/ On : 15:38/ SOLA SCRIPTURA - Se você crê somente naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no Evangelho que você crê,mas, sim, em si mesmo - AGOSTINHO.
Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes eu vos  dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de  Cristo. O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a  glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as  coisas terrenas. (Fil. 3:18,19).
Meus queridos ouvintes. São Paulo nos oferece o  modelo completo de um ministro cristão. Pastor vigilante, ele se  preocupava sem cessar com o rebanho confiado a seus cuidados. Ele não se  limitava a pregar o Evangelho, e não cria ter completado todo o seu  dever em anunciar a salvação, mas seus olhos estavam sempre voltados às  Igrejas que havia fundado, seguindo-as, com um interesse zeloso, no seu  progresso ou declínio na fé. Quando ele tinha que ir proclamar o  Evangelho eterno em outras regiões, ele não cessava de velar pelo bem  estar espiritual de suas vibrantes colônias cristãs da Grécia e da Ásia  menor, semeadas por ele em meio às trevas do paganismo; e enquanto  acendia novas lâmpadas na tocha da verdade, ele não negligenciava  aquelas que já flamejavam. É assim que, em nosso texto, ele dá à pequena  Igreja de Filipos uma prova de sua solicitude, lhes dirigindo conselhos  e advertências. E o Apóstolo não era menos fiel que vigilante. Quando  via pecado na Igreja, não hesitava em denunciá-lo. Ele não lembrava a  maioria dos pregadores modernos, que se vangloriam de não ter jamais  tido uma relação pessoal com seu rebanho ou jamais ter incomodado suas  consciências, e que põem sua glória naquilo que é enganoso; porque  tivessem eles sido fiéis, tivessem exposto sem impureza todo o conselho  de Deus, teriam infalivelmente, uma vez ou outra, ferido a consciência  de seus ouvintes.
Paulo agia totalmente diferente: ele não temia  atacar frontalmente o pecador, e não somente tinha a coragem de  declarar a verdade, mas sabia da necessidade de insistir sobre esta  verdade: "Repetidas vezes eu vos dizia, e eu vos digo ainda, que muitos  entre vós são inimigos da cruz de Cristo”.
Mas se, por uma parte o apóstolo era fiel, por  outra ele era cheio de afeto. Como todo ministro de Cristo deveria  fazer, ele amava verdadeiramente as almas sob seu encargo. Se ele não  podia admitir que algum membro das Igrejas colocadas sob sua direção se  desviasse da verdade, não podia mais ainda lhes repreender sem derramar  lágrimas. Ele não sabia brandir a ira com o olho seco, nem denunciar os  juízos de Deus de maneira fria e indiferente.
As lágrimas brotavam de seus olhos, enquanto  que sua boca pronunciava as mais terríveis ameaças; e quando censurava,  seu coração batia tão forte de compaixão e amor, que aqueles a quem ele  se dirigia não podiam duvidar da afeição com que suas censuras eram  ditadas: “Eu, repetidas vezes vos dizia, e agora vos digo até chorando”.
Meus amados. A advertência solene que Paulo,  outrora, dirigiu aos Filipenses nas palavras de meu texto, eu as dirijo a  vocês hoje, para que entendam.
Temo que esta advertência não seja menos  necessária em nossos dias que nos tempos do Apóstolo, porque em nossos  dias como nos dias do Apóstolo, há vários na Igreja cuja conduta  testemunha fortemente que são inimigos da cruz de Cristo. Que posso  dizer? O mal, longe de diminuir, me parece ganhar terreno a cada dia.  Há, em nosso século, um maior número de pessoas que fazem profissão de  fé que no tempo de Paulo, mas há também mais hipócritas.
Nossas Igrejas, eu lhes digo para sua  vergonha, toleram em seu seio membros que não têm nenhum direito a este  título; membros que estariam bem melhor se postos em uma sala de festim,  ou em qualquer outro lugar de dissolução e loucura, mas que jamais  deveriam molhar os lábios no cálice sacramental ou comer o pão místico,  emblemas dos sofrimentos de nosso Senhor. Sim, em vão procurariam  dissimular que há vários entre nós – (e se tu voltasses à vida, ó Paulo.  Quanto não te sentirias apressado em nos dizer, e quantas lágrimas  amargas não derramarias ao nos dizer!...) – que são inimigos da cruz de  Cristo, e isto porque o deus deles é o ventre, porque eles dirigem suas  afeições às coisas da terra, e sua conduta está em completo desacordo  com a santa lei de Deus.
Eu me proponho, meus irmãos, a procurar com  vocês a causa da dor extraordinária do Apóstolo. Eu digo: dor  extraordinária, porque o homem que meu texto apresenta como derramando  lágrimas, não era, vocês sabem, um desses espíritos fracos, de  sensibilidade doentia e sempre perto de se emocionar. Eu não li em  nenhuma parte nas Escrituras que o Apóstolo chorasse sob o golpe da  perseguição. Quando, segundo a expressão do salmista, se traçavam sulcos  sobre seu dorso, quando os soldados romanos o lancetavam com suas  varas, não sei de nenhuma lágrima que tenha escapado de seus olhos. Foi  ele jogado na prisão? Ele cantava e não gemia. Mas, se jamais Paulo  chorou por causa dos sofrimentos aos quais se expôs por amor a Cristo,  ele chorou, nós vimos, ao escrever aos Filipenses. A causa de suas  lágrimas era tripla: ele chorava, primeiramente, por causa DO PECADO de  alguns membros da Igreja; em segundo lugar, por causa DOS EFEITOS  DESAGRADÁVEIS DA CONDUTA DELES, e enfim, por causa do DESTINO que lhes  esperava.
I
Primeiramente, nos foi dito, Paulo chorava por  causa do PECADO destes formalistas que, ainda que façam parte  exteriormente de uma Igreja cristã, não andam corretamente diante de  Deus e dos homens. E notem a acusação que ele faz contra eles: o Deus  deles é o ventre, escreve ele. Sua sensualidade.
Este é o primeiro pecado que eles têm, do  Apóstolo, sua reprovação.
Havia, de fato, na Igreja primitiva, pessoas  que após terem sentado junto à mesa do Senhor, iam participar dos  banquetes dos pagãos, e lá se davam sem constrangimento aos excessos de  comida e bebida. Outros, se abandonando às abomináveis concupiscências  da carne, mergulhavam nesses prazeres (falsamente assim chamados), que  não somente fazem perder a alma, mas afligem o corpo com justo castigo.  Outros ainda, sem cair em tão vergonhosos excessos, se preocupavam muito  mais com a aparência exterior que a interior, do alimento do homem  exterior que da vida do homem interior; de sorte que, como os  precedentes, ainda que de outra maneira, eles faziam do ventre o seu  Deus.
Assim, meus queridos ouvintes, eu lhes  pergunto, esta grave reprovação do Apóstolo é, para nós, menos aplicável  que à Igreja de Filipos? Seria impossível encontrar entre os membros de  nossos rebanhos, pessoas que deifiquem, de algum modo, sua própria  carne, que se entreguem a ela num culto idólatra, que se inclinem diante  da parte mais material de seu ser?
Não é notório, não é incontestável, ao  contrário, que há homens fazendo profissão de fé, que cuidam da sua  carne, que acariciam seus apetites sensuais, tanto quanto os mundanos  declarados poderiam fazer?
Não há aqueles que são amantes dos prazeres da  mesa, que se deleitam em seu bem estar, no luxo, nas luxúrias da vida  presente? Não há quem gaste, sem escrúpulos, toda uma fortuna para  embelezar o corpo que perece, sem refletir que agindo assim, eles  destroem a beleza da causa do Salvador que eles pretendem servir? Não há  aqueles cujo negócio da sua vida consiste em procurar seu bem estar, e  cuja carne e sangue jamais tiveram ocasião de lastimar, porque não  somente são escravos, mas ainda fazem disso seu Deus?
Ah, meus irmãos, há grandes manchas na Igreja,  há grandes escândalos.
Ovelhas viciadas foram introduzidas no  rebanho. Falsos irmãos introduziram-se entre nós, como serpentes sob a  erva; e cada vez mais se descobre que eles têm infligido uma dolorosa  ferida na religião e ocasionado sério dano à gloriosa causa de nosso  Mestre. Eu repito com profunda tristeza, mas com plena convicção, há  vários em nossas Igrejas (falo igualmente das Igrejas dissidentes e da  Igreja estabelecida) – Spurgeon, ele mesmo pertencia a uma Igreja  dissidente – aos quais se aplicam muito bem estas severas palavras do  Apóstolo: o Deus deles é o ventre.
Uma segunda reprovação que Paulo dirigiu aos  pretensos cristãos de Filipos, era a que eles se apegavam afetivamente  às coisas da terra.
Meus amados; pode ser que a acusação anterior  não tenha atingido suas consciências; mas, a presente, me parece bem  difícil que dela vocês possam encontrar um escape. Há mais: afirmo que o  mal assinalado aqui pelo Apóstolo, tem invadido em nossos dias a maior  parte da Igreja de Cristo.
Para se convencer, basta abrir os olhos à  evidência.
Assim, por exemplo, é uma anomalia, mas é fato  que hoje existem cristãos ambiciosos. O Salvador declarou, é verdade,  que aquele que quer ser elevado deve se diminuir; também, se pensava  outrora, que o cristão era um homem simples, modesto, acostumado às  pequenas coisas; mas em nosso século ele não é mais assim.
Entre os pretensos discípulos do humilde  Galileu, há, ao contrário, gente que aspira conseguir a primeira escala  das grandezas humanas, e cujo único pensamento é, não glorificar a  Cristo, mas de se glorificar a si mesmo e a qualquer preço.
É assim, (para sua vergonha, ó Igreja) que há  em entre nós, pessoas que mesmo tendo aparência de piedade, não são  menos mundanas que os mais mundanos, e que não sabem mais sobre o  Espírito de Cristo, que os homens mais carnais de fora.
É assim, igualmente, que há cristãos  avarentos. Sem dúvida, isso é ainda um paradoxo: valeria mais falar, me  parece, da mancha nos serafins ou da imperfeição da perfeição, que da  avareza de um discípulo de Jesus; e, no entanto (eu chamo a cada um dos  que me ouvem), não encontramos todos os dias aqueles que se dizem  cristãos, cujo cordão da bolsa dificilmente se desamarra ao grito de um  pobre, que maquia seu amor ao dinheiro com o nome de prudência, e que,  em vez de colocar seus bens em benefício do reino de Cristo, só pensa em  granjeá-los? Eu vou mais longe, e digo que se queremos encontrar homens  inflexíveis em seus negócios, ávidos em ficar ricos, duros para com  seus credores, homens sórdidos, desleais, os quais, a exemplo dos  fariseus de outrora, não têm escrúpulos em devorar as casas das viúvas,  eu digo que se queremos encontrar tais homens, é freqüentemente no seio  de nossas Igrejas que devemos procurá-los. Meus irmãos, esta confissão,  eu enrubesço ao fazê-la, mas eu devo, porque é a verdade.
Sim, entre os membros mais considerados de  nossos rebanhos, mesmo entre aqueles que ocupam cargos eclesiásticos,  vocês encontrarão quem fixe suas afeições às coisas da terra, e que não  possuem absolutamente nada desta vida escondida com Cristo em Deus, sem a  qual não existe verdadeira piedade.
Preciso acrescentar mais? Estes grandes  malefícios não são os frutos de uma religião sã, mas antes, aqueles de  um formalismo vão. Deus seja louvado, o remanescente eleito é preservado  dessas funestas tendências, mas a massa dos cristãos nominais que  invadiram nossas Igrejas, foi atingida de uma maneira deplorável.
Um último traço pelo qual o Apóstolo  caracteriza os falsos irmãos de Filipos é este: Eles põem sua glória  naquilo que é enganoso. É isso, com efeito, uma disposição natural do  formalista. Ele tira vaidade de seus próprios pecados; mais ainda: ele  os chama de virtudes. Sua hipocrisia ele chama de retidão; seu falso  zelo, de fervor. Os sutis venenos de Satanás, ele os reveste da etiqueta  dos santos remédios de Cristo. O que ele chama de vício nos outros,  nele mesmo ele considera como qualidade. Se ele vê seu próximo cometer a  mesma ação que ele está acostumado a cometer, se a vida daquele mostra a  imagem perfeita da sua própria vida, oh! Como ele se volta contra seu  próximo! Sua presteza em cuidar dos deveres exteriores da religião é  exemplar; ele é o mais estrito dos sabatistas, o mais escrupuloso dos  fariseus, o mais austero dos devotos. Ele cuida de realçar a menor  fraqueza na conduta do outro; ninguém o ultrapassa em habilidade; e  enquanto ele acaricia à vontade seu pecado favorito, ele olha as faltas  de seus irmãos através de uma lente de aumento. Quanto à sua própria  conduta, ela não diz respeito a ninguém. Ele pode pecar impunemente; e  se seu pastor, por acaso, lhe faz alguma observação, ele se indigna e o  acusa de calúnia. As observações, não mais que as advertências, jamais o  atingem. Não é ele um membro de Igreja? Não cumpre ele, exatamente, os  ritos e as ordenanças? Quem ousaria colocar em dúvida sua piedade? Oh!  Meus irmãos, meus irmãos, não façam, pura ilusão! Muitos pretensos  membros de Igreja serão um dia membros do inferno. Muitos homens  admitidos em uma, ou outra, de nossas comunidades cristãs, que receberam  a água do batismo, que se aproximam de nossa mesa sagrada, que talvez,  mesmo, tenham a reputação de estarem vivos, não estão menos mortos, em  relação ao espiritual, que os cadáveres em seus sepulcros.
Hoje em dia é fácil se fazer passar por um  filho de Deus! No lugar da renúncia, do amor por Cristo, da mortificação  da carne, o pouco que se exige é aprender alguns cânticos, aprender  algumas banalidades piedosas, algumas frases convencionadas, e vocês se  imporão, mesmo aos eleitos. Filiem-se a uma Igreja qualquer; mostrem uma  conduta exterior, de tal sorte que lhes possam considerar respeitável, e  se vocês não conseguirem enganar os mais lúcidos, ao menos terão uma  reputação de piedade bem estabelecida para lhes permitir andar com o  coração aliviado e a consciência à vontade, no caminho da perdição.
Eu sei, meus amados, que eu digo coisas duras,  mas são coisas verdadeiras; por isso não posso calar. Meu sangue  borbulha algumas vezes em minhas veias, quando encontro homens cuja  conduta me dá vergonha, ao lado de quem eu ousaria apenas me sentar, e  que, no entanto, me tratam, com convicção, de "Irmão". O quê? Eles vivem  no pecado, e chamam um cristão de irmão! Oro a Deus que lhes perdoe seu  desvio de conduta; mas eu declaro - eu não posso de jeito algum me  confraternizar com eles, e nem quero, até que se conduzam de uma maneira  digna de sua vocação.
Certamente, todo o homem que faz de seu ventre  um Deus e que põe sua glória naquilo que é enganoso, é completamente  culpado; mas quando esse homem se veste com a roupa da religião, quando  conhece a verdade, a qual ele ensina como necessária, faz abertamente  profissão de ser um servo de Cristo, quanto mais culpado é ele! Vocês  conseguem conceber, meus irmãos, um crime mais atroz que aquele do  hipócrita audacioso que, mentindo a Deus e à sua consciência, declara  solenemente que pertence ao Senhor e que o Senhor lhe pertence, depois  vai viver como vive o mundo, anda seguindo o curso do presente século,  comete as mesmas injustiças, persegue os mesmos objetivos, usa dos  mesmos meios que aqueles que não são chamados pelo nome de Cristo?
Ah! Se houvesse nesta assembléia alguém que  devesse confessar que este é o seu pecado; que chore, sim, que chore  lágrimas de sangue, porque a enormidade de seu crime é maior do que  poderíamos dizer!
II
Mas se o Apóstolo chorava, como acabamos de  ver, por causa do pecado desses homens que tinham de cristão somente o  nome, ele chorava mais ainda, talvez, por causa DOS DESGRADÁVEIS EFEITOS  DE SUA CONDUTA, porque ele acrescenta esta palavra tão enérgica de  forma breve: eles são inimigos da cruz de Cristo. Sim, tu dizes a  verdade, ó Paulo! Sem dúvida, o cético, o incrédulo, são inimigos da  cruz de seu Mestre; o blasfemador, o profano, o sanguinário Herodes,  estes são também; mas os inimigos por excelência desta cruz santa, os  soldados de elite do exército de Satanás, são estes cristãos fariseus,  caiados por fora de uma aparência de piedade, mas cheios por dentro de  toda a sorte de podridão.
Oh! Parece-me que, a exemplo do Apóstolo, todo  o filho de Deus deveria derramar lágrimas ardentes, ao pensar que os  mais duros golpes contra o Evangelho vêm daqueles que se dizem  discípulos. Parece-me que deveria sentir uma dor nunca antes  experimentada, ao ver Jesus ferido cada dia por aqueles que pretendem  ser dele.
Vejam! Eis aqui meu Salvador que se adianta,  os pés e as mãos ensangüentados... Oh! Meu Jesus, meu Jesus! Quem tem  feito, de novo, teu sangue verter? Que significam essas feridas? Por que  tu tens teu aspecto tão triste? "Eu fui ferido, responde ele, e onde  você pensa que eu recebi o golpe?" – Certamente, Senhor, tu foste ferido  na casa da intemperança ou da devassidão, tu foste ferido no banco dos  escarnecedores ou na assembléia dos ímpios. "Não, diz Jesus, eu fui  ferido na casa de meus amigos (Zc. 8:6); estas feridas me foram feitas  pelos homens que levam meu nome, se assentam em minha mesa e falam minha  língua. Estes são aqueles que me furaram, que me crucificaram de novo,  que me lançaram à ignomínia..."
Ferir a Cristo e lançá-lo à ignomínia. Em tudo  fazendo profissão de lhe pertencer! Não lhes parece, meus caros  ouvintes, que um pecado tão odioso não deveria existir? Entretanto,  infelizmente, é mais comum do que pensamos.
A história conta que César, expirando sob os  golpes de seus assassinos, só percebeu que estava perdendo seu império,  quando viu seu amigo Brutus adiantar-se para lhe dar o golpe. "Até tu,  Brutus!" gritou então, e se cobrindo com sua túnica, chorou. Da mesma  maneira, meus amigos, se Cristo aparecesse no meio desta assembléia, não  poderia dizer a vários de vocês, escondendo a face de tristeza, ou  antes, fazendo ouvir sua justa indignação: "E você, que te introduziste  em minha Igreja, e você que dizes ser meu discípulo, me estapeias  também?...". Se devo ser vencido na batalha, que sejam meus opositores  que me vençam, mas meus aliados que ao menos não me traiam. Se a  cidadela, que estou pronto a defender até meu último suspiro, deve ser  tomada, que o inimigo entre marchando sobre o meu cadáver, mas, ainda  uma vez, que meus amigos não me traiam. Ah! Se o soldado que combate a  meu lado me vendesse a meus adversários, meu coração seria duas vezes  quebrado; primeiro, pela derrota, e em seguida pela traição.
Quando das guerras religiosas que nossos  irmãos suíços travaram para manter sua liberdade, um punhado de  protestantes defendia valentemente um desfiladeiro contra uma corporação  considerável do exército. Ainda que eles vissem seus irmãos, seus  amigos, caírem a seu lado, ainda que eles mesmos se sentissem esgotados e  prestes a desfalecer, eles não combatiam menos, mas com uma intrepidez  heróica. Mas de repente, um grito se fez ouvir, um grito agudo, um grito  terrível! O inimigo escalou uma protuberância, e ia cercar a pequena  companhia dos reformados. Percebendo isto, seu chefe tremeu de  indignação, rangeu os dentes, bateu os pés, porque ele compreendeu que  um traidor, que um protestante covarde devia ter vendido seus irmãos a  seus implacáveis inimigos. Voltando-se, então, em direção à sua gente,  gritou: "Avante!" Com um tom de quem nada mais espera. E como os leões  que saltam sobre sua presa, aqueles bravos se lançaram diante de seus  inimigos, prontos, agora, a morrer, depois que um deles lhes havia  traído.
Meus irmãos, um sentimento desta natureza que  se espera de um corajoso soldado da cruz, quando ele vê um de seus  companheiros de serviço desonrar a bandeira de seu divino Chefe e trair  sua santa causa. De minha parte, não hesito em lhes dizer, que o que eu  temo não são os inimigos declarados, mas os falsos amigos. Que haja mil  demônios fora da Igreja, antes que um só em seu seio! Não nos  inquietemos com os ataques daqueles de fora, mas tenhamos cuidado, oh!  Tenhamos cuidado com estes lobos vorazes que vêm até nós vestidos de  cordeiro. É contra esses que os ministros da Palavra devem denunciar,  com uma santa cólera, os terríveis julgamentos de Deus; é por eles que  devem derramar suas mais copiosas lágrimas, porque eles são os mais  perigosos inimigos da cruz de Cristo.
Mas, precisemos melhor, e indiquemos resumidamente alguns dos  desagradáveis efeitos que resultam da presença dos formalistas na  Igreja.
Em primeiro lugar, eles entristecem e afligem  singularmente o corpo de Cristo, a assembléia dos fiéis. Eles são a  causa, sem igual, dos gemidos mais dolorosos que jamais escaparam do  coração dos filhos de Deus. Que um incrédulo me insulte, e me cubra de  lama na rua, creio que lhe agradeceria a honraria que me fez, se eu sei  que me injuria pelo nome de Cristo; mas se um que se diz cristão, faz  jorrar sobre a causa de meu Mestre a sujeira de uma vida desregrada, meu  coração lamentaria dentro em mim, porque eu sei que tais escândalos são  mais prejudiciais ao Evangelho que as fogueiras e as torturas. Que todo  o homem que odeia o Senhor Jesus me sobrecarregue de maldições, não  derramarei uma única lágrima; mas quando eu vejo um de seus pretensos  discípulos renegá-lo e traí-lo, como não afligirei minha alma e qual o  cristão que não se afligiria comigo?
Em segundo lugar, os falsos irmãos trazem  infalivelmente, como conseqüência, divisões na Igreja. Eu digo isto com a  mais inteira persuasão. Se voltássemos à origem de nossas discórdias  eclesiásticas, encontraríamos que todas, ou quase todas, deveriam ser  colocadas na conta dos formalistas, que, por sua conduta inconseqüente,  obrigaram os cristãos vibrantes a se separarem deles. Haveria mais  unidade entre nós, se os hipócritas não se infiltrassem em nosso meio;  haveria mais cordialidade, mais abandono, mais amor fraternal, se esses  hábeis sedutores não nos tivessem ensinado, às nossas custas, a nos  mostrar reservados e cheios de suspeita. E mais, eles são sempre os  primeiros a falar mal dos crentes verdadeiros, e a semear divisões entre  eles. E em todo o tempo tem sido assim. O que fez a Igreja de Deus  sofrer os mais graves danos jamais sofridos por ela? Não foram as tramas  mortais de seus inimigos confessos? Não foram os incêndios secretamente  semeados em seu próprio campo pelos homens, vestidos, é verdade, da  máscara da piedade, mas que não são menos que espiões e traidores?
Notemos, além disso, que tais pessoas fazem um  mal incalculável aos não convertidos. Quantos pobres pecadores, que  começaram a voltar-se para Cristo, são mantidos longe dele pelos  escandalosos paradoxos existentes entre a conduta e os princípios de  certos cristãos! Quantas vidas, nascendo para a piedade, que vão se  quebrar cada dia nessa pedra de tropeço!
E aqui, permitam-me, meus irmãos, de lhes  contar um fato que confirma, de uma maneira surpreendente, a verdade a  que me referi. Eu espero discernir o que há de importante e oro a Deus  que lhes faça sentir também. Um jovem ministro, de passagem por uma  Igreja de uma cidade, pregou um sermão que pareceu causar uma profunda  impressão sobre o auditório. Um jovem em particular foi tão tocado pelas  palavras graves do pregador, que resolveu ter uma entrevista com ele.  Em vista disso, ele o atendeu na saída da Igreja e ofereceu-se a lhe  acompanhar até sua casa. Caminho andado, o ministro lhe falou de tudo,  exceto do Evangelho. Grande era a angústia do jovem. Este bem que tentou  colocar ao ministro que o acompanhava, uma ou duas questões sobre a  salvação de sua alma, mas o pastor lhe respondia friamente e de uma  maneira evasiva, como se o assunto fosse de pouca importância. Enfim,  chegaram à sua casa; várias pessoas se achavam reunidas, e logo nosso  pregador travou uma conversa das mais leves, que temperou com boas  palavras e piadas exageradas. Logo, encorajado, sem dúvida pelos risos  de aprovação que acolheram suas primeiras pilhérias, sem perceber  pronunciou palavras que poderíamos chamar quase licenciosas. Indignado,  fora de si, o jovem se levantou bruscamente; saiu para o quintal da  casa, e aquele que há uma hora atrás chorava ouvindo falar do Senhor,  agora gritava com raiva: “A religião é uma mentira! De agora em diante  eu não creio mais nem em Cristo nem em Deus. Se eu for condenado, que  minha alma seja requerida desse homem, porque foi ele quem a fez se  perder! Faria assim, se tivesse convencido das coisas que ensina aos  outros? Não! É um vil hipócrita; e de agora em diante não quero mais  escutar nem a ele, nem seu Evangelho." O infeliz cumpriu a palavra;  entretanto, quando, algum tempo depois, se viu estendido sobre seu leito  de morte, pediu para ver o jovem ministro. Por uma notável  coincidência, este, que habitava numa paróquia distante, se encontrava  naquele momento na cidade, onde Deus, sem dúvida, lhe havia trazido,  afim de que lá recebesse a pena de seu pecado. Sua Bíblia à mão, entrou  no quarto do moribundo e se apressou a ler e orar, quando o doente lhe  fez parar e disse: "Eu lhe ouvi pregar uma vez."- lhe falou olhando  fixamente. "Deus seja louvado!" – respondeu o ministro, crendo ter sido  usado na conversão daquela alma. "Que eu saiba, não há motivo algum para  louvar a Deus, continuou friamente o doente; você está lembrado de ter  pregado aqui tal dia, sobre tal texto? - Sim, eu me lembro  perfeitamente. – Bem, senhor, naquele dia eu tremi ao lhe ouvir; eu  estava perdido. Eu deixei a Igreja com a intenção firme de dobrar meus  joelhos diante de Deus e de procurar seu perdão em Cristo. Mas, o senhor  se lembra de algumas atitudes tomadas pelo senhor naquela casa? – Não,  disse o ministro. – É preciso, então, que eu ajude sua memória, meu  senhor, respondeu o moribundo. Mas antes de tudo, deixe-me dizer que,  por causa da sua conduta naquela noite, minha alma deverá ser condenada;  e se é verdade que ainda tenho um sopro de vida, também é verdade que  eu lhe acusarei diante do tribunal de Deus por ter sido a causa de minha  condenação!". Tendo dito isso, o infeliz fechou os olhos e expirou.
Eu creio, meus irmãos, que lhes seria difícil  de conceber o que passou no coração daquele ministro quando se afastou  daquele leito de morte... Toda sua vida ele deverá arrastar atrás de si  este horrível, este terrível remorso: "Há uma alma no inferno que me  acusa por sua condenação!"
E um remorso como esse, eu temo, pesará um dia  sobre a consciência de muitos membros de nossas Igrejas. Quantos  jovens, de fato, desistiram de uma séria procura da verdade pelas  censuras ásperas e amargas dos modernos fariseus!
Quantas almas sinceras se tornaram prevenidas  contra a sã doutrina, pela conduta pouco edificante daqueles que fizeram  profissão de aderi-la! Ah! Pior para vocês escribas e fariseus  hipócritas! Porque, não somente vocês não entram no reino dos céus, mas  impedem de lá entrar aqueles que gostariam de fazê-lo; vocês se  apoderaram da chave do conhecimento, vocês fecharam o ferrolho da porta  da salvação com duas voltas pelas suas infidelidades, e afastaram, pela  sua flagrante hipocrisia, as almas que estavam dispostas a se aproximar!
Um outro efeito deplorável da conduta dos  cristãos formalistas, é que ela causa uma grande alegria ao demônio e  seu partido. Pouco me importa o que dizem os incrédulos em seus livros e  discursos: quão hábeis sejam (certamente eles precisam ser bem hábeis  para provar o absurdo e dar ao erro uma aparência de verdade), quão  hábeis sejam, repito, pouco me importam seus ataques, há muito tempo que  eles se apóiam sobre mentiras. Mas quando nos dirigem reprovações com  base, quando as acusações que intentam contra a Igreja de Deus são  fundadas, oh! Então devem ser temidos, e é também quando Satanás  triunfa.
Quando um homem tem uma conduta cristã reta e  íntegra, ele desarma logo a crítica; quando leva uma vida santa e  irrepreensível, se cansarão logo de rir à suas custas; mas se ele manca  dos dois lados, se ele age ora como cristão, ora como mundano, que não  esqueça - ele leva almas para os adversários e lhes dá ocasião de  blasfemar do Evangelho. Ah! Quem poderia dizer as imensas vantagens  logradas pelo demônio sobre a Igreja, por causa das infidelidades  daqueles que pretendem ser seus membros? “Vocês dizem e não fazem; suas  vidas não estão de acordo com seus princípios” - tal é a mais temida  máquina de guerra com a qual Satanás rompe as brechas das muralhas da  Igreja.
Cuidado, meus caros ouvintes; velem  constantemente sobre si mesmos, a fim de não desonrarem a causa que  vocês fazem profissão de amar.
E aqui, me sinto pressionado a me dirigir em  particular àqueles que, como eu, têm trilhado firmemente sobre a eleição  da graça. Vocês sabem por que nós cremos em uma salvação puramente  gratuita, por que dizemos como São Paulo: pois, não depende de quem quer  ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia (Rm 9:16)? Em  outros termos, por que nos chamam de ultra-calvinistas, de antinomianos,  nos olham como a escória de toda a terra, acusam nossas doutrinas de  encorajar o vício e a imoralidade? Queremos realmente, meus amados,  refutar vitoriosamente a calúnia? Esforcemo-nos para viver de uma  maneira mais e mais digna de nossa vocação; temamos, por nossas quedas e  nossas fraquezas, para não darmos ocasião aos ataques de nossos  adversários; em uma palavra: tomemos cuidado para não lançarmos lama  sobre estas santas verdades que nos são tão caras quanto à vida, e às  quais esperamos permanecer fiéis até à morte.
III
Mas, é tempo de passarmos para a terceira  causa da profunda dor que Paulo provou ao escrever nosso texto. Esta  causa, como já dissemos, era O DESTINO reservado aos falsos irmãos de  Filipos; é o que nos ensinam estas palavras: O fim deles é a perdição.  Ouçam, meus irmãos! O fim dos formalistas será a perdição, - e ouso  acrescentar, a pior das perdições. Sim, se há no inferno cadeias mais  pesadas que as outras; se há prisões escuras, chamas mais ardentes,  angústias mais cruéis, tormentos mais intoleráveis, certamente serão a  experiência daqueles cuja profissão de fé não tem sido mais que uma  indigna mentira!
Na verdade, de minha parte, preferiria morrer  pecador abominável, que cristão hipócrita. Oh! Que terrível despertar de  uma alma que, depois de ter tido a experiência de viver neste mundo,  ser jogada com os mentirosos no outro; aquele que, depois de ser elevado  até os céus aqui debaixo, se vê rebaixado até o inferno na eternidade! E  quanto mais o formalista se deixe seduzir, mais terrível será sua  desilusão. Ele havia pensado ter levado a seus lábios a taça cheia das  delícias do paraíso, e no lugar disso, se vê condenado a beber até a  borra da bebida do inferno! Ele contava entrar sem dificuldade pelas  portas da Nova Jerusalém, e eis que as encontra fechadas!
Ele imaginava que para ser admitido na sala de  núpcias, bastaria gritar: Senhor, Senhor, e em vez disso ouve ser  pronunciado contra ele, não simplesmente a maldição geral dirigida à  massa de pecadores, mas esta sentença, mil vezes mais terrível e amarga,  porque ela é mais direta e pessoal: “Retira-te de mim, eu jamais te  conheci! Ainda que tu tenhas comido e bebido em minha presença, ainda  que tenhas entrado em meu santuário, tu és um estrangeiro para mim e eu o  sou para ti!” Meus irmãos, um tal destino, mais lúgubre que o sepulcro,  mais horrível que o inferno, mais desesperador que o desespero, tal  destino será, inevitavelmente, a experiência desses pretensos cristãos  cujo Deus é o ventre, que põem sua glória naquilo que é enganoso, e que  colocam seu coração nas coisas da terra.
E agora, permitam-me, antes de terminar,  responder a diversos pensamentos que podem ilustrar o que vocês acabaram  de ouvir. Se não estou errado, alguns dentre vocês estão dizendo neste  momento: “Eis aí um pregador que não poupa as Igrejas; e ele tem razão.  Ele nos faz ouvir duras verdades. Quanto a mim, divido com ele o mesmo  ponto de vista: essa gente que faz profissão de fé e que tem aparência  de santo, é gente hipócrita e impostora. Eu sempre achei que não há um  que seja sincero.” Pára aí, meu amigo. A Deus não agradaria se eu  tivesse dito algo parecido com o que você disse aí! Eu seria muito  culpado se tivesse feito. Há mais: eu sustento que o fato de existir  hipócritas é uma prova irrefutável que existem também cristãos sinceros.
“Como é isso?” Você me pergunta. É bem  simples, meu querido ouvinte. Você creria que há dinheiro falso no  mundo, se não houvesse a moeda verdadeira? Você acha que se poria a  falsa em circulação, se não houvesse a de boa qualidade?
Evidentemente, não. A falsificação pressupõe,  necessariamente, a existência da coisa falsificada. Se não existisse  piedade verdadeira, também não existiria a falsa. Assim, como é o valor  da moeda que faz com que o falsário a reproduza, também é a excelência  do caráter cristão que dá a idéia a certas pessoas de o imitar. Não  tendo a realidade, eles querem ao menos a aparência; não sendo de ouro  puro, eles se revestem para dar uma aparência de que são. Eu lhes digo  de novo, e o mais simples bom senso basta para que compreendam: porque  há falsos cristãos, deve haver necessariamente os verdadeiros.
“Bem falado!” Pensa talvez um outro de meus  ouvintes; “sim, graças a Deus, existem os sinceros e verdadeiros  cristãos, e tenho a felicidade de ser um deles. Nunca tive dúvida nem  medo em relação a isso; eu sei que sou um eleito de Deus, e ainda que, é  verdade, eu não me conduza sempre como poderia desejar, ouso dizer que  se eu não vou para o céu, poucos irão.
Assim, pregador do Evangelho, dê suas  advertências a outro! Há mais de vinte anos sou membro da Igreja; há  mais de dez anos tenho a honra de assentar-me no Conselho de  presbíteros; eu gozo da consideração de meus irmãos; nada poderia abalar  minha confiança. Quanto a meu vizinho, que seja; isso é outra coisa.  Creio que fará bem em assegurar-se da realidade de sua conversão; mas,  ainda uma vez, no que me diz respeito, tudo está bem; eu estou  tranqüilo.”
Ah! Meu querido ouvinte, você me perdoaria se  lhe dissesse que seu excesso de segurança me inspira as mais graves  inquietações? Se você nunca teve medo sobre a qualidade de sua piedade,  eu que começo a tê-lo; se você alguma vez não duvida de você mesmo, eu  só posso tremer; Por que? Lhe direi: eu tenho observado que todos os  filhos de Deus têm uma extrema desconfiança a respeito deles mesmos; e  que eles temem ser iludidos mais do que qualquer outra coisa. Nunca  encontrei um verdadeiro crente que estivesse contente com seu estado  espiritual. Portanto, depois que você se declarou tão particularmente  satisfeito com seu estado, me desculpe, mas não posso, em verdade, apor  minha assinatura sobre o certificado de piedade que você se deu. Pode  ser que você seja muito bom; entretanto, suporte o meu conselho de  examinar-se para ver se você está na fé; por medo que, estando inflado  em seu senso carnal, você não caia nas armadilhas do maligno.
Nunca seguro demais, é uma divisa que convém  perfeitamente ao cristão.
Observe-se, tanto quanto possível, a confirmar  sua vocação e sua eleição; mas, jamais tenha uma opinião muito alta a  respeito de si mesmo; guarde-se da presunção. Quantos homens excelentes a  seus próprios olhos, que são demônios aos olhos de Deus! Quantas almas  muito piedosas na opinião da Igreja, que não são mais que nódoas diante  do Santo dos santos! Que cada um de nós prove a si mesmo, e digamos como  o Salmista: Ó, Forte Deus! Sonda-me e conhece o meu coração; vê se há  em mim algum mau caminho e conduza-me pelo caminho eterno (Sl 139:24).
Meus amados, se as advertências que acabamos  de ouvir, tiverem como resultado fazer nascer em vocês pensamentos tais,  que lhes inspirem a uma oração como a do salmista, eu louvarei a Deus  do fundo de minha alma por ter-me permitido lhas dirigir.
Enfim, há certamente aqui alguns desses  espíritos levianos e despreocupados, aos quais pouco importa, dizem  eles, pertencer ou não a Cristo. Eles esperam viver como no passado,  esquecidos de Deus, indiferentes às suas ameaças e desprezando o seu  nome. Insensatos e cegos! O dia virá, saiba você, quando seu riso se  tornará em choro, quando você sentirá a necessidade desta religião que  hoje você desdenha! A bordo do navio da vida, navegando sobre um mar  calmo, você agora zomba do barco de salvação; mas espere a tormenta, e  você quererá embarcar no barco a qualquer preço. Agora você não faz  nenhum caso do Salvador, porque lhe parece que você não tem nenhuma  necessidade dele; mas quando a morte lhe pegar, quando vier a tempestade  da cólera divina, - (observem bem isto, ó pecadores!) – você que agora  não quer clamar por Cristo, você berrará após ele! Você que agora se  recusa a chamá-lo, o perseguirá, então, com o seu grito de desespero!  Seu coração que agora não prova nenhum desejo de o possuir, clamará após  ele, em uma inexprimível angústia.
Voltai, voltai! Convertei-vos; por que  morreríeis, ó casa de Israel.
Oh! Queira o Senhor vos levar a ele, e fazer  de vós seus sinceros e verdadeiros filhos, de sorte que vosso fim não  seja a perdição, mas que sejais salvos desde agora e por toda a  eternidade.

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