Não  se deve considerar em conformidade com a razão qualquer idéia acerca do  fim último de Deus na criação do mundo que implique, verdadeiramente,  alguma indigência, insuficiência ou mutabilidade da parte de Deus, ou  alguma dependência do Criador com relação à criatura pra qualquer parte  de sua perfeição ou felicidade. Isso porque fica evidente, tanto pelas  Escrituras quanto pela razão, que Deus é infinita, eterna, independente e  imutavelmente glorioso e feliz; que ele não pode ser beneficiado de  maneira alguma pela criatura, nem receber coisa alguma da criatura, nem  ser sujeitado por outro ser qualquer sofrimento ou redução de sua glória  ou felicidade.
A  idéia de que Deus criou o mundo a fim de receber qualquer coisa em  particular da criatura é contrária à natureza de Deus, mas também  incoerente com o conceito de criação, o qual implica num ser receber do  nada a sua existência e tudo o que corresponde a esta. Isso, por sua  vez, implica na mais perfeita, absoluta e universal derivação e  dependência. Se a criatura recebe TUDO de Deus, inteira e perfeitamente,  como é possível que ela tenha algo a acrescentar a Deus a fim da  fazê-lo, em qualquer sentido, maior do que antes, tornando o Criador  dependente da criatura?
Tudo  o que é bom e precioso em si mesmo é digno de ser estimado por Deus com  reverência suprema. É, portanto, digno de ser estabelecido como o fim  último de sua operação, caso seja passível de ser alcançado, uma vez que  se pode supor que algumas coisas, preciosas e excelentes em si mesmas,  não são obtidas por meio de qualquer operação divina, pois a sua  existência, em todos os sentidos possíveis, deve ser concebida como algo  anterior a qualquer operação divina. Assim, a existência de Deus e sua  perfeição divina, apesar de serem infinitamente preciosas em si mesmas,  não podem ser tidas como um fim de qualquer operação divina, pois não  podem ser consideradas, em qualquer sentido, conseqüentes de quaisquer  obras de Deus. Porém, tudo o que é, em si mesmo, absolutamente precioso,  e passível de ser buscado e obtido, é digno de ser proposto como fim  último da operação divina.
Logo aquilo que é, em si mesmo, mais precioso e alcançável pela criação é o fim supremo de Deus na criação. Tudo que é, em si mesmo, mais precioso e o era originalmente, antes da criação do mundo, e tudo que é alcançável por meio da criação, sendo também, de algum modo, superior em valor a todas as outras coisas, isso deve ser digno de ser o fim supremo de Deus na criação; deve, igualmente, ser digno de ser seu fim transcendente.
A retidão moral de Deus consiste em ELE ESTIMAR o que é mais precioso, ou seja, ELE PRÓPRIO.
Logo aquilo que é, em si mesmo, mais precioso e alcançável pela criação é o fim supremo de Deus na criação. Tudo que é, em si mesmo, mais precioso e o era originalmente, antes da criação do mundo, e tudo que é alcançável por meio da criação, sendo também, de algum modo, superior em valor a todas as outras coisas, isso deve ser digno de ser o fim supremo de Deus na criação; deve, igualmente, ser digno de ser seu fim transcendente.
A retidão moral de Deus consiste em ELE ESTIMAR o que é mais precioso, ou seja, ELE PRÓPRIO.
Se  o próprio Deus é, em qualquer sentido, devidamente passível de ser o  seu fim na criação do mundo, é razoável supor que ele considera a  reverência a si mesmo como o fim último e transcendente de suas obras,  pois ele é digno em si mesmo de ser esse fim, uma vez que é  infinitamente o maior e melhor de todos os seres. Todo o restante, no  tocante a dignidade, importância e excelência, não é absolutamente nada  em comparação a ele. E, portanto, se Deus demonstra a sua reverência  pelas coisas segundo a sua natureza e suas proporções, deve ter a maior  reverência possível por si mesmo. Seria contrário à perfeição de sua  natureza, à sua sabedoria, à sua santidade e retidão perfeita, segundo  as quais ele é inclinado a fazer tudo o que é mais correto, supor algo  diferente.
Uma  parte considerável da retidão moral de Deus, pela qual ele é inclinado a  tudo o que é correto, adequado e amável (isto é, agradável, admirável)  em si mesmo, consiste em ele ter a mais elevada deferência por aquilo  que é, em si mesmo, superior e melhor. A retidão de Deus deve constituir  uma devida reverência por aquilo que é objeto de respeito moral, ou  seja, pelos seres inteligentes capazes de atos e relacionamentos morais.  E, portanto, deve consistir, acima de tudo, em reverenciar  apropriadamente o Ser ao qual essa reverência é devida, pois Deus é  infinitamente mais digno de ser reverenciado. A dignidade de outros não é  nada em comparação com a dignidade dele; a ele pertence toda reverência  possível. A ele pertence toda a reverência de que qualquer ser  Inteligente é capaz. A ele pertence Todo o coração. Logo, se a retidão  moral do coração consiste em reverenciar sinceramente aquilo que é  devido, ou que assim o requer por força de seu merecimento e  propriedade, esse merecimento requer que se preste deferência  infinitamente maior a Deus, e a negação dessa deferência pode ser  considerada uma conduta infinitamente imprópria. Segue-se, portanto, que  a retidão moral da disposição, inclinação ou afeição de Deus consiste  SOBRETUDO numa deferência POR SI MESMO infinitamente superior à sua  deferência por todos os outros seres; em outras palavras, é nisso que  consiste a sua santidade.
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