fariseus, que tinham se  oposto ferrenhamente a ele e até mesmo apanharam pedras para  apedrejá-lo. Ele se sentia muito mais à vontade quando podia lançar o  olhar aos pobres seres necessitados e abençoá-los com a cura e a  salvação. O destino de muitos entre nós é entrarmos em controvérsia como  os crentes professos carnais dos nossos dias, e é um grande alívio  conseguirmos ficar mais longe deles, com suas pedras, e procurar  pecadores individuais, e pregar o evangelho a eles em nome de Deus,  sendo que assim ficam abertos, espiritualmente, os olhos dos cegos.
Ao  lado da porta do templo, estava sentado um mendigo cego, que devia ser  uma personagem notável, pois possuía uma perspicácia e sagacidade  naturais notáveis. Por ter ficado ali durante longo tempo, ficou bem  conhecido entre as pessoas que frequentavam o templo e entre o círculo  mais amplo daqueles que vinham de longe às grandes festas religiosas  anuais. Esse homem não conseguia ver Jesus, mas, o que era bem melhor,  Jesus podia vê-lo; e lemos no início do capítulo: "Ao passar, Jesus viu  um cego de nascença." Havia muitos outros cegos em Israel, mas Jesus viu  esse homem com olhar especial. Posso até imaginar o Salvador em pé,  parado, avaliando-o, escutando as coisas curiosas que ele falava,  observando que tipo de homem era e demonstrando interesse especial por  ele. Nesta manhã, também pode estar no Tabernáculo alguém que não  consegue ver Jesus por não ter olhos espirituais; mas com certeza Jesus  está olhando para essa pessoa agora, perscrutando-a da cabeça aos pés, e  interpretando-a com olhar discernente. Jesus está considerando a  transformação que realizará nela daqui a pouco, porque tem a intenção  grandiosa e graciosa de lidar com esse pecador, que é espiritualmente  semelhante ao mendigo cego, de iluminá-la e de lhe conceder que  contemple a glória do Salvador. Suponho que o mendigo cego do templo  desse pouco valor à vista, por ter sido cego desde o nascimento. Aqueles  que já tiveram a capacidade de ver sentem, com certeza, muita falta da  luz do dia; mas aqueles que nunca conseguiram ver, dificilmente podem  ter idéia de como é esse sentido, e, por isso, não devem sentir muito o  fato de serem privados dele. A pessoa de quem falamos nesta ocasião não  tem idéia da alegria da verdadeira religião porque não conhece o  significado da vida e da luz espirituais; por enquanto, nunca viu, e por  isso não percebe sua própria desgraça de ser cega. Ficou cega de  nascença e, possivelmente, se sente satisfeita com essa condição, posto  que não conhece o deleite que aguarda um olho iluminado pelo céu. Para  ela, as coisas espirituais são uma região desconhecida, da qual ela não  tem o menor conhecimento. Ela está aqui presente, mas não procura a  salvação, nem a deseja; mas Jesus conhece o valor da visão, conhece as  glórias que a luz celestial aplicaria à mente, e ele não aceita ser  limitado na sua atuação pela ignorância humana, mas outorgará a sua  generosidade segundo sua própria bondade que é tão ampla como o mar  ilimitado.
Esse  mendigo não orou pedindo a vista; não está registrado, pelo menos, que  ele assim o tenha feito. Era mendigo: mendigar era a sua profissão; mas  entre todos os seus pedidos, não pediu a visão. No entanto, Jesus lhe  outorgou a visão. Vocês não conhecem aquela declaração gloriosa de livre  graça: "Fui achado por aqueles que não me buscavam"? Não é maravilhoso  que Jesus frequentemente vá até aqueles que não o buscam? Ele vai  repentinamente até eles, na soberania da sua compaixão infinita, e antes  de começarem a orar pedindo a bênção, ele já as outorgou a eles. O amor  gracioso de Jesus antecede o desejo que eles têm por ele. Quando neles  desperta a consciência do valor da salvação, descobrem que já a possuem,  e assim suas primeiras orações se misturam aos louvores. Tenho certeza  de que há algumas pessoas aqui agora, que são semelhantes ao homem que  nasceu cego: não sabem o que querem, ainda não têm consciência do valor  da bênção, e por isso não a buscaram; mas hoje vão recebê-la.
A  seguinte circunstância favorecia o mendigo cego: ele estava no caminho  por onde Jesus poderia passar, pois estava à porta do templo. Meus  amigos, vocês estão num terreno esperançoso neste momento, uma vez que  vocês estão num lugar onde o nosso Senhor frequentemente aparece e para  onde ele tem grande probabilidade de vir de novo. Centenas de vezes, nós  já oramos para ele entrar nesta casa, e assim fizemos hoje de manhã.  Ele tem sido glorificado neste Tabernáculo; e seus amigos lhe têm dado  tantas boas-vindas que ele se deleita em vir para cá. Oxalá quando Jesus  passe por aqui, ele faça uma parada e olhe para você com seu olhar de  misericórdia infinita!
O  que nosso Senhor estava fazendo? A verdade é que ele estava sob  compulsão divina, e disse: "Preciso realizar as obras daquele que me  enviou." Estava em busca de matéria-prima para trabalhar - matéria na  qual as obras de Deus se manifestassem. E ali havia o homem ideal para  isso, preparado para Cristo assim como o barro está preparado para o  oleiro. Seria só ele receber a vista, e a totalidade de Jerusalém veria a  obra do Senhor, e até mesmo habitantes de terras distantes ficariam  sabendo disso. Esse mendigo cego era exatamente a pessoa que o Salvador  estava procurando. Meu Mestre anda pelos corredores das igrejas, de  ponta a ponta, e descobre muitas pessoas que conseguem ver, ou que  pensam que podem ver. Ele deixa de lado essas pessoas, pois "aquele que é  são não precisa de médico". Mas, ao continuar a sua caminhada, chega  finalmente a uma pobre criatura nas trevas, desesperadamente cega de  nascença e desamparada, e Jesus para e diz: "É este o homem certo; aqui  há espaço para um milagre." E assim realmente é, ó Senhor. Naqueles  soquetes vazios, ou nos globos oculares mirrados, há espaço para o poder  da cura exibir-se: naquele coração endurecido e naquela vontade  teimosa, há espaço para a graça renovadora. As necessidades do pecador  são as oportunidades do Salvador; e você, pobre pecador, culpado,  perdido e arruinado, é a matériaprima para a graça de Cristo lavrar;  você é exatamente quem o amor perdoador de Cristo está procurando.
Você  que não consegue enxergar as coisas espirituais, você que mal sabe o  que pode valer a vista espiritual, e que quase nem tem desejo de saber,  você é a pessoa em quem há oportunidade para a graça onipotente operar,  espaço e escopo para a perícia incomparável do amor do nosso Salvador.  Meu Senhor pára e olha para você. Ele diz: "Este servirá, é o tipo de  homem que quero; nele posso operar minha missão e meu propósito na vida.  Sou a luz do mundo e liderarei com essas trevas, pois as removerei  imediatamente." Ó Senhor Jesus, tu estás agora nos mais altos céus, mas  não deixas de escutar as orações dos teus servos nesta pobre Terra.  Entra neste Tabernáculo, e repita as maravilhas do teu amor! Não te  pedimos que abras os olhos naturais dos cegos, mas pedimos que dê visão  espiritual aos cegos, entendimento aos errantes, e salvação aos  perdidos. Revela-te como Filho do Altíssimo, ao dizer: "Haja luz." Esses  pobres cegos não oram a ti, mas nós pedimos graça em favor deles, e  seguramente teu próprio coração te motiva a nos atender. Vem nesta hora e  abençoa-os, para o louvor da glória da tua graça!
Esse  caso do mendigo cego é muito instrutivo e, por isso, devemos lidar com  ele na esperança de que, enquanto consideramos o caso que nos serve de  modelo, possamos vê-lo repetido na forma espiritual no nosso meio.  Espírito Santo, abençoa nosso sermão, para que ele alcance esse  propósito.
I. Primeiro, na cura desse homem, e na salvação de cada alma escolhida, veremos O GRANDE CURADOR DESTACADO.  Se alguém entre nós chegar a ser salvo, o Salvador será engrandecido  assim. Se formos perdoados, nós mesmos não seremos honrados pelo perdão,  mas a mão da realeza que assinou e lacrou o perdão será grandemente  enaltecida. Se nossos olhos forem abertos, não ficaremos famosos por  causa da nossa vista, mas aquele que nos abriu os olhos se tornará  ilustre pela cura. Foi assim no presente caso, e isso de modo justo.
Para  começarmos, na mente desse homem, tão logo ele recebeu a vista, "o  homem chamado Jesus" apareceu em primeiro plano. Jesus, para esse homem,  era a pessoa mais importante que existia. Tudo o que sabia a seu  respeito, de início, era que se tratava de um homem chamado Jesus; e com  esse título, Jesus preenchia a totalidade do horizonte da sua vista.  Para esse cego curado, Jesus lhe valia mais do que todos aqueles  fariseus eruditos, ou do que todos os seus vizinhos. Jesus era  muitíssimo grande, pois lhe abrira os olhos. Depois de pouco tempo,  fixando seus olhos naquela personagem, enxergou nela algo mais, e  declarou: "Ele é um profeta." Disse isso com coragem, pois corria grave  risco ao assim falar. Disse aos fariseus que levantavam objeções: "Ele é  um profeta." Um pouco mais adiante, chegou a ponto de crer ser Jesus o  Filho de Deus, e o adorou. Ora, meu caro amigo, se você for salvo por  Jesus, você deverá deixar sua estrela descer pelo horizonte, ao passo  que a estrela de Jesus deve subir e aumentar seu brilho, até se tornar  muito mais do que uma estrela: um sol, que produz o seu dia e que inunda  de luz a sua alma inteira. Se formos salvos, Cristo precisará ter, e  terá mesmo, a glória por esse fato. Ninguém na Terra ou no céu pode se  rivalizar com Jesus quanto à alta estima das almas trazidas das trevas  para a luz: para elas, Jesus é tudo. Vocês não gostam disso? Vocês  querem uma parte dos despojos, um fragmento da glória? Vão adiante e  continuem cegos, posto que nunca poderá haver alteração da sua situação  enquanto se recusarem a honrar o Salvador. Aquele que abre os olhos de  um homem merece seus gratos louvores para sempre.
Depois  que esse homem recebeu sua vista, seu testemunho era totalmente de  Jesus. Foi Jesus quem cuspiu, foi Jesus quem fez o barro, foi Jesus quem  ungiu os seus olhos. Assim será na mente de vocês com o evangelho da  sua salvação, será "Jesus somente". É Jesus quem se tornou a garantia da  aliança, Jesus quem se tornou o sacrifício expiador. Jesus é o  Sacerdote, o Intermediário, o Mediador, o Redentor. Conhecemos Jesus  como Alfa e como Ômega. Ele é o primeiro e é o último. Ao salvar você,  não haverá engano; e não haverá nenhuma mistura; você não terá nada que  dizer a respeito dos homens, nem do mérito humano, nem da vontade  humana; mas, na cabeça que no passado foi ferida pelos espinhos você  colocará todas as coroas. Jesus fez a obra, e a fez inteiramente, e  somente a ele é devido o louvor.
Deve  ser notado que a autoridade de Jesus emitiu a ordem salvífica. "Vá,  lave-se." Não foram estas as palavras de Pedro, nem de Tiago, nem de  João, mas as palavras de Jesus, e por isso o homem obedeceu a elas. A  mensagem do evangelho, "Creia e viva," não é obedecida antes de você  perceber que é proclamada pela autoridade suprema do rei Jesus, o  Salvador. Ó senhores, aquele que manda vocês crerem é o mesmo Senhor que  quer lhes dar a cura mediante a sua obediência ao mandamento, e o fará  mesmo. Confiem, porque é assim que ele ordena a vocês. É a autoridade de  Cristo que justifica a pregação do evangelho. Obedeçam ao seu  mandamento, e já obtiveram a sua salvação. O sucesso do mandamento de  pregar o evangelho é produzido por aquele que o ordenou. É eficaz, pois  procede da boca de Cristo. "Onde há a palavra de um rei, ali há poder"; e  o evangelho é a palavra do grande Rei, e, por isso, aqueles que prestam  ouvidos a ele descobrem que é o poder de Deus para a salvação.
Esse  homem, depois de ter recebido a vista, atribuiu-a especificamente e de  modo indiviso, a Jesus. Disse: "Ele me abriu os olhos." Quando ele dava o  seu testemunho, diante de seus vizinhos ou diante dos fariseus, não  emitia nenhum som incerto: tinha sido iluminado por Jesus, e por Jesus  somente, e a ele dava toda a glória; e tinha razão em fazer assim.
Venham,  então, e me ouçam. Ó vocês que querem achar a luz nesta manhã, me  entreguem seus pensamentos neste momento! Esforcem-se para se dar conta  de que Jesus Cristo é uma pessoa vivente e atuante. Ele não está morto;  ele ressuscitou há muito tempo. Estando vivo e exaltado até aos mais  altos céus, está revestido de poder e majestade infinitos, e é poderoso  para salvar. De modo espiritual, ele ainda está entre nós, e opera  segundo a sua natureza graciosa. Para nós, ele não é um Cristo ausente,  nem um Cristo adormecido; mas continua fazendo aquilo que fazia enquanto  estava na Terra, só que agora opera no plano espiritual, assim como  antes operava no mundo físico. Ele agora está presente para salvar,  presente para abrir os olhos dos espiritualmente cegos, presentes para  abençoar vocês, a quem me dirijo agora.
Entendam  que ele está olhando para vocês neste momento. Estando ele em pé,  diante de vocês, a sua sombra agora cai sobre vocês. Ele está  considerando o caso de cada um. Você está orando? Ele está escutando.  Você nem chegou a ponto de fazer uma oração? Não passa de um desejo? Ele  está interpretando esse desejo; enquanto esse desejo passa como sombra  pela sua alma, ele está pensando em você. Neste mesmo momento, ele pode  falar a palavra que removerá a película dos seus olhos e deixará entrar a  luz eterna da graça. Você crê nisso? Se for assim, clame a ele:  "Senhor, me concede a recuperação da minha vista." Ele atenderá a você.  Talvez enquanto eu estiver falando, ele enviará a luz. Você sentirá o  deleite intenso de estar num novo mundo. Escapando das trevas, você  entrará na sua maravilhosa luz.
Reconheça,  ainda, que a grande transformação que lhe é necessária para ser salvo  está além de todo ou qualquer poder mortal. Você não pode efetivála por  conta própria, nem toda "a ajuda dos homens e dos anjos em conjunto" a  efetivará em seu favor. Esta até mesmo além da sua própria concepção.  Como homem carnal, você não sabe o que são as coisas espirituais e não  consegue elaborar algum conceito delas. Um morto não pode saber o que é a  vida. Se ele pudesse viver de novo, teria algum conhecimento da vida  derivado da sua vida anterior; mas quanto a você, ela seria novidade e  coisa estranha, pois você nunca viveu para Deus. Você não pode conceber a  vista celestial, pois você nasceu cego. Que o Senhor faça uma coisa  nova em você neste momento, e o leve para o novo céu e a nova terra,  onde habita a justiça!
Lembre-se  de que é necessário que esse milagre seja operado em você. Se o cego  tivesse permanecido cego, teria continuado um mendigo de certa forma  feliz. Parece ter tido recursos mentais consideráveis, e poderia ter  progredido no mundo tão bem como outros da confraternidade da  mendicância. Mas você não pode se sentir feliz e seguro a não ser que o  Senhor Jesus lhe abra os olhos. Para você, não sobrará nada senão o  escuridão das trevas para sempre, a não ser que a luz do céu visite  você. Você precisa ter Cristo, senão morrerá. O aspecto bem-aventurado  disso, neste momento, é que ele ainda está em nosso meio, poderoso para  salvar até às últimas consequências, e disposto, agora mesmo, a repetir  os milagres de sua misericórdia em favor daqueles que nele confiar.  Quase consigo escutar a oração que, dentro de você, luta para se  expressar. Silenciosa, e sem se revestir de palavras, está pousando nos  seus lábios. Deixe-a falar. Diga: "Senhor, abra meus olhos, hoje mesmo."  Ele o fará! Bendito seja o seu nome! Ele veio com o propósito de abrir  os olhos dos cegos.
II.  Tendo falado a respeito do Médico dos médicos, do modo como ele se  destaca ao operar o milagre, eu gostaria agora, em segundo lugar, de  dirigir os seus pensamentos AOS MEIOS ESPECIAIS QUE PODEM SER OBSERVADOS  no milagre.  Jesus poderia ter curado esse homem sem usar meios, ou poderia tê-lo  curado por outros meios, mas optou por realizar a cura de uma maneira  que permanecerá sendo, para todas as eras, um grandioso sermão, uma  parábola instrutiva da graça. Ele cuspiu no chão, fez barro da saliva, e  aplicou aos olhos do cego. Esse é um retrato do evangelho.
Essa  cura recebe muitas críticas modernas. Em primeiro lugar, o modo da cura  parece muito excêntrico. Ele cuspiu e fez barro com a saliva e o pó!  Muito estranho! Da mesma forma, o evangelho é singular e estranho para o  juízo dos sábios segundo o mundo. "Ora, é muito estranho que devamos  ser salvos por intermédio de crermos", diz alguém. Os homens o  consideram tão estranho, que cinquenta outros modos de salvação são  inventados imediatamente. Embora nenhum dos métodos novos mereça ser  descrito aqui, todos parecem acreditar que o modo antigo de "Creia no  Senhor Jesus Cristo" pudesse ter sido melhorado. O caminho da  justificação pela fé está aberto a críticas, e talvez seja o último que  esse mundo sábio tenha selecionado. Entretanto, por mais excêntrico que  possa parecer da parte de Jesus, curar com saliva e pó, era a melhor  maneira e também a mais sábia para o propósito dele. Suponhamos que, ao  em vez disso, ele tivesse colocado a mão no bolso e tirado uma caixa de  ouro ou de marfim, e dessa caixa tivesse tirado uma garrafinha de  cristal. Suponhamos que tivesse removido a rolha de vidro e, então,  derramado uma gota em cada um daqueles olhos cegos e estes se abrissem,  qual teria sido o resultado? Todos teriam dito: "Que remédio  maravilhoso! O que será que é? Do que era composto? Quem o receitou?  Talvez ele tenha achado o amuleto nos escritos de Salomão, e assim  aprendeu a destilar as gotas incomparáveis." Desse modo, como podemos  perceber, a atenção teria sido fixada nos meios usados, e a cura teria  sido atribuída ao remédio, e não a Deus. Nosso Salvador não empregou  nenhum óleo raro ou destilação selecionada, mas simplesmente cuspiu e  fez barro da saliva; porque sabia que ninguém diria: "A saliva fez a  obra" ou "Foi o barro que surtiu efeito." Não, se nosso Senhor parece  excêntrico na escolha dos meios, ele não deixa de ser extremamente  prudente. O evangelho de nosso Senhor Jesus - e só existe um - é a  sabedoria de Deus, por mais singular que pareça ao juízo dos sábios  segundo o mundo. Talvez seja considerado estranho, mas é a soma de toda a  sabedoria, e aqueles que a experimentam descobrem que é assim. Seria  impossível melhorar esse evangelho. É maravilhoso como ele se adapta ao  caso do homem; é incomparável como ele é apropriado para o seu desígnio;  ele abençoa ao homem, enquanto dá toda a glória a Deus. Ninguém faz do  evangelho um rival de Cristo, mas em todos os casos o evangelho, como o  poder que abençoa os homens, é manifestado como o poder de Deus.
Em  segundo lugar, o meio pode parecer ofensivo para o gosto de alguns. Oh!  Até imagino alguns dos grã-finos chiques! Eles torcem o nariz ao ler:  "Ele cuspiu"! "Cuspiu no chão, misturou terra com saliva..." Tudo isso  vira o estômago dessas pessoas delicadas! E assim acontece com o  evangelho. Os Agagues que vão delicadamente não gostam dele. Como os  homens de "cultura" zombam do evangelho em favor do qual nossos pais  morreram! Ouçam como censuram a palavra sempre bendita da nossa  salvação. Dizem que é digno somente para mulheres idosas e para idiotas,  e para tais fósseis das eras passadas como o pregador que agora lhes  fala. Seríamos todos bobos, menos esses homens modernos, e nosso  evangelho é nojento para eles. Sim, mas é só parar um pouco, e o nojo  pode acabar. No milagre diante de nós, o meio usado era a saliva; mas da  boca de quem? Foi da boca de Jesus, que é muitíssimo doce. Nenhum  perfume, feito das mais raras especiarias, poderá se igualar à saliva  daquela boca divina de Jesus! Barro! E se é barro? O barro feito pela  saliva da boca do Filho de Deus é mais precioso do que "o cristal  reluzente", ou os pós mais raros do comércio. Assim é como evangelho do  meu Mestre; é ofensivo para aqueles que se orgulham de si mesmos; é  ofensivo para o raciocínio carnal e para a complacência idiótica dos  que, ao se consideraram sábios, ficaram tolos; mas para vocês, que  consideram que ele é precioso, mais do que qualquer língua sabe contar.
"Se nós viajarmos no mundo inteiro de avião,
E buscarmos desde a Bretanha até o Japão,
Não será achada outra religião
Tão justa com Deus, tão segura para o homem em perdição."
O  evangelho continua sendo uma pedra de tropeço aos judeus, e estultícia  para os gregos; mas para nós, que somos salvos, é "Cristo o poder de  Deus e a sabedoria de Deus".
Levanta-se  a objeção, ainda, que o Senhor curou esse homem de modo tão  corriqueiro! Afinal das contas, cuspir e fazer barro da saliva qualquer  um podia fazer isso! Por que não foi usada uma cerimônia imponente? Por  que não praticar um método eclético? Se tivesse sido um dos médicos  daqueles tempos, ele teria feito uma grandiosa dramatização. Sua receita  teria sido uma festa para os eruditos. Vocês já leram o "Herbal" de  Culpepper? Espero que nunca tenham tomado os remédios receitados por  aquele herbolário erudito. Num só conjunto você achará uma dúzia de  artigos, sendo cada um deles monstruoso, e em muitas receitas você  achará ervas preparadas de modo muito curioso. Tais eram as receitas de  tempos ainda mais antigos. Se não fizessem bem, pelo menos deixavam o  paciente perplexo. E agora, qual é o evangelho que nos é proposto? É o  evangelho da "cultura". Cultura! Esta, naturalmente, é o monopólio dos  nossos superiores. É para ser desfrutada somente por pessoas do mais  alto refinamento, que frequentaram a universidade e que têm dentro de si  uma universidade inteira, com biblioteca e tudo. O evangelho, que é  feito para ser bem claro até mesmo pelos simples transeuntes, é  desprezado justamente para isso. Que Jesus Cristo veio ao mundo a fim de  salvar os pecadores é uma doutrina por demais corriqueira. Que ele  levou nossos pecados no seu próprio corpo no madeiro é doutrina  rejeitada como ultrajante, imprópria para essa era inteligente! Oh! sim,  conhecemos esses homens com seu olhar de desprezo. No entanto, por  corriqueiro que fosse o remédio do nosso Senhor, era incomparável. Todos  os filósofos da Grécia e todos os homens ricos e sábios de Roma, não  poderiam ter elaborado outro grama dessa aplicação terapêutica. Somente  Cristo possuía aquela saliva incomparável; somente os de-dos dele podiam  formar aquele barro especial. É assim mesmo: se o evangelho parece  lugar-comum, devemos nos lembrar de que não há outro semelhante a ele!  Vocês que são sábios poderão achar outra coisa que seja comparável com  ele?! Cristo assume o lugar do pecador, é feito pecado em nosso lugar a  fim de que, em Cristo, nós fôssemos feitos a justiça de Deus; vocês  podem oferecer alguma coisa comparável a isso? É Jesus quem resgata o  seu povo da escravidão do pecado. Vocês podem, se quiserem, chamá-la de  expiação mercantil, vocês podem ficar com rosto vermelho de raiva contra  o sacrifício vicário; mas não conseguem oferecer nada igual. Quanto  mais ridicularizarem o evangelho, tanto mais nos apegaremos a ele; e  tanto mais o amaremos; isso porque a própria saliva da boca de Cristo é  mais cara para nós do que os pensamentos mais penetrantes dos seus  filósofos mais profundos.
Acho  que estou escutando outro discordante dizer que o remédio era  totalmente inadequado. O barro feito com a saliva seria positivamente  inerte e não poderia exercer efeito terapêutico sobre um olho cego.  Exatamente, estamos dispostos a escutar tudo isso. O barro por si só não  tem eficácia; mas quando Jesus o emprega, servirá para o propósito  dele. O homem, depois de ter se lavado no tanque, onde ficou o barro,  voltou enxergando. Talvez pareça que o evangelho não pudesse renovar o  coração e salvar do mal. Crer no Senhor Jesus Cristo parece ser um modo  improvável de produzir a santidade. Os homens perguntam: "O que pode  fazer a pregação evangélica no sentido de acabar com o pecado?"  Indicamos aqueles que antes estavam mortos nos pecados, e que foram  vivificados pela fé, e assim podemos comprovar a eficácia do evangelho  mediante os fatos. "Oh", dizem, "a fé pode transformar o caráter? A  crença pode subjugar a vontade? A confiança pode conduzir a mente a uma  vida sublime e elevada?" Realmente ela faz isso; e, embora pareça  inadequada, não deixa de ser fato comprovado que transformou homens em  novas criaturas e pecadores em santos.
Outro  cavalheiro sábio julga que o barro aplicado aos olhos seria até mesmo  danoso. "Colar barro em cima dos olhos de um homem não o levaria a ver,  mas acrescentaria outro impedimento para a luz." Da mesma forma, até  ouvi dizer que pregar a salvação pela fé é contra a boa moralidade, e  talvez até mesmo encorajasse os homens na prática do mal. Sendo eles  mesmos morcegos sem vista, não conseguem enxergar que a situação é  totalmente inversa? Acontece tão frequentemente, através do evangelho,  as meretrizes ficarem castas, os ladrões ficarem honestos, e os  beberrões ficarem sóbrios! Mediante este mesmo evangelho da fé, que  alguns declaram ser conta a boa moralidade, é produzida a melhor  moralidade. Ora! No mesmo fôlego censuram os crentes por serem  puritanos, muito meticulosos e religiosos. Nada cria tantas boas obras  quanto aquele evangelho que nos diz que a salvação não é das boas obras,  mas da graça de Deus.
Outro  opositor declara que o modo de nosso Senhor curar é contrário à lei.  Aqui temos esse "homem chamado Jesus" literalmente fazendo barro  apropriado para tijolos, na sábado. Não se tratava de uma violação  chocante da lei? Dá-se a entender que nosso evangelho da fé em Cristo  leva os homens a não levarem a lei a sério. Pregamos contra o conceito  do mérito e dizemos que as boas obras não podem salvar as pessoas, e por  isso somos acusados de rebaixar a dignidade da lei. Essa não é a  verdade, pois nosso evangelho estabelece a lei e fomenta a verdadeira  obediência. Quando o Salvador disse: "Vá lavar-se", e o cego se foi e se  lavou, o Senhor Jesus lhe ensinara a obediência, e esta do melhor tipo -  justamente a obediência da fé. Mesmo assim, embora pareça que estamos  em conflito com a lei quando declaramos que mediante as obras da lei  nenhuma pessoa vivente será justificada, estamos mesmo estabelecendo;  isso porque a fé traz consigo o princípio e a mola mestra da obediência.  Confiar em Deus é da própria essência da obediência. Aquele que crê em  Jesus deu o primeiro passo na grande lição de obedecer a Deus em todas  as coisas. Ver como Jesus sofreu a penalidade da lei e como ele honrou a  lei em nosso lugar é ver aquilo que torna a lei mais gloriosa na nossa  estima.
Portanto,  ao encerrar esta divisão da mensagem: não levantem objeções capciosas  contra o evangelho. Às vezes, dizemos aos empregados que nunca é  aconselhável brigar com sua fonte de renda. Eu diria com toda a  seriedade a quem tem o espírito ansioso: não ponham defeito no evangelho  da salvação. Se vocês estiverem com atitude mental certa quanto à sua  situação, estou com certeza de que vocês não farão isso. Quando achei o  Senhor, estava encostado na parede de tal maneira, que, seja o que  tivesse sido a salvação, eu a teria aceitado segundo as condições  impostas por Deus, sem o mínimo questionamento. Se você for o homem que  estou procurando, se você quiser receber a vista espiritual, não tentará  impor condições a Jesus; você não pedirá unguento perfumado para os  seus olhos; mas aceitará com alegria uma aplicação de barro da parte das  mãos do Salvador. Você aceitará com alegria tudo quanto o Senhor  receitar como o meio da salvação. Naquela aceitação, com boa vontade,  acha-se uma grande parte da própria salvação; isso porque a sua vontade  está em harmonia com a de Deus.
Oremos  para que o Espírito Santo revele aos nossos corações o evangelho, e nos  leve a amá-lo, a aceitá-lo, e a provar o seu poder.
III. Eu gostaria, agora, de levá-los mais um passo adiante. O MANDAMENTO CLARO É MUITO DIGNO DE NOTA.  Nosso Senhor disse ao seu paciente: "Vá lavar-se no tanque de Siloé." O  homem não enxergava, mas escutava. A salvação vem a nós, não por  olharmos cerimônias, mas por ouvirmos a palavra de Deus. Os ouvidos são  os melhores amigos que ainda restam para o pecador. É pela porta do  ouvido que o príncipe Emanuel entra triunfantemente a cavalo na alma do  homem. "Ouçam e a sua alma viverá."
A  ordem era muitíssima específica. "Vá lavar-se no tanque de Siloé." E  assim o evangelho é muitíssimo específico. "Creia no Senhor Jesus  Cristo, e você será salvo." Não se trata de: faça esta ou aquela obra,  mas creia! Não é o caso de: Creia num sacerdote, e em algum ser humano,  mas em Jesus. Se esse homem tivesse dito: "Vou me lavar no Jordão; pois  foi ali que Naamã ficou livre da sua lepra", lavar-se teria sido inútil.  O tanque de Siloé, cujas águas corriam mansamente, era algo pequeno e  insignificante; para que ele deveria ir lá? Ele não pediu razões;  obedeceu imediatamente e, ao obedecer, achou a bênção. Meu ouvinte, você  precisa crer no Senhor Jesus Cristo, e você será salvo. Não se trata de  vinte coisas a serem feitas, mas somente uma única. A forma mais  comprida do evangelho está registrada assim: "Aquele que crer e for  batizado será salvo": a fé deve ser abertamente confessada mediante a  obediência ao batismo preceituado pelo Senhor; mas a primeira questão é  da fé. "Quem nele crer, tem a vida eterna." Isso é muito específico! Não  há maneira de se enganar nessa questão.
Era,  também, intensamente simples. "Vá lavar-se no tanque." Vá até o tanque e  lave nele o barro. Qualquer menino pode lavar os olhos. A tarefa era a  própria simplicidade. Assim também é o evangelho, claro como água. Você  não precisa realizar vinte genuflexões ou postulações, sendo cada uma  delas específica, nem precisa ir à escola para aprender uma dúzia de  idiomas, cada um mais difícil do que o outro. Não, a ação salvífica é  uma e singela. "Creia e viva." Confie, confie em Cristo; dependa dele,  repouse nele. Aceite sua obra na cruz como a expiação pelo seu pecado, a  justiça dele como a sua aceitação diante de Deus, sendo ele o deleite  da sua alma.
Mas  o mandamento também era distintivamente pessoal. "Vá lavar-se." Ele não  poderia enviar um vizinho ou um amigo. Teria sido em vão ter dito: "Vou  orar a respeito." Não, ele devia ir, e ele mesmo devia se lavar no  tanque. Ouça-me, caro amigo: somente sua própria fé servirá para esse  propósito; seus próprios olhos precisam ser abertos, e, por isso, você  mesmo deve ir lavar-se no tanque em obediência a Jesus. Você deve crer  pessoalmente na vida eterna. Alguns entre vocês ficam com a impressão de  que podem ficar quietos e ainda esperar que Deus os salvará. Não possuo  nenhuma autoridade para encorajar vocês numa inatividade tão rebelde.  Jesus manda vocês irem e se lavarem, e como vocês ousam ficar sentados,  imóveis? Quando o Pai vier acolher seu filho pródigo, acha-o na estrada.  Ainda estava bem longe quando seu Pai o viu, mas seu rosto estava  voltado na direção certa, e estava caminhando, da melhor maneira que  podia, até a casa do seu Pai. Ele diz a vocês: "Desperta, ó tu que  dormes, levante-te dentre os mortos e Cristo resplandecerá sobre ti" (Ef  5.14). Levante-se, homem. Fique em pé! O tanque de Siloé não virá até  você - você precisa ir até ele. As águas não pularão do seu leito para  lavarem os seus olhos, mas você deve se inclinar até elas, e lavar-se no  tanque até ter saído o barro e você ficar enxergando. É uma diretiva  muito pessoal, e trate-a dessa forma com todo o cuidado.
Foi  uma diretiva que envolvia a obediência a Cristo. Por que devo ir para  lá e me lavar ali? Porque ele assim lhe ordenou. Se você quiser que  Jesus o salve, você deve fazer o que ele lhe manda. Você precisa aceitar  Jesus para ser seu Senhor, se o aceitar como seu Salvador. Renda-se a  Jesus neste momento. Nenhum outro servo teve um mestre assim. Você faz  muito bem em curvar-se e beijar esses pés queridos que foram pregados à  cruz por amor a você. Entregue-se de imediato ao controle de Jesus. O  ato da fé é tanto mais aceitável por ser a obediência do coração a  Jesus. Submeta-se a ele pela fé, eu lhe rogo.
A  ordem era para o momento presente. Jesus não disse: "Vá lavar-se no  tanque amanhã, ou daqui a um mês." Se o mendigo tivesse sido cego  internamente, além de o ser externamente, poderia ter dito: "Minha  cegueira rende dinheiro para mim. Vou ganhar um pouco mais como mendigo  cego, e então vou ter meus olhos abertos." Ele dava valor em demasia à  cegueira para se demorar. Se tivesse demorado, continuaria cego até ao  dia do Juízo Final! Se alguém entre vocês achar que seria inconveniente  ser convertido de imediato, não tenho mais esperança a seu respeito. Não  posso lhe pregar uma salvação senão a salvação agora. Quem não quiser  ser salvo hoje, não terá a probabilidade de ser salvo de modo algum. Vá,  mendigo cego, vá ficar cego para sempre, se você não quiser receber sua  visão hoje. Com você, pode ser "agora ou nunca." Hoje é o dia da  salvação: o amanhã não passa de rede do diabo. Você ficará  desesperadamente perdido se continuar adiando.
O  mandamento, no caso do cego, era muito digno de nota. "Vá levar-se"; e  assim também o mandamento espiritual que forma o paralelo com ele:  "Creia no Senhor Jesus." Ó almas, ouçam a palavra que manda vocês  confiarem no Salvador. Ele exclama: "Voltem-se para mim e sejam salvos,  todos vocês, confins da terra" (Is 45.22). Oh! que Deus ajude você a  fazer assim, neste mesmo instante! Você não quer? Bendito Espírito,  leva-os a assim fazer, por amor a Jesus!
IV. Ao encerrar esta mensagem, convido vocês para A CONFIRMAÇÃO DO RESULTADO DELEITOSO.  Acho que posso enxergar esse homem, acompanhado pelos seus vizinhos,  indo até Siloé. Tinham visto Jesus colocar o barro nos olhos dele e o  tinham ouvido dizer: "Vá a Siloé." Eles se ofereceram para acompanhá-lo e  servir como guias do cego. A curiosidade os inspira. Ele chega ao  tanque. Desce pelas escadas. Fica perto da água. Inclina a cabeça. Lava  os seus olhos. Qual será o resultado? O barro já foi removido, mas o que  mais aconteceu? De repente, o homem levanta o rosto e exclama: "Estou  vendo! Consigo ver!" Que grito surgiu da parte de todos eles! "Que  milagre!
Que maravilha! Hosana! Bendito seja Deus!" O homem exclama: "É verdade! Lavei-me e agora vejo!"
Esse  homem conseguiu ver de imediato. Lavou-se e sua cegueira se foi. A vida  eterna é recebida num só momento. Justificar o pecador nem sequer leva o  tempo de um tique-taque de um relógio. Ó alma, no momento em que você  crê, você passou da vida para a morte. Tão rapidamente como um raio, a  transformação eficaz é realizada, a vida eterna entra e lança fora a  morte. Quem dera que o Senhor realizasse a salvação agora! Esse homem  foi capacitado a ver de imediato. Lemos a respeito de outro cego que, de  início, via os homens como árvores que andavam, e somente depois de  algum tempo enxergava com clareza cada homem; mas esse homem viu com  clareza, e de imediato. Quem dera que vocês, que me escutam hoje,  cressem, e vivessem imediatamente!
Esse  homem sabia que conseguia ver. Não tinha a mínima dúvida quanto a isso,  pois disse: "Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo!" Possivelmente,  alguns entre vocês têm sido pessoas respeitáveis durante toda a sua  vida, porém não sabem se são salvos ou não. Essa é uma religião  insatisfatória. É um triste consolo! Alguém ser salvo e não saber!  Certamente, deve ser uma salvação tão parca como o café da manhã daquele  homem que nem sabia se o havia ou não. A salvação que provém da fé no  Senhor Jesus Cristo é salvação consciente. Seus olhos serão abertos de  tal maneira que vocês já não questionarão se conseguem ver. Quem dera  vocês cressem em Jesus e soubessem disso e que estão salvos! Quem dera  vocês entrassem num mundo novo, num estado de coisas totalmente novo!  Que aquilo que antes era totalmente desconhecido para vocês, lhes fosse  revelado nesta hora mediante a graça do Onipotente.
E  outras pessoas percebiam que ele conseguia ver. Não sabiam como  aconteceu. Alguns disseram: "É ele"; mas outros só podiam dizer: "Se  parece com ele." Um homem que teve os olhos abertos é muito diferente  ser do mesmo homem quando era cego. Se fôssemos tomar como exemplo um  conhecido amigo, que não tem olhos, e se, de repente, olhos fossem  colocados em seu rosto, provavelmente achássemos sua expressão tão  alterada que dificilmente o consideraríamos a mesma pessoa, e, por isso,  os vizinhos cautelosos apenas diziam: "Apenas se parece com ele."  Apesar disso, todos tinham certeza de que ele podia ver. Nenhum dos  fariseus lhe perguntou: "Você tem certeza de que consegue ver?" Aqueles  seus olhos brilhantes, cheios de humor, inteligência e ironia, eram  provas muito nítidas de que ele conseguia ver. Ah! Os amigos que você  tem em casa saberão que está convertido, se realmente aconteceu; não vai  ser necessário contar-lhes, pois descobrirão por conta própria. A  maneira de você almoçar vai revelar isso. Vai mesmo! Você come com  gratidão, e busca uma bênção nele. A maneira de você ir dormir revelará o  fato. Lembro-me de um homem pobre que foi convertido, mas estava com  medo terrível da esposa - não era o único homem do mundo a ter esse medo  - e por isso receava que ela o ridicularizasse se ele se ajoelhasse  para orar. Subia pelas escadas até o quarto só de meias para que não  fosse ouvido, mas para ter uns poucos minutos de oração antes de ela  saber que ele estava ali. Seu plano falhou. Sua esposa não demorou a  descobrir tudo. A conversão genuína pode ser escondida tanto quanto uma  vela acesa em um quarto escuro. Não se pode esconder a tosse. Se alguém  estiver com tosse, deverá tossir; e se alguém tem graça no coração  demonstrará graça em sua vida. Por que iríamos querer ocultar o fato?  Oh! que o Senhor abra de tal maneira os seus olhos neste dia, que os  amigos e os parentes saibam que seus olhos foram abertos!
Observam  que o homem restaurado nunca mais perdeu a sua vista. Esse homem não  ficou cego de novo. As curas realizadas por Cristo não são temporárias.  Ouvi falar de muitos casos de pessoas que ficaram muito felizes por  imaginarem que tivessem sido perfeitamente restauradas. A cura durou uma  semana e, então, ficaram tão doentes como antes. A imaginação pode  realizar grandes coisas por algum período; mas as curas de Cristo duram  para sempre. Cremos que as pessoas possam nascer de novo, mas não que  possam voltar a ser não nascidas. Sei que tudo quanto o Senhor fizer  será para sempre! Ó meus amigos, eu nada tenho para pregar senão a  salvação eterna! Venham a Cristo, e ele operará em vocês uma cura  eficaz! Confiem nele totalmente, porque nele há a vida eterna.
Esse  homem, quando recebeu a visão, estava disposto a perder tudo como  consequência. Os judeus o expulsaram da sinagoga, mas quando Jesus  encontrou esse homem, ele não se sentia aflito por causa dos judeus.  Quase posso ver o rosto dele quando Jesus o achou: como ficou feliz ao  adorar o seu benfeitor! "Pobre criatura! Coitadinho! Você foi expulso da  sinagoga!" Ele responde: "Oh!, não tenha dó de mim. Eles podem me  expulsar de cinquenta sinagogas, mas Cristo me achou. O que me importam  as sinagogas agora que encontrei o Messias? Eu era cego quando  frequentava a sinagoga, e agora, fora da sinagoga, tenho olhos para  enxergar." Quando você se tornar cristão, o mundo o odiará e o  desprezará; mas o que isso importa para você? Algumas pessoas não vão  querer ter nada mais que ver com você. Talvez seja este o melhor favor  que possam lhe fazer. Tivemos, certa vez, entre nossos membros, uma  senhora com título de nobreza, que era uma graciosa irmã na fé. De  início, senti um pouco de receio de que os grandes a desviassem da  verdade. Pouco depois do seu batismo, ela mencionou que uma família da  nobreza a tratava com frieza, e outros que tinham amizade íntima com ela  deixaram de visitá-la. Ela aceitou isso com toda a naturalidade e só  mencionou que esse fato tornava tanto mais viável a sua própria  caminhada cristã porque agora não precisava sentir a dor de escutar as  conversas ímpias daquelas pessoas, nem precisava assumir a  responsabilidade de romper a relação. O mundo fez seu melhor favor ao  filho de Deus quando o lança fora. Suas excomunhões são melhores do que  as suas comunhões. O lado de fora da casa mundana é o seu lado mais  seguro. Que amamos o mundo, e que o mundo nos odeia, são duas boas  evidências da graça, e o homem pode ser agradecido por elas. "Portanto,  saiamos até ele, fora do acampamento, suportando a desonra que ele  suportou" (Hb 13.13).
Que  coisa maravilhosa o Senhor Jesus fizera em favor desse homem, e que  coisa maravilhosa ele está disposto a fazer em favor de todos os que  nele confiam! Tinha sido uma obra de criação. Os olhos do homem não eram  olhos, mas Jesus criou neles a vista. Curar um membro é uma coisa, mas  criar um olho, ou capacitar aquilo que era mera semelhança de um olho a  tornar-se um órgão de percepção é algo muito mais grandioso. Somos  criados de novo em Cristo Jesus. Era, também, uma obra de ressurreição.  Aqueles olhos estiveram mortos, e agora o Senhor Jesus os ressuscitou  dentre os mortos. O Senhor Deus Onipotente pode realizar a criação neste  momento, ele pode produzir ressurreição neste dia; e por que ele não  deveria fazer isso? Hoje, estamos comemorando essas obras divinas. Esse  primeiro dia da semana foi o princípio da criação feita por Deus. É  também o dia em que nosso Senhor ressuscitou dentre os mortos, como as  primícias daqueles que dormem. Esse dia do Senhor comemora o início da  criação e o da ressurreição. Oremos para o Senhor Onipotente manifestar  entre nós as obras de Deus neste dia. Ó Senhor, regenere, ilumine,  perdoe e salve as pessoas, e assim glorifique o seu Filho! Amém, e amém.
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