O que se quer dizer com essa lei é que onde certa palavra é usada nas Escrituras,  deve-se entendê-la em seu sentido mais comumente aceito em todo caso onde é  possível. Pensando um pouco perceberá a razão para essa Lei. Se Deus tivesse a intenção de  dar uma revelação de Si mesmo à humanidade, é esperado 1que Ele a daria em  palavras que o homem pudesse entender facilmente, e não encobrir o sentido em termos misteriosos e desconhecidos. A Palavra de Deus é chamada de "revelação"  (grego apokalupse), porque revela Sua vontade e caminho ao homem. Se Sua palavra tivesse o  objetivo de esconder Sua vontade e caminho ao homem, teria sido chamada apocriypha " algo escondido " que jamais é o caso. Conforme observamos antes,  Deuteronômio  29:29 deixa claro que "As coisas encobertas são para o  SENHOR, nosso Deus; porém as reveladas são para nós e para nossos  filhos, para sempre, para cumprirmos todas as palavras desta lei". E o  Senhor dá testemunho de Sua determinação de revelar Sua verdade em outros lugares.  "Certamente o Senhor DEUS não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo  aos seus servos, os profetas". (Amós 3:7) Essas duas passagens assim mostram  que o que Deus revela ao homem é bem pertinente a ele, e o que é mantido em  segredo dele não tem nenhuma relevância para ele, nem é ele responsável por  isso. A obscuridade deliberada é impensável numa revelação.
Mas se essas coisas são assim, então é óbvio que ao dar uma revelação de Sua  vontade ao homem, Deus não obscureceria deliberadamente o sentido dela, mas a apresentaria nos termos mais claros necessários para o homem entendê-la.  Se fosse de outro jeito, não se poderia fazer com que o homem prestasse  contas por conhecê-la, pois até mesmo a lei humana reconhece o princípio, e declara  que nenhuma lei obscura tem alguma força obrigatória. Se cremos que a Bíblia  é a revelação de Si mesmo e Sua vontade ao homem, então devemos também crer  que ela será expressa em termos que o homem possa entender. E certamente indicam  isso as centenas de exemplos em que as Escrituras dizem "Então falou Deus  todas estas palavras", ou "veio a palavra do Senhor", e outras declarações semelhantes que indicam que o que é entregue é compreensível àqueles a  quem é falado.
Por esse motivo não temos a liberdade de entender qualquer palavra em qualquer  sentido, exceto seu sentido mais natural e comumente aceito, exceto em raras  exceções, que consideraremos mais tarde neste estudo. Alguém bem disse: "Se o  sentido comum de uma palavra faz sentido, então não busque outro sentido". A  tolice de fazer de outro jeito foi mostrada nos primeiros dias da história cristã,  pois até hoje o entendimento de muitas pessoas acerca das Escrituras foi  arruinado pelas interpretações loucas que certos antigos comentaristas da Bíblia  aplicaram às Escrituras. Orígenes (c. 185-254) de Alexandria, um dos tão chamados  "Pais da Igreja", popularizou a espiritualização até mesmo dos textos mais simples e ensinando que eles sempre tinham algum significado misterioso e oculto que não era óbvio ao crente comum. Seu método de descartar até os ensinos mais claros foi seguido por alguns em todas as gerações. É  claro, o ego do pregador se sente bajulado se ele puder afirmar achar nos textos  simples o que não é evidente para ninguém mais, e isso explica, em grande parte, a popularidade de tais meios não bíblicos de lidar com a Bíblia. Um desejo orgulhoso de obter glória para si é sempre uma tentação para qualquer  um, inclusive pregadores. Tendo dito isso, deve-se reconhecer que há partes  das Escrituras que têm sentidos simbólicos ou representativos, pois o  próprio Senhor e Seus escritores inspirados às vezes mostram isso. Mas devemos  ter o cuidado de não inventar tais interpretações, e principalmente nunca ir  atrás de tal modo de interpretação que menospreze o sentido literal do texto.
Mais que freqüentemente, a única razão para não se querer entender uma palavra ou  texto em seu sentido mais comumente aceito é que essa palavra ou texto entra  em conflito com preconceitos pessoais. Podemos usar como exemplo principal disso a controvérsia que se travou durante os últimos quatro ou cinco séculos  por causa das palavras gregas que são traduzidas "batizar" e "batismo", na maioria  das versões do Novo Testamento. Durante os primeiros treze séculos ou mais  dessa era ninguém questionava o fato de que essas palavras gregas significavam  o ato de imergir ou imersão. Essas palavras sempre tinham a ver com a introdução de alguém ou algo numa solução ou material penetrável. Era  uma verdade clara como o sol. Mas começando no século catorze muitas igrejas começaram a se afastar da imersão como o modo correto da ordenança  cristã como o pré-requisito de ser membro da igreja. E quando os batistas da época as desafiaram nessa questão, elas tentaram justificar seu afastamento pondo  em dúvida os significados comuns das palavras, e essa prática tem  continuado até hoje entre os desobedientes. 
Contudo, poucos eruditos religiosos de qualquer renome arriscarão sua reputação  negando que o sentido básico dessas palavras é de imergir, mergulhar, abluir-se  ou submergir. Quando este escritor estava preparando seu livro texto "Estudos Acerca  da Verdade da Igreja" alguns anos atrás, ele pesquisou literalmente centenas de testemunhos dos léxicos gregos, acadêmicos gregos,  comentaristas bíblicos, professores de seminários, e outros com relação a esse  assunto. Ele descobriu que antes dos últimos cem anos aproximadamente, só dois nomes importantes negavam que esse fosse o sentido mais comum de baptizo e  baptisma. Um desses foi um conhecido teólogo que por sua própria confissão não  era um especialista em línguas. O outro era o renomado Léxico Grego Liddell e  Scott. Mas eles receberam tantas críticas de todas as áreas do Cristianismo por  darem "aspergir" como um sentido possível, que em sua edição seguinte, eles o removeram completamente e não lhe fizeram nenhuma referência. Os  acadêmicos sinceros são compelidos a admitir que a imersão é o sentido principal dessas  palavras.
Muitos pregadores modernos, em seu esforço para justificar sua prática não  bíblica de aspergir ou derramar e chamar isso de batismo, têm tentado voltar atrás  no sentido secundário e metafórico dessas palavras gregas, que podem ser  "cobrir completamente". Mas até mesmo isso não lhes dá nenhum consolo ou ajuda,  pois o sentido metafórico ainda se baseia no sentido literal da palavra e não  pode ser oposto em sentido a ela. Em nenhum outro caso que conhecemos o sentido  comum de uma palavra é mais bem estabelecido, ou a tolice que acompanha o ato de  se afastar do sentido comum mais evidente, do que no caso do mandamento do batismo. Assim, isso ilustra a grande importância na interpretação  bíblica de perseverar no sentido principal das palavras bíblicas.
Nem é o batismo o único exemplo da violação desse princípio, pois a palavra  grega que é traduzida "igreja" (ekklesia) tem da mesma forma sofrido muito  abuso, resultando no que é quase mundialmente ensinado com um falso sentido.  Essa palavra grega deriva-se de ek, fora de, e kaleo, chamar.  Como verbo, significa convocar, e foi comumente usado desse jeito no grego.  Como substantivo, refere-se a "uma assembléia convocada", e jamais é usada no  Novo Testamento ou na versão grega do Antigo Testamento, nem nos apócrifos  com qualquer outro sentido. A idéia de uma igreja visível e universal nunca foi  apresentada até dois ou três séculos depois de Cristo, e quando foi apresentada, veio de homens arrogantes e ambiciosos que desejavam ser  senhores soberanos sobre mais do que as assembléias locais. E mais incoerente ainda, a  idéia de uma igreja invisível e universal é de época bem recente, sendo  inventada nos dias da Reforma. Contudo, um cristão hoje será isolado como um  completo herético se ele apenas expressar dúvida acerca da "Igreja" sendo  universal. Essa questão é tratada extensivamente no volume um da mencionada obra do  autor acima.
Mas dissemos que em raros casos seria justificável afastar-se do sentido  principal de uma palavra e aceitar um sentido secundário. Sob quais circunstâncias  isso seria assim" Somente se o sentido principal de uma palavra, se aceito, se  chocasse violentamente com alguma outra doutrina ou interpretação. Mas isso será  um acontecimento bem raro. Muito mais comumente, quando isso parece ser o caso, ver-se-á  que é um conflito inventado, feito a fim de justificar o ato de deixar o sentido principal, ou então o conflito evidenciará que uma ou outra das  duas interpretações aparentemente em conflito é errônea.
E como dissemos, tal exemplo em que temos justificação para deixar o sentido  principal em troca de um sentido secundário será bem raro. No entanto, isso ocorre  em raras ocasiões, mas mesmo então, tal troca jamais contradirá o sentido principal, nem lhe será contrário, a menos que a palavra tenha um  prefixo ou uma partícula adversativa ligada a ela que a contradiga, que é comumente  feito. Mas isso confirma o sentido principal de uma palavra em vez de  justificar um afastamento do sentido.
Muitas vezes supõem que a Bíblia foi escrita em tal linguagem técnica que as pessoas  comuns não podem entendê-la, e conseqüentemente que os únicos intérpretes  confiáveis da verdade bíblica são aqueles com um título de doutor. Na realidade, a  verdade é quase o oposto, pois as pessoas comuns, se nasceram de novo e são  habitados com o Espírito de Deus, geralmente entenderão as palavras das Escrituras  em seu valor mais aparente, e daí não buscarão ir além do sentido comum dos  termos. Por outro lado, os que são "doutores da lei" (e não estamos condenando a educação nem os títulos em si) têm a tendência de ficar  insatisfeitos com o sentido básico de uma palavra, mas querem se aprofundar mais do  que o sentido superficial, e o resultado é que eles se inclinarão a ignorar o  sentido comum. A educação formal é boa, e todo cristão deve se esforçar para  obter tanto quanto puder. Mas a tragédia é que em muitos círculos religiosos,  acham erradamente que a posse de um título ou dois automaticamente signifique  que uma pessoa é um homem espiritual, e tal não é o caso. O mundo religioso está  cheio de religiosos sem salvação que têm muitos títulos elevados, mas não têm  percepção para entender a verdade espiritual. Independente de quantos títulos o  homem natural tenha, ele não entenderá a verdade espiritual, 1 Coríntios 2:14.
Às vezes o próprio orgulho influencia o desejo de trazer indiferença ou  questionamento do sentido comum de uma palavra nas Escrituras, e isso já levou a alguns  dos maiores debates e conflitos sobre palavras. E é interessante que o grego  logomacheo de onde extraímos nossa palavra em português "logomaquia" (ser  contencioso sobre palavras) se acha no contexto imediato da admoestação de Paulo a  Timóteo: "Procura apresentar-te a Deus aprovado", etc., pois está escrito: "Traze  estas coisas à memória, ordenando-lhes diante do Senhor que não tenham contendas  de palavras, que para nada aproveitam e são para perversão dos ouvintes." (2 Timóteo 2:14) Aliás, Paulo várias vezes avisa contra  contendas acerca de palavras, 2 Timóteo 2:23; Tito 3:9. E ele declara que essas  contendas acerca de palavras brotam do orgulho e ignorância. "Se alguém  ensina alguma outra doutrina e se não conforma com as sãs palavras de nosso Senhor  Jesus Cristo e com a doutrina que é segundo a piedade, é soberbo e nada sabe,  mas delira acerca de questões e contendas de palavras, das quais nascem  invejas, porfias, blasfêmias, ruins suspeitas, contendas de homens corruptos de entendimento e privados da verdade, cuidando que a piedade seja causa de  ganho. Aparta-te dos tais". (1 Timóteo 6:3-5) 
E não desejamos ser mal-entendidos aqui, como se fossemos contra a formação educacional, ou o estudo das línguas originais ou os sentidos mais  profundos das palavras bíblicas, pois essas são todas boas coisas, e devem ser  buscadas. Mas deveria ser evidente para todos que as palavras da revelação de Deus  devem ser adequadas para os ignorantes, e não os sábios, quando consideramos que  ""não são muitos os sábios segundo a carne" que são chamados". (1  Coríntios 1:26) Pois ao chamar Seu povo do meio dos ignorantes, fracos e  ignóbeis, Deus deve necessariamente escolher as palavras da chamada em termos simples e  fáceis de entender. Foi por esse motivo que Paulo não deu muita importância para  falar línguas estrangeiras entre os coríntios, pois não lhes era proveitoso, a  menos que se empregassem palavras fáceis de entender. "Assim também vós, se  com a língua não pronunciardes palavras bem inteligíveis, como se entenderá o  que se diz" porque estareis como que falando ao ar." (1 Coríntios 14:9) 
Ao interpretar as Escrituras, devemos primeiramente reconhecer que elas são uma  revelação da Pessoa e vontade de Deus ao homem, e portanto são expressas em  terminologia humana comum. Não devemos desnecessariamente complicar sua mensagem  aplicando sentidos incomuns a suas palavras. O orgulho do intérprete da Palavra  poderá ficar exaltado se parecer que ele tem a capacidade de descobrir muitas  verdades misteriosas a partir de uma Escritura aparentemente simples e aberta.  Contudo, isso não servirá para a edificação dos ouvintes comuns, o que é o mais importante. Que os frutos amargos do método de Orígenes de  espiritualizar até mesmo os textos mais simples das Escrituras nos sejam de aviso contra  tais práticas.
     Autor: Davis W. Huckabee
Tradução: Júlio Severo
Revisão e Edição: Joy E Gardner e Calvin G Gardner
Tradução: Júlio Severo
Revisão e Edição: Joy E Gardner e Calvin G Gardner
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